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Visão de corpo dos graduandos em bacharelado do curso de Educação

Física de uma instituição de ensino superior privada de Goiânia

Visión del cuerpo de los estudiantes del curso de Educación Física de una institución de enseñanza superior privada de Goiania

 

*Mestre em Ciências da Saúde/UFG

Professora da Universo/Goiânia

e da UEG/ESEFFEGO

**Doutor em Educação Física/Unicamp

Professor da Universo/Goiânia

(Brasil)

Samanta Garcia de Souza*

Ademir Schmidt**

Millena Gonçalves Santo

Valéria de Oliveira Montalvão

samantagarciaef@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi identificar qual a percepção da imagem corporal que os graduandos em bacharelado do curso de educação física de uma instituição de ensino superior privada de Goiânia vêem como referência em todo o conhecimento adquirido nessa graduação. O estudo foi do tipo descritivo onde os 19 sujeitos responderam um questionário com 09 perguntas que identificam as percepções de corpo (corpo máquina, corpo perfeito e corpo sujeito) desenvolvido especificamente para este estudo. A percepção da imagem corporal na maioria dos entrevistados se refere à satisfação dos graduandos com o seu tamanho corporal ou partes específicas do corpo, desde que seja adquiridas essa satisfação de forma saudável e correta. Já os que não estão satisfeitos, percebe-se que eles passam a usufruir de recursos rudes propostos pela sociedade em busca de um ideal de beleza adquiridos por ela.

          Unitermos: Graduando. Imagem corporal. Percepção.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Vivemos num período marcado pela grande preocupação de ter um corpo que estampe saúde e bem-estar. Praticar exercícios, fazer dieta, cuidar do corpo está na moda. Os graduandos de educação física são os representantes, no imaginário social, de um corpo perfeito, “corporificando” a sua competência e eficiência profissional. Essa competência e eficiência são apontadas no estudo de Palma e Assis (2005), quando vários profissionais de educação física analisados afirmam que “o principal currículo do professor, é o corpo dele. Se o cara tem um corpo legal, ele arruma alunos de personal e se dá bem”. O mesmo ideal de corpo perfeito está presente também em estudos feitos por Vasconcelos (2005) e Martielo Júnior e Gonçalves (2001), que verificaram os motivos da busca de academias de ginásticas e profissionais de educação física, pautados no discurso da saúde e idealizando um corpo perfeito, sem gordura, malhado e sarado.

    Esse corpo esteticamente perfeito, mostrado incessantemente na mídia, influencia na busca de um corpo estereotipado, símbolo de felicidade, de sucesso, e para obtê-lo, qualquer comportamento e atitude (moral e amoral; ética ou não) é aceita: horas na academia, massagens, remédios para emagrecimento, anabolizantes para o aumento de massa muscular, aceleradores metabólicos, suplementos sem uma orientação adequada, cirurgias estéticas, etc.

    O imaginário do corpo esbelto, livre de gordura é imediatamente associado à “boa saúde” concorrendo para que se esqueça de outros fatores relacionados a ela. O profissional de educação física como profissional inserido na área da saúde, tem participado sistematicamente de programas de promoção da saúde. Kerr-Corrêa, Andrade, Bassit et al. (1999) citam que como um profissional da área da saúde, assume-se o papel de prevenção de diferentes doenças e, muitas vezes, visto como exemplo ou modelo para seus alunos, situação semelhante a que ocorre com os médicos. Tem-se, então, um ideal de que corpos perfeitos, belos, sem gordura necessariamente signifiquem saúde e conseqüentemente, os profissionais da educação física são os responsáveis por conceber esse estereótipo nos corpos dos alunos e principalmente nos seus próprios corpos.

    Freitas, Brasil, Silva (2006, p. 176) propõem que discutir e refletir sobre a saúde, não se reserva apenas à medicina, para tal, elas ressaltam o termo saúde coletiva, ampliando assim, a visão de saúde, levando-a a condição de ser discutida por outras áreas do conhecimento. Segundo estas autoras, “(...) falar de saúde hoje não se restringe mais à ação médica. A saúde coletiva vem trabalhando no sentido de construir interlocuções com diferentes áreas do conhecimento para pensar ações conjuntas no âmbito da saúde.”

