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O corpo como instrumento gerador de lucros e 

o contexto temporal em que ele está envolvido

El cuerpo como un generador de beneficios económicos y el contexto temporal en el que está implicado

 

Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Anapaula Pastorio

Susana Cararo Confortin

Patricia Paludette Dorneles

José Antônio Franchi Bovolini

aninha_pastorio@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A progressão do conceito de corpo e suas influências na sociedade, que se modifica durante os diferentes períodos da história, mas há uma semelhança que permanece nos diferentes períodos: o corpo como instrumento gerador de lucros.

          Unitermos: Corpo. Lucro. Sociedade.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No final do Império, por volta de 1879, através de Ruy Barbosa, a Educação Física começa a tomar novos rumos, buscando formar homens saudáveis, disciplinadores e produtivos. Ocorre o surgimento de uma nova sociedade industrial capitalista que necessita da construção da nacionalidade do povo: cria-se um “padrão de Homem Brasileiro”.

    “Em oposição a esta concepção idealista, que vê a alma como essência do homem, encontramos a concepção materialista que, à luz de uma visão histórico-crítica, enfatiza o corpo como possibilidade de unificar e transformar o homem.”

(GRANDO, 1996)

    O mundo das idéias, onde o corpo é o repouso da alma e os princípios da racionalidade são deixados de lado, substituídos pela imagem de um homem-máquina que tem seu corpo como objeto de produção, gerador de lucros.

    No Brasil a idealização do corpo forte e saudável, desde o século XIX, deu-se devido às influências militares e da classe médica. Através dessas instituições, calcadas na filosofia positivista e na tendência higienista, a Educação Física adquiriu o perfil tecnicista que criou características vistas até hoje nos currículos escolares, como por exemplo, a inclusão da ginástica como conteúdo.

A nova família brasileira passou por uma reformulação de conduta física, oral e intelectual, baseada na família burguesa, moldada a partir dos interesses da política médica que através da função higienista buscava manipular os indivíduos exercendo seu poder sobre o corpo.

    “Houve, no curso da Idade Clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder (...) ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde.”

(FOUCAULT, 1997)

    É forjada uma imagem corporal, que tenta identificar a nova cara do país, do homem brasileiro que luta pela ordem e progresso. Assim, o corpo perde sua identidade própria, tornando-se submisso à ordem econômica vigente. Essa ideologia pregada pela medicina viu na Educação Física a oportunidade de construir este corpo tão almejado pela classe dominante.

    “Rompe-se, assim, o véu da sacralização do corpo e ‘começa-se a fazer do corpo um objeto epistemológico entre os outros objetos do conhecimento’. Tal posicionamento diante do estudo do corpo determinou uma nova visão: “corpo-objeto”, associado à idéia mecanicista do “homem-máquina”. É Descartes que nos explica melhor essa concepção, quando afirma: “Deus fabricou nosso corpo como máquina e quis que ele funcionasse como instrumento universal, operando sempre da mesma maneira, segundo suas próprias leis” (citado). A partir daí, entra em voga a teoria do “homem-máquina”, divulgada por Descartes, e que chega no século XVIII através da medicina.”

(GRANDO, 1996)

    Este corpo objeto nasce a partir da ruptura entre o corpo e a alma, e passa a ser reconhecido como corpo racional perdendo os laços com a Igreja.

    A Educação Física integra-se com o Exército para preparar culturalmente as elites e desenvolver as aptidões das massas trabalhadoras, formando integralmente o Homem Brasileiro – forte de corpo – claro de espírito – puro de coração.

    “O culto ao corpo passou, dessa maneira, a representar o mecanismo capaz de desenvolver a disciplina e o espírito de camaradagem, necessárias ao estabelecimento da paz social no interior da fábrica”.

(SILVA, 1998)

    Este domínio dos militares perante a nação advém da Alemanha nazista, onde era exacerbado o poder do Exército sobre o corpo para a homogeneização da raça.

