Associação entre a imagem corporal e o estado nutricional em praticantes de ballet clássico Relación entre la imagen corporal y el estado nutricional en bailarines de ballet clásico |
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Programa de Pós Graduação em Educação Física Núcleo de Pesquisa em Cineantropometria e Desempenho Humano Centro de Desportos - Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) |
Elisa Pinheiro Ferrari Bárbara Regina Alvarez |
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Resumo O ballet clássico é uma arte que implica em uma determinada estética corporal, muitas vezes, distante da realidade anatômica e fisiológica de alguns bailarinos. O perfil corporal almejado e imposto entre os bailarinos resulta da prática de exercícios intensos, associados a uma dieta com baixo teor calórico. Uma conduta que pode promover alterações fisiológicas e funcionais inadequadas. Este estudo tem como objetivo verificar a associação entre a imagem corporal e o estado nutricional em praticantes de ballet clássico. Caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, no qual a amostra compreendeu 49 praticantes de ballet clássico do sexo feminino com idades entre 9 e 16 anos. Foram mensuradas variáveis como dobras cutâneas do tríceps e subescapular e aplicado o questionário de imagem corporal- BSQ. Utilizou-se análise descritiva e o teste qui-quadrado para verificar as associações, adotando um nível de significância de 5%. A partir da pesquisa realizada, constatou-se que as média do percentual de gordura obtido no presente estudo foram mais altos que os encontrados não só em bailarinas profissionais, mas também em praticantes de ballet clássico. Além do que com o aumento da faixa etária evidenciou-se aumento dos níveis de insatisfação com a imagem corporal, assim como os indivíduos classificados acima do normal quanto ao percentual de gordura, também relataram estar mais insatisfeitos. Unitermos: Ballet clássico. Imagem corporal. Estado nuticional.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O ballet clássico é considerado uma forma de arte altamente desenvolvida que implica numa estética corporal específica (CALABRESE, 1983). A propagação de um perfil corporal vinculado a magreza como forma de se obter melhor rendimento e a pressão de professores que cobram níveis de gordura inferiores a 10% (PUJOL, 2000), estimula o desenvolvimento da insatisfação com a imagem corporal e com ela a ocorrência de diversas patologias sendo os transtornos alimentares os mais freqüentes (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993, SOARES NETO, 2004).
Estudos observaram associação entre a imagem corporal e o estado nutricional em bailarinos adultos (SILVA et al, 2009; FERREIRA et al., 2008) porém em se tratando de crianças e adolescentes praticantes de ballet clássico, esta temática ainda é escassa. Desta forma o presente estudo tem como objetivo verificar a associação entre a imagem corporal e o estado nutricional em praticantes de ballet clássico.
Metodologia
A população do estudo foi composta por 100 praticantes de ballet clássico, do sexo feminino, estudantes de um stúdio de dança do município de Florianópolis SC.
O tipo da amostra foi simples intencional, formada por 49 praticantes de ballet clássico do sexo feminino, por não se evidenciar a presença de meninos, no estabelecimento de ensino pesquisado. Com idades entre 9 e 16 anos , divididas em 2 grupos etários,
Grupo A: 9 a 12 anos
Grupo B: 13 a 16 anos
Para estimar o percentual de gordura das praticantes de ballet clássico foi utilizada a equação proposta por Boileau. (1985), Que utiliza duas dobras cutâneas (tríceps e subescpaular)
A classificação do percentual de gordura utilizada foi a proposta por Lohman (1987)
Para avaliar a insatisfação com a imagem corporal foi utilizado o Body Shape Questionnaire (BSQ) (CORDÁS e CASTILHO, 1994). O BSQ-34 é um questionário auto-aplicável do tipo escala Likert, composto por 34 perguntas com seis opções de resposta (nunca, raramente, às vezes, frequentemente, muito frequentemente e sempre) que pontuam de um a seis, sendo a maior pontuação conferida àquelas respostas que refletem maior preocupação com a IC e maior autodepreciação devido à aparência física, especialmente no sentido de sentir-se com excesso de peso. A partir da pontuação obtida, a amostra foi classificada em: satisfeitas (escore < 111) ou insatisfeitas (escore ≥ 111) (ALVES et al. 2008).
Análise estatística
Para verificar as associações entre as variáveis estudadas utilizou-se o teste qui-quadrado. Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS 15.0, adotando-se um nível de significância de 5%.
Resultados e discussão
As características da amostra quanto idade e tempo de prática por faixa etária encontram-se na tabela a seguir.
Tabela 1. Caracterização da amostra grupo etário A e B
O percentual de gordura de ambos os grupos pesquisados pode ser observado na tabela 2
Tabela 2. Classificação percentual de gordura da amostra grupo etário A e B
Quando comparadas com meninas que não praticam ballet clássico não apresenta diferenças. No estudo realizado por Alves (2008), com adolescentes de Florianópolis, a classificação da amostra foi de 81,8% eutróficos ou normais, mas esta classificação foi obtida por meio da classificação do IMC.
Como citado anteriormente Farias et al (2005), em seu estudo antropometria, composição corporal e atividade física de escolares de 11 a 15 anos, encontrou uma porcentagem de 55,5% de meninas com percentual de gordura considerado normal.
De acordo com a tabela 3 pode-se observar que, o nível de insatisfação com imagem corporal aumenta de acordo com a faixa etária.
