Análise dos riscos coronarianos por meio da relação cintura-quadril e concordância com o índice de massa corporal em idosas Estudio de los riesgos coronarios por medio de la relación cintura-cadera y la concordancia con el índice de masa corporal en mujeres mayores |
|||
Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH Departamento de Ciências Biológicas, Ambientais e da Saúde (Brasil) |
Elizabete Cândida Guimarães Nívia Maria de Freitas Duarte Vanessa Baliza Dias |
|
|
Resumo As pessoas com gordura excessiva no tronco em comparação com a parte inferior do corpo têm alto risco de vir a desenvolver doença cardíaca coronariana (DCC). Um dos grandes fatores causadores de riscos coronarianos é a obesidade, por isso é importante a avaliação antropométrica e a identificação do excesso de peso como prevenção, para minimizar a ocorrência dessas patologias. O objetivo do presente estudo foi analisar os riscos coronarianos por meio do protocolo da relação cintura-quadril (RCQ) e analisar a concordância com o protocolo do índice de massa corporal (IMC) em idosas praticantes de hidroginástica. A amostra contou com 24 idosas com idade média de 68,1 ± 6,8 anos, participantes do projeto de extensão de hidroginástica do UNI-BH. Realizou-se a avaliação antropométrica (peso, estatura e circunferências da cintura e quadril) para determinar os valores do índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura e a razão cintura/quadril (RCQ). Os dados foram analisados no software SPSS 12.0, utilizando-se o índice de concordância Kappa. De acordo com o IMC, 12,5% da amostra apresentou sobrepeso e 29,2% obesidade. Para o RCQ 54,2% apresentaram risco muito alto para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A obesidade abdominal foi observada em 70,8% das idosas. Observou-se que para a amostra estudada o IMC e o RCQ apresentaram uma baixa concordância (K=0,308). Conclui-se que a população estudada apresenta uma alta prevalência de fatores de risco de doenças coronarianas e a concordância entre os protocolos RCQ e IMC foi baixa. Unitermos : Obesidade. Antropometria. IMC. RCQ. Doenças cardiovasculares.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Os idosos representam a parcela da população que mais cresce em todo o mundo¹. Informações do Ministério da Saúde sugerem que, em 2025, o Brasil será o sexto país com maior número de pessoas idosas do mundo. Acredita-se que, até 2020, a população de idosos no país aumentará aproximadamente 175%, que corresponde, em números absolutos, a uma população de aproximadamente 28 milhões de pessoas².
Com o envelhecimento ocorrem modificações corporais que podem intervir no estado nutricional do idoso. A massa muscular tende a diminuir, assim como há alterações no padrão de distribuição da gordura corporal, onde o tecido adiposo dos braços e pernas diminui, no entanto aumenta no tronco3.
As pessoas que apresentam excesso de gordura no tronco em comparação com a parte inferior do corpo possuem alto risco de vir a desenvolver Doença Cardíaca Coronariana (DCC), que é definida como alterações degenerativas na intima, ou no revestimento interno das artérias mais calibrosas que irrigam o músculo cardíaco4. Os depósitos de gordura estreitam as artérias coronárias e reduzem o refluxo sanguíneo para o miocárdio5.
A DCC é um componente (junto com o acidente vascular cerebral) de Doença Cardiovascular (DCV) e, dentre as DCV encontram-se também o infarto agudo do miocárdio, angina, insuficiência arterial periférica e isquemia cerebral4,6. Um dos grandes fatores causadores de riscos coronarianos é a obesidade, pois além de elevar a pressão arterial e a concentração de colesterol provoca aumento na resistência insulínica, dificultando a captação e utilização de glicose. As modificações metabólicas conseqüentes contribuem para o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis4,6. Há uma relação co-dependente com outros fatores de riscos primários que levam uma pessoa a desenvolver doenças cardiovasculares, como: hipertensão e tabagismo, além dos fatores de riscos secundários que são o sexo, a idade, a falta de atividade física, excesso de gordura, o diabetes mellitus, o estresse e histórico familiar4.
