Perda hídrica por praticantes de musculação de uma academia do município de São Paulo Pérdida de líquidos por practicantes de musculación de un gimnasio del municipio de Sao Paulo |
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*Alunas do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie **Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar (FMUSP) Mestre em Nutrição Humana Aplicada (PRONUT – USP) Doutora em Saúde Pública (FSP/USP) Professora do Curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário São Camilo (Brasil) |
Carolina Bezerra Arrais Escarso* Laís Morales Bacelar* Vanessa Saito Donadone* Marcia Nacif** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar a ingestão e a perda hídrica por praticantes de musculação de uma academia localizada em uma Universidade do Município de São Paulo. A amostra foi composta por 33 praticantes de musculação, de ambos os gêneros, com idade entre 18 e 51 anos. Com a finalidade de analisar a perda hídrica, verificou-se a quantidade de ingestão de líquidos e calculou-se a porcentagem de perda de peso dos indivíduos. Foram avaliados 33 indivíduos, praticantes de musculação, sendo 78,8% (n= 26) do sexo masculino e, 21,2% (n= 7) do sexo feminino, com idade média de 30,8 anos. Foram avaliados 33 indivíduos, praticantes de musculação, sendo 78,8% do sexo masculino e 21,2% do sexo feminino, com idade média de 30,8 anos. Observou-se que 51,5% dos participantes apresentaram ganho de peso após o treino, 30,3% tiveram perda hídrica e 100% da amostra foi classificada como bem hidratada segundo Casa et al (2000). Conclui-se que a orientação sobre hidratação é de suma importância e contribui para a manutenção da saúde e o desempenho de praticantes de exercícios físicos. Unitermos: Musculação. Hidratação. Perda hídrica.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A água é a substância mais abundante do organismo, em peso e volume, constituindo cerca de 40 a 70% da massa corporal. O espaço intracelular contém um maior volume hídrico, cerca de 30L de água, correspondendo a 67% da quantidade de água corporal total. O espaço extracelular, por sua vez, contém 15L de água ou 33% da quantidade corporal total, divididos entre o plasma (0,75L ou 8%) e o interstício (3,75L ou 25%). O volume hídrico corporal é dependente da composição corporal do indivíduo, sexo, idade, estado de treinamento e conteúdo muscular de glicogênio, entre outros fatores (MARQUEZI; LANCHA JUNIOR, 1998).
Dentre as funções da água estão a regulação da temperatura corporal e o carreamento de nutrientes, minerais e oxigênio para as células (MARQUEZI; LANCHA JUNIOR, 1998). Quando o volume de água corporal é baixo, o funcionamento de todos os processos orgânicos é prejudicado (MOURA; REIS, 2010).
A água pode ser excretada de diversas formas pelo organismo, através da urina, fezes, reações orgânicas, respiração e evaporação, sendo este o principal meio termorregulatório do organismo, principalmente durante a realização de atividade física (SALUM; FIAMONCINI, 2006). A evaporação da água pela superfície da pele mantém o equilíbrio da temperatura corporal, porém, há perda de eletrólitos e o corpo pode desidratar. O estado normal de hidratação (euidratação) apresenta ao longo do dia pequenas variações, decorrentes das condições de temperatura e da atividade física realizada. A hidratação melhora o desempenho do praticante de atividade física, principalmente se for antes e durante o exercício. O organismo necessita manter a temperatura corporal em cerca de 37°C (MONTEIRO; GUERRA; BARROS, 2003).
O exercício aumenta a temperatura corporal, estimulando a sudorese (VIMIEIRO-GOMES; RODRIGUES, 2001). No estado de hipoidratação, o rendimento do exercício é reduzido. A água perdida pode ocasionar perdas de até 18% no volume plasmático, aumentando o débito cardíaco, limitando o transporte e a oferta de oxigênio durante o exercício físico (MARQUEZI; LANCHA JUNIOR, 1998).
