O jogo como um relevante conteúdo de ensino na formação do sujeito e na prática escolar El juego como contenido relevante de enseñanza en la formación del sujeto y en la práctica escolar |
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Fisioterapeuta da clínica NucleoFisio Graduado em Educação Física – Licenciatura – UERJ Graduando em Educação Física – Bacharelado – UERJ Graduado em Fisioterapia – FRASCE |
Rodrigo Silva Perfeito (Brasil) |
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Resumo Uma grande parte da sociedade e até de professores de Educação Física não sabem dizer o que é jogo sem ultrapassar a barreira do empírico. Ocorre ainda uma destituição da importância do jogo como elemento social e ferramenta de ensino. Diante destas dificuldades de compreensão sobre o jogo, este artigo retrata de forma concreta e embasada como este elemento surgiu, seu conceito através dos tempos e de diferentes autores, sua contribuição para a vida social e sua relevância como ferramenta de auxílio ao professor de Educação Física perante suas aulas na escola e fora dela. Portanto, traremos a proposta de pensar no jogo como objeto de suma seriedade e de extrema importância para a formação de ideais, sentimentos e atitudes, que para aqueles que não estão envolvidos em tal momento, representam fatos fora do senso racional, mas para aqueles que estão jogando, atos neste ambiente podem representar algo até mais importante do que viver uma vida sem o jogo. Unitermos: Educação Física. Jogo. Escola. Vida social.
Abstract A large part of society and even physical education teachers can not tell what game is not going beyond the barrier of the empirical. There is also a dismissal of the importance of play and social element as a teaching tool. Given this lack of understanding about the game, this article shows a concrete and grounded as this element has emerged, through his concept of time and different authors, their contribution to social life and its relevance as a tool to support physical education teacher before their classes at school and beyond. Therefore, we will bring the proposal to think about the game as an object of great seriousness and importance to the formation of ideals, feelings and attitudes, which for those who are not involved at that time, represent rational sense out of facts, but for those who are playing, acts in this environment may represent something even more important than living a life without the game. Keywords: Physical Education. Play. School. Social life.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Contextualização histórica e o conceito de Jogo
Para se fazer possível a discussão da relevância do jogo como agente educador, existe a necessidade de ter em mente, de forma concreta, o que é jogo.
No século XV, o jogo era tido como algo preocupante pela igreja católica, já que este desviava o comportamento social do indivíduo vigente da época, absorvendo, envolvendo e distanciando-o do pensar da igreja. A cada dia a paixão cristã adormecia enquanto a paixão pelo jogo desvirtuava de modo crescente. Além disso, a jogo era um forte elemento apaziguador. Assim como na Grécia antiga, no século XV, o jogo era conhecido como ação capaz de amenizar conflitos, ou seja, enquanto se jogava, não haveria brigas ou confrontos fora da atividade.
Pós século XV, o jogo era tido como um objeto do conhecer, trazendo reflexões sobre a vida e o mundo. O jogo se transformava em disseminador e transformador de conhecimentos. Iniciava o tempo em que o indivíduo não só jogava por jogar, mas sim, refletia sobre seus conhecimentos de forma paralela a acontecimentos da sociedade.
Numa terceira concepção, o jogo surge com a perspectiva estética e pedagógica. Através do jogo, o Homem era capaz de desfragmentar seu instinto cognitivo, conciliando sentimentos decorrentes de uma sociedade vigente associados a seus sentimentos mais íntimos, talvez instintivos.
Sendo assim, diante destas três perspectivas e de uma forma geral, pode-se dizer que o jogo é um agente disseminador de conceitos éticos, epistemológicos e estéticos. De forma mais específica temos outras conceituações como a de Caillois (1990) que diz que jogar é estar inserido num lugar e num tempo, onde tal atividade deve ser livre, incerta, improdutiva e conter regulamentos. Segundo Anjos (2005) os jogos são universais e são classificados de acordo com sua regionalidade, não sendo possível a classificação concreta da modalidade dos jogos. Porém, podemos assumir tal classificação como válida desde que entendamos que diversas situações não o traduzem fielmente e até impedem denominações empregadas. Propõe ainda o agrupamento de jogos de acordo com suas características.
Inserindo um conceito de característica genérica e universal, Johan Huizinga (1938) em sua concepção epistemológica, diz que para existir jogo, este deve ser praticado de forma voluntária, sendo de livre escolha a permanência neste ou não. Necessita possuir regras, que são moldadas pelos participantes. Carece de ocorrer em um espaço e tempo determinados pelas características do jogo e de seus participantes. E por último, possibilite a evasão da vida real, aflorando sentimentos interiorizados e obstruindo aqueles que preocupem o participante, permitindo que este esqueça o mundo externo ao jogo e se entregue de forma consciente e em alguns momentos inconsciente no que está a jogar.
