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Um estudo sobre aspectos motivacionais em crianças de 7 

a 14 anos na escolha do futebol como modalidade esportiva

Un estudio sobre los aspectos motivacionales en niños de 7 a 14 años en la elección del fútbol como modalidad deportiva

 

*Especialista em Educação Física Escolar

**Doutor em Exercício e Ciências da Saúde

Universidade de Brasília - UnB, Brasília, DF

(Brasil)

Robson de Souza Lobato*

lobato66@hotmail.com

André Luiz Teixeira Reis**

andrereis@unb.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho visa discutir aspectos motivacionais relativos ao futebol em crianças de 07 a 14 anos, participantes do Programa Segundo Tempo na cidade de São Sebastião, DF. Dentre os nossos objetivos procuramos verificar as razões que indicavam o futebol como um ícone de fascinação para essas crianças e se um dos fatores motivadores da busca por esta modalidade esportiva seria a possibilidade de ganhar dinheiro. A presente pesquisa é exploratória e qualitativa, tendo a entrevista como instrumento para coleta de dados. Os resultados indicaram que a motivação pelo futebol como esporte tem representatividade significativa na vida das crianças participantes, em consonância com o prazer e a satisfação pessoal, com forte influência dos pais e da mídia, e pela possibilidade de ganhar dinheiro praticando-o profissionalmente.

          Unitermos: Esporte. Futebol. Motivação. Capitalismo.

 

Abstract

          This works discusses motivational issues related to engagement in football in young people aged 7 to 14 years-old, at São Sebastião, city of the Brazilian Federal District, participating in a social program nominated as Programa Segundo Tempo by the Brazilian Ministry of Sport,. This study verified the reasons for having football as the most fascinated sport among participants and how much that motivation has been influenced by parents, coaches and the desire for earning money as professional player. This research is exploratory and qualitative, using interviews as process for collecting information. The results indicated that motivation for attending football classes was very representative and significant for participants´ personal desires for pleasure and satisfaction. Also, there was high level of social influences mainly from future possibilities of being professional football player.

          Keywords: Sport. Football. Motivation. Capitalism.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol tem sido uma modalidade esportiva bastante praticada em um programa do governo federal, através do Ministério do Esporte, denominado Programa Segundo Tempo. Este programa pertence ao Ministério do Esporte brasileiro e tem por objetivo oferecer diversas atividades de esporte, lazer, recreação e no contra-turno escolar. Além das referidas atividades, este programa governamental também oferece atividades complementares e reforço alimentar. É um programa social voltado prioritariamente para crianças em área de risco social e com vistas à cidadania. Neste sentido, consideramos que a maioria dos programas esportivos voltado para o público infantil implica em acreditar na força mobilizadora e transformadora que o esporte pode ser capaz de proporcionar.

    Parece que, dentro desse contexto, a paixão pelo esporte, mais precisamente o futebol, apresenta-se significante. Este fator traz algumas inquietações, levando-nos a acreditar que existem alguns elementos que necessitam ser estudados. Sendo assim, torna-se relevante realizar um estudo a partir das informações ou conhecimentos do processo da escolha e da participação do futebol enquanto cultura corporal contextualizando-o com a realidade.

    Uma série de questões faz parte desta problemática:

    Tendo em consideração o fato de que o esporte seja uma atividade corporal historicamente criada e socialmente desenvolvida, onde seu traço primordial é a competição, poderíamos lançar algumas hipótese sobre os motivos que levam uma criança a buscá-lo. Além da satisfação pessoal, do prazer e do lúdico, que atendem à sua subjetividade, talvez seja a força ideológica dos interesses característicos do modo de produção capitalista que dão ênfase na competitividade e espetaculosidade como alavanca de transformação do lúdico em trabalho. Ou seja, a criança também é levada pela espetaculosidade desse jogo transformado em esporte de rendimento, pois ela talvez veja a possibilidade de ascensão social e financeira. Isto acontece devido ao fato de que vários jovens atletas têm adotado a profissão de jogador de futebol pela possibilidade de ganhar dinheiro, aparecerem na mídia esportiva.