Existem várias maneiras de mensurar e controlar o volume de água que deve ser reposto, sendo uma delas pela obtenção dos valores de massa corporal pré e pós-exercício (MOURA; REIS, 2010). Como a maior perda de água é através do suor e da urina, mudanças agudas na massa corporal representam mudanças no nível de hidratação (FURTADO et al, 2009). Assim, para evitar os possíveis efeitos adversos da desidratação sobre o desempenho esportivo, a ingestão de água em quantidades suficientes para repor a perda hídrica pela sudorese tem sido recomendada em consensos internacionais (MONTEIRO; GUERRA; BARROS; 2003).
Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar a ingestão de líquidos e a perda hídrica de praticantes de musculação de uma academia localizada em uma Universidade do Município de São Paulo.
Metodologia
Realizou-se um estudo descritivo transversal, com coleta de dados primários. A amostra foi composta por 33 praticantes de atividade física da modalidade musculação, de ambos os gêneros, com idade entre 18 e 51 anos. Os praticantes que compuseram a amostra foram informados previamente das medidas que seriam realizadas e submeteram-se voluntariamente ao estudo depois de devidamente esclarecidos sobre seus procedimentos e após a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido.
A coleta de dados foi realizada em uma academia de musculação de uma Universidade do município de São Paulo, entre os meses de agosto e outubro de 2010.
Os dados foram coletados em um dia habitual de treino. Com a finalidade de analisar a perda hídrica, verificou-se a quantidade de ingestão de líquidos e a massa corporal antes e após o treinamento.
O percentual de perda de peso (%PP) foi calculado a partir da diferença entre o peso inicial e final. Para o cálculo da porcentagem de perda de peso utilizou-se a equação: [(Pi-Pf)]x100/Pi. A alteração de peso seguiu as recomendações de Casa et al (2000) e foi classificada da seguinte forma: bem hidratado = + 1 a – 1; Levemente desidratado = -1 a -3; Desidratação significante = -3 a -5; Severamente desidratado = > 5.
Para a mensuração da massa corporal, utilizou-se uma balança digital da marca Welmy®, com capacidade máxima de 200 kg e precisão de 100g. Os desportistas foram pesados descalços e com o mínimo de vestimentas possíveis, em posição ortostática, conforme descrito por Nacif e Viebig (2007). A estatura foi obtida por um estadiômetro acoplado à balança digital, com escala de 0 a 2000 cm e precisão de 0,1 cm. Os participantes foram instruídos a permanecer de costas para o instrumento, descalços, com os braços ao longo do corpo, pés juntos e paralelos, calcanhares e costas junto à balança, com olhos alinhados horizontalmente, inspirando no momento da coleta da medida.
Durante o treinamento, a ingestão hídrica foi livre e o volume de água foi medido pelo número de copos (capacidade de 200mL) consumidos pelos desportistas (disponibilizado pelos pesquisadores). Os participantes do estudo foram orientados a não urinarem durante e após o treino, até que fosse aferido o peso final. Para a análise da adequação do consumo de água, utilizou-se a recomendação da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte – SBME (2009).
Resultados e discussão
Foram avaliados 33 indivíduos, praticantes de musculação, sendo 78,8% (n= 26) do sexo masculino e, 21,2% (n= 7) do sexo feminino, com idade média de 30,8 anos. A média do tempo de treino foi de 85,1 minutos.
De acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), 46,1% (n=12) dos homens apresentaram sobrepeso e 57,1% (n=4) das mulheres foram classificadas como eutróficas.
Tabela 1. Porcentagem de perda de peso (%), taxa de sudorese (mL/min) e consumo hídrico dos participantes do estudo. São Paulo, 2010.