A maior incidência de DCC para as mulheres idosas está relacionada em parte à perda da proteção proporcionada pelo estrogênio, que declina acentuadamente após a menopausa. Apesar da limitação em pesquisas sobre doença cardíaca em mulheres, há evidências disponíveis que indicam que os sintomas, a progressão e as conseqüências da doença diferem entre os gêneros. Estudos relatam que algumas das complicações ocasionadas pelas coronariopatias, em mulheres, podem gerar conseqüências maiores em comparação aos homens, como por exemplo, após um ataque cardíaco, em geral, estas morrem mais cedo; as que sobrevivem a um ataque cardíaco experimentam com freqüência um segundo episódio; tornam-se mais incapacitadas pela dor e deficiência relacionadas às doenças cardíacas e tem uma menor probabilidade de sobreviver a uma cirurgia de risco coronariano5.
Uma das formas de se tentar prever se o individuo tem uma predisposição em desenvolver uma coronariopatia é utilização do método qualitativo da Relação Cintura-Quadril (RCQ)4,7. A RCQ é fortemente associada à gordura visceral e parece ser um índice aceitável de gordura intra-abdominal4.
Outra forma que é reconhecido como padrão internacional para avaliar o grau de obesidade, como método quantitativo é o Índice de Massa Corporal (IMC)7. É expresso pela relação entre a massa corporal em kg e estatura em m², e é amplamente utilizado como indicador do estado nutricional por sua boa correlação com a massa corporal (r≈0,80) e baixa correlação com a estatura8,9. A revisão bibliográfica sistemática recente permite a mudança nos pontos de corte para definição de excesso de peso em idosos, com ampliação da faixa de normalidade8. Esta proposta leva em consideração as alterações na composição corporal que ocorrem com o envelhecimento9.
O sedentarismo tem uma propensão para acompanhar o envelhecimento e os avanços tecnológicos é um relevante fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônico degenerativas, particularmente as afecções cardiovasculares, principal causa de óbito em idosos. Segundo um mecanismo de causa e efeito, a pessoa sedentária corre um risco quase duas vezes maior que a maioria dos indivíduos ativos de apresentar essas DCC 5,10.
Com o intuito de minimizar o desenvolvimento dessas doenças, há uma necessidade de incentivar a população idosa à prática de atividade física. Esta prática pode apresentar um efeito preventivo, com o objetivo de promover adaptações fisiológicas para diminuir a probabilidade de doenças, ou terapêutico com o objetivo de atenuar possíveis distúrbios, incapacidades ou melhorar as funções afetadas11.
Dentre as atividades físicas mais indicadas pelos médicos para os idosos, é notória a escolha pela hidroginástica, considerada uma atividade segura, prazerosa e eficaz devido aos efeitos terapêuticos. A hidroginástica é uma forma alternativa de condicionamento físico, constituída de exercícios aquáticos específicos, fundamentada no aproveitamento da resistência da água como sobrecarga. Os exercícios realizados na água além de proporcionar segurança ao idoso melhoram seu condicionamento físico, a resistência, a força, a capacidade pulmonar e freqüência cardíaca, a mobilidade articular, a postura, diminui o percentual de gordura e estabelece um grau de amizade com outros praticantes. Na água, o risco de lesão articular é mínimo, isso em razão da ausência de sustentação do peso, e o perigo de uma lesão muscular intrínseca é muito pequeno10,12.
Com base nesses dados, torna-se imprescindíveis estudos que possam elucidar que a avaliação antropométrica e a identificação do excesso de peso possam auxiliar na prevenção das DCC, tentando assim reduzir a ocorrência dessas patologias e suas conseqüências6,13. O objetivo deste estudo foi analisar o risco coronariano por meio do protocolo da relação cintura-quadril (RCQ) e correlacionar com o índice de massa corporal (IMC) em idosas praticantes de hidroginástica.
Métodos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário de Belo Horizonte (Parecer nº 004/2010).
A amostra foi composta pela totalidade das participantes do Projeto de Extensão de Hidroginástica do Uni-BH, o que corresponde a 24 voluntárias do sexo feminino, com 60 anos de idade ou mais (média de 68,1 ± 6,8 anos). Para a coleta dos dados as participantes deveriam participar do Projeto de Extensão do UNI-BH. Todas as participantes tiveram que apresentar um atestado médico no qual indicava que elas estavam aptas à pratica de atividade física. As voluntárias assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual explicava os objetivos da pesquisa e assegura o sigilo da identidade das participantes.