Tabela 3. Classificação imagem corporal da amostra grupo etário A e B
Ao observar outros estudos que buscam estabelecer a imagem corporal em bailarinas, os valores encontrados no grupo etário B contrapõem a realidade. Porém ao verificar os resultados obtidos com crianças e adolescentes não praticantes de ballet clássico estes valores são justificados. Como no estudo da Alves et al (2008), que objetivou identificar a prevalência de sintomas de anorexia nervosa e de insatisfação com a imagem corporal em adolescentes do sexo feminino de 10 a 19 anos do município de Florianópolis. O nível de insatisfação com a imagem corporal nas adolescentes encontrados por Alves foi de 18,8%.
A associação entre estado nutricional (percentual de gordura) e imagem corporal no grupo etário A não pode ser constatada devido toda a amostra estar satisfeita com a sua imagem corporal. Já no grupo etário B, pode ser observada associação significativa entre as variáveis, como mostra a tabela 4.
Tabela 4. Associação entre percentual de gordura e imagem corporal da amostra do grupo etário B
Esta maior porcentagem de insatisfação com a imagem corporal na amostra classificada com o percentual de gordura acima do normal se justifica pela necessidade de níveis de composição corporais baixo não só a fim de estética, mas também para se privilegiar componentes de massa magra que a ajudem a executar os movimentos nas coreografias, demonstrando além de vigor físico, leveza e graça nos movimentos (PRATI; PRATI, 2006). Desta forma é compreensível que as meninas que não se encontram com o percentual de gordura normal ou abaixo do normal tendem a ser insatisfeitas com a sua imagem corporal.
Conclusão
A média do percentual de gordura obtido na faixa etária A (9 a 12 anos) foi de 24%, B (13 a 16 anos) 25,8%, foram mais altos que os encontrados não só em bailarinas profissionais, mas também em praticantes de ballet clássico.
Quanto maior a faixa etária, maior foi o nível de insatisfação com a imagem corporal Grupo etário A (0%), B (22,8%)
Ao associar a classificação do percentual de gordura com nível de insatisfação com a imagem corporal, 9,2% dos indivíduos normais estão insatisfeitos, o que já é relevante, uma vez que a insatisfação com a imagem corporal pode acarretar no desenvolvimento de transtornos alimentares.
Este trabalho apresentou dados bastante relevantes à população em questão, devido à escassez de estudos que abordem um tema amplo, com idades abrangentes e em indivíduos não profissionais.
Porém sugere-se que outros estudos sejam realizados, não só investigando as mesmas variáveis, mas outras temáticas que envolvam a população em questão como também associações que investiguem os fatores que promovem a insatisfação com a imagem corporal em bailarinas clássicas, que neste trabalho não foram abordadas, idade, sexo, condição sócio-econômica, menarca, inquérito alimentar, etc.
A fim de propor aos profissionais e pessoas envolvidas com a área do ballet clássico um maior conhecimento para ofertar não só aos praticantes de ballet, mas aos bailarinos profissionais, uma conscientização da importância à adesão de hábitos que trarão conseqüências positivas a suas vidas e conseqüentemente as suas carreiras.
Referencias
ALVES, E.; VASCONCELOS, de G.A.; CALVO, M.C.M.; NEVES das,J. Prevalência de sintomas de anorexia nervosa e insatisfação com a imagem corporal em adolescentes do sexo feminino do Município de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(3): 503-512, mar, 2008.
BOILEAU, R.A.; LOHMAN, T.G.; SLAUGHTER, M.H. Exercise and body composition in children and youth. Scandinavian Journal of Sports Sciences, v.7, p.17-27, 1985.
CALABRESE, L. H.; KIRKENDALL, D. T. Nutritional and Medical considerations in dancers. Clinics. Sports Medicine, 2, 539-548. 1983
CORDÁS, T.A.; CASTILHO, S. Imagem corporal nos transtornos alimentares – Instrumento de Avaliação: “Body Shape Questionnaire”. IN: Psiquiatria Biológica, v. 2, n. 1, p. 17-21, 1994.
FARIAS, S.E.; SALVADOR, D.R.M. Antropometria, composição corporal e atividade física de escolares. Rev. Bras. Cine. Des. Hum. v.7, n.1, p. 21-29, 2005.
FERREIRA, A.; BERGAMIN, R.A.; GONZAGA, T.L. Correlação entre medidas antropométricas e aceitação pessoal da imagem corporal em bailarinas de dança moderna. Rev. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, V. 9, n. 12. Jan./ Jun. 2008.
PRATI, S.R.A.; PRATI, A. R. C. Níveis de aptidão física e análise de tendências posturais em bailarinas clássicas. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum., v.8, n.1, p.80-87, 2006.
LOHMAN, T.G. The use of skinfolds to estimate body fatness on children and youth. Jounal of Physical Education, Recreation and Dance, 58 (9): 67,69,
1987.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) (coord: OMS); classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID – 10: Descrição e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
PUJOL, P. Amenorréia e Esporte. Unidade de Nutrição do Departamento de Fisiologia do Centro de Alto Rendimento San Cugat, Barcelona - FACSM -
Nutrição em Pauta, São Paulo, ano VIII n° 42, maio/junho 2000.
SILVA da C.L.; ALVES, P.K de Q.M.; NACIF M. Perfil antropométrico e autopercepção da imagem corporal em bailarinas clássicas estudantes e profissionais. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n. 137, Outubro. 2009. http://www.efdeportes.com/efd137/imagem-corporal-em-bailarinas-classicas.htm
SOARES NETO, J. F. P. Traídos pela devoção: caminhos do adoecer emagrecendo. Lições de dança, Rio de Janeiro, n. 4, p. 111-134, 2004.
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