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Corpo e saúde: uma breve análise das vestimentas íntimas femininas

Cuerpo y salud: un breve análisis de la ropa interior femenina

 

*Doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUC, RS)

Professora dos cursos de História e de Moda e do Mestrado em Processos

e Manifestações Culturais da Universidade Feevale (Novo Hamburgo, RS)

**Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUC, RS)

Professora do curso de Comunicação Social e do Mestrado em Processos

e Manifestações Culturais da Universidade Feevale (Novo Hamburgo, RS)

Claudia Schemes*

claudias@feevale.br

Denise Castilhos de Araujo**

deniseca@feevale.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo analisa as relações entre corpo feminino, saúde e vestimenta, especialmente as roupas íntimas. Procuramos refletir acerca da influência que a moda exerce não só na indumentária, mas na estética feminina desde o século XIX até o século XXI. A metodologia utilizada para a realização desta investigação foi a revisão bibliográfica, na qual buscou-se compreender como a medicina relacionava moda e saúde e de que forma o corpo feminino foi tratado no decorrer da história, além das conseqüências desse tratamento.

          Unitermos: Corpo feminino. Saúde. Vestimenta.

 

Abstract

          This article analyzes the relationships between female body, health and fashion, especially underwear, reflecting upon the influence of fashion not only on clothing, but also on female aesthetics from the 19th century to the 21st century. Through a literature review, we attempt to understand how medicine has related fashion and health, how the female body has been treated throughout history, and the consequences of such treatment.

          Keywords: Female body. Health. Clothing.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A relação entre corpo e saúde é tema recorrente de estudos, artigos e matérias de revistas dos mais variados tipos (científicas, semanais, femininas), já sua relação com a vestimenta, ainda é temática pouco abordada.

    Se no século XIX havia a “medicina vestimentária”, que buscava sanar os problemas que a moda trazia às mulheres, hoje há a “medicina estética” que busca corrigir os problemas que as mulheres julgam apresentar, a fim de poderem se adequar às tendências da moda. Este artigo procura, portanto, analisar essas relações entre corpo feminino, saúde e vestimenta, através da análise de algumas peças publicitárias selecionadas.

Moda e saúde

    A saúde da mulher esteve sob forte controle da moda, principalmente por influência do espartilho, que surgiu no século XVI e tornou-se peça obrigatória do vestuário feminino até o século XIX. Essa era uma peça que afinava a silhueta, marcava a cintura e aumentava os seios, representando o ideal de feminilidade da época. Apesar de ser prejudicial à saúde, as conseqüências da utilização dessa peça eram aceitas pelas mulheres que, de modo geral, não se rebelaram contra seu desconforto durante vários séculos.

    Desde a Antiguidade, o busto e a cintura feminina já tinham algum tipo de suporte, que era normalmente faixas de tecido amarradas ao corpo. Na Idade Média, essas amarrações se tornaram mais firmes, e os tecidos mais rígidos, mas foi a partir do século XVI da Idade Moderna que a forma que conhecemos hoje começou a ser definida.

    Até o século XVIII acreditava-se que o corpo era um volume no qual circulavam fluidos que se fossem estagnados, levariam à doença e à morte, e o espartilho era uma das peças da indumentária feminina mais propensa a esses infortúnios, já que era fonte de opressão e deformação dos seios, além de prejudicar a amamentação (RAINHO, 2001).

    A medicina vestimentária condenava, também, as anquinhas, os saltos altos, as crinolinas e todos os adereços que pudessem prejudicar o corpo feminino e, conseqüentemente, sua função básica, a maternidade.

    Os espartilhos, entretanto, eram aceitos para as mulheres mais velhas, pois, segundo tese apresentada na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1855:

    Quando a mulher for emurchecendo na idade, e que essas belas formas se forem tornando descomunais, o médico poderá mesmo recomendar o espartilho, sobretudo quando for a uma senhora que já tenha parido por diferentes vezes, e que seus seios, tornando-se volumosos e flácidos, pendam dificultando o andar, causando-lhe mesmo dor, e de alguma maneira dissimulando a gracialidade de que é dotado e seu sexo. (RIBEIRO, apud RAINHO, 2001, p.126)

    Os médicos brasileiros condenavam a adoção da moda europeia pelas brasileiras por causa dos malefícios causados à saúde, mas, principalmente, pelo efeito perverso da moda, que, segundo eles, tornava as mulheres fúteis e mais preocupadas com a vida mundana do que com a família e os filhos (RAINHO, 2001).

