efdeportes.com

O profissional de Educação Física e sua atuação na saúde publica

El profesional de la Educación Física y su intervención en la salud pública

 

*Discente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro, UNISA

**Orientadora e Docente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro, UNISA

(Brasil)

Clélia da Silva Oliveira*

Emanuella Machado Oliveira*

Johnny Postigo*

Profª. Ms. Solange de Oliveira Freitas Borragine**

kleliaoliver@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo tem o objetivo de apresentar a importância da ação do profissional de educação física na saúde pública e o quanto é necessário a sua inserção nestes projetos. Para isto, utilizamos como metodologia a revisão bibliográfica. A saúde pública refere-se à forma de ações político-governamentais que dirigem intervenções voltadas às necessidades sociais de saúde, e tem o objetivo de organizar sistemas e serviços de saúde que atuem em fatores do processo saúde-doença, procurando controlar a incidência de doenças na população, por meio de ações de vigilância e intervenções. Um desses projetos é o Programa Saúde da Família, que trabalha com o princípio da vigilância à saúde dando assistência integral e de qualidade às necessidades de uma determinada população, intervindo sobre os fatores de riscos aos quais ela está exposta. Para esse serviço, necessita de um conjunto de profissionais da saúde, dentre eles o de educação física, uma vez que existe uma relação direta entre atividade física e saúde e, conseqüentemente com a qualidade de vida da população. Esse profissional, em conjunto com outros da área da saúde, é capaz de desenvolver ações de prevenção, proteção e recuperação da saúde, proporcionando práticas de vida saudável, dando suporte ao processo como um todo, facilitando o êxito do trabalho proposto pelos programas do governo que objetivam uma boa qualidade de vida.

          Unitermos: Profissional de Educação Física. Processo saúde doença. Saúde pública.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Partindo da idéia de que a maioria dos indivíduos nasce em boas condições de saúde e, com o passar do tempo, esse estado pode ser alterado por fatores externos e/ou genéricos, a saúde pública e conseqüentemente seus profissionais passam a agir para proporcionar a esses indivíduos uma melhor qualidade de vida. Percebe-se, portanto, que existem formas de retardar ou melhorar o quadro clinico dessas pessoas, é nesse momento que a saúde pública cria grupos de profissionais, incluindo o Educador Físico, com o objetivo de atender as necessidades, melhorando ou resolvendo os problemas apresentados pela população.

    Diante dos problemas que a sociedade enfrenta relacionados à saúde, sejam esses causados pelo estresse, sedentarismo ou pela hereditariedade, o governo apresenta um projeto visando melhorar a qualidade de vida das pessoas. Um exemplo desse trabalho, com origem no ano de 1994 e proposto pelo Governo Federal é o Programa Saúde da Família (PSF), com o objetivo de implementar a atenção básica.

    Essas questões estão diretamente relacionadas à Saúde Pública, que expressa o conjunto de medidas para promover, preservar e recuperar a saúde no interior do aparelho do Estado.

    O PSF é tido como uma das principais estratégias de reorganização dos serviços e de reorientação das práticas profissionais no nível de assistência, promoção da saúde , prevenção de doenças e reabilitação, e traz muitos e complexos desafios a serem superados para consolidar-se como tal.

    No âmbito da reorganização dos serviços de saúde, a estratégia da saúde da família vai ao encontro dos debates e análises referentes ao processo de mudança do paradigma que orienta o modelo de atenção à saúde vigente e que vem sendo enfrentada, desde a década de 1970 por um conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um novo modelo que valorize as ações de promoção e proteção da saúde, prevenção das doenças e atenção integral às pessoas.

    Partindo desses princípios, o PSF traz consigo grupos de apoio como o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)  que, por sua vez, juntamente com as equipes da saúde da família criam espaços de discussões para gestão do cuidado, como, por exemplo, reuniões e atendimentos conjuntos, constituindo processo de aprendizado coletivo. Desta maneira, o NASF não se constitui como porta de entrada do sistema para os usuários, mas apoio às equipes de saúde da família, tendo como eixos a responsabilização, gestão compartilhada e apoio à coordenação do cuidado, que se pretende, pela saúde da família.

    O NASF está dividido em nove áreas estratégicas sendo elas: atividade física/praticas corporais; práticas integrativas e complementares; reabilitação; alimentação e nutrição; saúde mental; serviço social; saúde da criança/ do adolescente e do jovem; saúde da mulher e assistência farmacêutica.

