Doenças cardiovasculares e atividade física Enfermedades cardiovasculares y actividad física |
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*Graduado em Educação Física - UNIUV Pós Graduando em Educação Física Especial – UNIUV **Doutorando em Ciência da Educação Física e Esporte – UCCFD Professor de cursos de graduação e pós graduação em Educação Física (Brasil) |
João Guilherme Buch Filho* Ivan Carlos Bagnara** |
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Resumo O presente artigo é um relato da importância da atividade física para doentes cardiovasculares, onde é abordada a preocupação com essa doença, os tipos de doenças cardiovasculares, o treinamento físico e a reabilitação de pacientes com doença cardíaca, bem como, o risco de ataque cardíaco durante o exercício. Unitermos: Doença cardiovascular. Atividade física. Reabilitação.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Quase todos nós nos consideramos pessoas sadias até surgir algum sinal óbvio de doença. No caso de doenças degenerativas crônicas, como a doença cardíaca, a maioria das pessoas não percebe que o processo patológico avança de maneira latente e progride até o ponto em que poderá causar graves complicações, inclusive a morte.
Felizmente, a detecção precoce e o tratamento apropriado das diversas doenças crônicas podem reduzir substancialmente sua gravidade e, com freqüência, impedem tanto a incapacitação como a morte. Ainda mais importante, a diminuição dos fatores de risco para determinada doença pode prevenir ou retardar seu surgimento.
Doenças crônicas e degenerativas do sistema cardiovascular constituem a principal causa de doenças graves e mortes. Estudos revelam que milhões de pessoas sofrem de doenças cardiovasculares, resultando em milhares de mortes e consequentemente custos absurdos para a população, o governo e a indústria privada.
Considerando o exemplo dos Estados Unidos, a doença cardiovascular é um grande problema. No distante ano de 2003, no mesmo país, ocorreram:
Mais de 1.2 milhões de ataques cardíacos;
Cerca de 480 mil pessoas morreram em decorrência de ataques cardíacos;
Cerca de uma a cada cinco mortes foi atribuída a Doença Arterial Coronariana (DAC);
Uma a cada 2.7 mortes foi atribuída a doenças cardiovasculares;
Alem disso, foi estimado que, no mesmo ano de 2003, houve:
Cerca de 476 mil cirurgias de revascularização cardíaca;
Cerca de 1.244.000 angioplastias coronarianas e;
Mais de 2.000 transplantes de coração.
Felizmente, o numero de óbitos em decorrência de doença cardiovascular e ataque cardíaco vem diminuindo consistentemente desde seu pico em meados dos anos de 1960. Tem sido muito acirrado o debate sobre as razões para tal declínio, mas é provável que tenha sido dado um maior enfoque na prevenção da doença, por exemplo:
Maior conscientização do público quanto a sintomas e fatores de risco;
Maior uso de medidas preventivas, como mudanças no estilo de vida para a redução do risco individual;
Diagnósticas melhores e mais precoces;
Outra razão provável e o melhor tratamento dos pacientes com a doença, por exemplo:
Medicamentos mais apropriados para tratamentos específicos;
Angioplastia, stends revestidos de medicação e cirurgia de revascularização do coração, ou seja, bypass coronariano;
Cuidado e tratamento de emergência melhores para as vitimas de ataque cardíaco;
Tipos de doença cardiovascular
Existem várias doenças cardiovasculares diferentes. Nesta seção nos ateremos principalmente àquelas que podem ser evitadas e que afeta a maior parte da população.
Doença arterial coronariana
À medida que os seres humanos vão envelhecendo, suas artérias coronarianas, que irrigam o próprio miocardio, ficam cada vez mais estreitas em decorrência da formação da placa de gordura ao longo da parede interna da artéria.
Esse estreitamento progressivo das artérias em geral é chamado de aterosclerose, e quando há envolvimento das artérias coronarianas, passa a chamar doença arterial coronariana. Com a progressão da doença e quando as artérias coronarianas ficam mais estenosadas, ocorre progressiva redução da capacidade de fornecer sangue ao miocardio. Com o aumento da estenose, o miocardio acaba não podendo mais receber sangue suficiente para atender a todas as suas necessidades.
Quando isso ocorre, a parte do miocárdio que é atendida pelas artérias estenosadas fica isquemica, isso significa que essa parte ficará com deficiência de sangue. Quando a irrigação sangüínea para uma parte do miocardio sofre restrição grave ou total, a isquemia pode provocar um ataque cardíaco, ou infarto do miocárdio. Esse evento ocorre porque as células do músculo cardíaco ficam privadas de oxigênio, o que provocará lesões irreversíveis e necrose.
Essa situação pode fazer com que a pessoa sofra incapacitação leve, moderada ou grave, ou até mesmo morte, dependendo da localização do infarto e extensão da lesão. Em alguns casos, o ataque cardíaco é tão brando que a vitima nem percebe o que aconteceu. Nesses casos, o ataque cardíaco é descoberto semanas, meses, ou até anos depois, por meio de um eletrocardiograma durante um exame médico de rotina.
Hipertensão
A hipertensão é o termo médico para determinar a pressão arterial alta. Ela ocorre quando a pressão arterial se encontra cronicamente elevada, acima dos níveis considerados desejáveis ou sadios para a idade e o tamanho da pessoa. Os valores da pressão arterial dependem principalmente do tamanho do indivíduo. Assim, crianças e pré-adolescentes tem pressões sangüíneas muito mais baixas do que os adultos. Por essa razão se torna difícil determinar o que se constitui hipertensão na criança ou no adolescente em fase de crescimento.
Clinicamente, a hipertensão é definida nesses grupos quando a pressão arterial encontra-se com valores acima dos 90 ou 95 graus percentis para a idade do jovem. A hipertensão é um problema incomum durante a infância, mas pode surgir por volta da metade da adolescência. Diga-se de passagem, que alguns hábitos de vida inadequados de muitas crianças e adolescentes está desencadeando quadros preocupantes de hipertensão infantil e juvenil.
A hipertensão faz com que o coração trabalhe com maior intensidade do que o normal, pois precisa expelir o sangue do ventrículo esquerdo contra uma maior resistência. Além disso, a hipertensão faz incidir maior tensão nas artérias e arteríolas sistêmicas. Com o passar do tempo, essa tensão pode fazer com que o coração se dilate e que as artérias e arteríolas exibam cicatrizes e fiquem endurecidas e menos elásticas. Finalmente, esse processo pode resultar em aterosclerose, ataques cardíacos, insuficiência cardíaca, derrame cerebral e insuficiência renal.
Acidente vascular encefálico
O acidente vascular encefálico, ou derrame cerebral, ou ainda acidente vascular cerebral (AVC) é um tipo de doença cardiovascular que afeta as artérias cerebrais, ou seja, os vasos sanguíneos que irrigam o cérebro. Em geral os acidentes vasculares encefálicos se enquadram em duas categorias, derrame isquêmico, derrame hemorrágico. Derrames isquêmicos são os mais comuns, resultando de uma obstrução do sangue no interior de um vaso sangüíneo cerebral, que limita o fluxo do sangue em determinada região do cérebro.
As obstruções são resultantes de:
Trombose cerebral, a mais comum, em que ocorre formação de um trombo no interior de um vaso cerebral, freqüentemente no local de uma lesão aterosclerótica no vaso.
Embolia cerebral, em que um embolo se solta de outro local no corpo, e seja aloja no interior de uma artéria cerebral.
Em casos de derrame isquemico, ocorre restrição do fluxo sangüíneo para além do bloqueio, e a parte do cérebro que depende dessa irrigação fica isquêmica e com deficiência de oxigênio, podendo morrer.
Derrames hemorrágicos podem apresentar três tipos principais:
Hemorragia cerebral, em que ocorre ruptura de uma das artérias cerebrais no interior do cérebro.
Hemorragia subaracnóide, em que ocorre ruptura de uma das artérias cerebrais no interior do cérebro.
Ruptura de um dos vasos da superfície cerebral, vertendo sangue para o espaço existente entre o cérebro e o crânio.
Insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca é um problema clínico em que o miocárdio fica demasiadamente fraco para manter um débito cardíaco adequado, que atenda as demandas do organismo por oxigênio. Comumente, esse problema resulta de lesão ou de excesso de trabalho do coração. A hipertensão, a arteriosclerose, a doença das válvulas cardíacas, a infeção viral e o ataque cardíaco são causas possíveis desse distúrbio.
Quando o débito cardíaco está inadequado, o sangue começa a retornar nas veias. Isso faz com que ocorra excessivo acúmulo de líquidos no corpo, particularmente nas pernas e tornozelos. Esse acúmulo de líquido também pode afetar os pulmões, trazendo problemas de respiração e causando falta de ar. A insuficiência cardíaca pode evoluir até o ponto de uma lesão irreversível ao coração, e o paciente passa a ser candidato para um transplante de coração.
Treinamento físico e reabilitação de pacientes com doença cardíaca
A participação ativa em um programa de reabilitação cardíaca que possua um forte componente de exercício aeróbio ajuda o sobrevivente de um ataque cardíaco a resistir a um ataque subsequente, ou a evitar completamente outro ataque. O treinamento de resistência leva a muitas mudanças fisiológicas que reduzem o trabalho ou a demanda de oxigênio do coração. Como é de observação, muitas dessas mudanças são periféricas e não envolvem diretamente o coração.
O treinamento aumenta o índice capilar fibra muscular e o volume plasmático. Em função dessas mudanças, o fluxo sangüíneo para os músculos aumenta. Em alguns casos, isso permite uma redução no débito cardíaco, e as demandas de oxigênio para o corpo são atendidas pelo aumento da diferença, é também possível que o treinamento aumente ou mantenha o suprimento de oxigênio para o coração. O condicionamento aeróbio intenso não apenas pode mudar substancialmente os fatores periféricos, mas também pode alterar o próprio coração, possivelmente aumentando o fluxo sangüíneo para esse órgão e aumentando a função do ventrículo esquerdo.
Segundo NIEMAN (2006), o treinamento físico de resistência pode reduzir de maneira significativa o risco de doenças cardiovasculares, mediante seu efeito independente nos fatores de risco individuais para a DAC e a hipertensão. Foi informada a ocorrência de mudanças favoráveis na pressão arterial, nos níveis de lipídios, na composição corporal, no controle da glicose e no estresse de pacientes que praticaram treinamento físico para reabilitação cardíaca.
Existem várias razões para acreditar que essas mudanças são simplesmente tão importantes para a saúde do paciente que sofreu um ataque cardíaco, como são para um indivíduo considerado saudável.
As evidencias de que a atividade física é importante na reabilitação do pacientes são suficientemente claras. Os pacientes com DAC devem participar de programas de treinamento físico individualmente planejados, para que possam obter saúde física e emocional em nível satisfatório. Recomenda-se que deva fazer parte desses programas uma avaliação clínica abrangente, realizada antes do início do treinamento físico, que incluísse um teste de exercícios incrementais e a, prescrição de exercícios individualizada.
Esses programas devem se concentrar na modificação dos fatores de risco multifatoriais mediante o uso de dietas, medicamentos e exercícios para controle de distúrbios dos lipídios sangüíneos, diabetes e hipertensão. Com uma abordagem agressiva a reabilitação, é até mesmo possível que seja observada ligeira regressão da doença.
Risco de ataque cardíaco e morte durante o exercício
Sempre que uma pessoa morre durante um exercício, normalmente o incidente chega às manchetes de jornais. Mortes durante o exercício não ocorrem com freqüência, mas recebem grande publicidade. Até que ponto o exercício é seguro ou perigoso?
O risco global de ataque cardíaco e morte é muito baixo. Além disso, embora o risco de morte aumente durante um período de exercício vigoroso, o exercício vigoroso habitual está associado a uma queda geral do risco de ataque cardíaco. Mas existe a preocupação com aquelas pessoas que tem como objetivo o exercício de ultra resistência, ou seja, com sessões de treinamento ou competições superiores há quatro horas de duração. Teoricamente, essas pessoas estão em maior risco para distúrbios cardiovasculares, por causa do elevado estresse oxidativo associado a esse tipo de treinamento ou competição. Atualmente, as informações com as quais contamos são insuficientes para possibilitar alguma resolução desse problema potencial.
Porém, existe uma quantidade significativa de evidências que podem atestar com segurança que o exercício físico além de atuar de forma eficaz e direta na prevenção de patologias cardiovasculares, promove a recuperação em muitos casos de eventos cardíacos ou cardiovasculares.
Considerações finais
A atividade física é de suma importância para qualquer pessoa, em todas as idades. Contudo é de total relevância ter completo conhecimento de como utilizar a prática esportiva nos diversos campos em relação às patologias.
Durante o desenvolvimento deste artigo pudemos observar quais os tipos de doenças cardiovasculares mais comuns e em que casos se recomenda atividade física, principalmente a aeróbia para o seu tratamento. Quantidades significativas de estudos desenvolvidos nas mais diversas partes do mundo indicam a prescrição de exercícios físicos para recuperação e principalmente para prevenção de eventos cardiovasculares.
O profissional de Educação Física que trabalha especificamente com este público deve estar sempre atento e ter o conhecimento necessário para aplicar os exercícios de maneira correta e principalmente sabendo dosar a intensidade e o volume do mesmo para cada caso individualmente. No momento da avaliação e da prescrição do exercício físico para pacientes que foram acometidos por eventos cardiovasculares, é de extrema importância um trabalho multiprofissional, principalmente entre médico cardiologista e professor de educação física, e sempre que necessário solicitar auxílio de uma nutricionista para prescrição de dietas adequadas e que auxiliem esse processo de recuperação.
Referências
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MEDEIROS, J. F. Atividade física e Exercício físico e efeitos profiláticos nas doenças cardiovasculares. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 148, setembro de 2010. http://www.efdeportes.com/efd148/atividade-fisica-e-doencas-cardiovasculares.htm
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arquivos Brasileiros de Cardiologia nº 84. 2005.
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WILMORE, H. J. Fisiologia do esporte e do exercício. Barueri. Manole, 2008.
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