    Faz-se uma analogia inspirada em Rubem Alves, no livro ‘Entre a ciência e a sapiência’ (no qual a analogia foi feita entre o ato de pensar e o ato de comer), onde o corpo humano é comparado à sociedade capitalista: o cérebro é a classe dominante, os órgãos igualam-se ao Exército/ Educação Física e os músculos são a massa trabalhadora. Desta forma, o cérebro (classe dominante) é quem comanda as funções de todos os sistemas, os órgãos (Exército/ Educação Física) organizam e mantém o funcionamento do conjunto e quem obedece às ordens e cumpre as tarefas sem questionar são os músculos (massa trabalhadora).

    O operário moldado nesta ideologia racionalista da classe dominante é despido de sua identidade, alienando-se ao Estado que se apropria desse como instrumento de trabalho para aumentar a produtividade.

    A partir dos anos 80, inicia-se uma mudança na concepção de corpo-máquina para o corpo-estético através da mídia.

    “No Brasil, a disseminação de uma expectativa de corpo baseada na estética da magreza é bastante grande e apresenta uma enorme repercussão, especialmente se considerada o ponto de vista da realização pessoal. Este país, ‘que já é o oitavo mercado mundial em cosméticos’, movimentando cerca de 3,6 bilhões de dólares por ano, apresenta estatísticas preocupantes em relação à insatisfação com a auto-imagem”.

(SILVA, 1998)

    Na pós-modernidade emerge com vigor o culto contemporâneo ao corpo. Agora o que determina a felicidade e os padrões de beleza do homem são suas curvas perfeitas, corpos musculosos, mulheres magras e com silicone. Em um mundo regido pelo capitalismo desenfreado, o mercado gerando lucro em cima de tudo, quem da às ordens decidindo o que é melhor e certo para a sociedade é a mídia.

    A mídia detém um poder de persuasão sobre a sociedade, tendo influência através da divulgação e disseminação de produtos, logomarcas, enfim, do corpo ideal. Os meios de comunicação alcançam todas as classes sociais, sendo que embora de diferentes formas, cada um dentro de suas possibilidades econômicas procura atingir o padrão de beleza preconizado. O apelo ao corpo perfeito é tão forte, que leva as pessoas a optarem por medidas drásticas, perdendo a conscientização de que saúde deve estar em primeiro lugar. Pessoas que não se enquadram nos modelos ditos ideais sentem-se excluídas, fora de moda, o vestuário é produzido em cima de corpos perfeitos e não fica bem em quem esta acima do peso padrão. Daí começa a surgir às doenças da moda, como a bulimia e anorexia, que se faz perceber, ainda mais, até que ponto pode chegar à vaidade de um ser humano esquecendo-se que a saúde e bem estar estão acima de tudo.

    O poder da mídia sobre a sociedade é tão forte que atingiu até culturas virgens preservadas por toda a história. As tribos indígenas são um exemplo nítido dessa resignificação de comportamentos, hábitos e significados referentes à vida.

    Devido a esse processo de transformação social, perderam-se muitos costumes e tradições, porem adquiriram-se novos padrões de relacionamento e formas de transmissão cultural.

    O vídeo é uma das formas mais reais de preservação da imagem do corpo em movimento, da expressão corporal e de registrar cenas de grande valia para determinada comunidade. Esse meio tecnológico foi incorporado pelos indígenas, para gravar determinados rituais, comprovando a importância da tecnologia para transmissão cultural.

    A partir da progressão histórica do conceito de corpo percebe-se que a utilização dele depende no contexto temporal em que ele está envolvido. No entanto, há uma semelhança que permanece nos diferentes períodos: o corpo como instrumento gerador de lucros. A mídia busca incessantemente a alienação do indivíduo para o bem próprio e para a defesa de seus interesses, sem preocupar-se com desenvolvimento crítico da sociedade.

Referências bibliográficas

  • ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência – o dilema da educação. São Paulo, Edições Loyola, 2001.

  • FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. In: cadernos da PUC. Rio de Janeiro: Divisão de intercâmbio e edições, 1974.

  • GRANDO, J.C. Sacralização do corpo: A Educação Física na formação da força de trabalho brasileira. Blumenau: FURB, 1996.

  • SILVA, A.M. Elementos para compreender a modernidade do corpo numa sociedade racional. In: Soares. Carmen Lúcia (org) Corpo e educação. Campinas: Caderno Cedes, n° 48, 1998.

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