A coleta dos dados foi realizada antes da aula de hidroginástica, por uma única pesquisadora, a qual orientou as participantes a utilizarem roupas leves, que não apertasse a região da cintura e do quadril. Elas deveriam ficar com os pés descalços e se posicionarem na posição ortostática. A avaliação nutricional dos idosos foi realizada a partir do IMC (kg/m2), e utilizou-se como critério de classificação os pontos de corte proposto pelo Nutrition Screening Initiative e recomendado pelo Ministério da Saúde: baixo peso (índice de massa corporal <22kg/m2), eutrofia (entre 22 a 27kg/m2), sobrepeso (>27kg/m2-30) e obesidade (>30kg/m²) que diferem dos valores recomendados para adultos e freqüentemente utilizados para idosos14,15. As variáveis antropométricas foram obtidas conforme os procedimentos propostos por Lohman et al (1988). A massa corporal foi aferida por uma balança portátil analógica (Techline®) com capacidade para 120 kg (precisão de 0,1 quilogramas). A estatura foi aferida com fita métrica aderida a uma parede sem rodapé, com extensão de 2,00 m, dividida em centímetro e subdividida em milímetros, com o avaliado em apnéia inspiratória.
A distribuição da gordura corporal central foi estimada pela relação cintura/quadril (RCQ) e da medida do perímetro da cintura (cm). A identificação do risco cardiovascular foi realizada utilizando a razão RCQ=CC(cm)/CQ(cm). A classificação foi baseada em Lohman et al. (1988) para mulheres com a idade acima de 60 anos, que considera baixo risco (<0,76 cm), risco moderado (≥0,76-0,84 cm), risco alto (>0,85-0,90 cm) e risco muito alto (>0,90 cm)15. A circunferência da cintura (CC) foi obtida na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca com fita métrica flexível e inelástica sem comprimir os tecidos. Quando não foi possível identificar a menor curvatura, obteve-se a medida de dois centímetros acima da cicatriz umbilical. Os pontos de corte adotados para CC foram os preconizados por Lohman et al (1988), de acordo com o grau de risco para doenças cardiovasculares: risco muito aumentado (≥88,0 cm), risco aumentado (>80-88 cm) e sem risco (<80 cm)15. A circunferência do quadril foi obtida colocando-se uma fita métrica flexível e inelástica ao redor da região do quadril, na área de maior protuberância, sem comprimir a pele.
As variáveis IMC e RCQ foram expressas inicialmente por média e desvio padrão com o objetivo de caracterizar a amostra. Após essa análise inicial foi construída uma tabela de freqüência absoluta com o número de indivíduos em cada categoria das variáveis IMC e RCQ. A parte inferencial do estudo foi avaliada pelo coeficiente Kappa (K) para verificação de concordância (p<0,05)16. Todas as análises foram realizadas através do software SPSS 12.0.
Resultados
Foram estudadas 24 idosas com média de idade de 68,1 ± 6,8 anos. Foram analisadas as seguintes variáveis: peso, estatura, índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC), circunferência do quadril (CQ) e relação cintura/quadril (RCQ). As características antropométricas das idosas praticantes de hidroginástica estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Características antropométricas das idosas praticantes de hidroginástica.
Em relação ao peso e estatura da amostra, observou-se que o peso médio das idosas foi de 66,5 ± 13,5 kg, enquanto a média da estatura foi de 155 ± 0,1 cm. Quanto ao IMC a média foi de 27,6 ± 5,2kg/m², sendo a média da circunferência da cintura de 95,3 ±14,9 cm e a média da circunferência do quadril de 104,5 ± 10,2 cm. Para o RCQ a média foi de 0,91 ± 0,10 cm.
Gráfico 1. Avaliação do estado nutricional através do IMC das idosas praticantes de hidroginástica
Segundo a avaliação do estado nutricional através do IMC (Gráfico 1), houve maior freqüência de eutrofia, o que corresponde a 37,5% da amostra; o estado de sobrepeso correspondeu a 12,5% das idosas e para a obesidade 29,2%. Sobrepeso e obesidade juntos somaram 41,7% da amostra.
Gráfico 2. Avaliação do risco de doenças coronarianas através do RCQ das idosas praticantes de hidroginástica
Em relação à cintura/quadril (RCQ) 54,2% das idosas foram classificadas como risco muito alto para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 12,5% destas apresentaram risco alto e outras 20,8% apresentaram risco moderado, apenas 12,5% das idosas apresentaram baixo risco de desenvolver uma coronariopatia (Gráfico 2).
Gráfico 3. Risco cardiovascular através da circunferência da cintura (CC) das idosas praticantes de hidroginástica
O risco cardiovascular, conforme a medida da circunferência da cintura (CC) esteve presente em 70,8% das idosas as quais apresentaram risco muito aumentado, e 16,7% destas apresentaram risco aumentado e apenas 12,5% das idosas não apresentaram risco (Gráfico 3).