    Da mesma forma, os cosméticos eram considerados os maiores inimigos das mulheres, pois além de estragarem a pele (água e sabão era do que as mulheres precisavam), eram os “artifícios próprios das cortesãs e das atrizes [...] e de algumas velhas que querem se apresentar como moças” (RAINHO, 2001, p.128).

    A moda e seus artifícios eram considerados a “infecção moral da sociedade”, pois exteriorizavam e sociabilizavam a mulher numa época em que o seu papel deveria ser apenas o de esposa e mãe. A mulher da moda era a “mulher demônio”, pois

    Só pensa em jóias e luxos, em rivalizar nos vestidos com as outras, em arruinar o marido, em enfeitar a cabeça (tão despida de juízo), em passear, dançar e gozar essa vida buliçosa das salas, que enche depois de tédio e lhe embota os sentimentos (Revista O Sexo Feminino apud RAINHO, 2001, p.131).

    Entretanto, os médicos não puderam evitar o fascínio exercido pela moda sobre o sexo feminino, não demoveram as mulheres de seguir a moda, o que acabou se tornando uma das marcas mais visíveis de sua exteriorização. Para a mulher, a moda representava a possibilidade de afirmação no grupo, o homem, pelo contrário, possuía outras formas de distinguir-se na sociedade, como a boa educação e a instrução.

    Com o passar dos anos, a mulher foi se libertando, tanto social, quanto literalmente (o espartilho deixa de ser usado nas primeiras décadas do século XX), na medida em que as roupas passaram a ser mais confortáveis.

    Porém, foi a partir dos anos 1960 e 1970 que o papel da mulher sofreu uma mudança mais significativa e iniciou a verdadeira libertação feminina, com o uso do anticoncepcional, a entrada no mercado de trabalho, etc. e, gradativamente, a relação mulher/moda/saúde foi se modificando.

    No que se refere à estética do corpo, o que se pode ver, hoje, é que as mulheres estão deixando de visar à sua saúde em função da forma física. Muitas mulheres estão mais preocupadas com a aparência (ser bela e jovem), e muito pouco com a saúde, como se essa fosse fundamental para serem vistas com bons olhos nos diferentes grupos sociais em que vivem.

    Na maioria das sociedades modernas, pode-se caracterizar a beleza corporal como sendo um fato social, pois há, notoriamente, uma busca coletiva por um corpo belo, embora haja diferentes construções desse corpo.

    Para Andrade (2003), a imagem do que é saúde e do que é beleza no decorrer do século XX sofreu um deslocamento em relação aos conceitos apregoados nos períodos anteriores. Conquistar um corpo saudável e belo passou a ser um objetivo individual a ser atingido. Para tanto, é preciso um exercício intencional de autocontrole, o qual envolve força de vontade, restrição e vigilância constantes. Andrade (2003) exemplifica essa busca, dizendo que durante as últimas décadas do século XX o consumo de açúcar diminuiu muito, e, por outro lado, nas gôndolas dos supermercados (e na mesa de uma significativa parcela da população que se sente interpelada pelo discurso da boa forma), surgiram produtos light e diet, que prometem um corpo mais saudável, pois ele estaria livre de gorduras e açúcares, considerados tão prejudiciais à forma física desejada.

    O ato de comer, que outrora era um dos grandes prazeres da vida, passou a ser vigiado constantemente, com o intuito de evitar o consumo desnecessário de calorias. E, além desse cerceamento, surgiu a necessidade de “queimar” as calorias através de atividades físicas em academias de ginástica, exigência que culturalmente recai mais sobre o corpo da mulher.

A pressão por uma estética corporal

    Como o culto ao corpo está cada vez mais presente nas sociedades, as indústrias de beleza vêm se aprimorando a cada dia com inovações tecnológicas para que homens e mulheres estejam cada vez mais próximos da “perfeição”. As academias de ginástica triplicaram em número nesta última década e a cada dia surgem novos métodos que se adaptam a cada estilo de vida.

    Segundo Vargas (1998), aqueles que, por ventura, não experimentam a cumplicidade de culto ao corpo em uma academia, certamente fazem de outras maneiras, seja nas roupas que vestem, nas dietas, cirurgias plásticas, etc. O nosso atual código de ética (social) é a estética, pois ela acaba por assumir um papel de “laço” social, pois para a mulher um “corpinho sarado” vale mais que uma “mente brilhante”.