    Buscar saúde não é somente então buscar um corpo que estampe beleza, perfeição, é buscar um bem-estar que vai além da aparência, do biológico, de um corpo perfeito imposto pela mídia e pela sociedade.

    Diante disso, o objetivo do presente estudo foi verificar a percepção da imagem corporal dos futuros profissionais de educação física do oitavo período do curso de bacharelando em educação física de uma instituição de ensino superior privada de Goiânia.

2.     Considerações sobre corpo do profissional de Educação Física

    O estudo sobre o corpo e os vários usos que fazemos dele é importante porque ele é o espaço físico onde está circunscrito o indivíduo, o ser humano. É importante lembrar que o corpo é uma construção histórica e social, de acordo com Daolio (1995). Sendo assim, essa construção localiza o significado ou a percepção do que vem a ser corpo para cada indivíduo, época e contexto social.

    O corpo é o primeiro e mais natural instrumento do homem - é meio e objeto técnico. O corpo é o local onde estão expressos os sentidos e os signos do homem, é a totalidade. O corpo é algo dotado de significações sociais, ou seja, o corpo é uma construção cultural já que cada sociedade se expressa diferentemente e por meio de corpos diferentes (DAOLIO, 2007).

    Mas o corpo é também objeto de estudo, pesquisa e intervenção de diversas áreas do conhecimento, em especial, na área de educação física que tem no eixo corpo/movimento sua essência. Para Foucault (1979) o surgimento do corpo como objeto científico (de estudo, de pesquisa, de intervenção) é expoente das implicações da ideologia do capitalismo e por conseqüência de uma nova forma de como se vê, de como se é visto, do que se é, do que se pensa, de como se sente, de como se age. Assim, entender o corpo não é exclusivamente entender da biologia, da fisiologia, da anatomia, mais sim, entender que esse corpo é bio-psico-sócio-cultural.

    A educação física entendida como área do conhecimento que trata pedagogicamente dos elementos da cultura corporal de acordo com o Coletivo de Autores (1992) para otimizar sua intervenção no eixo corpo/movimento, busca em outras áreas do conhecimento práxis para este fim. Assim, pensar, compreender, fazer, analisar o eixo corpo/movimento é apropriar-se da docência em educação corporal.

    Intervir no corpo/movimento humano é então compreender/analisar/produzir conhecimento de diferentes processos que se interelacionam tanto pela materialidade biológica quanto pelas diversas dimensões que o corpo ocupa e expressa nas sua relações: homem/natureza/homens na construção de sua humanidade material e cultural, ou seja, qualquer iniciativa educacional sobre a corporalidade pauta-se sempre na intencionalidade da formação humana (OLIVEIRA, OLIVEIRA e VAZ, 2008).

    Ainda nesta perspectiva como aponta o Coletivo de Autores (1992), a reflexão sobre a cultura corporal visa desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação no mundo que o homem produz na sua história e é construída repleta de linguagem, rica em sentidos e significados.

    Nesse estudo, analisou-se o corpo a partir de três entendimentos básicos, presentes historicamente na educação física: corpo mídia, corpo máquina e corpo sujeito.

    O corpo mídia é o corpo estereotipado que são fortemente veiculados pelas telenovelas, desfiles de moda, revistas e outros meios de comunicação. Esse corpo, arquétipo de felicidade como diz Silva (2001) trás conceitos, ideologias, sentimentos, sensações, percepções de uma sociedade consumista, idealizando um corpo “sarado”, malhado, esculpido em academias de ginástica e clínicas de estética.

    Segundo Fátima (2001), vê-se através da publicidade, a exploração que vulgariza e mercantiliza a corporeidade humana. A sociedade contemporânea elevou o corpo a objeto de consumo, alienando-o da mesma forma que o fez, o sistema de produção, e ao contrário do que pregava o discurso de liberação da era hippie, o poder social que reprimia o corpo passou a utilizar este discurso como controle através do culto ao corpo, a corpolatria.

    O corpo máquina é o corpo trabalhador, produto e produtor da dinâmica capitalista, que se movimenta a fim de resultados.