    Existem duas modalidades de NASF: o NASF 1 que compreende no mínimo cinco das profissões de nível superior como: Psicólogo; Assistente Social; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Profissional da Educação Física; Nutricionista; Terapeuta Ocupacional; Médico Ginecologista; Médico Homeopata; Médico Acupunturista; Médico Pediatra; e Médico Psiquiatra; e o NASF 2 que deve ser composto por no mínimo três profissionais de nível superior de ocupações não-coincidentes como: Assistente Social; Profissional de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Nutricionista; Psicólogo; e Terapeuta Ocupacional.

    Neste sentido constata-se que o professor de Educação Física, dentre outros profissionais, possui um papel fundamental dentro desse projeto, e que o mesmo está inserido com uma responsabilidade igualitária.

    Este estudo, portanto, tem o objetivo de apresentar a importância da ação do profissional de Educação Física na saúde pública e a sua crescente inserção nos órgãos públicos. Para isto utilizaremos como metodologia a revisão bibliográfica.

    A atividade física (AF) e a promoção da saúde são atualmente subáreas da Educação Física (EF) de importante destaque no meio científico, no entanto, nota-se que esse conhecimento ainda é pouco aplicado a serviço da Saúde Pública. Dessa forma, o Programa de Saúde da Família (PSF) que representa uma das alternativas de (re) orientação de modelo de atenção à saúde, e tem dentre suas diretrizes a intersetorialidade e multidisciplinaridade, se apresenta como um possível campo de intervenção do Professor de Educação Física que, ao ser inserido, é capaz de desenvolver ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, compatíveis com as metas dessa estratégia. (COQUEIRO, NERY e CRUZ, 2006)

    Diante destas observações, não podemos pensar em um projeto que vise proporcionar práticas de vida saúdavel, ou melhor, que tem como objetivo uma boa qualidade de vida, sem pensar na inserção do profissional de Educação Física, pois é este que irá desenvolver atividades objetivas que darão suporte ao processo como um todo. Por este motivo ele é tão importante e necessário, ocupando uma das vagas do grupo, ou seja, é um dos profissionais que age em conjunto dentro do projeto, facilitando o êxito do trabalho proposto pelos programas do governo.

    É o Educador Físico na área da saúde que tem a capacidade de desenvolver atividades que proporcionem melhora no indivíduo como um todo, e quando essa iniciativa é pública, torna-se mais acessível aos indivíduos, uma vez que a maior parte da população não possui recursos para o acesso de práticas de atividades físicas oferecidas pelo setor privado.

Saúde Pública

    Segundo Rocha e César (2008), uma definição clássica de Saúde Publica formulada por Winslow (1877-1957), e que pode ser encontrada na maioria dos bons manuais sobre o assunto é

    “a ciência e a arte de evitar doença, prolongar a vida e promover a saúde física e mental, e a eficiência, através de esforços organizados da comunidade, visando o saneamento do meio, o controle das infecções comunitárias, a educação do indivíduo nos princípios da higiene pessoal, a organização de serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e o tratamento da doença e o desenvolvimento dos mecanismos sociais que assegurarão a cada pessoa na comunidade o padrão de vida adequado para a manutenção da saúde” (ROCHA e CESAR, 2008, p. 28 ).

    A expressão saúde pública, no entanto, para Castiel (2008) pode dar margem a muitas discussões quanto sua definição, campo de aplicação e eventual correspondência com noções veiculadas, muitas vezes, de modo equivalente, tais como os termos: saúde coletiva, medicina social-preventivo-comunitária, higienismo e sanitarismo.

    Em geral, saúde pública, de acordo com Castiel (2008), costuma se referir, a “formas de agenciamento político/governamental (programas, serviços, instituições) no sentido de dirigir intervenções voltadas às denominadas "necessidades sociais de saúde” (p.1).

    A título de esclarecimento e, para que se compreenda a distinção entre os termos, o autor registra que diferentemente da saúde pública, a saúde coletiva, leva em conta a diversidade e especificidade dos grupos populacionais e das individualidades com seus modos próprios de adoecer e/ou representarem tal processo, no entanto, não necessariamente, passam pelas instâncias governamentais ditas responsáveis diretas pela saúde pública.