Tabela 2. Correlação entre o RCQ e o IMC de idosas praticantes de hidroginástica
A correlação entre o risco de desenvolvimento de doenças coronarianas através do RCQ e do índice de massa corporal (IMC) está descrita na Tabela 2.
Os valores apresentados são dados pelo número de idosas em cada classificação.
Para verificar a concordância entre os dois protocolos, o valor de Kappa foi de K=0,308 com (p= 0,007) mostrando que este foi significativo (p<0,05).
Discussão
A escolha do Projeto de Extensão de hidroginástica do Uni-BH para a coleta dos dados deveu-se ao fato do mesmo se realizar em uma instituição de ensino superior que preza pelo atendimento filantrópico da população idosa carente da Regional Oeste de Belo Horizonte/MG e que está envolvida em ações que possibilitam e estimulam a participação popular. Este tipo de programa tem grande contribuição em manter as pessoas ativas e saudáveis com maior autonomia, direito ao lazer e à informação.
Por definição, obesidade denota excesso de gordura corporal, a qual não é mensurada realmente através do IMC, pois não distingue peso associado com massa magra e peso associado com gordura corporal9,17,18. A porcentagem de massa gorda aumenta com a idade a partir dos 60-65 anos, em ambos os sexos, sendo maior em mulheres em relação aos homens8,9,15. Considerando essa tendência crescente do sobrepeso e obesidade na população brasileira e a sua associação com fatores de risco cardiovasculares, intervenções com o intuito de reduzir o peso corporal são de extrema relevância para a prevenção e controle das doenças cardiovasculares na população19.
Em um estudo de 1994, foi proposta uma classificação que considera as alterações na composição corporal do indivíduo idoso20. Foi recomendado como limite aceitável para esse grupo etário, IMC entre 24 e 29kg/m², sendo os pontos de corte para baixo peso e sobrepeso, IMC abaixo de 22kg/m² e acima de 27kg/m² respectivamente20. Foi demonstrado no presente estudo que 37,5% da amostra está entre os valores recomendados como níveis normais de IMC, enquanto 29,2% estão classificadas como obesas. Embora o IMC tenha alta correlação com massa corporal e baixa com estatura, é importante que seus valores se correlacionem com outras medidas independentes de composição corporal, que determinam a composição em termos de gordura corporal e massa muscular9,14.
Estudos datados de 1977 a 2002 têm demonstrado que o IMC apresenta boa correlação com a quantidade de gordura corporal determinada por medidas diretas como densitometria, bioimpedância elétrica (BIA), pregas cutâneas, relação cintura/quadril (RCQ) e circunferência da cintura (CC)9. No entanto, o presente estudo não apresentou uma concordância alta do IMC com o RCQ (K= 0,308) o que pode estar relacionado com o tamanho da amostra. Um estudo realizado com indivíduos entre 30 e 69 anos de idade, mostrou que o IMC teve boa correlação com porcentagem de gordura corporal (GC) (r=0,743 - 0,924 p<0,001), medida pela BIA. Mulheres tiveram maiores coeficientes de correlação (r= 0,855 - 0,924 p<0,001) do que os homens (r=0,743 - 0,848 p<0,001), em todas as faixas etárias. Entretanto, houve um pequeno declínio com o aumento da idade, em ambos os sexos, representado pelos menores valores dos coeficientes de correlação encontrados na faixa etária acima de 60 anos. De acordo com os autores, essa diminuição na correlação entre IMC e porcentagem de GC deve-se às mudanças na composição corporal que acompanham o envelhecimento, como diminuição óssea, muscular e da água corporal e aumento e redistribuição GC. Dessa forma, em idosos, a gordura corporal não pode ser simplesmente determinada por medidas de peso e estatura, como em adultos9.
Poucos estudos relacionam cintura/quadril com a população idosa, porém é consenso nestes que a RCQ tem sido usada como preditora dos riscos de doenças cardiovasculares21. Os resultados de RCQ neste estudo demonstraram-se elevados, o valor médio encontrado foi de 0,91 ± 0,1 cm, um resultado próximo foi encontrado em um estudo de 2001 com o valor médio de 0,92 cm no qual foram avaliadas 566 idosas com idade entre 60 e 94 anos22.
