Treinamento concorrente na melhoria das aptidões físicas relacionadas à saúde na adolescência El entrenamiento concurrente en la mejora de las aptitudes relacionadas con la salud en la adolescencia |
|||
Graduado em Educação Física Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Pós-graduado Lato Sensu em Fisiologia do Exercício Universidade Gama Filho (UGF) |
James Fernandes de Medeiros (Brasil) |
|
|
Resumo Introdução: a obesidade é considerada uma doença provocada pelo excesso de gordura corporal. Ela é tratada como um problema de saúde pública, devido a sua alta incidência na população em geral. O programa de treinamento concorrente combina exercícios de força e resistência aeróbia numa mesma sessão de exercícios. O treinamento concorrente é apontado como uma intervenção eficiente no desenvolvimento da composição corporal em adultos, no entanto pesquisas sobre esse tema na adolescência são escassas. Objetivo: apresentar um programa de treino físico, o qual inclui exercícios de força e de resistência aeróbia numa mesma sessão de treino aplicado na adolescência na melhoria das seguintes aptidões físicas relacionadas à saúde na adolescência: composição corporal, resistência cardiorrespiratória e flexibilidade. Metodologia: este estudo caracteriza-se como sendo do tipo descritivo de delineamento transversal, no qual foram analisadas as melhorias das aptidões físicas relacionadas à saúde, oriundas dos efeitos de um programa de condicionamento físico supervisionado. A amostra analisada foi constituída de 01 (um) adolescente de 13 anos de idade, que constitui um estudo de caso cuja prática do treinamento físico foi realizada em uma academia da Zona Sul de Natal/RN. Resultados e discussão: os dados apontam que ocorre diminuição da massa corporal gorda em 3,47 Kg, aumentos significativos na resistência cardiorrespiratória (24,39%) e na flexibilidade (21,88%). O treinamento concorrente, na fase da adolescência, pode ser fator importante no controle e na prevenção dos níveis de sobrepeso e obesidade, além de proporcionar melhorias nas aptidões físicas relacionadas à saúde. Considerações finais: O treinamento concorrente tem se mostrado eficiente e capaz de melhorar as variáveis dos componentes das aptidões físicas relacionadas à saúde: composição corporal, resistência cardiorrespiratória e flexibilidade, afirmando que um programa de exercícios supervisionado e adequadamente prescrito pode favorecer ganhos nas aptidões físicas, mesmo sendo aplicado a indivíduo na fase da adolescência. Unitermos: Obesidade. Treinamento concorrente. Aptidão física. Adolescência.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A obesidade é considerada uma doença provocada pelo excesso de gordura corporal (Zlochevsky, 1996). Ela é tratada como um problema de saúde pública, devido a sua alta incidência na população em geral. Dados estatísticos apontam que seis bilhões de habitantes do mundo, o equivalente a 23,4% do total, estão com excesso de massa corporal gorda. No Brasil, estima-se que 40% da população estejam com excesso de gordura (OMS apud Sapatéra e Pandini, 2005).
O índice de obesidade entre crianças e adolescestes norte-americanos representa 20% e 27% respectivamente. Dados sobre a obesidade na infância brasileira revelam-se ainda ser limitados (Monteiro et al., 1995). Um estudo realizado na cidade do Recife, no Estado de Pernambuco, aponta uma prevalência de sobrepeso e obesidade (26,2% e 8,5%) entre crianças e adolescentes escolares. Consoante Silva et al.( 2009), na região do semi-árido do Estado do Rio Grande do Norte, este estudo aponta uma prevalência de sobrepeso e obesidade (16,8% e 15,2%).
O Índice de Massa Corporal tem sido um dos critérios mais indicados para determinar sobrepeso e obesidade, inclusive com aplicabilidade na adolescência. No entanto, nessa faixa etária, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma-se que o diagnóstico de obesidade requer a mensuração das dobras cutâneas (OMS, 1995). Essa recomendação é importante para verificar quantitativamente o padrão da composição corporal (nível de massa corporal gorda e massa), bem como analisar a efetividade da intervenção para redução de gordura corporal na prevenção ou controle do excesso de tecido adiposo.