    A delimitação do nosso objeto de estudo se refere a avaliar o fascínio exercido pela bola e os fatores motivacionais que levam crianças de 7 a 14 anos de idade participantes do Projeto Segundo Tempo, do Complexo Vivencial Esportivo da cidade de São Sebastião – DF a buscarem o futebol como modalidade esportiva.

    Os resultados desta pesquisa poderão contribuir para a compreensão desta realidade específica, além de oferecer indicativos sobre o conhecimento nas áreas da cultura, cultura de massa, construção social da realidade e até do simbolismo. É um trabalho de cunho sócio-antropológico. Porém, não se tenha a pretensão de esgotar todas as variáveis pertinentes ao problema, não obstante considerar-se o fato de que o fascínio pela bola e os motivos que levam as crianças a buscá-lo se estendem não somente no Brasil, mas pelo mundo.

Debate teórico

    A palavra esporte é conceituada pelo COLETIVO DE AUTORES (1992), como sendo uma prática institucionalizada a partir dos temas lúdicos da cultura corporal. Mencionar o aspecto histórico ou historicizar. È uma tentativa de buscar pela análise sócio-histórica a raiz de um problema ou fato; do porque sermos ou agirmos da maneira como agimos hoje. Isto implica em contextualizar e reconhecer que toda atividade humana ocorre dentro das diversas formas de divisão social do trabalho, onde a organização corporal do homem necessita de um contato ativo com o mundo a sua volta.

    Definir local e data precisa do surgimento do futebol não é tarefa fácil, nem muito menos será nossa pretensão. No entanto, sabe-se, de acordo com FRISSELLI & MATOVANI (1999), que os jogos com bola praticados com os pés, existem desde o início do homem no planeta. Eles usavam uma bola de granito, ou mesmo frutas e crânios humanos para chutar e se divertirem. Acreditam os autores que esse, talvez, seja o antepassado mais remoto de futebol.

    Inúmeras foram as variações dos jogos precursores do futebol. FRISSELLI & MATOVANI (1999), apresentam que este jogo era denominado de “Epyskiros” na Grécia Antiga, “Haspartun” em Roma, “Hurling over country” na Inglaterra, “Cálcio” na Itália, “Soule” e “Choule” na França e “Hurling over goals” na Escócia e novamente na Inglaterra.

    De acordo com CARMO (2005), a característica primeira ou fundante do futebol, o ato de golpear a bola com os pés, não se perdeu. Nem seu caráter agonístico essencial.

    Os ingleses se importavam muito com esse “domínio da bola com os pés”. E foi durante um jogo, afirma FRISSELLI & MATOVANI (1999), que se levantou a questão de também poder se usar as mãos durante o jogo, o que causou uma clara ruptura entre o Rugby, (que posteriormente se originou no futebol americano) e o que hoje conhecemos por Football.

    A Inglaterra se torna, então, o marco inicial de um futebol mais sistematizado e organizado enquanto fenômeno esportivo.

    RODRIGUES (2003) explica o futebol foi introduzido no Brasil pelo paulistano Charles Miller, em 1894, após retornar de seus estudos na Inglaterra. Segundo o autor, o elitismo marca o nascimento do futebol no nosso país, onde negros e mulatos eram excluídos dessa prática esportiva. O futebol se irradia pelo meio industrial e aristocrático como hábito de lazer da colônia européia (HELAL apud. RODRIGUES, 2003). A defesa da tese do futebol como instrumento de ascensão social requer um estudo empírico amplo, porém, o autor cita estudos onde o futebol seria um instrumento de emancipação social de negros, mulatos e brancos pobres no Brasil. Um espaço que possibilitaria ascensão social, independente do poder econômico e do grau de escolaridade dos praticantes.

    Gostaríamos de salientar que não se pretende defender a tese do futebol como instrumento de ascensão social e financeira. Porém, como explicitado inicialmente, objetiva-se verificar esta questão como um dos fatores de engajamento na prática do futebol.

    Definir o que motiva uma pessoa a realizar ou buscar determinado objetivo é complexo, pois envolve uma série de fatores internos e externos ao próprio indivíduo.

