efdeportes.com

A influência da visão no equilíbrio de crianças 

deficientes visuais congênitas e com visão normal

Influencia de la visión en el equilibrio de niños con discapacidad visual congénita y con visión convencional

 

*Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, Belo Horizonte, MG

**Grupo de estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora, GEDAM

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG

(Brasil)

Ana Beatriz Maggi*

Valner Randi de Souza*

Thiago Sinésio*

Daniela Sanches Machado*

Márcio Mário Vieira**

marciogin@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo comparar o equilíbrio estático e o equilíbrio dinâmico, de crianças deficientes visuais, cegos congênitos totais e não deficientes visuais. O equilíbrio dinâmico e estático foi avaliado por meio do Teste de Proficiência Motora de Bruininks–Oseretsky. A amostra era composta por 30 crianças de ambos os sexos entre 10 a 12 (10.5 ± 0,73) anos que foram divididas em 3 grupos (n=10): cegas congênitas totais (CC) e vinte crianças sem nenhum comprometimento visual, sendo que destas, dez foram vendadas (VV) e dez realizaram os testes com os olhos abertos (VN). No início de cada teste foi fornecida a instrução verbal, sendo realizado o teste dinâmico e sem intervalo em seguida, foi realizado o teste estático. Para a comparação entre os grupos foi realizada uma Anova One-Way que detectou diferenças entre grupos. Para a avaliação do equilíbrio dinâmico e do equilíbrio estático foi utilizado o teste pos-hoc de Tukey. O nível de significância adotado foi p<0,05. No equilíbrio estático encontrou diferenças significativas entre o grupo VN apresentou melhores resultados que os grupos VNV e CC. Para o equilíbrio dinâmico, o grupo CC apresentou resultados inferiores quando comparados aos outros grupos. No grupo de indivíduos de VNV observou-se que o desempenho foi melhor que o grupo CC e inferior quando comparado ao grupo de VN. Concluiu-se que o indivíduo deficiente visual quando comparado a indivíduos sem comprometimento de visão da mesma faixa etária apresenta desempenho inferior na manutenção do equilíbrio corporal, tanto estático quanto dinâmico.

          Unitermos: Equilíbrio dinâmico. Equilíbrio estático. Deficiência visual.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    As capacidades referem-se a um traço geral ou qualidade de um indivíduo que constitui um elemento fundamental para o desempenho de uma variedade de habilidades motoras¹¹. O equilíbrio, uma das capacidades, pode ser definido como a capacidade de um indivíduo manter a postura de seu corpo inalterada, quando este é colocado em posições diferentes, sendo influenciado por estímulos visuais, táteis, cinestésicos e vestibulares6. Essas informações sensoriais são predominantemente dos sistemas visual, vestibular e somatosensório14.

    O equilíbrio representa uma capacidade essencial para as tarefas diárias e a maioria das habilidades esportivas, sendo dividido em estático, habilidade de manter uma postura ou posição corporal desejada quando o corpo está imóvel, e dinâmico quando o corpo está em movimento16. O funcionamento do sistema postural envolve a necessidade de coordenar e controlar os segmentos corporais com base nas informações sensoriais. A manutenção da posição ereta, ao contrário do que parece, é uma tarefa complexa que envolve o relacionamento entre informação sensorial e as ações motoras. Dessa forma, o equilíbrio corporal está relacionado ao equilíbrio das forças internas e externas que agem no corpo durante as ações motoras².

    A visão exerce uma função importante na manutenção do equilíbrio corporal. Contudo, não está estabelecido se um possível déficit no equilíbrio está diretamente ligado à ausência ou não do analisador visual².

    O desempenho no equilíbrio melhora dos 3 aos 18 anos de idade, de acordo com as diferenças relativas ao sexo e à idade. O equilíbrio tende a melhorar na infância e posteriormente na adolescência, e as meninas tendem a apresentar melhor desempenho quando comparadas a meninos nas medidas de equilíbrio estático e dinâmico, durante a infância. Mas essa vantagem desaparece na adolescência20.