    A saúde pública centra sua ação a partir da ótica do Estado com os interesses que ele representa nas distintas formas de organização social e política das populações. Ela é a aplicação de conhecimentos (médicos ou não), com o objetivo de organizar sistemas e serviços de saúde, atuar em fatores condicionantes e determinantes do processo saude-doença, controlando a incidência de doenças nas populações através de ações de vigilância e intervenções governamentais. (FONSECA, 2007).

    Segundo Pires Filho (1987) saúde pública, para algumas pessoas, é algo não bem definido, e em certos aspectos confuso, complicado e, de certa maneira, ainda que sendo o próprio campo de trabalho dessas pessoas, se apresenta como algo que não lhes diz respeito direto ou imediato. Para essas pessoas, sua relação com o tema é basicamente física.

    “O plano da teorização não chega a ser aventado e, quando eventualmente ocorre, faz-se em circunstâncias muito especiais e invariavelmente sob provocação externa. Essa corrente de pensamento caracteriza um tipo de compreensão superficial que não transcende ao senso comum. Uma compreensão considerada ingênua ou alienada porque não tem suas raízes ou bases na realidade. É fruto do desprendimento dos indivíduos, dos fatos mais gerais que os cercam”. (PIRES FILHO, 1987, p 2 )

    O autor acrescenta que saúde pública pode ser considerada um campo diferenciado do saber da prática de saúde, caracterizada por ser uma especialidade que se distingue das demais, uma vez que se volta para o coletivo. Ela necessita, para seu desenvolvimento, conhecimentos específicos e altamente diferenciados.

    “Possui uma racionalidade própria, em geral, de domínio exclusivo daqueles que nela são iniciados, sobre quem repousa, também, a responsabilidade pelo aporte e o enriquecimento desse instrumental básico e científico. Esse tipo de ponto de vista conforma e engloba um tipo de compreensão técnica da questão, uma vez que tende a reduzi-la a uma dimensão que, em geral, não transcende os limites das ciências médicas, administrativas e de planejamento” (p. 3)

    Pires Filho (1987) finaliza registrando que saúde pública é mais que o apresentado acima, sem deixar de ser também isto. Ela é fundamentalmente um setor da sociedade, semelhante ao que são a educação, a habitação, etc., logo, pode ser definida.

    “...a partir de uma ótica que ultrapassa os seus próprios limites, rebuscando essa determinação na própria sociedade na qual ela se desenvolve. A esse tipo de compreensão poderíamos categorizar de política porque compreende a saúde pública, sua origem, maneira de ser, suas transformações, seus resultados, a partir da compreensão da própria sociedade, mediante o entendimento das leis que a explicam e regem.” (p. 3)

Caracterização do Programa de Saúde da Família

    Na década de 1990 iniciou-se a implementação da estratégia do Programa Saúde da Família (PSF) que, no contexto da política de saúde brasileira, deveria contribuir para a construção e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). Tendo em sua base os pressupostos do SUS, a estratégia do PSF propõe a expectativa relativa à reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica (BRASIL, 1997).

    Para discutirmos a importância do profissional de Educação Física nos trabalhos de saúde pública dentro dos Programas da Saúde da Família, julgamos relevante apresentar como esse programa está organizado e qual a sua função.

    O Programa Saúde da Família (PSF), Dias et al. (2007) é uma estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS), criado pelo Ministério da Saúde do Brasil em 1994, para a vigilância, prevenção e tratamento de alguma doença de forma completa, baseando-se em estatísticas epidemiológicas em uma área e população delimitada e específica, sendo a porta de entrada para o Sistema de Saúde.

    De acordo com o autor a Estratégia Saúde da Família é baseada na territorialidade e descrição da população a ser atendida nas Unidades Básicas de Saúde pelas Equipes da Saúde da Família, são constituídas por uma equipe multiprofissional, a qual, por sua vez, pode ser definida como uma rede de relação entre pessoas, poderes, saberes, afetos e desejos em que é possível identificar os processos grupais, equipe esta constituída em grande parte por enfermeiros, médicos, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde.

    O objetivo do PSF é atender a raiz do problema, evitando que ele evolua, diminuindo os gastos com a saúde e proporcionando, conseqüentemente, uma melhor qualidade de vida para a população. Esses atendimentos são realizados, como informa Dias et al (2007), nas Unidades de Saúde, além dos feitos em domicílio pelos profissionais de saúde.