Diante do problema do sobrepeso e da obesidade, muitos estudos são realizados no intuito de obter um programa de exercício mais eficiente na redução do percentual de gordura (Bryner et al., 1999; Kern et al., 1999). O programa de treinamento concorrente combina exercícios de força e resistência aeróbia numa mesma sessão (Gomes e Aoki, 2005). O programa de exercícios físicos concorrente é apontado com uma intervenção eficiente no desenvolvimento da composição corporal em adultos (Viana, Fernandes Filho, Dantas e Perez, 2007), no entanto, pesquisas que inclui o treinamento concorrente ainda são carentes de estudos brasileiros, especialmente durante a adolescência.
A fim de diminuir a carência de novos estudos brasileiros que trata sobre programa de treinamento concorrente, o presente estudo tem como objetivo apresentar um programa de exercícios físicos, o qual inclui exercícios de força e de resistência aeróbia numa mesma sessão de treino aplicado na adolescência na melhoria das seguintes aptidões físicas relacionadas à saúde (composição corporal, resistência cardiorrespiratória e flexibilidade), que possibilitem novas experiências motoras e aumento da adesão, no intuito de desenvolver o hábito pela prática do exercício ao longo da vida adulta.
Metodologia
Este estudo caracteriza-se como sendo do tipo descritivo de delineamento transversal, no qual foram analisadas as melhorias das aptidões físicas relacionadas à saúde, oriundas dos efeitos de um programa de condicionamento físico supervisionado. Como critérios de inclusão foram adotados os seguintes itens: ser inexperiente na prática de exercícios físicos em academia de atividades físicas, sem histórico pessoal prévio de doenças, ser candidato a iniciar a prática regular de exercícios físicos. O avaliado praticava regularmente a atividade de natação com freqüência de duas vezes semanais durante 12 meses. O programa de exercícios proposto foi praticado três vezes semanais com duração média de 45 minutos por sessão e em dias não consecutivos.
Após ter tomado conhecimento da pesquisa, o adolescente manifestou interesse em participar da referida pesquisa. Para tanto, foi necessário preencher alguns critérios previamente estabelecidos em anamnese. A amostra analisada foi constituída de adolescente de 13 anos de idade, portanto um estudo de caso (Thomas, Nelson e Silverman, 2007). A prática do treinamento de condicionamento físico foi realizada em uma academia da Zona Sul de Natal/RN. Os procedimentos constituíram-se de dados que foram coletados na sala de avaliação física da referida academia. Inicialmente o adolescente foi submetido a uma avaliação física previamente agendada, a fim de aferir coleta de dados antropométricos (massa corporal e estatura) por meio de equipamentos previamente aferidos e calibrados.
Descrição da aplicação do teste: foi realizado um teste de carga por repetições para aferir as cargas iniciais aplicadas na prescrição dos exercícios de força muscular. Nessa aferição foram registradas as cargas dos exercícios após a execução, na qual buscou estipular uma intensidade de nível moderado cujo volume de treino constitui-se de 2 séries de 15 repetições (Anderson e Twist, 2005) com ajuste de carga a cada 6 sessões de treino, ou seja, a cada 15 dias. Do total de 36 sessões no período de 3 meses constatou-se uma assiduidade de 89 por cento, sendo apenas 4 faltas aos treinos. Foram anotadas as cargas de todos os exercícios selecionados conforme serão elencados a seguir.
Seqüência da rotina de exercícios nas sessões
No primeiro momento, o aluno ao chegar a academia realizava um aquecimento geral com duração de 10 minutos em esteira ergométrica da marca Moviment cuja intensidade do esforço ficou entre 60 a 70 por cento da freqüência cardíaca máxima (calculada pela fórmula: 220 subtraído da idade). A frequência do ritmo cardíaco foi aferida por meio de um monitor de batimentos cardíacos da marca Polar modelo F2.
No segundo momento, foi executado o treinamento de força propriamente dito. Neste, a ordem dos exercícios ocorreu numa seqüência, na qual primeiro foi realizado os exercícios multiarticulares (grandes grupos musculares) seguido dos monoarticulares (menores grupos musculares), conforme Sforzo e Touey (1996), Fleck e Kraemer (2006), ACSM (2009). A sequência dos exercícios de força muscular foi a seguinte: leg press horizontal, puxador por frente, cadeira extensora, supino sentado na máquina, flexora sentada, remada alta, panturrilha baixa, abdominal sentado na máquina. Utilizou-se neste treinamento de força os aparelhos da marca Gerva Sport.