    (...) na área onde trabalhamos, a educação física, vemos o corpo objeto sendo mecanicamente preparado para obter rendimento melhor aperfeiçoando um ritmo uniforme, padronizado através de seqüências ‘fabricadas’, onde o objetivo é o desempenho máximo, mais uma vez na perspectiva do corpo perfeito, desprezando-se as possibilidades corporais (DANTAS, 2005, p.194).

    O corpo máquina fica mais propenso às desvantagens da vida trazendo o estresse, a ansiedade, as pressões, as depressões, a solidão, os desencontros, afastando dessa forma os hábitos de vida saudáveis e a qualidade de vida.

    Já o corpo sujeito é o corpo plural composto por: imagem; mente; saúde; emoção; socialização; ética; espírito. Dantas (2005) diz que o homem é um Ser inserido no mundo, não uma coisa, nem corpo nem alma em separado. O homem é um Ser vivente e necessita destas coisas que o rodeiam para existir.

    A partir das definições dos três tipos de corpo propostos pelos autores, entende-se então o quanto é importante o profissional de educação física e como essa profissão é repleta de responsabilidades e desafios estampados pelos alunos que vêem na mídia o que procuram e que esperam os mesmos resultados em seus corpos. Isso reflete nos profissionais de educação física, pois seus corpos devem constantemente, nos olhares dos alunos e de quem contrata esses profissionais, ser essa referência de corpo estereotipado pela sociedade, sem se lembrar que muitas vezes esse estereótipo não se apresenta saudável.

    Freitas, Brasil, Silva (2006, pag.176) propõem que discutir e refletir sobre a saúde, não se reserva apenas à medicina, para tal, elas ressaltam o termo saúde coletiva, ampliando assim, a visão de saúde, levando-a a condição de ser discutida por outras áreas do conhecimento. Segundo as autoras, “(...) falar de saúde hoje não se restringe mais à ação médica. A saúde coletiva vem trabalhando no sentido de construir interlocuções com diferentes áreas do conhecimento para pensar ações conjuntas no âmbito da saúde.”

    Se então, ser um profissional de educação física requer trabalha também a saúde, por que motivo se escolhe transformar um corpo, pessoal ou de um aluno, em somente máquina, com objetivo de produção e rendimento? Ou escolher um padrão corporal que se vê em vários meios de comunicação para ser transformado em uma pessoa com um corpo, que talvez, não seja saudável para si mesmo?

    É muito interessante que a mesma mídia que diz importar do bem-estar, da boa alimentação e da pratica de exercícios físicos diariamente em busca de uma vida saudável, também se contradiz enfatizando uma ideologia de corpo perfeito para quem quiser ou não ver. Com isso, a sociedade chega a um ponto que se esquece as verdadeiras virtudes de um profissional de educação física que age como motivador, compreensivo, paciente, dedicado, responsável, profissional, entre outras que, vê o aluno e a si mesmo de forma homogênea, completa, trabalhando o corpo, a mente, o espírito para que tenha resultados satisfatórios.

    Castellani Filho (1994) nos remete a história da educação física desde o século XIX, declarando que a sua origem foi toda caracterizada pela influência das instituições militares, sendo esta responsável pelo estabelecimento e manutenção da ordem social, onde reinava na educação física, a atenção para a saúde corporal. Com isso, se entende quão é importante o trabalho do profissional de educação física para a saúde corporal e exemplo, não somente por ter o “corpo” que todos desejariam ter, mas por saber trabalhar o corpo e desvendar seus segredos com talvez, nenhum outro profissional saiba e queira trabalhar.

3.     Metodologia

    O presente estudo caracteriza-se como descritivo, definido por Mattos, Rossetto Junior e Blecher (2008) pelas características de observar, registrar, analisar, descrever e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão a freqüência em que um fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores.

    Os sujeitos deste estudo foram 19 discentes do oitavo período do curso de bacharelando em educação física de uma instituição privada de Goiânia. Para participar do estudo os alunos deveriam estar cursando qualquer disciplina do oitavo período na Instituição pesquisada, bem como a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    O questionário possui nove perguntas com questões fechadas de múltipla escolha. Os participantes foram anteriormente informados dos objetivos do estudo e a importância de responder às questões com seriedade.