    O papel do equilíbrio está intimamente relacionado à manutenção da postura corporal, independente da posição adotada pelo corpo, seja ela estática ou dinâmica. Para o equilíbrio corporal ser mantido é necessário um conjunto de estruturas funcionalmente entrosadas como o sistema vestibular, sistema visual, sistema proprioceptivo e o meio ambiente¹.

    A manutenção do equilíbrio é realizada pelo sistema ou aparelho vestibular, que é o conjunto de órgãos do ouvido interno formado por três canais semicirculares que se juntam numa região central chamado vestíbulo, que apresenta ainda duas proeminências chamadas sácula e utrículo. Ao vestíbulo encontra-se igualmente ligada a cóclea que é a sede do sentido da audição. O conjunto destas duas estruturas chama-se labirinto, devido à complexidade da sua forma tubular7.

    O aparato vestibular coordena-se com os sistemas visual, tátil e cinestésico, promovendo a manutenção do equilíbrio. Parece que o desenvolvimento do sistema vestibular, em termos de equilíbrio está estruturalmente completo no nascimento, mas a musculatura corporal e as outras modalidades sensoriais devem amadurecer e serem integradas aos comandos vestibulares para que possam ser utilizadas na manutenção do equilíbrio estático ou dinâmico6.

    A visão e a propriocepção são as principais fontes de informação sensorial que influenciam o controle do movimento coordenado, dessa forma os seres humanos tendem a utilizar e confiar principalmente na visão na realização das atividades diárias. A informação visual propícia ao indivíduo à focalização de um ponto de referência quanto ao posicionamento do corpo em relação ao ambiente6, 11.

    A visão exerce uma função importante na manutenção do equilíbrio corporal, pois enquanto a qualidade da informação visual não é afetada o equilíbrio permanece constante. Todavia, quando essa informação é manipulada, seja pelo deslocamento do campo visual ou pela diminuição da acuidade visual ocorre o aumento da oscilação corporal, existindo um prejuízo na manutenção do equilíbrio².

    O equilíbrio se relaciona diretamente a visão, pois mesmo após a destruição completa dos sistemas vestibulares, um indivíduo utiliza de maneira efetiva o seu mecanismo visual para o controle do equilíbrio. As imagens visuais auxiliam o indivíduo na manutenção do equilíbrio pela utilização da referência externa, contudo essa característica foi confirmada apenas em movimentos lentos7. A visão em habilidades motoras relacionadas ao equilíbrio é responsável pelo aumento da noção de tempo/espaço, e em crianças está diretamente relacionada à condição de se moverem e se orientarem no ambiente15.

    A deficiência visual é definida como a perda total ou parcial da visão, portanto ao buscar estimular uma criança com deficiência visual devem-se oferecer subsídios para promover um desenvolvimento harmônico de suas capacidades, observando principalmente os estímulos que lhe são escassos ou ausentes¹.

    Conforme Craft e Lieberman5, os alunos cegos podem ter a imagem corporal e o equilíbrio menos desenvolvidos. Uma possível explicação para isso se deve às poucas oportunidades que eles têm de fazer uma atividade física regular, através da qual o equilíbrio e a imagem corporal possam ser refinados. Além disso, a visão colabora no equilíbrio, pois permite que se visualize um ponto de referência para auxiliar a estabilidade. Nas crianças portadoras de deficiência visual, uma possível reorganização sensorial ocorre somente entre 9 e 11 anos de idade. Uma explicação é que a criança deficiente visual apresenta alteração no tempo e na forma de integração das informações provenientes dos canais sensoriais fazendo, portanto, que esta possível reorganização do funcionamento do controle postural ocorra mais tarde quando comparada às crianças sem comprometimento visual.