    HUNTER apud. OLIVOTO & OLIVEIRO (2001), define motivação como um estado de necessidade ou desejo que leva a pessoa a fazer algo que satisfaça estas intenções. Tais objetivos seriam intrínsecos ao indivíduo. Esta discussão, segundo MAGIL apud. OLIVOTO & OLIVEIRA (2001) preocupa-se com a determinação das causas de um comportamento, investigando o que influencia estas causas.

    A escolha, desejo ou necessidade refere-se a um estado interno resultante de uma necessidade que desperta certo comportamento (DAVIDOFF, apud. PAIM, 2001), podendo assim satisfazer ou atender a subjetividade.

    A complexidade em se analisar aspectos motivacionais se dá pelo fato de que a motivação é uma variável que não pode ser diretamente observada - por envolver o fator interno. Porém, o comportamento causado por ela é que contribuirá para sua análise.

    Podemos também classificar que os motivos que levam um indivíduo a executar uma tarefa, podem estar relacionados a fatores externos como: elogios, presentes ou até mesmo recompensas materiais como dinheiro, carro, etc. Existe também os fatores internos, resultados de processos advindos das estruturas psicológicas, tais como: necessidade de sucesso pessoal, reconhecimento social, entre outros. Não podemos esquecer que alguns fatores são também derivados da própria tarefa que o indivíduo realiza, como: nível de complexidade, a novidade que a atividade apresenta ou até mesmo experiências novas a nível mental ou motor (CRATTY, apud. OLIVOTO & OLIVEIRA, 2001). Sendo assim, os autores concluem seus estudos alegando que a escolha da prática esportiva pode determinar a escolha, a participação e a continuidade de uma criança ou adolescente dentro de uma modalidade específica.

    A idéia de que a criança que pratica o futebol na infância interage a todo o momento com um sistema humano composto por professores, técnicos, pais e dirigentes esportivos sofrendo influências destes segmentos é apresentada por SANTANA (1998). O autor questiona a postura desse sistema humano, pois cada um interage de maneira diferente com as crianças onde os objetivos adotados na iniciação esportiva não diferem daqueles adotados na fase de especialização e rendimento. Dessa maneira, percebe-se que a criança já aprende a jogar possuindo uma idéia estereotipada a respeito do futebol, pois acredita que ele só possui o rendimento como um fim. E como rendimento caminha junto com produtividade, acreditamos que as crianças procuram produzir e render cada vez mais, a nível motor ou técnico-tático, para se destacarem, trabalhar profissionalmente e conseguirem a tão sonhada ascensão social financeira.

    O autor em questão apresenta reflexão que é de fundamental importância para o nosso estudo. Ele acredita que a evidência do esporte na mídia, juntamente com a promoção de eventos, também são fatores importantes que influenciam na escolha da prática esportiva. Não podemos esquecer também que as pressões, idéias e valores oriundos do sistema humano não podem ser desconsideradas.

    É por essa mistura e complexidade de fatores que se torna necessário um estudo cuidadoso para analisar uma realidade específica, visto que cada grupo ou indivíduo terá um fator motivacional diferente do outro. Porém, como estamos todos inseridos em um mesmo modelo de sociedade, e esta prega uma extrema valorização financeira, o nível de resposta poderá ser categórico e se assemelhar.

    Entender por que o futebol exerce tanto fascínio na vida das crianças não é tarefa fácil. Juntamos os fatores sócio-histórico-culturais ao que já foi apresentado. O simbolismo, por exemplo, é a interpretação mais antiga do homem sobre a realidade, afirma CARVALHO & FERRAZ (2001). Através dele o homem pode demonstrar como ele próprio percebe o mundo a sua volta. Segundo SANTIN (apud. ALVES, 2001), o que o futebol representa para o homem compreende uma corporeidade simbólica que emerge da compreensão do corpo para além de uma entidade concreta, se tornando produto do imaginário humano. O símbolo e o signo do sentimento de paixão que o futebol desperta é um fator cultural que foi passado de geração a geração. A maneira como o homem constrói a representação da sua realidade irá se materializar na arte, na linguagem, na religião, no esporte, etc, (CARVALHO & FERRAZ, 2001). Essa visão antropológica nos auxilia a compreender o sentido que o homem aplica nas relações entre si e por que o objeto materializado se torna tão significativo para ele. Neste contexto, a paixão pelo futebol liga-se como crescente nacionalismo e juntos tentarão construir uma narrativa positiva sobre o Brasil (FREYRE apud. SOARES & LOVISOLO, 2003).