    Esse questionário foi criado pelas pesquisadoras com o objetivo de verificar a percepção da imagem corporal dos alunos do oitavo período do curso de bacharelando em educação física. Neste instrumento as questões foram elaboradas no sentido de se estabelecer categorias de respostas. Os dados foram analisados de forma quantitativa a partir do estabelecimento de categorias de respostas. Assim, foi necessário definir três categorias significativas para o estudo. A primeira categoria refere-se ao corpo máquina, a segunda categoria ao corpo mídia e a última ao corpo sujeito.

4.     Resultados e discussão

    Os dados coletados durante as entrevistas com os graduandos do curso de bacharelando em educação física são apresentados nos gráficos de 1 a 8.

    Os gráficos apresentados mostram as opiniões e os entendimentos de corpo dos graduandos do curso de educação física.

Gráfico 1. Entendimento de corpo dos graduandos em Educação Física

Legenda:

Corpo mídia - trabalhado em academias de ginástica/clínicas de estética na busca de um corpo proposto pela televisão, revista e outros;

Corpo máquina - algo que se trabalha em clubes, academias, praças na busca de um rendimento máximo, de performance;

Corpo sujeito - algo que se trabalha de forma total nas suas funções psico-bio-fisiológicas.

    O gráfico 1 mostra que 95% dos graduandos em educação física se preocupa com o corpo e o trabalham de forma total, colocando em prática o que vivenciaram durante sua graduação. Constatou-se que os graduandos em educação física têm uma visão de que o corpo deve ser analisada em todas as funções, áreas e espaços psico-bio-fisiologicamente em compreensão das práticas corporais adquiridas, entendidas e compreendidas na formação em questão. Nesse gráfico, fica clara a compreensão correta desses formandos que consideram o corpo da forma como aprenderam, vivenciaram, como foram tratados e conhecidos durante sua graduação, não como meras peças no espaço que executam, que seguem ordens, e sim, como sujeitos que compreendem e devem ser compreendidos, que pensam, que se expressam, que vivem.

    Com isso, Carvalho (2001) envolve o deslocamento do olhar para o “outro” e para a compreensão de sua dinâmica de vida, para os significados que atribuem ás práticas corporais, para o modo como lidam com as influências da mídia e com a busca por um corpo belo e saudável.

Gráfico 2. Representação de corpo no ambiente de trabalho

Legenda

Corpo mídia: espelho para o meu aluno, corpo estampado nas capas de revista, sem defeitos que não se possa corrigir

Corpo máquina: meu corpo é o meu trabalho, uma ferramenta

Corpo sujeito: é um corpo dotado de significado que sente e expressa sua força, opiniões, sentido e significado

    No gráfico 2, constatou-se que 74% dos formandos entrevistados se preocupam com seu significado no âmbito de trabalho, além de sua forma física. De acordo com Eufrásio e Nobrega (2007), quando dizem se que deve vivenciar o corpo de forma unificada, permitindo que se expresse e se desenvolva como ser humano em todos os aspectos: culturais, orgânicos, afetivos, que o conceito de corporeidade reúne. Percebe-se, então, que os profissionais entrevistados vêem o corpo dotado de expressões com o significado de um corpo perfeito no ambiente de trabalho. O corpo no ambiente de trabalho depende de sabedoria, antes de ser um esbelto objeto na sociedade. Esse mesmo corpo que tem função de ser espelho e exemplo, deve ser tratado com compostos que o forma um ser existente, que existe e que vive de forma saudável por meio do corpo, mente e espírito.

    As respostas dos entrevistados são voltadas pelo o corpo sujeito, como representado no gráfico 3, onde 83% do total de graduandos entrevistados se preocupam com uma boa alimentação e lazer, sendo complementada com exercícios físicos. Dentre os entrevistados, 6% optaram pela opção outros, que se resume em exercícios físicos, lazer e má alimentação.

    É importante adquirir a idéia da saúde centrada no organismo, no físico, no biológico para a saúde como processo resultado das opções na vida, opções essas relativas ao trabalho, à moradia, ao lazer, mas especialmente nos valores e princípios de vida que acredite ser melhor (EUFRÁSIO e NOBREGA, 2007, pág. 166).