Indivíduo |
Idade |
Sexo |
Pi* (Kg) |
Pf** (Kg) |
Pi –Pf (Kg) |
PP*** (%) |
Ingestão hídrica (mL) |
1 |
19 |
F |
53,3 |
53,6 |
+0,3 |
+0,6 |
700 |
2 |
22 |
M |
62,4 |
62,9 |
+0,5 |
+0,8 |
1050 |
3 |
51 |
M |
123,5 |
123,0 |
-0,5 |
-0,1 |
600 |
4 |
21 |
M |
85,7 |
86,4 |
+0,7 |
+0,8 |
1400 |
5 |
43 |
M |
67,5 |
66,9 |
-1,4 |
-0,9 |
600 |
6 |
26 |
F |
84,9 |
84,8 |
-0,1 |
-0,1 |
600 |
7 |
47 |
M |
83,7 |
83,7 |
- |
- |
300 |
8 |
32 |
M |
72,8 |
72,9 |
+0,1 |
+0,1 |
400 |
9 |
24 |
M |
65,1 |
65,8 |
+0,7 |
+1,1 |
1005 |
10 |
31 |
M |
90,7 |
90,7 |
- |
- |
900 |
11 |
22 |
M |
67,2 |
67,9 |
+0,7 |
+1,0 |
1400 |
12 |
27 |
M |
92,7 |
92,7 |
- |
- |
300 |
13 |
21 |
M |
67,6 |
68,1 |
+0,5 |
+0,7 |
1200 |
14 |
20 |
M |
76,4 |
76,4 |
- |
- |
1000 |
15 |
25 |
M |
75,3 |
76,1 |
+0,8 |
+1,1 |
1500 |
16 |
35 |
F |
59,4 |
59,2 |
-0,2 |
-0,3 |
300 |
17 |
18 |
M |
81,0 |
81,8 |
+0,8 |
+0,1 |
1250 |
18 |
27 |
M |
93,3 |
93,5 |
+0,2 |
+0,2 |
1200 |
19 |
45 |
F |
95,6 |
95,7 |
+0,1 |
+0,1 |
500 |
20 |
24 |
M |
75,5 |
75,9 |
+0,4 |
+0,5 |
600 |
21 |
42 |
F |
70,1 |
70,0 |
-0,1 |
-0,1 |
- |
22 |
49 |
F |
66,5 |
66,8 |
+0,3 |
+0,4 |
800 |
23 |
51 |
M |
99,0 |
99,4 |
+0,4 |
+0,4 |
800 |
24 |
25 |
F |
50,0 |
50,2 |
+0,2 |
+0,4 |
350 |
25 |
23 |
M |
62,5 |
62,3 |
-0,2 |
-0,3 |
200 |
26 |
19 |
M |
62,1 |
61,9 |
-0,2 |
-0,3 |
130 |
27 |
33 |
M |
74,6 |
74,3 |
-0,3 |
-0,4 |
50 |
28 |
29 |
M |
78,2 |
78,1 |
-0,1 |
-0,1 |
100 |
29 |
30 |
M |
84,7 |
85,9 |
+1,2 |
+1,4 |
1500 |
30 |
23 |
M |
91,1 |
91,2 |
+0,1 |
+0,1 |
600 |
31 |
25 |
M |
87,1 |
87,1 |
- |
- |
350 |
32 |
42 |
M |
111,2 |
111,0 |
-0,2 |
-0,2 |
600 |
33 |
45 |
M |
75,5 |
75,5 |
- |
- |
320 |
Média |
30,8 |
- |
78,4 |
78,8 |
0,1 |
0,2 |
685 |
DP |
10,1 |
- |
16,0 |
16,1 |
0,5 |
0,5 |
445 |
Mínimo |
18 |
- |
50,0 |
50,2 |
-1,4 |
-0,9 |
- |
Máximo |
51,0 |
- |
123,5 |
123,4 |
1,2 |
1,4 |
1500 |
*Pi: peso inicial; **Pf: peso final; ***%PP = Porcentagem de Perda de Peso
+ aumento de peso; - perda de peso
DP: desvio-padrão
Dos praticantes de atividade física, 51,5% (n= 17) apresentaram ganho de peso após o treino e 100% da amostra foi classificada como bem hidratada de acordo com a classificação de Casa et al (2000).
Pode-se observar na Tabela 1 que todos os indivíduos que tiveram aumento de peso, após a atividade física, consumiram água durante a prática da musculação. No presente estudo, a média de ingestão hídrica durante o treino foi de 685 mL, sendo que 48,5% (n=16) dos indivíduos analisados consumiram a quantidade mínima de água recomendada pela SBME (2009). A provável hipótese para o alto consumo hídrico entre os indivíduos analisados foi o fato de as pesquisadoras estimularem constantemente o consumo de água durante a prática de atividade física.