    As mulheres estetizam o próprio corpo mais que os homens, tanto pela roupa, quanto pela maquiagem e adereços, esculpindo-o por exercícios físicos e pela dieta. Pela atividade física e o controle do corpo, as mulheres constroem sua imagem, definindo cada uma a sua maneira, a própria leitura de sua identidade feminina.

    Para Queiroz (2000), várias das características femininas e masculinas relacionadas à atratividade sexual, vêm sendo acentuadas pela moda, bem como pela cirurgia plástica – implantes de silicone, lipoaspiração, etc.

    Outro motivo que causa frustração nas pessoas é a supervalorização da magreza. O mercado da moda produz a sua coleção baseada nos corpos das modelos que estão cada vez mais altas e magras, esquecendo que a maior parte da população que desfila pelas ruas não tem corpo de manequim. As mulheres, nessa situação, são as que mais sofrem e ficam obcecadas pela magreza e dietas que, na maioria das vezes, são malsucedidas. Ullmann (2004) coloca que a conseqüência dessas dietas baseadas no uso de anfetaminas, laxantes, diuréticos e até mesmo cirurgia de redução do estômago aumenta os casos de anorexia, bulimia e depressão profunda.

    Por outro lado, é importante lembrar que a roupa é uma extensão do corpo, ela representa de forma temporária o que o corpo quer comunicar, podendo-se moldar aos desejos do indivíduo de forma fácil. A essas oscilações temporárias, denomina-se moda. Enfim, Castilho e Martins definem a relação moda e corpo da seguinte maneira: “A moda, enfim, é regida por contínuas operações de transformação do parecer do corpo sobre o ser (corpo biomorfológico)” (2005, p.83).

    A moda/roupa remodela o corpo, mas não pelo modo de constrição e reestruturação física, as tendências submetem o corpo a moldar-se da melhor forma para poder portar as roupas e mostrar esse corpo. Anteriormente, apertava-se, ajustava-se, expandia-se o corpo através da roupa para obter e manter a silhueta desejada. Antigamente o vestuário era sinônimo de status e poder, hoje o corpo é quem reflete o status das pessoas, as diferencia.

    Interessante observar que nessa “tarefa” de remodelagem dos corpos, a lingerie tem ocupado papel contundente desde o início do uso de peças como os espartilhos, que objetivavam remodelar o corpo feminino através do esmagamento de boa parte do tronco das mulheres, até as lingeries atuais (NAZARETH, 2007).

    Nazareth (2007, p.155) afirma que a “indústria da lingerie procura atender à demanda por benefícios estéticos, sensoriais, de conforto e também pelas possibilidades de reconfigurar o corpo”.

    A afirmação do autor é possível de ser verificada no anúncio publicitário que segue, da marca de lingeries Liz. Essa peça publicitária ocupou uma página inteira de uma revista de moda feminina, a Estilo, no mês de outubro de 2010.

Imagem 1. Anúncio da marca Liz

Fonte: Revista Estilo, ed. 97, ano 08, out. 2010, p.29

    Ela é dividida ao meio, sendo que na parte superior há quatro modelos vestidas de lingeries (sutiãs, calcinhas e bodies), de cor da pele. As modelos olham diretamente para o receptor, conotando segurança e satisfação, provavelmente com seus corpos e pelas lingeries que vestem. Ao lado dessa imagem há um texto que diz o seguinte: “Sentir-se magra, ainda mais atraente e elegante, com liberdade para escolher desde a blusa decotada até aquela calça branca tão sonhada. Por que não? Você pode, você deve. Afinal, o mundo inteiro usa. Liz solutions. Under control – Reduz medidas, remodela”.

    O texto explora de maneira intensa a aproximação da marca e seus produtos com as consumidoras, através do uso do pronome de tratamento “você”; como outra estratégia de convencimento, a empresa lembra à consumidora de que ela deve se sentir magra, ou, ao menos, parecer que o é, deve ser atraente e elegante também. E, para isso, sugere o uso de algumas roupas, as quais ficarão muito bem com o uso das peças íntimas anunciadas, e essas roupas ocupam lugar de sedução na sociedade, como uma blusa decotada, ou uma calça branca. Ambas as peças são, muitas vezes, refugadas pelas mulheres pelo fato de revelarem as formas corporais, mas a empresa afirma que se esse for o desejo da consumidora, ela poderá realizá-lo. Outro aspecto intrigante no anúncio é a assertiva “Afinal, todo mundo usa”, revelando, assim, que há um padrão de estética feminina, o qual é exigido atualmente.