Gráfico 3. Preocupação com o corpo

Legenda:

Corpo mídia: com dietas variadas que encontro em revistas, internet, propagandas, novelas

Corpo máquina: não, pois nunca tenho tempo, apenas trabalho

Corpo sujeito: exercícios físicos, alimentação saudável, lazer.

    E é aderindo à verdadeira idéia de saúde, que se engloba no corpo para então comprovar o rendimento, o exemplo, a vida. A relação de ser um profissional de educação está inteiramente ligada ao conceito de plena saúde.

    No gráfico 4, identifica-se que 59% dos entrevistados idealizam seu corpo para o máximo de rendimento (corpo máquina), contra 41% que optam pelo corpo saudável (corpo sujeito). Palma e Assis (2005) dizem que há necessidade do professor ter uma boa forma física, sendo que precisaria suportar, por vezes, o esforço das várias aulas. Pensar o corpo é uma tarefa um tanto complexa. Constatou-se, então, que o corpo compreende as formas de se relacionar, de interagir, de refletir sobre o que os graduandos entrevistados pensam e agem sobre o corpo nessa totalidade de um corpo perfeito. Esse corpo esculpido para o máximo de rendimento está ligeiramente relacionado talvez às grandes cargas horárias de trabalho, tanto nas academias de ginástica, quanto em salas de aula. Em ambos ambientes, com baixa remuneração, o que provavelmente justificaria a preocupação com o alto rendimento e não com a saúde do seu corpo. Entretanto, os mesmos graduandos que se comparam ao corpo sujeito também se comparam com corpo máquina.

Gráfico 4. Ideal de corpo dos graduandos

Legenda

Corpo mídia: o corpo modelo estampado em capas de revista e novelas

Corpo máquina: o corpo que eu usaria para o máximo do meu rendimento

Corpo sujeito: um corpo saudável trabalhado numa totalidade

    De acordo com o gráfico 5, os recursos mais usados pelos graduandos em educação física são os exercícios físicos, acompanhamento nutricional e atividades que também trabalhem o lado espiritual (corpo sujeito), comprovada por 84% dos entrevistados. A opção outros foi complementada pela prática do lazer, que influencia em uma boa saúde corporal dos indivíduos. Santin (2003), afirma que “o corpo passa, na atualidade, ao serviço de um ideal de desempenhos ou performances de dominação e de supremacia ideológica”, ou seja, os valores relacionados ao tipo de atividade física e ao nível de desempenho esperado estão atrelados a regras de conduta estabelecidas ideologicamente.

Gráfico 5. Recursos usados para se alcançar o ideal desejado

Legenda

Corpo mídia: uso de remédios, procedimentos cirúrgicos, dietas descontroladas

Corpo máquina: me empenharia nas atividades que eu conseguiria executar

Corpo sujeito: exercícios físicos, acompanhamento nutricional e atividades que trabalhem meu lado espiritual

    Ao longo dessa pesquisa, ficou evidente uma maior preocupação com a imagem e manutenção da beleza corporal por parte do sexo feminino, todavia, é cada vez mais evidente que a insatisfação corporal é uma realidade para ambos os sexos e um resultado direto do não enquadramento em padrões estético-culturais. Por fim, constatou-se que a cultura desempenha um papel fundamental na maneira como o indivíduo percebe e deseja a sua imagem corporal.

    No gráfico 6 as repostas positivas foram de 67% dos entrevistados, onde estes afirmam que, estão sim satisfeitos com seu corpo. Os que assinalaram a resposta negativa 33% deles alegam que a insatisfação vem a partir da composição corporal e gordura localizada.

Gráfico 6. Você é satisfeito com seu corpo?

    De acordo com Eufrásio e Nóbrega (2007) o corpo está submetido à gestão social. Cada grama leva as pessoas ao desespero, levando-as cada vez mais a ser aquilo que o outro quer que elas sejam. Isso influencia diretamente na auto-estimam dos profissionais o que os faz incapazes (taxados pela sociedade), de se submeter à responsabilidade de promover saúde aos outros. Por um lado, o exemplo que o profissional de educação física mostra através do seu corpo é válido se ele for realmente saudável. Mas, por outro lado, estar com sobrepeso não os torna incapazes e irresponsáveis de realizar uma atividade física.