    Da MATTA (apud. SOARES & LOVISOLO, 2003), defende que o estilo nacional foi influenciado pelo amálgama de vários fatores culturais, como o samba, o carnaval, a capoeira, a religiosidade e o futebol em função da estrutura política e social que não permitia a expressão e a mobilidade do indivíduo.

    Desta forma, mostra-se o quanto que a construção histórica do estilo nacional influenciou o futebol e contribuiu para que ele se tornasse um esporte tão fascinante para a população brasileira. Assim, hoje, podemos perceber que o futebol brasileiro se revela um campo de conflitos e interesses sociais, econômicos, políticos e culturais que acabou por se transformar bastante rentável para vários setores.

    Com referência aos meios de comunicação, EUSTÁQUIO DE PAULA (1996) avalia que a mídia tem utilizado o campo esportivo para veiculação de ideologias e atitudes, além de veicular produtos através da venda de espaços publicitários, o que atribui um enorme poder econômico. Colaborando com este pensamente, DORNELLES & NETO (2003), acreditam que a televisão seja um veículo ostentador de poder e gerador de influências nos hábitos das pessoas, na maneira de ser e de agir dos telespectadores. As pessoas, principalmente as crianças, tendem a seguir padrões de comportamento que acreditam ser importantes para elas. Desse modo, a população aqui estudada parece também sofrer influências desse meio de comunicação de massa. Resta saber se isto pode se tornar fator que influencie as crianças a procurarem e praticarem o futebol.

    Considerando as reflexões teóricas apresentadas, a análise indica que o futebol como trabalho e indústria de espetáculo condena o que não é rentável, tornado-se um dos negócios mais lucrativos do mundo. E isso, segundo HOMRICH & SOUZA (2003), é devido ao atual conceito de sociedade, que se baseia na produção, na concorrência, no mercado, nos valores quantitativos, na exploração e no business.

Metodologia

    A variável da nossa pesquisa envolve o fator motivacional e o foco-objeto teórico compreende a questão do futebol e a ascensão social financeira.

    Neste sentido, os princípios e fundamentos da pesquisa qualitativa nortearam a metodologia aplicada ao projeto de pesquisa. Além disto, baseando-se no paradigma qualitativo, o processo indutivo aplicado durante a análise dos dados coletados contribuem para descrever simultaneamente vários fatores que compõem a realidade, buscando uma contextualização, compreensão e interpretação do fenômeno estudado. Sendo assim, não há intencionalidade de generalizar os resultados para outros grupos ou contextos.

    No intuito de apresentar a metodologia aplicada na presente pesquisa, faz-se necessária pequena avaliação sobre princípios metodológicos baseados em literatura sobre o tema. Esta preocupação torna-se importante haja vista o estudo sobre um contexto onde precisamos entender aspectos sociais, históricos, políticos e culturais. Percebemos que esta não era uma temática nova, porém cada novo estudo contribui para a ampliação do conhecimento, podendo proporcionar novos olhares sobre a realidade estudada.

    A entrevista face a face foi utilizada como instrumento de coleta de dados. Houve apenas uma questão foco e possibilitava ampla margem à conceituação e interpretação do participante, privilegiando sua subjetividade. O foco ou questão-foco foi: “Por favor, fale sobre sua motivação em ter escolhido o futebol como modalidade” (...) “Por quê?” (...) “Fale mais sobre isto!” (...), assim por diante. As perguntas apenas apontavam um foco e a respostas eram estimuladas de acordo com a interpretação do participante. O instrumento utilizado para a coleta de dados teve por objetivo a ampla variedade expressiva de informações sobre o fenômeno estudado.

    Participaram 16 alunos matriculados no projeto, cuja unidade amostral foi o Complexo Vivencial Esportivo de São Sebastião, localizado no bairro São Bartolomeu, Distrito Federal. A forma de seleção é denominada como não-probabilística acidental, ou seja, foram selecionados participantes nos dias de aula, convidando alunos presentes, de acordo com a disponibilidade para serem entrevistados. Não houve coerção, estavam livres de pressão de tempo e com liberdade pela opção em participarem ou não. De acordo com KIPNIS & DAVID (2005), existem situações práticas em que é difícil a seleção aleatória da amostra, uma vez que não é todo dia de aula que há comparecimento de todos os alunos.

    No entanto, a despeito do exposto anteriormente, alguns critérios foram observados quanto a seleção dos participantes. Os participantes pertenciam à faixa etária de 7 a 14 anos. Desta forma, optou-se por selecionar dois alunos de cada idade, acreditando-se que o nível de resposta dentro de cada idade poderia diferenciar-se devido ao fator cognitivo ou maturacional do participante. Além disto, acreditamos na possibilidade de obter maior riqueza nos dados.

    As entrevistas e observações foram realizadas no mês de novembro de 2005, e os alunos entrevistados eram todos do sexo masculino. A opção por trabalhar com crianças do sexo masculino não foi proposital, pois os alunos participantes eram do referido gênero. Sabemos que historicamente e culturalmente o futebol é associado à masculinidade e, portanto, enraizado e objetivado para homens. Desta forma, os meninos começam a se aprimorar em atividades com bola de futebol desde seus primeiros passos. No entanto, torna-se necessário esclarecer que a necessidade de se identificar as razões do preconceito à participação das mulheres no futebol não faz parte do contexto desta pesquisa.

Resultados

    Foram entrevistadas 16 crianças com idade entre sete e 14 anos, participantes do Projeto Segundo Tempo da cidade de São Sebastião – DF da turma de futebol de campo e os dados foram analisados de maneira progressiva a começar pelos alunos de sete anos de idade. Abaixo, apresentamos os dados que demonstraram significância no esclarecimento e descrição do fenômeno em estudo.

    Os participantes com idade de sete anos afirmam que não sofreram influência na escolha da modalidade esportiva, porém suas narrativas apresentam perspectiva financeira em relação ao futebol profissional. Neste sentido, entendem que ser jogador de futebol profissional traz status social, fama e melhora suas condições de vida. Acreditam que poder jogar futebol, ou seja, fazendo o que gostam e ainda ganhar dinheiro com isso, seria tudo que mais desejariam na vida.

    Os participantes com idade de oito anos afirmaram que tiveram incentivos e alguma influência de seus familiares na escolha da prática do futebol. Este aspecto vai ao encontro do que apresenta SANTANA (1998), a criança que pratica o futebol na infância interage a todo o momento com o que ele chama de sistema humano, que seria os pais, professores, técnicos e dirigentes esportivos, onde a criança sofreria influência destes segmentos. Sendo assim, no caso desta pesquisa, percebemos que os alunos de oito anos sofrem influência dos meios de comunicação, almejam ganhar dinheiro jogando futebol. No entanto, afirmaram que o prazer em jogar futebol fica acima da possibilidade exclusiva de ganhar dinheiro.

    Os participantes com idade de nove anos afirmaram que faz parte de suas intencionalidades futuras serem jogadores profissionais. Interessante notar que isto não se ateve exclusivamente pela questão financeira, mas pelo status e o prazer em jogar. Neste ponto, houve semelhança entre a idade anterior, evidenciando o fazer o que gosta e ainda ser pago por isto.

    Os participantes com idade dez anos também apresentaram que pretendem ser jogadores profissionais. Tal como os outros, afirmaram que suas intenções não têm motivações somente pelo fator financeiro. Outros participantes com idade de 11 anos praticam o futebol a mais tempo do que os demais e ambos tiveram o mesmo nível de influência.

    A procura subjetiva pela felicidade está presente em ambas narrativas. Isto acontece tanto para os participantes de 11 anos como nos demais. Percebe-se que a ação de jogar e participar de turmas de futebol é algo muito prazeroso. De certo que neste nível de participação a questão financeira ainda não seja o principal motivo. No entanto, existe de forma latente a pretensão de assumirem o futebol como profissão, a fim de ganhar dinheiro e suprir as necessidades financeiras da família.