Da amostra avaliada, 54,2% apresentaram um risco muito alto e 12,5% apresentaram risco alto de desenvolver uma coronariopatia. Em outro estudo com uma amostra de 82 indivíduos com idade entre 60 e 87 anos sendo 90,2% do sexo feminino, também encontraram prevalência para desenvolver doenças cardiovasculares através do RCQ, com 12,2% dos idosos um risco muito alto e 40,2% para o risco alto23. Esses dados sugerem uma alta predisposição desta população em desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, visto que o acúmulo de gordura na região abdominal apresenta estreitas relações com doenças cardiovasculares21,23.
A avaliação pela medida da Circunferência de Cintura foi utilizada para reforçar a RCQ e diagnosticou, de forma alarmante, risco muito aumentado para doenças coronarianas em 70,8% e 16,7% de risco aumentado que juntos somaram 87,5% de probabilidade dessas idosas desenvolverem alguma doença cardiovascular. A freqüência destes mesmos riscos utilizando a relação cintura/quadril foi 66%. Atualmente a obesidade abdominal (CC ≥ 88,0 cm) é considerada mais relevante para o diagnóstico dos indivíduos com elevação do risco à saúde do que a obesidade geral, pois o excesso de adiposidade central se associa fortemente ao desenvolvimento de distúrbios cardiovasculares e metabólicos13. Foram avaliadas em um estudo 106 mulheres com idade entre 21 e 76 anos onde foi constatado um percentual elevado de mulheres (42%) com valores da CC acima de 88 cm. Observou-se que mesmo com IMC nos padrões normais (22 a 27 kg/m²) as mulheres já apresentavam obesidade abdominal19.
O risco de doenças é maior para as pessoas que acumulam gorduras na região abdominal (central), ao redor das vísceras principalmente quando o IMC está acima de 27 e a circunferência da cintura for maior que 88 cm em mulheres, caracterizando obesidade central e aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes e vários tipos de câncer20. Portanto 41,7% da amostra estudada apresentou IMC acima de 27kg/m², 70,8% apresentou CC maior que 88 cm e 54,2% risco muito alto na RCQ.
A medida de concordância de Kappa de Cohen tem como valor máximo o número um, onde este valor um representa total concordância e os valores próximos e até abaixo de zero, indicam nenhuma concordância, ou a concordância foi exatamente a esperada pelo acaso16. Note que a concordância geral é estatisticamente diferente de zero e vale 0,308. Considerando que a concordância perfeita é a de 1,00, temos uma concordância um pouco baixa. Apesar de ser significativo, o valor de concordância entre os dois protocolos foi baixo, o que se pode verificar na discordância entre eles foi à classificação do IMC de seis indivíduos como normal e RCQ muito alto. A concordância ocorreu apenas para três indivíduos com IMC baixo e RCQ com baixo risco.
De uma maneira geral, observa-se que os indicadores antropométricos de obesidade central (RCQ, CC) associam-se melhor com risco cardiovascular do que os indicadores antropométricos de obesidade total (IMC). Essa relação se deve à associação da gordura abdominal com diversas alterações metabólicas como, diabetes, hipertensão, intolerância a glicose e alterações nas concentrações de lipoproteínas6,12.
Conclusão
Embora o presente estudo tenha considerado uma população de número restrito e ainda de uma única instituição, que limita a extrapolação dos resultados, conclui-se que a população estudada apresenta uma alta prevalência de fatores de risco de doenças coronarianas.
Foi demonstrado também, que para esta população o IMC apresentou baixa concordância com o RCQ para identificar risco de desenvolvimento destas doenças. Diante disso, ressalta-se a importância do conhecimento por parte do profissional de Educação Física nas mudanças corporais no processo de envelhecimento para que as intervenções com essa população possam ser benéficas para minimizar os riscos de desenvolvimento de doenças e agir de forma terapêutica para aquelas já adquiridas.
Referências bibliográficas
Dias RMR, Gurjão ALD, Marucci MFN. Benefícios do treinamento com pesos para aptidão física de idosos. Acta Fisiatrica 2006; 13(2): 90-95.
Alves LC, Leite IC, Machado CJ. Perfis de saúde dos idosos no Brasil: análise da pesquisa nacional por amostra de domicílios de 2003 utilizando o método grade of membership. Cadernos de Saúde Pública 2008; 24(3): 535-46.
Menezes TN, Marucci MFN. Perfil dos indicadores de gordura e massa muscular corporal dos idosos de Fortaleza, Ceará, Brasil. Cadernos de Saúde Pública 2007; 23(12): 2887-2895.