No terceiro momento, foram realizados exercícios de alongamento para os três segmentos corporais (tronco, membros superiores e inferiores) cuja duração foi de aproximadamente 5 minutos, e cada posição permanecia durante 15 segundos.
Resultados
Tabela 1. Apresenta dados coletados verificados em avaliação física para medidas antropométricas do adolescente pré-púbere
Gráfico 1. Apresenta dados do percentual de gordura corporal aferido por meio de um compasso de dobras cutâneas, utilizando-se do protocolo de duas (02) pregas cutâneas
(Heyward e Stolarczyk, 2000), indicado para adolescentes de 13 anos na fase pré-púbere. Estes dados apontam que houve uma redução do tecido adiposo em 3,7% na gordura corporal.
Gráfico 2. Apresenta dados referentes à massa corporal magra, indicando que houve discreta diminuição deste tecido.
Gráfico 3. Apresenta dados referentes à massa corporal gorda, indicando que houve diminuição de massa gorda em 3,47 quilogramas, isto é, redução da gordura excedente.
Gráfico 4. Apresenta dados referentes ao Índice de massa corporal, indicando que houve diminuição nestes valores em 1,15.
Indica que a classificação do índice permanece no nível considerado normal, ou seja, livre do estado de magreza e do sobrepeso ou obesidade.
Gráfico 5. Apresenta dados referentes à capacidade cardiorrespiratória ou capacidade aeróbia medida em mlO²/Kg/min.
aumentado de 8,3. Esta aptidão física melhorou em 2,29 MET’s e 24,39% da condição cardiorrespiratória.
Gráfico 6. Apresenta dado referente ao nível de flexibilidade, na qual foi aumentada em 7,0 centímetros, representando um ganho de 21,88%.
Discussão
O treinamento concorrente que combina numa única sessão exercícios de força muscular e de resistência cardiorrespiratória (Guedes, 2004) é apontado como uma intervenção eficiente no controle da composição corporal em adultos, todavia pesquisas brasileiras que o incluem ainda são escassas (Paulo e Forjaz, 2001). Desta forma, este estudo vem a contribuir na eficácia deste tipo de treinamento durante a adolescência, revelando que é possível obter resultados importantes através da combinação dos exercícios de força e aeróbios. Ademais, ser capaz de provocar melhoria na composição corporal e demais aptidões físicas investigadas este estudo.
A prática habitual de exercícios físicos é capaz de melhoria as aptidões físicas relacionadas à saúde em poucos meses de atividade, que no caso deste estudo de caso teve duração de 12 semanas. Para tanto, são necessários de dois a três dias por semana para alcançar ganhos nessas aptidões (composição corporal, resistência cardiorrespiratória e flexibilidade), conforme recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte (Araújo, 2000).
O exercício físico, na fase da adolescência, pode ser fator importante no controle e na prevenção dos níveis de sobrepeso e obesidade, que estão acometendo crianças e adolescentes. Estudos realizados na Região Nordeste do Brasil, mais precisamente na cidade do Recife aponta que 35% dos escolares avaliados estão com sobrepeso e obesidade (Balaban e Silva, 2001). Esse dado é alarmente e preocupante para as autoridades dos serviços de saúde publica no Brasil.
Os componentes da aptidão física, na área da saúde, procuraram contemplar atributos biológicos que possam oferecer algum efeito protetor ao aparecimento e ao desenvolvimento de distúrbios orgânicos (Guedes, Guedes, Barbosa e Oliveira, 2002). Estudos experimentais envolvendo crianças, adolescentes e adultos têm apontado na direção de que programas específicos de exercícios físicos induzem salutares alterações aos componentes da aptidão física relacionada à saúde (Malina, 1995).
Considerações finais
O programa de exercícios físicos concorrente é apontado com uma intervenção eficiente no controle da composição corporal em adultos, todavia pesquisas brasileiras que incluem o treinamento concorrente na adolescência são escassas. Desta forma, este estudo vem a contribuir na eficácia deste tipo de treinamento durante a adolescência, revelando que é possível obter resultados importantes através da combinação dos exercícios de força e aeróbios numa mesma sessão de exercícios. Ademais, ser capaz de provocar melhoria na composição corporal e demais aptidões físicas investigadas este estudo.
