Aspectos históricos, conceitos fundamentais: hidroginástica, saúde, qualidade de vida e Educação Física Aspectos históricos, conceptos fundamentales: gimnasia acuática, salud, calidad de vida y Educación Física |
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Mestre em Pedagogia do Movimento Docente do Centro Universitário N. S. do Patrocínio e da ESAMC. Sorocaba, SP |
Rita de Cassia Fernandes (Brasil) |
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Resumo O presente trabalho tem como objetivo discutir aspectos históricos e conceitos fundamentais da hidroginástica na sua relação com a saúde, a qualidade de vida e o papel da Educação Física. Salientamos que os movimentos realizados no meio líquido foram utilizados com finalidades terapêuticas, mas também recreativas ao longo da história. Atualmente, a hidroginástica é buscada por diferentes grupos, idosos, gestantes, adultos e em diferentes contextos, clubes, academias, associações com objetivos e expectativas diversificadas. Os benefícios da prática regular da hidroginástica citados por Figueiredo (1999) e Bonachela (2001) como o aumento da resistência cardiovascular, da força e da resistência muscular localizada; as mudanças na composição corporal; o aumento da flexibilidade, do equilíbrio e da coordenação motora global associada à sua contribuição para o bem-estar dos praticantes atestam sua relevância como atividade física para diferentes populações. Apontamos através da literatura a necessidade de mudanças no estilo de vida, favorecendo a ludicidade, a socialização, o bem-estar, enfim o prazer que o contato com a água pode oferecer na perspectiva do lazer saudável. Unitermos: Hidroginástica. Saúde. Qualidade de vida.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Descobria-se o litoral. O lugar onde a terra e o mar se encontravam revelava ser diferente. Aí, os actos e as representações que lhes eram associados surgiam marcados pelas preocupações que a ausência de saúde impunha e, também, pela aprendizagem do prazer, de outras estruturas da sensibilidade. (HASSE, 1999)
Introdução
Durante muito tempo as atividades aquáticas foram utilizadas devido as suas propriedades e finalidades recreativas e curativas. Hoje, a hidroginástica pode também ser identificada com diferentes terminologias como Ginástica Aquática, Aquaeróbica entre outros. Pode ser entendida como prática corporal que utiliza o meio líquido para melhora da aptidão física. Bonachela (2001) define como o conjunto de exercícios físicos executados na água, cujo objetivo é aumentar a força e a resistência muscular, melhorar a capacidade cardiorrespiratória e a amplitude articular, utilizando a resistência da água como sobrecarga.
As preocupações na busca de mudanças no estilo de vida através da prática de exercícios físicos associados a uma alimentação equilibrada são evidentes. Hoje o exercício físico é considerado um tratamento de prevenção, principalmente para doenças do coração e diabetes, aumentando a expectativa de vida. A prática da hidroginástica para diferentes populações pode proporcionar grandes benefícios, transcendendo meramente preocupações de natureza estética abrindo espaço para a busca do bem-estar e do autoconhecimento.
1. Aspectos históricos da hidroginástica
No intuito de despertar sensações e percepções sobre aspectos históricos da relação do homem com a água é que iniciamos nossas reflexões, entremeadas pelas formas de ver, sentir, compreender a Natureza e as ações humanas. Curioso, mas optamos por fazê-lo a partir da história dos banhos de mar, do litoral. Sim, um texto feminino assim como “praia, por sua vez, proveniente do latim plagia e este provavelmente do grego plágia, feminino de plágios, significa oblíquo, que não está em linha reta, algo que está de lado, sempre, um outro lugar (HASSE, 1999). É assim que vemos o mundo, oblíquo, inclinado, atravessado por histórias entrecruzadas que agora buscamos alinhavar. Apenas mais uma tentativa de compreender melhor suas injunções no presente, numa perspectiva não-linear da história. Inúmeras “versões” que se estabelecem ao longo do tempo a serem desveladas, problematizadas.
Para alguns, o mar sempre causou atração, encantamento, para outros o medo do desconhecido, o pavor. No entanto, desde o século XVI, na Europa, a busca pelo aspecto purificador do mar, do ar-livre se fez presente, aliado a alguma forma de “hidroterapia” assumindo a função terapêutica, contribuindo para a “harmonia não somente do corpo, mas do espírito”, numa concepção dualista e fragmentada. A Natureza se torna cada vez mais fonte de vida, de renovação, de regeneração (CORBIN, 1989).