    Alguns entrevistados relatam que se preocupam com o corpo de maneira para um bom funcionamento e rendimento físico, como diz um entrevistado, onde “o corpo é como uma ferramenta para as atividades do dia a dia, com saúde e disposição.” Essa saúde que Eufrásio e Nóbrega se referem se considera um corpo para total rendimento, sendo que o classifica como estar saudável é ter disposição para conseguir realizar as atividades diárias.

    O gráfico 7 expõe o sofrimento ou pressão que os graduandos do curso de bacharelado em educação física sofrem da sociedade que classifica o profissional através da estética do corpo. Destes, 68% dos entrevistados se sentem pressionados a cuidar de maneira correta do corpo. Para o melhor rendimento, precisa-se de uma alimentação saudável e estar espiritualmente bem para se sentir mais apto a trabalhar, capaz de atender as necessidades dos empregadores e dos alunos que dependem dessa prestação de serviços dos profissionais de educação física, e atenderem as exigências que o mercado de trabalho proporciona. Por outro lado, o gráfico 7 ainda mostra que 21% dos entrevistados optaram pelo corpo mídia, mostrando um outro problema que não é somente dos profissionais de educação física, mas da sociedade, que hoje se classifica com alta taxa de sobrepeso e junto a ela o aumento do preconceito.

Figura 7. Quais são os motivos que você como profissional de educação física, mais sofre e se sente mais pressionado pela sociedade (trabalho, faculdade, família)?

Legenda

Corpo mídia: por estar acima do peso

Corpo máquina: por não parar de fazer exercícios que talvez, serão prejudiciais à minha saúde

Corpo sujeito: por cuidar do meu corpo de maneira total trabalhando o rendimento, a alimentação e meu espírito.

    Outro entrevistado relata que o “o corpo, não expressa qualidade de vida”, onde não somente o corpo está por representar essa qualidade de vida, como expressa alguns entrevistados “uma visão de corpo e mente, pois os dois possuem uma ligação e se completam”, “tento passar uma visão de corpo em toda sua totalidade...”, “... busco uma visão física, mental e espiritual.”

    Fica evidente que a maioria dos graduandos entende e trabalha o copo sujeito de forma global, esclarecendo aos seus alunos a importância de entender a percepção da imagem corporal, sendo consolidadas as experiências adquiridas no período de graduação.

    Conforme Pereira (2002), a mídia (vista pela sociedade) é uma parceira estratégica para este contexto de alta visibilidade do corpo, característico da sociedade de consumo, por meio da qual se divulgam formatos e padrões de corpo, bem como, maneiras de ser tratado, modificado, produzido e, por que não dizer, reproduzido.

5.     Conclusão

    A percepção da imagem corporal que os graduandos interpretam, junto com as entrevistas realizadas, conclui-se que a maioria deles percebe o seu corpo como uma ferramenta no seu ambiente de trabalho, podendo ser reconhecida também como importante peça para sua formação profissional.

    A imagem corporal é um componente importante em todo o complexo mecanismo de identidade pessoal. A imagem que uma pessoa tem de si mesma é formada pela inter relação entre três informações distintas: a imagem idealizada (corpo mídia), a imagem representada pela impressão de terceiros (corpo máquina) e a imagem objetiva (corpo sujeito).

    A percepção da imagem corporal da maioria dos entrevistados se refere a satisfação dos graduandos com o seu tamanho corporal ou partes específicas do corpo, desde que seja adquirida essa satisfação de forma saudável e correta. Já os que não estão satisfeitos, percebe-se que os entrevistados passam a usufruir de recursos rudes propostos pela sociedade em busca de um ideal de beleza proposto por ela.

    Por isso, a percepção da própria dimensão corporal, somada a experiência de si mesmo e do corpo como unidade, são determinantes do comportamento, na medida em que regem atitudes e as estratégias que serão adotadas na busca do equilíbrio da mente, corpo e da condição de saúde.

    Algumas questões permanecem em aberto. Seria necessário, por exemplo, estudar com mais profundidade as informações que os graduandos recebem em todo o período de formação acadêmica, sobre a importância de se trabalhar o corpo como totalidade, valorizando-o e respeitando-o, cuidando para que trabalhe como máquina, se veja como mídia e se aceite como sujeito.

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