    Navarro et.al.15, avaliaram a coordenação motora e o equilíbrio em 20 crianças cegas congênitas comparadas com 20 crianças de visão normal. Cada criança foi avaliada em uma única sessão, na qual foi possível realizar duas tentativas para cada teste. As crianças cegas apresentaram desempenho inferior quando comparadas a crianças de visão normal, sugerindo que crianças cegas demonstram deficiências no equilíbrio e na coordenação motora. Também, Hatzitaki et. al.8, realizaram um estudo com crianças de 11 a 13 anos de idade, avaliando o equilíbrio estático e dinâmico e sua relação com habilidades perceptivas e motoras específicas, medindo-se o equilíbrio em relação à atenção, à coordenação visual e motora e a cinestesia. Foi constatado que o equilíbrio estático está relacionado com a capacidade de perceber e processar a informação visual, que é considerada fundamental para o controle do equilíbrio. Quanto ao equilíbrio dinâmico, foram observadas associações significativas entre o desempenho no equilíbrio e as velocidades das respostas. Concluiu-se que os participantes neste grupo etário poderiam escolher e utilizar várias estratégias de equilíbrio, dependendo do tipo de tarefa exigida.

Streepey e Angulo-Kinzler18, avaliaram a influência da complexidade da tarefa no controle do equilíbrio sob condição dinâmica, em crianças com idade entre 6 a 11 anos. Os participantes deveriam tentar alcançar objetos em três direções a duas distâncias que exigiam desafios maiores para o controle do equilíbrio. Os resultados não indicaram diferenças entre as faixas etárias em relação às tarefas. Entretanto, em tarefas de complexidade moderada, constatou-se que as crianças mais novas possuíam um nível de controle do equilíbrio semelhante ao das crianças mais velhas e diferentes significativamente a adultos. Assim, o controle do equilíbrio depende tanto da idade quanto da complexidade da tarefa em questão. Já em Lima e et al.10, foi avaliado o equilíbrio dinâmico e a influência das restrições ambientais em crianças na faixa etária de 3 a 10 anos. A análise do equilíbrio dinâmico foi dividida em dois experimentos sendo que o primeiro manipulou o ambiente através do aumento da demanda ambiental, verificando como se processa o controle do equilíbrio. No segundo experimento a exigência do controle do equilíbrio foi aumentada de acordo com o nível de complexidade da tarefa. Desta forma, Lima et al.10, concluíram que as restrições no ambiente desencadeiam alterações no comportamento locomotor modificando a estratégia locomotora normalmente usada. Devido ao conjunto de achados se focalizarem em apenas um dos tipos de equilibro, e ainda não controlarem os níveis da deficiência o objetivo do presente estudo foi avaliar o papel da visão no equilíbrio estático e equilíbrio dinâmico de crianças deficientes visuais congênitos e com visão normal.

Materiais e método

Amostra

    A amostra foi constituída por 30 crianças, de ambos os sexos com idade entre 10 e 12 anos (10.5 ± 0,73), sendo 10 deficientes visuais e 20 com visão normal. Os dez alunos deficientes visuais foram selecionados de acordo com o seu comprometimento visual, sendo todos cegos congênitos totais (CC).

    Os alunos sem comprometimento visual foram divididos em dois grupos, de forma que 10 alunos realizaram o teste de olhos vendados (VNV) e outros 10 alunos de olhos abertos (VN), sendo escolhidos de forma aleatória.

    Foram excluídos indivíduos que apresentassem qualquer outra deficiência.

Instrumento

    Para este estudo foi utilizado o subteste 2 do Teste de Proficiência Motora de Bruininks–Oseretsky4 que fornece informações acerca da motricidade de um indivíduo através do desempenho obtido em uma vasta gama de testes motores.

    Subteste 2 avalia o equilíbrio e é composto por dois sub-itens. O primeiro avalia o equilíbrio dinâmico, onde o aluno deveria andar na trave de equilíbrio realizando seis passos no total. Foram permitidas duas tentativas e a pontuação foi feita 0 a 4 de acordo com o número de passos.

    O segundo subitem avalia o equilíbrio estático, onde o aluno deveria manter-se equilibrado de pé com a perna preferida na trave de equilíbrio e a outra perna flexionada. Foram realizadas duas tentativas e o melhor tempo foi anotado, sendo pontuação de 0 a 6.