Assim surge, em nossa maneira de pensar, outra conceituação: jogo é tudo aquilo que o indivíduo pratica num espaço e num determinado tempo, através do prazer em estar presente, que possa ser classificado em grupos devido a suas características, que contenha regras permanentes ou mutáveis ao longo do processo e que permita a evasão dos acontecimentos de nosso dia a dia.
Neste momento, onde se tem uma sucinta conceituação de jogo, pode-se ir de encontro à reflexão da relevância deste na formação de sujeitos, dentro e fora da escola. Para isto, é preciso o reforço na ponderação de que o jogo em diversos momentos reflete atos e pensamentos diante de escolhas a se fazer, de modo a moldar suas ações futuras, semelhantes as que ocorrem em situações sociais.
O jogo e a vida social
Sem que possamos perceber, o jogo nos traz um retrato de nossa vida social. Quando nos inserimos no jogo e temos a liberdade de permanecer neste ou não, estamos aprendendo que na vida, devemos apresentar esta mesma autonomia, de saber o momento certo de abraçar certas situações ou de simplesmente deixá-las de lado. Ao receber uma proposta de emprego, há um livre arbítrio para se aceitar ou não, de permanecer ou não neste, da mesma forma ocorre no jogo. Nestes dois casos, tanto o emprego como no jogo, somente ocorrerá desenvolvimento se o participante se insere de forma voluntaria e prazerosa. Esta autonomia remete ao sujeito a responsabilidade por suas decisões e atos, que usualmente refletirá não somente em si, mas a todos que o rodeiam no campo de extensão do jogo ou emprego.
Além de autonomia, o jogo traz regras. Todo jogo possui regras e estas devem ser seguidas pelos participantes. Estas modulam e ao mesmo tempo são moduladas pelo decorrer do jogo. São modificadas para tornar o jogo jogável e mais atraente. Podem ocorrer no início ou ao longo do tempo de jogo, visando estabilidade e adaptações corretivas. Torna possível a criação, modificação e exposição do mundo social imaginário que surge da atividade vigente, aglomerando ideais, culturas, religiões e outros, de uma maneira que não seria possível fora do jogo, tudo em pró ao respeito às regras e ao próprio jogo.
Em nossas vidas sociais ocorrem regras de modo semelhante. Todos os indivíduos são regidos por regras que os conduzem a pensamentos e ações semelhantes, permitindo sua permanência na sociedade. Porém, se ao longo do tempo, estas normas deixam de se desenvolver de modo benéfico à grande maioria da população, estas são modificadas ou criam-se novas regras para substituí-las, a fim de melhorar o jogo da vida. Ocorrem casos na sociedade onde pessoas, por algum motivo individual ou composto, não acreditam em determinados regulamentos ou ainda por não entenderem que estes são eficazes, simplesmente não os seguem. Estas leis no ponto de vista destes sujeitos ferem o bom agir de alguns indivíduos, ajudando de modo ilícito um grupo da sociedade e conseqüentemente ferem com o bem-estar de modo geral de outros. Exemplos seriam a corrupção política e a demora da justiça em sentenciar casos decorrentes de injustiças. Desse modo, estes indivíduos não beneficiados pelas regras, sentem-se no direito de burlá-las e criar suas próprias normas, estimulados pela desigualdade social. Se no jogo todos merecem as mesmas chances de vencer, na sociedade todos nós pensamos da mesma forma.
A vivência do jogo, assim como em nossa vida social, deve ocorrer em um espaço e um tempo. O espaço deve estar de acordo com as necessidades do jogo. Este não deve ser amplo se o jogo necessitar de pouco ou amplo se necessitar de muito espaço. Precisa de uma estrutura que não atrapalhe o decorrer da atividade. Um jogo onde os indivíduos necessitem permanecer na posição sentada por muito tempo, não deve possuir acentos molhados ou que provoquem desconfortos, pois atrapalharia o desenrolar e certamente decretaria o fim do jogo.
Ao visualizar o espaço de jogo, antes mesmo da atividade iniciar, o jogador se imagina jogando e realizando jogadas de sucesso, ou seja, este monta uma estratégia de jogo imaginária, que poderá dar certo ou não quando a atividade iniciar. Revelam o que gostariam de ser e não são no plano social real. Apontam suas fragilidades, porém ousam em sonhar e criar.
O jogo ocorre em um determinado tempo. Toda atividade inicia em um determinado tempo e termina e um determinado tempo. Pode ser pré-estabelecido, como no recreio de uma escola ou terminar somente quando não houver mais interesse em continuar.
Semelhante ao jogo, nossa vida social também ocorre em um espaço e tempo determinados. Pra que o indivíduo tenha um bem-estar social, este deve viver em um espaço programado conhecido como lar, que lhe proporcione condições de continuar vivendo. Uma casa sem teto ou não resistente, atrapalhará sua permanência no local. Ocorre em um tempo determinado, que também pode ser pré-estabelecido, como o aluguel da casa ou que dure até que o indivíduo resolva se mudar pra outro local. Portanto, assim como o jogo, a vida social deve ocorrer em local ideal para seu decorrer, sem entre traves, que seja acolhedor, seguro e que ocorra em um tempo determinado.