É nesse caminho que retomamos a própria história dos banhos de diferentes povos, seus costumes, hábitos de vida, a sua relação com o sagrado tecendo formas distintas de encarar a natureza. Para ilustrar tais idéias, Figueiredo (1999) aponta quatro tipos de banhos utilizados pelos romanos que remontam ao período de 460 a 375 a. C.:
Frio (Frigidarium) como recreação;
Tépido: local com ar aquecido (Tepidarium);
Executado em ambiente fechado, saturado de ar úmido e quente.
Quente (Caldarium).
Portanto, cabe salientar que os movimentos realizados no meio líquido, foram utilizados com finalidades terapêuticas, mas também recreativas. Nos países europeus, nos séculos XVIII e XIX, segundo Figueiredo (1999), os banhos mornos foram amplamente utilizados como hidroterapia, por exemplo, para recuperação e alívio de espasmos musculares. Posteriormente, é que vão ser exploradas as várias temperaturas da água, visando o aprofundamento dos estudos sobre suas propriedades físicas, bem como as reações e efeitos sobre os tecidos e órgãos do corpo humano.
No entanto, em tempos nem tão remotos assim, no contexto brasileiro, a Revista da Semana, datada de dezembro de 1915, analisada no trabalho de Sant´ Anna (1995, p. 124), situa as propriedades do banho de mar prescrito exclusivamente por médicos, afirmando que este é um “excelente recurso terapêutico, a ser recomendado para os anêmicos, aos escrofulosos e aos convalescentes em geral”. Tais concepções nos apontam que esta prática estava restrita as prescrições higiênicas do início do século XX, validadas pela ciência e pela área médica.
Podemos afirmar com base em Bates (1998) que a hidroginástica derivou da hidroterapia, tendo seu surgimento na Alemanha, para atender inicialmente a um grupo de pessoas com mais idade, que precisava praticar uma atividade física, segura, sem causar riscos ou lesões articulares e que lhes proporcionasse bem estar. As primeiras aulas se assemelhavam muito aquelas de ginástica aeróbica, pois ambas foram introduzidas e mais divulgadas no Brasil no final dos anos de 1980. No início do seu processo de difusão, os principais freqüentadores eram os idosos devido ao menor risco de lesões, além do bem-estar segundo o mesmo autor.
2. Conceitos fundamentais da hidroginástica
A estruturação de metodologias direcionadas para as atividades aquáticas assim como os benefícios em vários aspectos têm colaborado para a sua grande aceitação social. Podemos também citar diferentes programas existentes no mercado como Acquagym, Ginástica Aquática, Hidroatividade, Aquaeróbica. Os modismos, as hidrovariações não param por aí: Deep water (Hidro sem tocar o pé no fundo); Deep runner (Corrida dentro sem tocar); Hidroioga; Hidrodança; Hidrocapoeira; Hidro Power; Hidro local entre outras.
O mercado dos cuidados com o corpo atinge também a hidroginástica, criando necessidades de consumo e constantes recriações de uma mesma prática, ou seja, uma “modalidade caracterizada pela realização de exercícios físicos em imersão vertical, utilizando membros superiores e inferiores permanecendo continuamente no meio líquido” (SOARES e MONTEIRO, 2000). Pode ser vista, ainda, como “método de condicionamento físico e modelagem estética” (MAZARIN,1995).
A hidroginástica hoje é procurada por diferentes grupos, idosos, gestantes, adultos e em diferentes contextos, clubes, academias, associações com objetivos e expectativas muito diversificadas.
É fundamental que neste trabalho com as atividades aquáticas, o professor possa compreender as propriedades físicas da água e sua aplicabilidade, tendo melhores condições de utilizar seus benefícios, protegendo principalmente as articulações dos joelhos, tornozelos, quadris e até mesmo a coluna vertebral, a fim de implantar e desenvolver um programa adequado aos seus alunos.