Procedimento experimental

    Após a aceitação e assinatura do termo de consentimento livre esclarecido os indivíduos recebiam instruções sobre os testes. Para o grupo de cegos congênitos (CC) e o grupo de visão normal vendado (VNV), foi realizada uma familiarização através do tato com as mãos e os pés, para um reconhecimento do tamanho, largura e altura da trave utilizada. Para o grupo de visão normal vendado (VNV) houve uma preocupação em colocar as vendas antes de chegar ao local onde seriam realizados os testes, para diminuir uma possível influência nos resultados.

    Feita a familiarização, cada criança realizou três tentativas, sendo a primeira com a ajuda do avaliador e as duas últimas, adotadas como válidas, sem ajuda, tanto para o teste dinâmico como para o estático, sendo que a melhor tentativa foi considerada como válida para os dois testes.

    Ao início de cada teste foi dado um comando verbal, sendo o teste dinâmico realizado primeiro e logo em seguida, sem intervalo, foi realizado o teste estático.

    Os critérios adotados para a interrupção do teste dinâmico foram pisar fora da trave ou a interrupção do deslocamento por mais de três segundos. O teste para o equilíbrio estático somente foi interrompido quando a criança colocava o pé no solo.

Resultados

    Os resultados obtidos neste estudo mostraram que o grupo cego congênito teve um desempenho inferior tanto no teste de equilíbrio dinâmico quanto no equilíbrio estático quando comparado com o grupo sem comprometimento visual.

    Com relação aos resultados apresentados no teste de equilíbrio dinâmico, o grupo de indivíduos de visão normal apresentou melhor desempenho. Porém, o grupo cego congênito apresentou resultados inferiores quando comparados aos outros grupos. No grupo de indivíduos de visão normal vendado observou-se que o desempenho foi melhor que o grupo cego congênito e inferior quando comparado ao grupo de visão normal (gráfico 1).

    Uma Anova one-way (3 grupos) foi conduzida para a análise do equilíbrio dinâmico, encontrando diferença significativa entre grupos [F(15,031)=1,39; p=0,00004]. O teste pos-hoc de Tukey determinou que o grupo visão normal apresentou melhores resultados que o grupo cego congênito (p=0,0002) e para o grupo visão vendado (p=0,0004).

Gráfico 1. Média do desempenho dos grupos no equilíbrio dinâmico

    No teste de equilíbrio estático foi possível observar que na falta da visão, o grupo vendado não apresentou diferença estatisticamente significativa quando comparado ao grupo cego congênito (CC) e ao grupo de visão normal. Porém, houve diferença significativa do grupo cego congênito quando comparado ao grupo de visão normal (VN) (gráfico 2).

    Uma Anova one-way (3 grupos) foi conduzida para a análise do equilíbrio estático, encontrando diferença significativa entre grupos [F(4,469)=1,62; p=0,02]. O teste pos-hoc de Tukey determinou que o grupo visão normal apresentou melhores resultados que o grupo cego congênito (p=0,016) e sem diferença entre os demais grupos.

Gráfico 2. Média do desempenho dos grupos no equilíbrio estático.

Discussão

    O presente estudo teve como objetivo avaliar o equilíbrio dinâmico e o equilíbrio estático de crianças deficientes visuais comparadas às crianças sem comprometimento visual na faixa etária de 10 à 12 anos através do teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky4. Tanto no teste de equilíbrio dinâmico quanto no de equilíbrio estático, os valores encontrados para o grupo CC foram inferiores aos resultados obtidos para o grupo VN.

    Os achados do presente estudo corroboram com os resultados encontrados por Navarro et al.15, que compararam o equilíbrio de cegos congênitos com crianças de visão normal, tendo concluído que as crianças cegas demonstraram deficiência no equilíbrio. De acordo com Navarro et al.15, a visão é importante para as habilidades relacionadas ao equilíbrio, estando o aumento da noção tempo/espaço diretamente relacionado à condição dos indivíduos deficientes visuais se moverem e se orientarem.