Assim como as três características citadas acima, a evasão da vida real, que é outra característica do jogo, se homogeniza com a vivência social. É de fácil percepção que o indivíduo que se insere em jogos periodicamente, apresenta modificações em seus pensamentos e modo de agir. Diante de seu mundo imaginário criado no jogo, este constrói sensações prazerosas ou não, intencionando a descarga emocional, fato que não poderia fazer em sua vida social sem que fosse repreendido por outro indivíduo.
Um problema no trabalho, uma briga mal resolvida, desavenças de amigos, todo sentimento negativo impedido de ser liberado pela ética e instituições sociais são liberados sem pudor no jogo. Palavrões, ofensas, socos no chão ou no ar, são exemplos de descargas emocionais dentro do imaginário social do jogo.
Da mesma forma que possuímos sentimentos negativos, temos também sentimentos positivos. Alguns jogos permitem a aproximação de sua amada, amigo ou outros que por algum motivo não são de fácil acesso fora do jogo. Existem outros jogos que permitem o senso de ajuda ao próximo, chamados de cooperativos, entre outros.
O jogo e o professor de Educação Física escolar
Diante das características do jogo, pode-se concluir que este se assemelha a vivência social, sendo uma importante ferramenta educadora se bem conduzida e desenvolvida pelo educador.
Logo, se apresentado de forma fundamentada e reflexiva nas aulas de Educação Física ministradas pelo professor com formação adequada, prepara o indivíduo para situações futuras que serão apresentadas pela sociedade. O jogo, como foi dito, é uma ferramenta de aprendizagem, insere de forma corajosa o indivíduo na sociedade. Sem esta base social, é muito provável que este aluno se torne um adulto que não tenha coragem para tomadas de decisões ou as tomem sem nenhuma reflexão sobre seus atos e futuras repressões advindas de seus amigos.
Através das regras do jogo, o professor de Educação Física mostra e prepara o aluno para o mundo social repleto de leis e regras, onde terá a liberdade condicionada e limitada. Assim como no jogo, quando não há respeito pelas regras, na sociedade sem leis, existem repreensões e empecilhos para exercer a vida social da mesma forma que antes era possível. Perde-se a liberdade, ou seja, a autonomia de ir e vir, pois desrespeitamos a constituição que é comum a todos desta sociedade.
O professor carece de orientar seus alunos, que semelhante ao jogo, sua vida em sociedade, ocorrerá de forma espaço-temporal. Deve despertá-lo para a necessidade da preparação para o mercado de trabalho, pois assim como o jogo, que necessita de tempo e terreno adequados, nossa vivência na sociedade também necessitará. Sendo isto possível apenas com esforço e bons empregos.
Por último, o professor poderá informar seus alunos da importância da evasão da vida real, seja esta através do jogo ou não. Todo ser humano necessita de uma válvula de escape do estresse humano causado por obrigações do dia a dia. O jogo então assume este papel, livrando o indivíduo de tensões que prejudicariam seu bem-estar físico e psíquico. O professor pode ajudar seus alunos a controlarem suas emoções não só no jogo como na vida real principalmente.
Conclusão
Como foi dito, o jogo é bastante semelhante à vida real e deve ser encarado não somente como divertimento, mas também como um objeto de vida proeminente para nossa sobrevivência. Além disso, tem o poder de educar e ser interessante ao mesmo tempo.
Pensando desta maneira, o jogo é uma ferramenta educadora com grande relevância nas aulas de Educação Física. Este nos permite aflorar o imaginário social e todo aporte emocional dos alunos, possibilitando ao mesmo tempo, a preparação destes para o mundo social futuramente, formando-os como cidadãos e não apenas como sujeitos que assinam nomes e compreendem somente o que está escrito.
Referência bibliográfica
ANJOS, Luiz dos. O jogo e a dimensão humana: uma possível classificação antropológica. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 10, N° 90, Novembro de 2005. http://www.efdeportes.com/efd90/jogo.htm
CAILLOIS. R. Lês jeux et lês hommes. Lisboa: Cotovia, 1990.
CHARON, Joel. Sociologia. São Paulo: Saraiva, 2001.
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da Sociologia. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1997.
HUIZINGA, J. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 1938.
KOCIAN, Rafael Castro. et al. Um jogo de rua dentro de diferentes tendências pedagógicas da Educação Física escolar brasileira. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 10 - N° 91 - Dezembro de 2005. http://www.efdeportes.com/efd91/rua.htm
RETONDAR, Jeferson J. Moebus. Teoria do Jogo: a dimensão lúdica da existência humana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
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