    “O Programa de Saúde da Família tem como objetivo geral contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde - atender a todos; atuar de maneira integral; ser descentralizado; ser racional (oferecer ações e serviços de acordo com as necessidades da população); ser eficaz e eficiente; ser democrático (participação de todos) , imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a população”. (BRASIL, 1997, p 10 )

    Segundo Franco e Merhy citado por Coqueiro, Nery e Cruz (2006) o PSF foi concebido pelo Ministério da Saúde (MS) em 1994, com o objetivo de proceder:

    “A reorganização da prática assistencial em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência, orientado para a cura de doenças e no hospital. A atenção está centrada na família, entendida e percebida a partir do seu ambiente físico e social o que vem possibilitando as equipes de saúde da família uma compreensão ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções que vão além de práticas curativas.” (p. 2 )

    O que podemos compreender é que o PSF se dispõe a trabalhar com o princípio da vigilância à saúde que, de acordo com Coqueiro, Nery e Cruz (2006) apresenta uma característica de intervenção inter e multidisciplinar. Também se mostra como uma estratégia que busca tornar possível a integração e promover a organização de atividades em certa área de abrangência, visando oportunizar o enfrentamento e a conseqüente resolução dos problemas identificados.

    “O papel dos serviços de saúde, com relação à prática de atividade física, deve ser colocar à disposição da comunidade as informações, o conhecimento e os meios necessários para que a atividade física possa ser incorporada ao cotidiano das pessoas, considerando suas diferentes condições, interesses e possibilidades”. (KON e CARVALHO, 2002 apud STEIN, 2009, p. 10190)

     De acordo com registros de Brasil (1997), as principais metas do PSF apontadas pelo Ministério da Saúde são: a) Prestar, na Unidade de Saúde da Família (USF) e no domicílio, assistência integral, contínua, com resolubilidade e boa qualidade às necessidades de saúde da população descrita; b) Intervir sobre os fatores de risco aos quais a população está exposta; c) Eleger a família e o seu espaço social como núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde; d) Humanizar as práticas de saúde através do estabelecimento de um vínculo entre os profissionais de saúde e a população; e) Proporcionar o estabelecimento de parcerias através do desenvolvimento de ações intersetoriais; f) Contribuir para a democratização do conhecimento do processo saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde; g) Fazer com que a saúde seja reconhecida como um direito de cidadania e, portanto, expressão da qualidade de vida; h) Estimular a organização da comunidade para o efetivo exercício do controle social.

    Constata-se que a relação da atividade física (AF) com a saúde até alguns anos atrás, não era objeto de estudo em destaque pela Educação Física, no que diz respeito à questão epidemiológica, visando contribuir com a qualidade de vida da população.

    No entanto, verifica-se atualmente que a AF e saúde vem se constituindo em uma das mais importantes áreas de estudo e pesquisa. Isso se evidencia pela enorme quantidade de pesquisas publicadas na literatura, como informa Coqueiro, Nery e Cruz (2006) que focam a verificação dos efeitos benéficos da AF sob variáveis fisiológicas, metabólicas, morfológicas e psicológicas.

    Com base em trabalhos epidemiológicos prospectivos e pesquisas de base laboratorial, os autores acima mencionados quantificaram os muitos benefícios de um estilo de vida fisicamente ativo, são eles: diminuição nos fatores de riscos para doença arterial coronariana, diabetes e hipertensão; menor incidência de osteoporose e alguns tipos de câncer; gordura corporal total reduzida; pressão arterial reduzida em repouso; mortalidade e morbidez reduzidas; menor ansiedade e depressão; sensações de bem-estar aprimoradas; e melhor desempenho nas atividades laborativas, recreativas e desportivas.

    Um estudo de caso-controle, realizado por Silva (1998) no Brasil, por exemplo, constatou que a incidência de infarto agudo do miocárdio foi significativamente maior nos indivíduos que não apresentavam o hábito de realizar AF no passado. Logo, os benefícios da AF são muitos, sendo tanto de caráter fisiológico, psicológico quanto de caráter social e, de acordo com estudos de Dias et al (2007) podemos relacionar os seguintes:

    Dos benefícios fisiológicos, o autor apresenta que em curto prazo a AF permite estabilizar a quantidade de glicose no sangue, estimulando ao mesmo tempo as quantidades de adrenalina e noradrenalina e também proporciona melhora no sono e, em longo prazo, possibilita a melhora na função cardiovascular, no tônus muscular, na flexibilidade, preservando e restabelecendo a mobilidade das articulações no equilíbrio, na coordenação motora e na velocidade do movimento.

