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Hipertensão arterial na infância: associação com IMC

Hipertensión arterial en la infancia: su relación con el IMC

 

*Faculdade Governador Ozanam Coelho

Graduação em Educação Física

**Professor da Faculdade Governador Ozanam Coelho - FAGOC
Doutorando em Ciências Fisiológicas, UFES

***Professora da Faculdade Governador Ozanam Coelho – FAGOC

Mestre em Educação Física, UFV

Doutoranda em Biologia Celular e Estrutural, UFV

(Brasil)

Aline Figueira Dutra*

aline-fidu@hotmail.com

Miguel Araujo Carneiro-Júnior**

miguelefiufv@yahoo.com.br

Bárbara Braga Fernandes***

barbara_bbf@yahoo.com.br

Cristiano Diniz da Silva**

cristianodiniz.silva@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A incidência da obesidade entre crianças é muito comum, provocada por diversos fatores. A obesidade pode acarretar ao individuo o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial. A finalidade deste estudo foi verificar a prevalência de hipertensão arterial e sobrepeso em crianças e analisar a influência do IMC sobre os valores de pressão arterial de acordo com o gênero. A amostra foi composta por crianças com idade entre 04 e 06 anos, sendo 36 meninos (4.7 ± 0.5 anos) e 29 meninas (4.9 ± 0.6 anos), matriculados em uma escola da rede municipal da cidade de Ubá - MG. As variáveis analisadas foram: pressão arterial e IMC. A análise demonstrou que não houve diferenças para pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica entre meninos e meninas. Observou-se nesta amostra que a correlação entre IMC e hipertensão arterial não são significantes. Foi verificado que o IMC das meninas é maior que dos meninos (p<0,05). Conclui-se que, esses fatores juntamente com estilos de vida menos saudáveis adquiridos na infância e na adolescência, terão reflexos na vida adulta. Assim, a identificação precoce de medidas de prevencão poderá contribuir para diminuir as estatísticas de obesidade e hipertensão em crianças.

          Unitermos: Crianças. Hipertensão. IMC.

 

Abstract

          The incidence of obesity among children is very common, caused by several factors. Obesity can lead to the individual risk of developing cardiovascular diseases like hypertension. The purpose of this study was to assess the prevalence of hypertension and overweight in children and to analyze the influence of BMI on blood pressure values according to gender. The sample consisted of children aged between 04 and 06 years, 36 boys (4.7 ± 0.5 years) and 29 girls (4.9 ± 0.6 years) enrolled in a school in the municipal city Ubá - MG. The variables were: blood pressure and IMC. The analysis showed no differences for systolic and diastolic blood pressure between boys and girls. Observed in this sample that the correlation between IMC and hypertension are not significant. It was found that the IMC is greater for girls than boys (p <0.05). It is ended that these factors together with less healthy lifestyles acquired in childhood and adolescence, will be reflected in adult life. Thus, early identification of prevention measures can help reduce the statistics of obesity and hypertension in children.

          Keywords: Children. Hypertension. IMC.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nas últimas décadas, verifica-se uma mudança de hábitos de vida das crianças. Para Damaso (2001) apud Bosque et al. (2008), as causas da obesidade infantil podem ser internas (fatores genéticos ou metabólicos) ou externas (psicológicos, alimentares e sedentarismo). Segundo a autora, o estilo de vida atual, com alimentação rica em gordura, pobre em fibras, hábitos de assistir televisão ou ficar muito tempo em frente ao computador, impossibilitada de sair de casa por causa da violência, estão transformando a obesidade infantil em epidemia. Diante deste fato, a autora recomenda o combate à obesidade infantil como meio eficiente para prevenir a obesidade no adulto, diminuindo, assim, as doenças cardíacas, a hipertensão arterial, o colesterol elevado e a diabetes, dentre outras doenças.

    A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Está associada a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com conseqüente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais (VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010).