    Os demais alunos, de doze, treze e quatorze anos também pretendem ser jogadores profissionais e ganhar dinheiro. O futebol os fascina pela possibilidade de fama e status social. Isto parece ter sido notório em todas as faixas etárias, principalmente por ambos serem, direta ou indiretamente, influenciados pelo sistema humano, como nos mostrou SANTANA (1998), e pela mídia (DORNELLES & NETO, 2003).

Considerações finais

    Primeiramente, o presente tópico discriminado como considerações finais não tem o intuito de concluir este trabalho exploratório. Para isto, novos estudos necessitam ser realizados, demandando mais pesquisas qualitativas utilizando diferentes métodos e instrumentos de coleta e análise de dados. Neste sentido, RODRIGUES (2003), também avalia que a defesa da tese do futebol como instrumento de ascensão social requer um estudo empírico amplo e sistemático.

    Os resultados aqui encontrados apontam o futebol como modalidade esportiva identificada com os símbolos e representações sociais das crianças participantes do Projeto Segundo Tempo da cidade de São Sebastião – DF. Esta identificação está centrada nos aspectos de ascensão social e profissional.

    Sendo assim, o fascínio pelo futebol envolve uma série de fatores de apelos externos ecoando internamente nos indivíduos. A questão histórico-cultural é importante quando se avalia a relevância política da inserção do futebol na sociedade brasileira – “a paixão brasileira”. Com sua evolução histórica, a indústria cultural se apropria e cria valores que contribuem para determinar o futebol enquanto esporte hegemônico. Esta realidade é notória no Brasil. No caso específico do contexto da presente pesquisa, pode-se destacar o fato de que no Projeto constam 200 participantes. Destes, 70% praticam o futebol de campo e o restante se divide entre o futebol de salão e outras atividades.

    No entanto, percebeu-se que a procura pelo aspecto lúdico foi um dos fatores que motivaram essas crianças a buscarem o futebol. Assegura-se, então, o papel do futebol como instrumento de lazer e diversão dos participantes, mesmo que exista uma intencionalidade subjetiva. Reforça-se esta idéia, quando os participantes avaliam que, mesmo almejando o retorno financeiro como objetivo futuro e de importância fundamental em suas vidas, jogariam profissionalmente mesmo se o futebol não rendesse dinheiro algum. Talvez possamos indicar que existe grande influência do aspecto lúdico como fator de motivação. Ou seja, o prazer que a atividade em si provoca, e o meio social com destaque para o sistema humano – o ser enquanto participante da estrutura social entendida como cultura, política, identidade social entre outros (SANTANA, 1998).

    Ao analisarmos os resultados mais relevantes percebemos que as crianças praticam o futebol dentro de uma escala de objetivos ou fatores motivadores. O gosto pessoal representando pelo lúdico é apontado em primeiro lugar. Participam simplesmente porque gostam. Podemos entender desta forma porque o lúdico é elemento bastante significativo na vida das pessoas. Representa a busca pelo prazer e satisfação pessoal. Em segundo lugar, está a influência do meio social. Parentes, professores e meios de comunicação são enquadrados nesta seqüência de fatores motivadores.

    Por fim, não é tão simples identificar os fatores que fazem com que a bola e o jogo de futebol sejam elementos importantes e significativos nas atividades físicas componentes da cultura corporal das crianças e do contexto estudado. Podemos simplesmente adotar a justificativa apresentada por FRISELLI & MANTOVANI (1999), afirmando que os jogos com bola, praticado com os pés, existem desde o início do homem no planeta, tornando-se hábito social passado de geração a geração. Certamente, nossa experiência profissional indica que uma atividade com bola desperta maior interesse e causa fascinação na criançada participante.

    Acreditamos que nossos objetivos foram alcançados na medida em que pudemos relacionar aspectos motivacionais do envolvimento em futebol de acordo com o contexto específico das crianças participantes de um programa social na cidade de São Sebastião, DF. Mesmo assim, questões ainda permanecem sem respostas indicando a manutenção do debate. A cada passo surgem novas inquietações e, certamente, este trabalho exploratório precisa ter continuidade em outros estudos.

Referências bibliográficas

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