    Dentre os benefícios psicológicos, pode-se destacar que em curto prazo a prática de AF regular proporciona relaxamento e por esse motivo, uma diminuição do estresse e da ansiedade, auxiliando no melhor humor, e em longo prazo verifica-se um bem estar geral, melhora na saúde mental e auxilia, inclusive, no tratamento da depressão.

    O autor apresenta também que, dos benefícios sociais, pode-se mencionar em curto prazo, a socialização e a integração desses indivíduos a grupos sociais, e em longo prazo, a partir dessa socialização a formação de novas amizades e companheirismos, além da ampliar as relações sociais.

    Outro aspecto a ser considerado como benefício é a diminuição dos gastos públicos com medicamentos, uma vez que estilos de vida ativos podem contribuir para retardar o momento em que o corpo chega à fragilidade física e à doença, e conseqüentemente, diminuindo significativamente os custos com a saúde, logo, reduzindo os gastos públicos com a aquisição de medicamentos a serem distribuídos para a população.

Processo saúde-doença

    O processo saúde-doença faz referência a todas as variáveis que envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população, considerando que estejam interligadas e são consequência dos mesmos fatores. Assim, a determinação do estado de saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve inúmeros fatores.

    O processo saúde doença é apresentado por Tancredi, Barrios e Ferreira (1998) citado por Silva (2006) como

    [...] é um processo social caracterizado pelas relações dos homens com a natureza (meio ambiente, espaço, território) e com outros homens (através do trabalho e das relações sociais, culturais e políticas) num determinado espaço geográfico e num determinado tempo histórico. (p.29)

    Segundo Coqueiro, Nery e Cruz (2006), diferentemente da teoria da unicausalidade, muito aceita no início do século XX, que considera como fator único de surgimento de doenças um agente etiológico relacionado aos vírus, bactérias e protozoários, o conceito de saúde-doença estuda os fatores biológicos, econômicos, sociais e culturais.

    Essa variedade de causas, de acordo com os autores, não exclui a presença de agentes etiológicos numa pessoa como fator de aparecimento de doenças. Ele vai além e leva em consideração o aspecto psicológico do paciente, seus conflitos familiares, seus recursos financeiros, nível de instrução, entre outros. Esses fatores, no entanto, não são estáveis; podem variar com o tempo, de acordo com a região, ou de uma etnia para outra

    O conceito de saúde e de doença, segundo Silva (2006) tem evoluído junto com a humanidade e as crenças em torno do adoecimento também determinam o modo que se enfrenta o problema. Inicialmente a doença era vista como castigo divino ao ser humano que se afastava da comunhão com Deus. Esta convicção fazia com que o cuidado com a saúde, e as ações preventivas, se confundissem com as normas da igreja que, por sua vez, sendo responsável pela aceitação das pessoas perante Deus, detinha os registros de nascimentos e óbitos.

    Registros do autor apresentam que até meados do século XIX, incluindo o período da formação das cidades e da ocorrência das grandes epidemias, acreditava-se que a saúde ou a doença estavam relacionadas ao ambiente em que as pessoas viviam. “As más condições sanitárias expunham as pessoas à inalação de maus ares chamados de miasmas”.

    Neste período todos os tratamentos eram voltados para a adequação do ambiente como fatores relacionados a iluminação, ventilação, temperatura, silencio, hidratação e dieta, em que o doente se encontrava. No entanto, conforme apresenta Autor (ano), a Teoria dos Miasmas não conseguia explicar totalmente algumas epidemias que assolavam as cidades e, por volta da metade do século XIX, surgiram importantes trabalhos científicos, entre eles, de acordo com Fonseca (2007), o de John Snow que demonstrava a transmissão da cólera através da água.