Dados sobre ganho de peso (0,8 a 2,0 kg) também foram verificados em um estudo realizado por Cunha e Viebig (2008), com indivíduos entre 42 e 77 anos de idade, que praticavam hidroginástica em aulas com duração de 45 minutos. No referido estudo, os participantes consumiram em média 300 mL de água.
No entanto, Furtado et al (2009), mostraram que grande parte de desportistas com idade média de 39 anos, mesmo possuindo conhecimentos sobre hidratação, não possui o hábito de ingerir água durante o exercício físico. Portanto, torna-se importante o incentivo para a prática de ingestão de água durante os treinos e competições.
No presente estudo, também foi possível observar perda de peso em 30,3% (n=10) dos participantes. Embora os indivíduos tenham consumido água durante a atividade, os mesmos tiveram diminuição do peso corporal. Tal fato deve-se provavelmente ao consumo insuficiente de líquidos durante o treino. Estudo realizado por Furtado et al (2009), em uma academia de ginástica de São Paulo, verificaram que de 77 praticantes de musculação, 20,8% (n=16) relataram que nunca ou quase nunca se hidratavam durante o treino.
Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado, a SBME (2009) recomenda que o indivíduo beba cerca de 250 a 500 mL de água duas horas antes do exercício. Durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. Após o exercício, deve-se continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de água pela urina e sudorese.
É necessária a conscientização dos praticantes de musculação quanto à hidratação adequada. Mais estudos envolvendo o consumo de líquidos e a perda hídrica de praticantes de musculação devem ser realizados, devido à grande importância da hidratação adequada para o desempenho aos exercícios e para a saúde.
Considerações finais
No presente estudo, todos os praticantes de musculação foram classificados como bem hidratados após o treino, apesar de ter havido perda de peso em parte dos indivíduos que compuseram a amostra. Desta forma, ressalta-se que o reforço das orientações sobre a hidratação durante o treino deve ser um trabalho diário e contínuo, buscando conscientizar os praticantes de musculação sobre a necessidade de uma hidratação adequada.
Referências
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FURTADO, C.M; et al. Avaliação de hábitos e conhecimentos sobre hidratação de praticantes de musculação uma academia da cidade de São Paulo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n. 133, Agosto de 2010. http://www.efdeportes.com/efd133/hidratacao-de-praticantes-de-musculacao.htm
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McARDLE, W.D. KATCH, F.I. & KATCH, V. L. Fisiologia do exercício. Energia, nutrição e desempenho humano. 4ª ed. Editora Guanabara Koogan, 1998.
MONTEIRO, C.R.; GUERRA, I.; BARROS, T.L. Hidratação no futebol: uma revisão. Rev. Bras Med Esporte; v. 9, n. 4. jul./ago. Rio de Janeiro, 2003.
MOURA, G.H; REIS, V.A.B. Análise da perda hídrica de uma equipe feminina mini-mirim durante um treino de basquete. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 15, n. 147, Agosto de 2010. http://www.efdeportes.com/efd147/perda-hidrica-de-uma-equipe-feminina-de-basquete.htm
NACIF, M.; VIEBIG, R.F. Avaliação antropométrica nos ciclos da vida: Uma visão prática. São Paulo: Metha; 2007.
SALUM, A; FIAMONCINI, R.L, 2006. Controle de peso corporal x desidratação de atletas profissionais de futebol. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 10, n.92, jan. 2006. http://www.efdeportes.com/efd92/desidrat.htm
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Diretriz, 2009. Disponível em: Medicina do Esporte. Acesso em: 3 de Nov, 2010.
VIMIEIRO-GOMES, A.C., RODRIGUES, L.O.C. Avaliação do estado de hidratação dos atletas, estresse térmico do ambiente e custo calórico do exercício durante sessões de treinamento em Voleibol de alto nível. Rev. Paul. Educ. Fís. v.15, n. 2, p. 01-11. jul./dez. São Paulo, 2001.
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