    Dentre os diversos indicadores de risco que contribuem para o desenvolvimento da hipertensão arterial em crianças, encontra-se o IMC (Índice de Massa Corporal). De acordo com Lamounier e Abrantes (2003), para fazer o diagnóstico de obesidade são usados vários instrumentos e parâmetros, sendo que um deles é o IMC, que é muito utilizado para determinar a faixa de peso considerada ideal para a altura e idade de uma pessoa e classificá-la como sendo de baixo peso, normal, com sobrepeso ou obesa. É um instrumento bastante simples, rápido e de fácil compreensão. Ele se baseia na relação entre o peso e altura do indivíduo. É uma medida que leva em consideração o peso em excesso da pessoa e os riscos que esse sobrepeso podem trazer. Sua fórmula foi elaborada no final do século XIX pelo matemático belga Lambert Adolph Jacques Quetelet, que se baseou em dados estatísticos. E, desde a década de 1990, esse índice foi amplamente divulgado. Existem diferentes faixas de classificação: valores que vão de 18,5 a 25 Kg/m² são considerados normais, ou seja, os esperados para a altura; já os situados entre 25 e 30 Kg/m² são classificados como sobrepeso — o que já representa um risco de o indivíduo ter doenças degenerativas como hipertensão, altas taxas de colesterol, diabetes e a própria obesidade - e valores acima de 30 Kg/m² determinam obesidade.

    A monitoração da pressão arterial em crianças torna-se necessária e importante na prevenção e controle da hipertensão arterial e também de suas possíveis complicações na fase adulta. Esse controle relaciona-se a pratica de atividade física regular e redução de peso corpóreo. Medidas preventivas devem se iniciar na infância, sendo a escola um local próprio ao incentivo dessa prática.

    Segundo Buchalla (2004), no Brasil, pesquisas mostram que a pressão arterial infantil média ideal é de 110 mmHg por 70 mmHg; cerca de 20% das crianças que vivem nas grandes cidades têm a pressão arterial de 120 mmHg por 80 mmHg para cima; dessas, 90% podem ter seus níveis regulados apenas perdendo peso e praticando exercícios físicos; 80% das crianças entre 4 e 11 anos com pressão arterial de 120 mmHg por 80 mmHg têm grande probabilidade de se tornarem adultos hipertensos, sendo que, uma criança com pressão arterial 5% acima do limite ideal, já está sob risco de desenvolver a doença.

    Alguns estudos têm revelado fortes indícios de que a hipertensão arterial do adulto é uma doença que se inicia na infância, o que tem aumentado a preocupação com a avaliação da pressão arterial em crianças nas últimas décadas (MOURA et al, 2004). Portanto, a finalidade deste estudo foi verificar a prevalência de hipertensão arterial e sobrepeso em crianças, e analisar a influência do IMC sobre os valores de pressão arterial, de acordo com o gênero.

Metodologia

    O estudo de caráter transversal foi desenvolvido em uma escola de ensino fundamental de uma cidade do interior de Minas Gerais. A amostra foi composta por crianças com idade entre 04 e 06 anos, matriculadas na escola nos turnos da manhã e tarde, sendo 29 meninas (4.8 ± 0.6 anos) e 36 meninos (4.7 ± 0.5 anos), totalizando 65 escolares. Antes da coleta de dados foi recolhido o termo de consentimento informado e esclarecido por parte dos pais, que autorizava a criança a participar da pesquisa.

    As variáveis investigadas no estudo foram: gênero, pressão arterial sistólica e diastólica, massa corporal e estatura. Nas medidas da pressão arterial, foram adotadas as recomendações que apresentam a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010. Foram utilizados os seguintes materiais: esfigmomanômetros com manômetros aneróides devidamente testados e calibrados, estetoscópios duplos e manguito infantil. As crianças permaneceram sentadas em ambiente tranquilo e silencioso por, no mínimo, cinco minutos. A pressão arterial foi verificada no braço direito, três vezes com intervalos de um minuto entre cada verificação. Foi calculada a média aritmética, sendo esse o valor considerado para a análise.

    Para a coleta dos dados antropométricos (massa corporal e estatura) foram utilizados os seguintes equipamentos: balança digital, com capacidade de 150 Kg e precisão de 50 g e fita métrica com intervalos de 0,1 cm e extensão de 150 centímetros. Calculou-se o IMC através da razão: massa corporal (Kg) /estatura (m²).

    Os resultados foram apresentados em média ± desvio padrão. Para a comparação das pressões arteriais sistólica e diastólica entre os indivíduos do sexo masculino e feminino, foi utilizado Mann-Whitney Rank Sum Test. O teste de Spearman (rs) foi utilizado para verificar a correlação entre IMC e as pressões arteriais sistólica e diastólica. A análise estatística foi realizada com o auxílio dos pacotes Statistical Package for the Social Sciences (SPSS® 15 for Windows, Chicago, IL, EUA). Em todos os casos o nível de significação estatística foi fixado a p<0,05.