    Nas décadas seguintes, segundo o autor a descoberta e isolamento de bactérias e fungos deram início ao período bacteriológico e a teoria unicausal, segundo a qual para cada agravo haveria um microorganismo causador. A descoberta e uso de antibióticos não foi suficiente para eliminar as doenças na época, impulsionando a formulação da Teoria Multicausal que atribuía à influencia concomitante de diferentes fatores físicos, químicos, biológicos, socioeconômicos e culturais na determinação da doença.” ,

    Segundo Taigy citado por Fonseca (2007), a partir da segunda metade do século XX a determinação social da doença foi amplamente aceita, definindo-se o processo de saúde e doença como.

    “o modo específico pelo qual ocorre, nos grupos, o processo biológico de desgaste e reprodução, destacando como momentos particulares a presença de um funcionamento biológico diferente com conseqüências para o desenvolvimento regular das atividades cotidianas, isto é, o surgimento da doença”. (p.3 )

    De acordo Fonseca (2007), para explicar a ocorrência da doença são utilizados modelos que representam as relações e os fatores envolvidos na sua produção:

    O modelo biológico ou biomédico está centrado no processo fisiopatológico estrito, ou seja, nas alterações das estruturas e funcionamento do corpo. Outro modelo é o Processual que, considera as relações mais amplas com o meio ambiente, incluindo as relações sociais.

    “O exemplo mais conhecido deste modelo é o da História Natural das Doenças de Leavell e Clark (1950) definido como o conjunto de processos interativos que cria o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte”.( FONSECA, 2007, p.30 )

    Existe também, de acordo com o autor, o modelo Sistêmico, baseado no conjunto formado por agente suscetível e pelo ambiente, dotado de uma organização interna que regula as interações determinantes da produção da doença, juntamente com os fatores vinculados a cada um dos elementos do sistema. Este modelo utiliza a definição de sistema como um conjunto de elementos de tal forma relacionados que uma mudança de qualquer elemento provoca mudança no estado dos demais elementos.

    Na verdade, queremos dizer que atuar sobre os processos de saúde-doença da população implica no desenvolvimento de três grandes tipos de ação: a promoção da saúde, a prevenção das enfermidades e acidentes e a atenção curativa e reabilitadora, pensando uma atenção básica resolutiva como partem de um sistema que possibilite o acesso aos usuários de serviços de nível de complexidade necessário para resolução de seus problemas de saúde. (MENDES apud STEIN, 2009, p. 10187)

Educação Física e Saúde Pública

    Pesquisas atuais nos mostram que muitas pessoas praticam AF, no entanto, nem sempre com a orientação de profissionais de Educação Física. Essa prática inadequada pode piorar ainda mais os riscos de doenças, provocando sérios problemas aos praticantes. Isso prova o quanto é importante o acompanhamento de um profissional na realização dessas práticas.

    Stein (2009) analisa a situação do processo saúde-doença, discutindo a preocupação para o desenvolvimento de um trabalho voltado à prevenção, por meio da educação e afirma que, para se ter alcance preventivo é necessário compreender os três níveis de prevenção, que são apresentados pela medicina como a prevenção primária; secundária e terciária. A autora registra ainda que a Educação Física está presente neste processo da seguinte forma:

    Na prevenção primária a Educação Física pode atuar desenvolvendo ações que apresentem regras sadias de vida, tanto fisiológica quanto psicológica, como atividades prazerosas. Ela deve intervir antes que surja algum problema, visando uma educação para a saúde. Na secundária, ela pode atuar no prolongamento da prevenção primária, se esta não alcançar os objetivos pretendidos; e na prevenção terciária, já atuaria no encaminhamento aos especialistas para o tratamento e ou reabilitação das doenças. (STEIN, 209)

    Constata-se que o papel da Educação Física é de grande valia e de suma importância para o Programa de Saúde da Família, uma vez que, por meio de uma grande variedade de ações a serem desenvolvidas, a atividade física, por si só, já desempenha um acréscimo à saúde e à qualidade de vida. Por meio de palestras, jogos, brincadeiras e ginásticas, é possível chegar ao bem-estar, a alegria e uma série de benefícios ao organismo.

    Segundo Dias et al (2007) o profissional de Educação Física, neste sentido, é fundamental, pois compete a ele coordenar, planejar, programar, supervisionar, dirigir, organizar, avaliar e executar todos os trabalhos e programas, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos na área da prática de atividade física regular e do desporto.