    Na parte de baixo do anúncio outras três modelos estão dispostas, em pose semelhante a das modelos da parte superior. Ao lado das modelos, outro texto: “Estética. Disfarça imperfeições. Não marca sob a roupa. Sutiãs com laterais que emagrecem”. Abaixo há a logomarca e o site da empresa.

    A partir da leitura desse texto, observa-se a necessidade de parecer ter um corpo perfeito, escondendo tudo aquilo que a sociedade não deseja que seja revelado: as imperfeições que as mulheres têm. Observa-se que a lingerie não é mais somente uma peça de roupa, ela constitui-se em um meio para atingir certa construção corporal.

    Verifica-se, então, que o corpo sofre, sim, influências da moda, de várias formas, especialmente, de forma visual, porque a moda se estrutura, essencialmente, em valores estéticos. Não só as tendências de moda são responsáveis por essas mudanças, considerando a cultura como uma relação de valores morais e estéticos, pode-se dizer que estes mesmos valores culturais são grandes responsáveis por tais decisões, são imagens que a sociedade impõe. Então, a fim de ser aceito, o indivíduo se sujeita a elas. Porém, as exigências estéticas modificam-se de tempos em tempos, criando novas tendências. Considerado o corpo como linguagem, afirma-se que, atualmente, é ele (o corpo) quem muda, o vestuário busca se adequar a ele, de modo que represente de forma coerente aquele corpo (CIDREIRA, 2005). Hoje, o corpo é vulgarizado, sensualizado e “plastificado”, é essa imagem que é vendida pela mídia e endossada pela cultura da sociedade.

    Na sociedade contemporânea têm-se um corpo fabricado e construído por ideais estéticos ditados pela própria sociedade. A reconstrução destes corpos é impulsionada por valores estéticos inerentes a essa sociedade, pela necessidade de embelezamento que o indivíduo sente, gerando em seqüência um movimento de pertencimento dentro deste grupo. Sendo assim, esse indivíduo utiliza de artifícios a fim de se fazer aceito e, entre estas armas um meio maleável, adaptável e possuir essa característica efêmera.

    Essa questão fica clara ao lermos o artigo publicado pelo jornal O Estado de São Paulo, em março de 2010, que alerta para o fato dos espartilhos estarem de volta com um apelo de moda muito forte, com a promessa de ajudar na redução de medidas. Segundo o jornal, o espartilho é feito com várias camadas de tecido resistente e reforçado por barbatanas de alumínio ou aço inoxidável e ele pressiona áreas estratégicas (os dois últimos pares de costelas) quando a amarração das costas é puxada e apertada. Ou seja, para modificar o formato natural dessa parte do corpo, a peça deve ser usada diariamente e por longos períodos.

    Os médicos consultados pela reportagem desaprovam a utilização dessa peça do vestuário. Segundo o cirurgião vascular Fábio Haddad, o abdome é pressionado excessivamente, precipitando o aparecimento de varizes e inchaço nas pernas e o que em casos extremos pode causar uma trombose. Diz ainda que “a pressão interna eleva o diafragma, modificando a dinâmica respiratória. Isso pode levar à atelectasia, resultado da diminuição da ventilação pulmonar, o que pode provocar acúmulo de secreções e até uma infecção” (http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,a-volta-do-espartilho,523325,0.htm).

    O uso desses novos espartilhos remete a uma reflexão já realizada por Del Priore (2000), a qual lembra que essas modificações estéticas são, muitas delas, “copiadas” de mulheres que não têm a mesma estrutura física. Ou seja, somos um povo mestiço, que tenta assemelhar-se às mulheres europeias ou americanas em algumas características físicas. A autora chama a atenção para a febre das “Barbies”, que são mulheres com seios volumosos, cabelos louros, cintura fina e lábios grossos.

    As mulheres contemporâneas sentem a necessidade de cuidarem de seus corpos, não só para serem saudáveis, mas, principalmente, para serem bonitas (seguindo um determinado padrão de beleza). Então, “malhar” o corpo é a exigência atual, seja através de práticas esportivas, seja através de cirurgias plásticas, ou através do uso de determinadas roupas que “disfarçam” as formas indomáveis de algumas mulheres.

    Por outro lado, no anúncio da empresa Trifil, podemos observar uma revelação interessante, um sutiã que pode ser usado “todos os dias, o dia todo”.

