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Comparação do nível de conhecimento tático declarativo de duas
equipes de futebol, relacionado ao tempo de prática do atleta
e posição que atua em campo

Comparación del nivel de conocimiento táctico declarativo de dos equipos de fútbol, 

relacionando el tiempo de práctica del jugador y la posición que ocupa en la cancha

 

UFMG

(Brasil)

Guilherme Nozomu de Freitas Irokawa | Altair Coimbra

Renato Melo Ferreira | Eduardo Macedo Penna

Layla Maria Campos Aburachid | Varley Teoldo Da Costa

renato.mf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Dentre as diversas variáveis que irão influenciar o desempenho de jogadores e equipes de futebol, podemos citar o comportamento tático e os processos cognitivos envolvidos nesse comportamento como de fundamental importância. Logo, objetivou-se comparar o nível de conhecimento tático declarativo (CTD) de jogadores de futebol da categoria juvenil, de duas equipes da cidade de Belo Horizonte, por meio do desempenho no teste de CTD proposto por Mangas (1999), relacionando-o às posições de cada jogador no jogo, e à média do tempo de prática dos jogadores de cada equipe. Com relação às equipes, a equipe 1 obteve um resultado superior à equipe 2. Com relação às posições dos jogadores, não foram encontradas diferenças significativas. Concluiu-se que o tempo de prática, maior na equipe 1, foi um fator que influenciou o resultado do teste, já que o tempo de prática foi superior na equipe que apresentou melhores resultados.

          Unitermos: Futebol. Processos cognitivos. Atletas.

 

Abstract

          Among the many variables that will influence the performance of players and football teams, we can mention the tactical behavior and cognitive processes involved in this behavior as extremely important. Therefore, the objective was to compare the level of tactical knowledge declarative (CTD) of football players of the juvenile category, two teams from the city of Belo Horizonte, through the performance in the CTD proposed by Mangas (1999), relating it the positions of each player in the game, and the average time of practice for players on each team. The results showed that team 1 got a result better than team 2. The positions of players, no significant differences were found. It was concluded that the practice time, higher in the first team, was one factor that influenced the test result, as the practice time was higher in the team that showed better results.

          Keywords: Soccer. Cognitive process. Athletes.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O comportamento tático e os processos cognitivos têm sido considerados fundamentais para o desempenho de jogadores e equipes de futebol (GRÉHAIGNE, 2001; CARLING, WILLIAMS, 2005). Alguns estudos investigam esta relação por meio de investigações qualitativas (GRÉHAIGNE, 2001), em atletas jovens (COSTA et. al, 2010), e por comparação de diferentes categorias e posições (GIACOMNI, 2008).

    No futebol, bem como em outras modalidades de Jogos Esportivos Coletivos (JEC), o desempenho do atleta durante as partidas está relacionado com o desenvolvimento das capacidades cognitivas e o conhecimento armazenado na memória, que permite a adequação das tomadas de decisão à cada situação do jogo (GIACOMINI, 2008). O modelo pendular para a tomada de decisões baseia-se nas estruturas de recepção (percepção, antecipação, atenção) e processamento da informação (memória, pensamento e inteligência) (GRECO, 2006; MORALES, 2007; GIACOMINI, 2008; MEMMERT, PERL, 2009).

    Assim, a tomada decisão revela-se como um processo multifatorial e complexo, porque é fruto da interação dos diferentes fatores que a constituem, bem como desempenha um papel decisivo nos JEC, e no futebol em especial, uma vez que a realização de movimentos conscientes é sempre acompanhada de uma decisão (GRECO, 2000; GRECO, 2006).

    De acordo com Anderson (1982) o conhecimento pode ser dividido em conhecimento declarativo e conhecimento processual. O conhecimento tático declarativo (CTD) é verbalizado através do conhecimento das posições dos jogadores e das estratégias básicas de defesa e ataque (THOMAS, FRENCH, HUMPHIRES, 1986). No esporte esse conhecimento é entendido como a capacidade do atleta de saber “o que fazer” em uma determinada situação de jogo (CHI, GLASER, 1980; GRECO, 2006b; OLIVEIRA, BELTRÃO, SILVA, 2003). Já o conhecimento tático processual não pode ser verbalizado, é identificado nas ações que envolvem habilidade motora podendo ser definido através do conhecimento de “como fazer as ações” (CHI, GLASER, 1980; EYSENCK, KEANE, 1994; STERNBERG, 2000).