    Em relação ao equilíbrio dinâmico, os resultados obtidos pelo grupo CC foram inferiores ao grupo VNV que por sua vez, foi inferior ao grupo VN. Isto sugere que a ausência de qualquer tipo de experiência visual pode interferir na capacidade de equilíbrio, ou seja, o fato dos indivíduos nascerem cegos ou se tornarem cegos até a idade de um ano e dessa forma nunca terem vivenciado imagens visuais poderá influenciar a variável equilíbrio. O cego congênito total não possui em seu acervo de memória, estruturas construídas através de informações visuais. Assim, a consolidação da formação do mapa mental do ambiente, será efetivada via experimentação tátil, cinestésica, dentre outras, ou seja, o cego terá que viabilizar outros canais, outros mecanismos para reconhecer as dimensões do meio e trabalhar suas capacidades de orientação e mobilidade.

    A influência do sistema sensorial pode ser comprovada quando Gallahue e Ozmun6, afirmam que para manter a postura corporal inalterada é necessário um reconhecimento das informações visuais, táteis, cinestésicas e vestibulares. Bankoff e Bekedorf¹ também relatam a importância dessas informações acrescentando a orientação no meio ambiente.

    Os resultados encontrados para o equilíbrio dinâmico podem estar relacionados também com a complexidade da tarefa a ser realizada e à interação do deficiente visual com o meio ambiente. Isto pode ser explicado por Lima et. al.10 quando relatam que o equilíbrio dinâmico é uma importante variável no controle motor durante tarefa locomotora em um ambiente complexo Streepey e Ângulo-Kinzler18, afirmam que o controle do equilíbrio, além da complexidade da tarefa em questão, dependerá também da idade cronológica do indivíduo.

    No teste de equilíbrio estático, para o grupo VNV, não houve diferença significativa em relação aos grupos VN e CC. No entanto, o grupo CC apresentou diferença significativa no equilíbrio estático quando comparado ao grupo VN. Além da justificativa da carência de experiências visuais apresentadas como possível explicação para valores inferiores no teste de equilíbrio dinâmico, cabe ser mencionada também uma possível influência do mecanismo proprioceptivo.

    Segundo Magill¹¹, as informações proprioceptivas são relevantes para a manutenção do equilíbrio corporal, pois envolvem a identificação senso-receptora das características de movimento do corpo e dos membros, além de fornecer através do sistema nervoso central características como a direção do movimento do corpo, localização espacial, velocidade e ativação muscular.

    De acordo com Nashner14, três são as principais fontes de informação sensorial para o funcionamento do controle postural: sistema visual, vestibular e o somatosensório. Conforme Horak e MacPherson9, essas informações sensoriais fornecem uma noção sobre o posicionamento dos segmentos corporais e forças externas e internas atuantes. A informação sensorial está entrelaçada com a atividade motora objetivando a orientação postural e a manutenção do equilíbrio.

    Dessa forma, os resultados do presente estudo sugerem que para o equilíbrio estático, o sistema visual parece não ser decisivo no desempenho do equilíbrio. Esses achados corroboram com Barela et al.², no qual foi constatado que a presença ou não de informação visual não provocou qualquer diferença na oscilação corporal, indicando que não há uma mudança no controle postural relacionada à manutenção da posição ereta em crianças e que a informação visual não pode ser considerada como fonte predominante de informação sensorial para o controle postural.

    Com achados contrários Bortolaia et. al.³, avaliaram a mudança no controle postural em crianças deficientes visuais comparadas a crianças com visão normal vendados. Observou-se que as crianças sem comprometimento de visão são mais dependentes da informação visual e quando essa informação é retirada, ou seja, na situação de olhos vendados, a conseqüência é um aumento na oscilação corporal na posição em pé, diferente quando comparado com a informação visual disponível.

    Em suma, o deficiente visual quando comparado a indivíduos sem comprometimento de visão da mesma faixa etária apresentou desempenho inferior na manutenção do equilíbrio corporal, tanto estático quanto dinâmico.Sendo assim, comprova-se a hipótese de que o indivíduo deficiente visual apresenta valores inferiores no equilíbrio, quando comparado ao indivíduo de visão normal.