Dentre estas propriedades destacamos a:
Flutuação: considerada a primeira força física que percebemos ao entrar na piscina. É a força que atua em sentido contrário à ação da gravidade (empuxo para cima), regida pelo princípio de Arquimedes, ou seja, “quando um corpo está completo ou parcialmente imerso em um líquido, ele sofre um empuxo para cima, igual ao peso do líquido deslocado”, pois sua utilização básica facilita a execução dos movimentos, diminui do stress biomecânico (atrito), assim como os riscos de lesões, atuando no processo de fortalecimento muscular. Temos também outro tipo de força atuando que é a pressão hidrostática exercida igualmente, em todas as direções. Os efeitos da pressão hidrostática dependem da profundidade a que o corpo é submerso e quanto maior a profundidade, maior será a pressão exercida. (ABOARRAGE, 2008)
Pressão hidrostática: a pressão do liquido é exercida igualmente sobre todas as áreas da superfície de um corpo imerso, em repouso, a uma dada profundidade (Lei de Pascal). Esta aumenta proporcionalmente à profundidade e densidade do fluido. É a primeira contribuição para o exercício (há uma estimulação imediata da circulação periférica e, com a água na altura dos ombros uma resistência sobre a caixa torácica. Por isso, pessoas com comprometimento respiratório grave ou com capacidade vital reduzida, devem iniciar o programa em piscinas mais rasas e de acordo com suas possibilidades. A utilização básica desta propriedade é a resistência ao movimento de sobrecarga natural, estímulo a circulação periférica, facilitação do retorno venoso, fortalecimento da musculatura envolvida na respiração (ABOARRAGE, 2008).
Viscosidade:
Densidade:
É interessante notarmos que algumas pessoas de acordo com o seu biotipo têm maior flutuabilidade, isto faz com que sintam maior facilidade em executar exercícios de flexibilidade, por exemplo, e ao mesmo tempo encontram maior resistência no momento da força. Isto tem a ver com o peso dos ossos e a quantidade de massa magra e percentual de gordura.
Temperatura: influencia em algumas alterações cardiorrespiratórias. Na hidroginástica o ideal é que se realizem aulas em temperaturas entre 27 a 29 graus C, podendo-se treinar em temperaturas abaixo, desde que se faça um aquecimento antes de entrar na água. É importante frisar que a exposição a temperaturas mais altas aumenta a elasticidade muscular, ajudando a aumentar o ângulo do movimento, prevenindo lesões durante a execução dos exercícios.
Na hidroginástica, a carga é constituída pela própria resistência da água, a qual pode ser intensificada aumentando, por exemplo, a velocidade de execução do movimento; o comprimento da alavanca; a resistência da água com materiais flutuantes. (ROCHA, 1994)
Ao planejarmos um programa de hidroginástica devemos estar atentos ao perfil dos praticantes, seus interesses e objetivos, além de estruturamos a periodização do treinamento com vistas à progressão da intensidade, obtendo melhores resultados.
Quanto às estratégias metodológicas, a música pode ser citada como fator importante na motivação dos alunos, sendo atraente e funcional, poderá influenciar o rendimento da aula. Neste aspecto, podemos propor aulas temáticas com diferentes ritmos, como “Anos 60”, “Country”; “Carnaval” entre outros.
Já na utilização de implementos na hidroginástica temos várias opções como halter, acquatub ou macarrão, caneleira, flutuado, luva, colete, bastão, bola entre outros materiais não-tradicionais.
3. Hidroginástica, saúde, qualidade de vida e Educação Física
Os benefícios da prática regular da hidroginástica citados por Figueiredo (1999) e Bonachela (2001) são:
Aumento da resistência cardiovascular;
Aumento da força e da resistência muscular localizada (RML);
Mudanças na composição corporal;
Aumento da flexibilidade, do equilíbrio e da coordenação motora global.
Contribui para o bem-estar dos praticantes
Buscando relacionar de forma mais específica a hidroginástica com a saúde, a qualidade de vida e a educação levantamos primeiramente a seguinte questão: O que é ser saudável? Hoje, esta resposta deve ser dada de uma forma mais ampla, não se limitando, portanto, a ausência de doenças nem na perspectiva de culpabilização do indivíduo.
Conforme o Relatório final da VIII Conferência Nacional de Saúde:
Saúde é o resultante das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (MINAYO, 1992, p.10).