    Alguns jogadores podem executar corretamente várias técnicas esportivas, porém não garante que consigam aplicá-las de forma eficaz em situações de jogo, pois não sabem “como”, “quando” e “onde” utilizar essas técnicas, demonstrando assim uma falha no nível de conhecimento tático processual (GIACOMINI, 2008; MATIAS, GRECO, 2010).

    Para avaliar os níveis de Conhecimento Tático Declarativo dos atletas existem instrumentos de avaliação específicos para algumas modalidades esportivas, como: handebol (SISTO, GRECO, 1995), pólo-Aquático (BASTOS, 1998), voleibol (PAULA, 2000; MATIAS, 2009), futsal (SOUZA, 2002), tênis (ABURACHID, 2009) e futebol (MANGAS, 1999). Estes instrumentos foram desenvolvidos para avaliar a capacidade de tomada de decisão e o conhecimento tático declarativo dos atletas, o que é fundamental, pois já na formação deve-se visar à capacitação de atletas inteligentes, tornando-os aptos para atuar e tomar decisões em função da leitura das diferentes situações que o jogo lhe oferece (MANGAS, 1999), o que melhoraria o desempenho.

    Este desempenho esportivo é influenciado pela qualidade da prática (THOMAS, 1994; FRENCH, THOMAS, 1987), tempo de prática e experiência em competições do atleta (GIACOMINI, 2007; GIACOMINI, GRECO, 2008; MATIAS, 2009). No futebol uma série de autores tem verificado o nível de CTD, utilizando em geral seqüências de imagens de jogo em vídeo ou em computador (GIACOMINI, 2007; COSTA et. al, 2002; COSTA, 2001; MIRAGAIA, 2001; MANGAS, 1999; BRITO, MAÇÃS, 1998;).

    O estudo de Giacomini (2007) avaliou 221 jogadores de futebol de campo inscritos na Federação Mineira de Futebol do Estado de Minas Gerais (Brasil), por meio do instrumento desenvolvido e validado por Mangas (1999), pertencentes a três categorias: Sub-14 (80 jogadores), Sub-15 (69 jogadores) e Sub-17 (72 jogadores). Os resultados encontraram diferença entre as categorias avaliadas, porém o nível de CTD não cresce em função do aumento da idade.

    Já Mangas (1999) avaliou 277 jogadores, sendo 72 praticantes de futebol em nível escolar e 205 jogadores em nível federado, sendo que os jogadores que atuavam em competições com nível mais elevado decidiram melhor nas situações apresentadas no teste, que os jogadores de competições de nível inferior. O que corrobora com os achados de Miragaia (2001), que, com o mesmo procedimento, realizou um estudo com 36 jogadores da 1ª e 2ª divisão da liga profissional de Portugal com idades entre 22 e 35 anos.

    Já que o nível de Conhecimento Tático Declarativo é influenciado pelo tempo de prática, experiência em competições dos atletas (GIACOMINI, 2007; GIACOMINI, GRECO, 2008), e o nível das competições que disputam (MANGAS, 1999; MIRAGAIA, 2001), seria necessário verificar o nível de CTD de atletas com diferentes tempos de prática, que atuem em uma competição do mesmo nível.

    Então, o objetivo do presente estudo foi comparar o nível de CTD de jogadores de futebol da categoria juvenil, de duas equipes da cidade de Belo Horizonte, por meio do desempenho no teste de CTD proposto por Mangas (1999), relacionando-o às posições de cada jogador no jogo, e à média do tempo de prática dos jogadores de cada equipe.

Método

Amostra

    A amostra foi composta por 48 atletas de futebol de campo, do gênero masculino, da categoria juvenil (sub-17), de dois clubes profissionais da cidade de Belo Horizonte. Os indivíduos da amostra eram participantes dos principais campeonatos estaduais e nacionais da respectiva faixa etária.

Instrumento

    Para avaliar o conhecimento tático declarativo (CTD) dos jogadores foi utilizado o instrumento validado por Mangas (1999). O instrumento constitui-se em 11 cenas ofensivas de futebol que permitem avaliar o participante de acordo com número de respostas certas e erradas para cada situação.

As imagens do teste de conhecimento tático declarativo (MANGAS, 1999) foram projetadas por um projetor multimídia anexado ao computador (figura 1).