    Entendemos que o Educador Físico, sendo o profissional especialista em atividades físicas em todas as suas manifestações como ginásticas, exercícios físicos, jogos, desportos, lutas, danças, entre outros, deve auxiliar no desenvolvimento da educação e saúde, contribuindo para a aquisição e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal das pessoas.

    A importância desse profissional pode ser avaliada pela responsabilidade que possui, uma vez que, um programa de exercícios mal elaborado, pode causar ao praticante hipoglicemia, sangramento na retina, perda de proteínas na urina, complicações cardíacas e até morte súbita, principalmente se o indivíduo for também hipertenso além de diabético. Os participantes devem ter seus níveis glicêmicos adequados para obter as vantagens proporcionadas pelo exercício, pois do contrário a probabilidade de riscos do exercício físico pode ser maior do que a de benefícios (DIAS et al, 2007).

    Ciampone e Peduzzi, citado por Quint et AL (2005), apresentam que se faz necessário refletir, com urgência, os campos e formas de efetiva inserção do profissional de Educação Física no sistema público de saúde, como no PSF, para a ampliação na intervenção deste nas ações multiprofissionais, construindo um pensar e fazer de alta complexidade de saberes.

Considerações finais

    A saúde pública refere-se à criação de ações político-governamentais que atenda às necessidades sociais de saúde, objetivando a organização de sistemas e serviços que atuem nos fatores do processo saúde-doença, buscando controlar a incidência de doenças na população, por meio de ações de vigilância e intervenções. Dentre os projetos que atendem a esses objetivos podemos citar o conjunto de profissionais do PSF, que presta serviços de acompanhamento à população. Dos casos que as equipes dão assistência, estão em grande parte os doentes crônicos, como os portadores de diabetes, hipertensão, estresse, obesidade, doenças respiratórias, doenças cardiovasculares, dentre outras.

    Boa parte destas doenças é causada pelo sedentarismo, provocada pela falta de exercício físico, uma vez que a tecnologia rouba o espaço dessa prática, ocasionando o surgimento de diversas doenças, podendo aumentar ou agravar o número de pessoas doentes, comprometendo ainda mais a sua qualidade de vida.

    Isso justifica a importância e a necessidade do profissional de Educação Física inserido nesse campo de trabalho. É ele a pessoa habilitada para desenvolver atividades adequadas para cada individuo, respeitando cuidadosamente os problemas identificados. Esse profissional é capaz de organizar, avaliar e, coordenar ações especializadas, e esses cuidados são imprescindíveis para um bom resultado, uma vez que realizados de forma inadequada, podem ocasionar resultados negativos como: lesões musculares, lesões articulares, fraturas ósseas, cansaço, dores musculares, alterações nos batimentos cardíacos, cefaléia e conseqüente aumento da pressão arterial.

    A orientação do profissional de educação física para a adequada prática de atividade física, promove inúmeros benefícios como: redução do risco de desenvolver doenças cardíacas coronárias e o risco do indivíduo morrer da mesma; redução da incidência de infarto; diminuição do colesterol; diminuição dos problemas de pressão arterial; redução da hipertensão e do risco de desenvolver diabetes, além de promover o bem estar psicológico, evitando os sentimentos de estresse do cotidiano e elevando a auto estima.

    Sabemos, no entanto, que o Brasil possui um grande número de pessoas inativas, e isso se dá por diversos fatores como falta de oportunidade (falta de lugar apropriado para a prática), falta de informações (não sabem de todos os benefícios que a atividade proporciona), falta de tempo (muitos compromissos cotidianos), valor aquisitivo insuficiente (para quem possui baixa renda, as prioridades passam a ser outras), dentre outros.

    Em nossas consultas bibliográficas, no cenário nacional observamos a existência de poucos estudos e isoladas presenças efetivas de profissionais ou ações de educação física nos serviços de saúde pública, constatando assim que ainda é pequeno o reconhecimento e a inserção deste profissional nesta área.

    Ao analisar essa realidade, fica evidente que, além da conscientização, se faz necessário uma grande mudança de hábitos das pessoas e, ao mesmo tempo, iniciativas dos órgãos governamentais na criação de novos projetos ou expansão dos que já existem, resultando uma melhor qualidade de vida da população e maior economia da renda pública, reduzindo os gastos com medicamentos e assistências de recuperação emergenciais.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 153 | Buenos Aires, Febrero de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados