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Caminhando pelos bairros da periferia de Curitiba: 

o (des) cuido com os espaços públicos de lazer

Caminando por los barrios de la periferia de Curitiba: el (des) cuido con los espacios públicos de recreación

 

*Graduação em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Doutorado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas

Pós-doutorado na Universidade de Barcelona

Coordenadora do GEPLEC, Grupo de Estudos e Pesquisas em espaços lazer e cidade

da Universidade Federal do Paraná.

**Graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná

Pesquisadora do GEPLEC

***Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná

Pesquisadora do GEPLEC. Secretária Estadual

do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, PR

Simone Rechia*

Mariana Ciminelli Maranho**

Aline Tschöke***

aline_tschoke@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho objetivou mapear os espaços públicos de esporte e lazer, localizados em uma região do Bairro Uberaba, na cidade de Curitiba- PR. Para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa, tendo como instrumentos metodológicos: aplicação de protocolos de análise, entrevista semi-estruturada e observações assistemáticas. A partir dos dados coletados foram encontrados poucos espaços dessa natureza. E sobre os mesmos foram elaboradas as seguintes categorias de análise: manutenção, iluminação, segurança, limpeza e apropriação. Infere-se que algumas carências em relação às categorias apresentadas podem contribuir para a falta de pertencimento da comunidade e o conseqüente esvaziamento desses espaços públicos de lazer.

          Unitermos: Espaço. Lazer. Apropriação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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    A cidade, uma paisagem artificial criada pelo homem, composta por objetos e imagens, uma mistura entre espaço criado e natural, dinamizada entre a vida privada e pública, onde são articulados tempo/espaço, trabalho, política, consumo, cultura, lazer. Em tal ambiente, os espaços públicos são o próprio pulsar da vida urbana, é através dele que se estabelece o vínculo entre participação ativa e vida na cidade.

    Diante dessas questões, este trabalho está vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Lazer, Espaço e Cidade – GEPLEC – e pretende discutir, especificamente, os espaços de lazer numa determinada área no bairro Uberaba, na cidade de Curitiba- Paraná-Brasil.

Curitiba: o (des) cuido com os espaços públicos de lazer

    Desta forma, o presente estudo tem como objeto diagnosticar os espaços públicos de esporte e lazer localizados nas seguintes regiões no bairro Uberaba: Jardim das Torres, Moradias Itiberê, Moradias Cairo e Jardim Alvorada. Buscando mapeá-los a partir da relação de constituição e gestão desses espaços. Para tanto, localizou-se quais são os espaços públicos de esporte e lazer, mapeando como estes estão constituídos e quais são suas características. Quanto à metodologia utilizada, segue uma abordagem qualitativa com criação de categorias de análise a posteriori, utilizando como instrumentos de coleta de dados a aplicação de protocolos de investigação, observações assistemáticas registradas em diário de campo e entrevista semi-estruturada com um gestor público da cidade de Curitiba.

    A cidade, como uma paisagem artificial criada pelo homem, é composta por ruas, casas, edifícios, parques, praças, avenidas. É formada por objetos e imagens, uma mistura entre espaço criado e natural, dinamizada entre a vida privada e pública, onde são articulados tempo/espaço, trabalho, política, consumo, cultura, lazer, e muitas outras dimensões.

    Corrobora-se, então, com Luchiari ao afirmar “a importância dos espaços para compreensão da articulação e organização da sociedade” (1996, p.13). É possível compreender as relações sociais a partir da compreensão da constituição do espaço, suas formas de apropriação, suas transformações, os sentidos e significados a ele atribuídos.

    Em relação ao conceito de lazer, este pode ser compreendido, segundo Mascarenhas (2004, p. 103), como “um fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassado por relações de hegemonia”. Assim, o lazer se constitui como um tempo e espaço de organização da cultura, criando e recriando um novo circuito de práticas culturais lúdicas e educativas.

Curitiba: o (des) cuido com os espaços públicos de lazer

    Nessa perspectiva, o espaço público é o local em que as afinidades sociais e as diferenças são vivenciadas, possibilitando diálogo e transformação.

    Portanto, as vivências do ser humano no tempo-espaço de lazer em diferentes ambientes urbanos, embora tensionadas pelo mundo do trabalho na sociedade contemporânea, podem significar um importante elo entre o cotidiano e a cultura local. Conforme afirma Lefebvre (1991), são durante as práticas de lazer e por meio delas que os sujeitos, conscientemente ou não, podem realizar a crítica de sua vida cotidiana.

    Em relação à área delimitada para esta pesquisa, ou seja, parte do bairro Uberaba na cidade de Curitiba pode-se, assim, caracterizar a população residente como apresentando baixa escolaridade, baixa remuneração e maior número de moradores por domicílio, sendo uma população relativamente jovem em comparação com a média municipal, havendo um peso maior de crianças e jovens. Há ainda a proximidade da linha do trem que constitui elemento segregador dos espaços urbanos e aumenta a insegurança da população vizinha. Nessa região, conforme dados do IPPUC, não há bosques, centros esportivos, eixos de animação, jardins ambientais, largos, núcleos ambientais e parques; no entanto, há quinze jardinetes e quinze praças. Diante desse número de praças e jardinetes, buscamos quais deles estavam localizados na área delimitada para pesquisa, sendo duas praças (Praça Renato Russo, Praça Homero Oguido) e um jardinete (Cairo).

    Em relação aos equipamentos encontrados, constatou-se a presença de “equipamentos padrão”, sendo estes: canchas de areia, postes para colocação de rede de vôlei, traves de futebol, bancos de madeira e playground (gangorra, escorregador e trepa-trepa). Estes equipamentos foram colocados sobre solo de areia, grama ou calçamento, e cercados por uma tela (principalmente as canchas de areia), e duas praças apresentavam postes de luz. Somente na praça Renato Russo foi encontrada pista de caminhada. O que foi confirmado pelo gestor entrevistado: “Nós temos nossos equipamentos padrão, que são as canchas, mais voltadas para o lazer, que são as de futebol e vôlei de areia que nós procuramos não impermeabilizar [...] e o parquinho”.

    Mediante tais dados, foi possível estabelecer categorias de análise quanto à manutenção, limpeza, iluminação, segurança e apropriação desses espaços, que serão a seguir apresentadas.

    Quanto à manutenção, observou-se falta de limpeza nos espaços, salientando a presença de acúmulo de lixo em vários ambientes, e nenhuma lixeira foi encontrada nesses espaços. “A limpeza tem uma rotina, que não sei precisar. Mas existe uma firma terceirizada para esta função. [...] Não temos mais colocado lixeira para evitar que vire ponto de lixo” (entrevista).

    Em relação aos equipamentos percebeu-se que possuem uma manutenção regular, de forma a possibilitar sua utilização. Sendo que a prefeitura mantém o padrão de equipamentos para a facilidade de manutenção.

    É possível ressaltar ainda, quanto à iluminação, que somente dois dos espaços pesquisados apresentam poste de luz, o que pode possibilitar o uso em horários noturnos, pois isso garante uma relativa segurança; no entanto, a secretaria enfatiza o fato da maioria desses postes serem depredados, fazendo-se necessário instalar postes mais “reforçados”, de acordo com a área na qual esses estão.

Curitiba: o (des) cuido com os espaços públicos de lazer

    Apesar de algumas praças possuírem iluminação, garantindo certa segurança durante a noite, não localizamos a presença da guarda municipal nesses locais. No entanto, como afirma Jacobs (2000, p.36), para que um espaço se torne seguro devem existir “olhos para a rua”, daqueles que se poderia chamar “proprietários naturais da rua”, e esta característica não foi observada nos espaços analisados.

    Em relação à apropriação, infere-se que esses espaços estão na maior parte do tempo esvaziados, sendo utilizados apenas quando acontecem ações de programas sociais. A partir desta constatação percebemos a necessidade de estabelecimento de novas políticas públicas, que possam estimular a utilização destes espaços pela comunidade para que efetivamente se tornassem estratégias de inclusão social. Além disso o gestor público salienta a dificuldade para o planejamento desses espaços de lazer.

    É possível observar na cidade de Curitiba uma significativa segregação social, característica que se reflete pelo processo contraditório existente entre os diferentes espaços e territórios da cidade, em que a qualidade de uma região é medida em contradição à precariedade de outras. A região analisada é um exemplo desses opostos existente na capital paranaense constituindo-se em uma área de vulnerabilidade social.

    Salienta-se que nessa região existem espaços públicos de esporte e lazer em condições de utilização. Aponta-se, um certo desinteresse da gestão pública e da comunidade quanto à potencialização desses ambientes, que podem ocorrer por diversos fatores que não foram objetivados nesse trabalho. No entanto, como afirma Guimarães, a transformação de espaços em lugares dotados de sentido e significado “supõe a decodificação desses espaços em entendimentos pessoais, símbolos próprios, lembranças e necessidades únicas” (2007, p.5). Processo este que requer tempo, possibilidades de interferências, intervenções, e que muitas vezes vão contra o ideal estético pré-concebido.

    Assim, compreendendo que os espaços públicos de esporte e lazer na sociedade contemporânea são planejados com objetivo de gerar “encontro” entre as pessoas, observa-se problemas de ordem estrutural, administrativa e educacional nesse bairro, que impedem que tal objetivo seja atingido. De certa forma, a diferença de tratamento dada pelo poder público aos espaços de lazer nos bairro de Curitiba pode estar refletindo no sentimento de não pertencimento a um determinando padrão de acumulação predominante na cidade.

Referências

  • LEFEBRE, Henry. A vida cotidiana no mundo moderno. São Paulo: Ática, 1991.

  • LUCHIARI, Maria Tereza. A categoria espaço na teoria social. Revista Temáticas, Campinas, jan./jun. p. 191-238, 1996.

  • MASCARENHAS, Fernando. Lazer como prática de liberdade. Goiânia: Editora da UFG, 2004.

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