Imagem 2. Anúncio da marca Trifil

Fonte: Revista Manequim, ed.615, out 2010, p.7

    O anúncio da Trifil, publicado na revista Manequim de outubro de 2010, apresenta a imagem de uma mulher jovem usando lingerie branca, coberta com um roupão branco; ela está com os cabelos presos em um rabo de cavalo, e segura, com mão direita, uma caneca com uma escova de dentes dentro. Com a mão esquerda, ela acaricia seu próprio rosto, estampando um sorriso, aparentemente de satisfação. Sobre essa imagem, em marca d’água há um calendário indicando os dias do mês. No canto inferior direito há o seguinte texto: “Daily. O primeiro sutiã para você usar todo dia, o dia todo”.

    De acordo com Nazareth (2007), “Para o dia a dia, as mulheres tendem a usar com mais freqüência os modelos básicos” (Nazareth, 2007, p. 160). O autor lembra que a idéia de básico está associada à estética do produto e não à tecnologia utilizada pelas empresas de lingeries.

    Uma idéia pressuposta no anúncio é a de que até a criação desse sutiã nenhum outro poderia ser utilizado de maneira constante, talvez pelo fato de causarem certo desconforto na usuária, ou por uma questão estética, não eram bonitos, por exemplo.

    Outro texto selecionado para essa discussão é o da empresa Scala. Nesse anúncio há a imagem de uma mulher vestida com lingerie preta: o sutiã é forrado com renda, e a calcinha tem babados nas laterais.

Imagem 3. Anúncio da marca Scala

Fonte: Revista Criativa, ed.246,out 2009, p.75

    Nesse texto, sobre a imagem da modelo, há um enunciado que diz “Experimente usar nada” e mais abaixo: “As lingeries que vão fazer o maior sucesso nesse verão”, abaixo está a logomarca da empresa, e a oração: “Nos melhores shoppings”, bem como o site da empresa.

    Do anúncio da Scala, surgem duas questões interessantes, uma delas é o fato de indicar que essa lingerie é confortável, pois ao usá-la, a mulher estará usando “nada”. A outra questão diz respeito ao aspecto de sensualidade e sedução que as roupas íntimas também podem revelar. Para Nazareth (2007), “O papel das roupas íntimas no jogo da sedução é notório. E, nesse campo de intenções, uma mulher não se contenta com pouco” (NAZARETH, 2007, p. 158).

    Então, lingeries podem, considerando-se seu estilo e seus materiais, exercer forte influência nas suas consumidoras, não somente pelo presença de sinais de sedução (tecidos, cores, cortes), mas também pelo fato de servirem como recursos para transformações estéticas.

Considerações finais

    Vive-se numa sociedade que preconiza a construção da imagem do corpo belo e saudável (independente de ser ou não realmente saudável). Neste processo, a mídia cria ícones de beleza e saúde, produz modelos a serem seguidos e que muitas vezes são tipos distorcidos de beleza e, principalmente, de saúde.

    Os padrões estéticos preconizados na sociedade são, algumas vezes, condições fundamentais para que o indivíduo possa considerar-se integrado a um determinado grupo, e o interessante é que, efetivamente, muitos indivíduos deixam-se persuadir por esse discurso da necessidade de ser belo, ser esbelto, ser alto, ter cintura fina, alterando suas formas físicas sem medo de algum efeito colateral.

    A mulher do século XXI, a despeito de toda a sua trajetória de luta contra a opressão e pela liberdade, permanece dependente de uma sociedade de consumo, que se refere não somente a produtos, mas a imagens corporais desejáveis para essa época.

    Percebe-se, também, que a cultura circulante, em relação à mulher, enfatiza a aparência física em detrimento de sua capacidade intelectual. Entende-se que o ideal de corpo preconizado pela nossa sociedade, e que é veiculado pela mídia, leva as mulheres a uma aparente insatisfação crônica com seus corpos. Insatisfação essa que é suprida através da transformação dos corpos, seja por uma peça de roupa que aperta, enxuga, levanta, aumenta ou diminui o corpo; seja através de uma interferência mais drástica, como as cirurgias e os implantes. O corpo deve ser belo e a saúde não é o mais importante para uma grande parcela da população que almeja determinada imagem estética, a qual é, constantemente, reiterada pela mídia. E, dessa forma, cada um deve se empenhar na luta contra o tempo, na batalha contra a degeneração e obsolescência funcional do corpo (Couto 2001).

Referências

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