Figura 1. Exemplo de imagem no computador na aplicação do teste de CTD (Mangas, 1999)

    As cenas-situação de jogo foram apresentadas e paralisadas durante 2 segundos no momento em que o portador da bola decidiria “o que fazer”. A partir disso, surgiram na tela do computador quatro fotografias, numeradas de 1 a 4, com possíveis soluções para a jogada. O jogador teve o tempo que achasse necessário para decidir e anotar sua resposta na ficha de avaliação.

    Para o presente estudo, foram realizadas pequenas adaptações que julgaram-se pertinentes no instrumento de Mangas (1999). Primeiramente, utilizaram-se somente as 8 cenas que obtiveram a concordância estatisticamente satisfatória por todos os peritos do teste de Mangas (1999) para, além da escolha da melhor solução, a hierarquia das 3 respostas subseqüentes. Julgou-se que o jogador que escolhe a 2ª melhor solução para a jogada não pode ser avaliado (em quantidade de pontos) da mesma forma que o jogador que escolhe a 3ª ou a pior solução, pois isto contradiz o princípio hierárquico do pensamento convergente, bem como a escolha da melhor à pior alternativa de decisão.

    Construiu-se assim um novo gabarito para teste de conhecimento tático declarativo de Mangas (1999) com escores diferenciados para cada solução escolhida pelo avaliado, a citar:

  • Melhor solução: 100% de acerto = 1 ponto no escore final

  • 2ª melhor solução: 75% de acerto = 0,75 pontos no escore final

  • 3ª melhor solução: 50% de acerto = 0,50 pontos no escore final

  • Pior solução: 25% de acerto = 0,25 pontos no escore final

    Com essas adaptações do instrumento desenvolvido por Mangas (1999), pretendeu-se obter uma avaliação mais objetiva e fidedigna do CTD dos jogadores.

Procedimentos

    Após um contato telefônico com os supervisores das equipes, marcou-se uma visita, na qual foi apresentado o título e objetivo da pesquisa, bem como a carta convite e autorização de procedimento, que foi assinado pelas instituições envolvidas para início das pesquisas.

    No dia da coleta dos dados os atletas que se dispuseram a participar do estudo compareceram no auditório no horário marcado e toda estrutura para início da pesquisa já estava pronta (computador, data show, canetas, questionários e termos de consentimento). Neste dia, os jogadores treinaram pela manhã, ficando disponíveis para a pesquisa no período da tarde. Após explicações sobre os procedimentos para aplicação do teste de CTD (MANGAS, 1999) e assinatura do termo de consentimento livre esclarecido pelos responsáveis, pediu-se que os atletas respondessem seu questionário de forma individual.

    Sendo assim, iniciou-se o teste utilizando um aparelho data show, que projetou as imagens do teste. Os jogadores utilizaram, para responder, apenas uma caneta e o questionário citado anteriormente.

Tratamentos dos dados.

    Inicialmente, empregou-se o teste de normalidade Shapiro-Wilk para amostras inferiores a 50 sujeitos, seguido do teste t-independende para comparar o CTD entre as equipes 1 e 2. O teste ANOVA one-way foi aplicado para comparar o CTD com a posição dos jogadores no campo e anos de prática. Finalmente a correlação de Pearson foi aplicada para predizer relações entre as posições dos jogadores em campo e o CTD a partir do goleiro até o atacante.

    Como a amostra foi inferior a 50 (cinqüenta) jogadores de futebol (48), para a verificação da distribuição da amostra empregou-se o teste Shapiro-Wilk. Determinou-se assim o tipo de teste estatístico a ser aplicado nos dados através do uso de estimativas de assimetria e curtose (PAGANO, GAUVREAU, 2004). Os valores resultantes do CTD foram submetidos ao teste normalidade e se apresentaram como normais com P= 0, 228. A partir desse resultado, as comparações entre o CTD e as variáveis categóricas: equipe e posição do jogador em campo foram realizadas através de testes paramétricos adotando 0,05 como níveis de significância.

Cuidados éticos

    Foram tomados os cuidados para a preservação da privacidade, bem-estar dos voluntários e respeito às instalações dos clubes. Para isso, foram tomadas algumas providências como elaborar e enviar uma carta de apresentação do pesquisador, e autorização dos clubes para início das pesquisas. O Termo de consentimento livre esclarecido foi assinado pelos responsáveis dos jogadores participantes. E foi garantido o sigilo dos nomes dos voluntários participantes e dos clubes envolvidos na pesquisa.