Resultados

    A análise demonstrou que não houve diferenças para pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica entre meninos e meninas. Observou-se, nesta amostra, que a correlação entre IMC e hipertensão arterial não foram significantes.

    Os resultados referentes aos parâmetros antropométricos: massa corporal, estatura, IMC e as pressões arteriais sistólica e diastólica estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Massa corpora, estatura, IMC, pressão arterial sistólica e diastólica das meninas e meninos avaliados

Dados expressos em média ± desvio padrão da média.

* p < 0,05

    Foi verificado que o IMC das meninas é maior que dos meninos (p<0.05). Este fato pode ser devido ao gasto calórico dos meninos ser mais alto que o das meninas, devido à questão cultural, visto que meninas realizam atividades sem muito esforço físico, como brincar de boneca e casinha, enquanto os meninos correm, saltam, jogam bola, tendo um gasto calórico maior.

    Na Tabela 2, abaixo, está a correlação observada entre o IMC e PA (sistólica e diastólica) em meninos e meninas. Observa-se que não houve correlação significativa para os dois casos (p>0.05).

Tabela 2. Correlação do IMC com Pressão Arterial Sistólica e Diastólica em meninos (n=26) e meninas (n=29).

Nota: valores expressam o “r” e o valor “p” respectivamente.

Discussão

    No presente estudo foi constatado que as meninas têm valores de IMC significativamente maiores que os meninos, sendo que, isso pode estar associado à valores culturais, à educação e ao ambiente. Tudo desde o quarto, cores de roupas remetem ideias acerca do comportamento de meninas e meninos, podemos perceber que, enquanto os meninos se interessam em brincar de bola, correr, saltar; as meninas brincam de boneca e de fazer comida, isso interfere relativamente no gasto calórico, visto que, as brincadeiras dos meninos são mais ativas e a das meninas mais calmas, com pouco dispêndio energético, aumentando o excesso de peso.

    Segundo o relatório do Ministério da Saúde, publicado na Revista de Educação Física do Conselho Federal de Educação Física (SOUZA, 2004, apud BOSQUE et al, 2008), crianças e adolescentes com excesso de peso, no Brasil, correspondem a 15% do total da população, sendo que, possuem maior probabilidade de se tornarem adultos obesos quando comparadas a crianças eutróficas.

    A identificação de crianças com elevação da pressão arterial e, principalmente, da associação de fatores de risco, como obesidade, tem trazido uma nova dimensão às medidas preventivas adotadas na infância, sendo recomendada a sua incorporação à atenção pediátrica junto com medidas já amplamente estabelecidas, como vacinação, prevenção de acidentes e outras (LIMA, 2004).

    Segundo Moura et al. (2004), em lactentes e pré-escolares, a hipertensão é incomum e, quando presente, geralmente indica um processo patológico subjacente. Escolares e, em particular, adolescentes, podem apresentar hipertensão primária ou essencial, que usualmente é detectada através de avaliação rotineira da pressão arterial.

    Nas últimas décadas, houve um aumento da atenção quanto à hipertensão arterial na infância, sendo que, a identificação e o tratamento precoce, possivelmente preveniriam o aparecimento de outras doenças associadas. Considera-se que a hipertensão arterial, nesse período, pode ocorrer sem uma causa definida (primária), ou pode estar relacionada com outras patologias (secundária), como doenças renais e obesidade (BOSQUE et al., 2008).

Conclusão

    Este estudo aponta para o alarmante crescimento da prevalência de obesidade em crianças, principalmente do sexo feminino. Esta condição, entre outras consequências, determina aumento no risco de hipertensão.

    A análise demonstrou que não houve diferenças para pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica entre meninos e meninas. Observou-se, nesta amostra, que a correlação entre IMC e hipertensão arterial não foram significantes.

    Houve um predomínio ainda que pouco significativo, da PA e IMC mais altos, em virtude do sobrepeso no sexo feminino, o que poderá ser parcialmente justificado pelo maior dispêndio energético diário decorrente das diferentes atividades físicas características de cada sexo. No entanto, este estudo nos permite avaliar a importância relativa do aumento da PA comparados com IMC, o que poderá influenciar os valores de PA no futuro dessas crianças.

    Conclui-se que, esses fatores juntamente com estilos de vida menos saudáveis adquiridos na infância e na adolescência, terão reflexos na vida adulta. Assim, a identificação precoce de medidas de prevencão poderá contribuir para diminuir as estatísticas de obesidade e hipertensão em crianças.

Referências bibliográficas

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