Pinto MVM, Araújo AS, Pimenta FHR, Silva ALS, Santos HR, Baraúna MA, Biagini, AP. Análise dos riscos coronarianos através da relação cintura quadril em taxistas residentes na cidade de Caratinga - MG. Lecturas Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, 2007; 12(114): 1-9. http://www.efdeportes.com/efd114/riscos-coronarianos-em-taxistas.htm
Mcardle WD, Katch LF, Katch LV. Fundamentos de fisiologia do exercício. Rio de Janeiro. Koogan; 2. ed.; 2002. p. 534-589.
Alves LR, Coutinho V, Santos LC. Indicadores antropométricos associados ao risco de doença cardiovascular. Arquivos Sanny Pesquisa e Saúde 2008; 1(1): 1-7.
Novello D, Gatti Rr, Franceschini P, Quintiliano Da. Avaliação do estado nutricional dos indivíduos participantes do projeto “Saúde e Nutrição” da cidade de Guarapuava – PR. Revista Salus-Guarapuava-PR 2007; 1(1): 43-49.
Santos DM, Sichieri R. Índice de massa corporal e indicadores antropométricos de adiposidade em idosos. Revista de Saúde Pública 2005; 39(2): 163-168.
Cervi A, Franceschini SCC; Priore SE. Análise crítica do uso do índice de massa corporal para idosos. Revista de Nutrição 2005; 18(6): 765-775.
Alves RV, Mota J, Costa MC, Alves JGB. Aptidão física relacionada à saúde de idosos: influência da hidroginástica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte 2004; 10(1): 31-37.
Ramos JM, Mansoldo AC. Efeito de oito meses de hidroginástica em idosas com osteoporose. Revista Motriz 2007; 13(2): 114-119.
Assis EL, Rabelo HT. Percepção da capacidade funcional de mulheres idosas praticantes de hidroginástica. Movimentum - Revista Digital de Educação Física 2006; 1: 35-42.
Krause MP, Hallage T, Miculis CP, Januário RSB, Gama MPR, Silva SG da. Prevalência de obesidade, hipertensão e diabetes mellitus tipo 2 em mulheres idosas. Revista da Educação Física/UEM 2009; 20(1): 69-76.
Sousa EC, Carvalho CMRG, Araújo RSRM, Araújo MAM, Caldas DRC, Silva DMC. Índice de massa corporal de idosos residentes em instituições de longa permanência no Município de Teresina, PI. Revista Brasileira de Nutrição 2009; 24(4): 224-229.
Félix LN, Souza EMT. Avaliação nutricional de idosos em uma instituição por diferentes instrumentos. Revista de Nutrição 2009; 22(4): 571-580.
Cohen, J. A Coeficient of Agreement for Nominal Scales. Educational and Measurment. v. XX, n. 1,1960 p. 37-46.
Mediano MFF, Gonçalves TR, Barbosa JSO. Efeito do exercício físico sobre a composição corporal de mulheres obesas submetidas a programa de perda de peso. Brazilian Journal Biomotricity 2009; 03(2): 139-145.
Salve MGC. Obesidade e Peso Corporal: riscos e conseqüências. Revista Movimento & Percepção 2006; 6(8): 29-48.
Rezende FAC, Rosado LEFPL, Ribeiro RCL, Vidigal FC, Vasques ACJ, Bonard IS, Carvalho CR. Índice de massa corporal e circunferência abdominal: associação com fatores de risco cardiovascular. Arquivos Brasileiro de Cardiologia 2006; 87(6): 728-734.
Bassler TC, Lei DLM. Diagnóstico e monitoramento da situação nutricional da população idosa em município da região metropolitana de Curitiba (PR). Revista de Nutrição 2008; 21 (3): 311-321.
Cavalcanti CL, Gonçalves MCR, Asciutti LSR, Cavalcanti AL. Prevalência de doenças crônicas e estado nutricional em um grupo de idosos brasileiros. Revista de Salud Publica 2009; 11(6): 865-877.
Cabrera MAS, Filho WJ. Obesidade em idosos: prevalência, distribuição e associação com hábitos e co-morbidades. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia 2001; 45(5): 494-501.
Bueno JM, Martino HSD, Fernandes MFS, Costa LS, Silva RR. Avaliação Nutricional e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos pertencentes a um programa assistencial. Revista Ciência e Saúde Coletiva 2008;13(4): 1237-1246.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 153 | Buenos Aires,
Febrero de 2011 |