Resultados e discussão

    Para a variável Equipe 1 e 2, ambas da categoria sub-17 de diferentes clubes, o teste t-independente apresentou um p=0,011 apontado melhores resultados para a equipe 2, resultados estes apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Média por Equipe do Tempo de prática em meses e Nível de CTD

    A média do tempo de prática declarado pelos jogadores da equipe 2 é 9,58 meses maior que a média da equipe 1. Levando-se em consideração que o desempenho esportivo pode ser influenciado, dentre outras variáveis, pelo tempo e pela experiência em competições (THOMAS, 1994; FRENCH, THOMAS, 1987; GIACOMINI, 2007; GIACOMINI, GRECO, 2008; MATIAS, 2009) sugere-se que esta diferença pode ser um motivo para o melhor desempenho da equipe 2. Estudos anteriores (WILLIAMS, DAVIDS, 1995; GIACOMINI, 2007) obtiveram resultados que reforçam essa idéia, já que demonstraram um baixo rendimento de conhecimento tático declarativo em praticantes não experientes no futebol. Nestes estudos os jogadores mais experientes demonstraram um conhecimento tático declarativo mais elaborado, o que corrobora com os achados do presente estudo, quando se compara as duas equipes estudadas.

    Ainda no estudo de Giacomini (2007), que utilizou o mesmo instrumento do presente estudo, os atletas da categoria juvenil obtiveram uma média de 6,97 no teste de CTD. Podemos especular que um dos motivos pelos quais os resultados foram melhores que no presente estudo é o tempo de prática, quando comparado ao tempo de prática da nossa amostra, porém essa variável não é mencionada no estudo.

    Já Mangas (1999) e Miragaia (2001) não mensuraram o tempo de prática dos atletas participantes, mas concluíram que os jogadores que atuam em competições com nível mais elevado decidiram melhor nas situações apresentadas no teste, quando comparados aos jogadores de competições de nível inferior.

    Na variável Posição dos jogadores no campo os resultados encontrados não apresentaram diferenças significativas. Não se encontrou relação através da correlação entre as posições dos jogadores em campo e o CTD a partir do goleiro até o atacante. O que corrobora com os resultados do estudo de Giacomini (2007) e Mangas (1999), que apesar de terem apresentado uma tendência de Meias e Atacantes obterem melhores resultados no teste de CTD, não apresentaram diferenças significativas entre os jogadores de diferentes posições.

Conclusão

    Foi verificado que o desempenho dos jogadores da Equipe 2, em média, foi maior no teste de conhecimento tático declarativo quando comparado a Equipe 1. A partir desse resultado foi possível concluir que o tempo de prática dos atletas, influencia diretamente no nível de CTD, uma vez que a equipe com o melhor desempenho apresentou a média do tempo de prática superior a outra. Na prática, esse resultado nos remete a reflexão sobre alguns cuidados nas avaliações de jovens atletas, já que um possível desempenho ruim pode estar relacionado a um momento de inexperiência em que o atleta se encontra, quando comparado a um atleta da mesma categoria, e não a uma incapacidade de realizar determinadas tarefas.

    Já para a relação entre o nível de Conhecimento Tático Declarativo e as posições ocupadas pelos jogadores no campo, não se encontrou diferenças significativas entre as diferentes posições. E apesar de serem necessários novos estudos para confirmar esses achados, não seria possível inferir que um atleta está apto ou não para atuar em determinadas posições durante o jogo somente pelo desempenho neste teste.

    Como limitação do estudo pode-se citar que o tempo de prática é um fator que influencia no resultado no teste de CTD, logo a homogeneização dos grupos com tempo semelhante de prática propiciará maior consistência dos dados, podendo constatar a diferença no nível de CTD entre os grupos com diferentes tempo de prática

    São necessários também novos estudos que analisem o processo de ensino-aprendizagem-treinamento para verificar quais metodologias estão sendo aplicadas nos treinamentos das categorias de base de futebol, e assim poder averiguar qual poderia propiciar maior desenvolvimento do Conhecimento Tático Declarativo, melhorando o processo da tomada de decisão dos jogadores de futebol.

Referências

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