Portanto, a área da saúde hoje constitui uma realidade complexa que requer uma abordagem multidisciplinar. Na promoção da saúde três aspectos são fundamentais: Equidade como a capacidade de utilizar-se da melhor forma os recursos disponíveis, Empowerment, enponderamento, fortalecimento da população e Autonomia percebida como a capacidade de gerir sua saúde (CARTA DE OTTAWA, 1986).
Quanto à questão da qualidade de vida, pode afirmar que esta é um fator intrínseco, pois depende de uma percepção subjetiva. Quase sempre há uma confusão conceitual entre qualidade de vida e estilo de vida, sendo que o último envolve necessariamente mudanças comportamentais.
Atualmente, discute-se a “Gestão Móbile”, ou seja, o modelo ecológico de promoção de atividade física, proposto por Matsudo e Cols (2003), para os quais devem ser considerados aspectos do ambiente pessoal, social e físico, numa ação integrada junto à comunidade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% da população mundial é sedentária e está sujeita a desenvolver doenças cardíacas, diabetes e obesidade. O sedentarismo traz graves problemas à saúde e ainda é responsável por 54% do risco de morte por enfarte, 50% por derrame cerebral e 37% por câncer, surgindo como a maior prevalência dos fatores de risco.
Sabemos que as barreiras para a adesão e manutenção da prática de atividades físicas são muitas, como a falta de tempo, de dinheiro, de condições mínimas que garantam o lazer, portanto não se trata somente de uma escolha individual ou da conscientização como muitos defendem, pois os fatores sociais, culturais e econômicos devem ser considerados.
Considerações finais
Pudemos constatar através da revisão bibliográfica que a hidroginástica traz benefícios para a saúde numa perspectiva global aos praticantes e que a grande maioria destes, busca esta prática por motivos de saúde através de indicação médica ou por estar sentindo os benefícios no seu cotidiano.
Que os profissionais de Educação Física possam intervir nessa realidade buscando conscientizar-se da relevância do desenvolvimento de pesquisas na área que fundamentem sua prática profissional em análises científicas deste fenômeno.
Dessa forma, esperamos que a hidroginástica contribua para mudanças no estilo de vida, favorecendo a ludicidade, a socialização, o bem-estar, enfim o prazer do contato com a água, para que as pessoas permaneçam na prática regular da atividade física na perspectiva do lazer saudável. Tarefa a ser compartilhada também pela Educação Física: um convite e um desafio.
Referências
ABOARRAGE, N. Treinamento de força na água: uma estratégia de observação e abordagem pedagógica. São Paulo: Phorte, 2008.
BATES, A. Exercícios aquáticos terapêuticos. São Paulo: Manole, 1998.
BONACHELA, V. Manual Básico de Hidroginástica, 2ª edição, Rio de Janeiro: Sprint, 2001.
CARTA DE OTTAWA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE. 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde Ottawa, Canadá, 17-21 Novembro de 1986. Disponível em: http://www.ptacs.pt/Document/Carta%20de%20Otawa.pdf. Acesso em 01/10/10.
CORBIN, A. O território do vazio: a praia e o imaginário ocidental. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
FIGUEIREDO, S. A. Hidroginástica. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
HASSE, M. Oeiras e o desenvolvimento de novos comportamentos de lazer-a valorização de um novo mundo: o mar, a praia e as férias. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 14, 1999. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd14b/oeiras.htm
KATZ, J. Exercícios aquáticos na gravidez. São Paulo: Manole, 1999.
MATSUDO, V. K. R. et al. Usando a gestão móbile do modelo ecológico para promover atividade física. Disponível em: http://www.celafiscs.institucional.ws/23/artigos_cientificos.html. Acesso em 08/10/10.
MAZARINI, C.. “Saúde que vem da água”. Revista Brasileira de Esportes Aquáticos, São Paulo, p.19-21, ago. 1995.
MYNAIO, M. C. S. Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo/Rio de Janeiro: HUCITEC/ABRASCO, 1992.
ROCHA, J. C. C. Hidroginástica, teoria e prática. 4ª ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1994.
SANT´ANNA, D. B. Cuidados de si e embelezamento feminino: fragmentos para uma história do corpo no Brasil. In: SANT´ANNA, D. B. Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995.
SOARES, J.S.; MONTEIRO, A.G. Controle da intensidade na hidroginástica utilizando o interval training. Revista Metropolitana de Ciências do Movimento Humano, v.4, n.1, p.25-30, 2000.
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