O programa de condicionamento físico proposto neste estudo foi capaz de melhorar as variáveis dos componentes das aptidões físicas relacionadas à saúde estudadas, que foram: composição corporal, resistência cardiorrespiratória e flexibilidade, afirmando que um programa de exercícios pode favorecer ganhos nas aptidões físicas de modo geral, mesmo se tratando de individuo na fase da adolescência.
É importante que adolescente tenha a oportunidade de praticar diversas modalidades de atividades físicas, dentre elas as várias ofertadas em uma academia. Dar oportunidade de vivência é fundamental nesta fase da vida, nas escolas, nos clubes e nas academias o adolescente pode encontrar uma atividade de seu interesse para que possa praticá-lo também na fase adulta de sua vida.
Referências bibliográficas
American College of Sports Medicine. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc. 41: 687-708, 2009.
Anderson GS, Twist P. Trainability of children. IDEA Fitness Journal. March, 2005.
Andrade NVS, Gonçalves RN, Monteiro LL e Pereira EFM. Uma revisão sobre treinamento concorrente. Ensaios e ciência: C. Biológica, Agrária e da Saúde, V. XXII, n.2, Ano 2008, p. 17-33.
Araújo CGS. Manual do ACSM para Teste de Esforço e Prescrição de Exercício. 5ª ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
Balaban G, Silva, GAP. Prevalência de sobrepeso em crianças e adolescentes de uma escola da rede privada de Recife. J Pediatr.77:96-100, 2001.
Bryner RW, Toffer RC, Ullrich IH, Yeater RA. The effects of exercise intensity on body composition, weigth loss, and dietary composition in women. J Am Coll Nutr. 16:68-73, 1999.
Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Gomes RV e Aoki MS. Suplementação de cretina anula o efeito adverso do exercício endurance sobre o subseqüente desempenho da força. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v.11, n.2, mar./abr, 2005, p. 131-134.
Guedes DP. Treinamento concorrente: abordagem atual. Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício. Universidade Federal de São Paulo, 2004.
Guedes DP, Guedes JERP, Barbosa DS, Oliveira JA. Atividade física habitual e aptidão física relacionada à saúde em adolescentes. Rev. Bras. Ciên. Mov. V.10, n.1, 2002.
Heyward VH, Stolarczyk LM. Avaliação da composição corporal aplicada. Barueri: Manole, 2000.
Malina RM. Physical activityand fitness of children and youth: questions and implications. Medicine, exercise, nutrition and health. V. 4, 1995.
Monteiro CA, Mondini L, Souza ALM, Popkin BM. Da desnutrição para a obesidade: a transição nutricional no Brasil. In: Monteiro CA. Velhos e novos males da saúde no Brasil- A evolução do país e de suas doenças. São Paulo: Editora Hucitec. p.247-55, 1995.
Kern P, Sinsolo RS, Fournier M. Effect of weight muscle fiber type, fiber size, capillary, and siccinate dehydrogenase activity in humans. J Clin Endocrinol Metab. 84(11):4185-90, 1999.
Paulo AC, Forjaz CLM. Treinamento físico de endurance e de força máxima: adaptações cardiovasculares e relações com a performance esportiva. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.22, n.2, p. 99-114, 2001.
Sapatéra MLR, Pandini EV. Obesidade na adolescência. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 10, N° 85, Junio de 2005. http://www.efdeportes.com/efd85/obesid.htm
Sforzo GA, Touey PR. Manipulating exercise order affects muscular performance during a resistance exercise training session. J Strength Cond Res. 10: 20-24, 1996.
Silva JB, Silva FG, Medeiros HJ, Roncalli AG, Knackfuss MI. Estado Nutricional de Escolares do Semi-Árido do Nordeste Brasileiro. Rev. salud pública. 11 (1): 62-71, 2009.
Thomas JR, Nelson JK, Silverman SJ. Método de Pesquisa em Atividade Física. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Viana MV, Fernandes Filho J, Dantas EHM, Perez AJ. Efeitos de um programa de exercícios físicos concorrentes sobre a massa muscular, a potência aeróbica e a composição corporal em adultos aeróbicos e anaeróbicos. Fit Pert J, Rio de Janeiro, v.6, n. 3, p. 136, Mai/Jun, 2007.
Zlochevsky ERM. Obesidade na infância e adolescência. Rev Paul Ped. 14:124-33, 1996.
World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva: WHO, 1995.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 153 | Buenos Aires,
Febrero de 2011 |