    Sugere-se que em trabalhos futuros seja analisada a influência da estimulação e/ou experiência motora no equilíbrio de deficientes visuais, assim como a comparação entre cegos congênitos e cegos adquiridos.

Referências

  1. Bankoff A, Bekedorf R. Bases Neurofisiológicas do equilíbrio corporal. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 2007; 11(106). http://www.efdeportes.com/efd106/bases-neurofisiologicas-do-equilibrio-corporal.htm

  2. Barela JA, Polastri P F, Godoi D. Controle postural em crianças: oscilação corporal e freqüência de oscilação. Revista Paulista de Educação Física 2000; 14(1): 68-77.

  3. Bortolaia AP, Barela FAM, Barela JA. Controle Postural em crianças portadoras de deficiência visual nas faixas etárias entre 3 e 11 anos. Motriz 2003; 9:79-86.

  4. Bruininkis R. The Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency-examine’s manual. Circle Pine, MN: American Guidance Service, 1978.

  5. Craft DH, Lieberman L. Deficiência visual e surdez. In: Winnick JPA. Educação Física e Esporte Adaptado. 1 ed. Barueri: Ed. Malone; 2004; p. 181-205.

  6. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3 ed. São Paulo: Phorte Editora; 2005.

  7. Guyton AC. Fisiologia humana e mecanismo das doenças. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1987.

  8. Hatzitaki V, Zisi V, Kolias I, Kioumourtzoglou, E. Perceptual-Motor Contributions to Static and Dynamic Balance Control in Children. J of Mot Behav 2002; 34(2):161-170.

  9. Horak FB, Macpherson JM. Postural orientation and equilibrium. [Handbook of physiology]. New York: Oxford University Press; 1996.

  10. Lima CB, Secco CR, Miyasike VS, Gobbi LTB. Equilíbrio dinâmico: influência das restrições ambientais. Rev Bras de Cineantropom Desempenho Hum 2001; 3(1): 83-94.

  11. Magill RA. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. 5 ed. São Paulo: Ed. Edgard Blücher; 2000.

  12. Menescal A. A criança portadora de deficiência visual usando o seu corpo e descobrindo o mundo. In: Ministério do Esporte e Turismo. Lazer, atividade física e esporte para portadores de deficiência. Brasília: SESI-DN; 2001. p. 135-176.

  13. Mosquera C. Educação Física para Deficientes Visuais. Rio de Janeiro: Sprint; 2000.

  14. Nashner LM. Analysis of stance posture in humans. In: Towe AL, Luschei ES. Handbook of Behavioral Neurology. New York: Plenum; 1981.

  15. Navarro AS, Fukujima MM, Fontes SV, Matas ASL, Prado GF. Coordenação motora e equilíbrio não são totalmente desenvolvidos em crianças cegas com 7 anos de idade. Arquivo Neuropsiquiátrico. São Paulo; 2004.

  16. Payne VG, Isaacs LD. Desenvolvimento Motor Humano: Uma Abordagem Vitalícia. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.

  17. Oliveira Filho CW. Atividade Físico-Esportiva para pessoas cegas e com baixa visão. In: Duarte E, Lima SMT. Atividade Física para pessoas com necessidades especiais: experiências e intervenções pedagógicas. Rio de Janeiro: Ed. Ganabara Koogan; 2003. p. 23-32.

  18. Streepey JW, Angulo-Kinzler RM. The role of task difficulty in the control of dynamic balance in children and adults . Hum Mov Sci 2002;21(4):423-438.

  19. Toledo DR, Rinaldi M, Barela JÁ. Controle postural em crianças: Efeito da manipulação da informação visual discreta. Brazilian Journal Motor Behavior 2006;1(1):82-88.

  20. Williams HG. Perceptual and Motor Development Englewood Cliffs. NJ: Prentice-Hall; 1983.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 154 | Buenos Aires, Marzo de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados