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Ginástica laboral e ergonomia: enfoque humanizador

Actividad física laboral y ergonomía: un enfoque humanizador

 

*Formada em Educação Física pela Universidade de Cruz Alta

Especialista em Atividade Física e Qualidade de Vida

pela Universidade de Passo Fundo

Especialista em Ergonomia pela Universidade Gama Filho

Mestre em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco

**Formada em Educação Física pela Universidade de Cruz Alta

Especialista em Ginástica Laboral e Qualidade de Vida

pela Universidade UNIGRANRIO

Fabiane Maria Zat*

Adriana Klein da Rosa Fredrich**

fabianezat@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A ginástica laboral vem sendo difundida no Brasil à algumas décadas, embora ainda não seja aplicada em grande escala nem apresente caráter de obrigatoriedade, segundo a legislação brasileira. Aliada as práticas ergonômicas, a ginástica laboral tem auxiliado na melhora das condições de trabalho e de vida das pessoas. Este estudo tem por objetivo apresentar um enfoque humanizador à prática da ginástica laboral, das intervenções ergonômicas, aliadas às representações sociais . Acredita-se que este estudo auxiliará tanto estudantes quanto profissionais, para uma atuação consciente e de resultados, visando de forma prioritária o comprometimento com as pessoas e a humanização do ambiente de trabalho. Com base em estudos já realizados e nas vivências práticas, com a ginástica laboral e a ergonomia pode-se concluir que a abordagem humanizadora aliada as representações sociais são fundamentais para a obtenção de bons resultados, para a manutenção dos Programas de Ginástica Laboral (PGL) além da adoção das sugestões e intervenções ergonômicas.

          Unitermos: Humanização. Ginástica laboral. Ergonomia. Representações sociais.

 

Abstract

          Although the labor gymnastics has not been applied in large scale neither has a mandatory character, according to the Brazilian legislation, it has been widely diffused in Brazil in the last decades. The labor gymnastics, allied to ergonomic practices, has helped to improve the work conditions and people’s lives. The goal of this study is to present a humanizing approach to the practice of labor gymnastics, of the ergonomic interventions, allied to social representations. It is believed that this study will help either students as professionals in order to achieve a conscious and successful performance, aiming primarily at a commitment to people and a humanization of work environment. Based on former studies and practical experiences with the labor gymnastics and ergonomics, it is possible to conclude that the humanizing approach allied to social representations are essential to the attainment of better results, to the maintenance of the Labor Gymnastics Programs (LGP) and also the acceptation of suggestions and ergonomic interventions.

          Keywords: Humanization. Labor gymnastics. Ergonomics. Social representations.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os recursos tecnológicos têm ocupado grande espaço e importância em nosso cotidiano. No meio ocupacional as máquinas substituem o trabalho humano em inúmeras funções, embora seja inegável a relevância e agilidade que estes recursos nos oferecem, também podemos afirmar que em determinadas funções o trabalho humano é insubstituível.

    Outro aspecto que queremos abordar é o fator globalização, independente de onde as empresas estejam sediadas e de qual a sua proporção, facilmente elas estão conectadas com o mundo e têm acesso a grande maioria dos recursos oferecidos, sendo assim um dos segredos das empresas de sucesso são as pessoas diferenciadas que nelas trabalham. Os profissionais/trabalhadores são a alma da empresa, para tanto oferecer medidas que melhorem suas condições de vida e de trabalhos, proporcionarão benefícios para empregados e empregadores.

    A ginástica laboral e a ergonomia, juntamente com as demais medidas adotadas pelas empresas, visam tornar o local de trabalho um ambiente mais humanizado e seguro. Para tanto, este artigo tem como objetivo apresentar as questões relacionadas à atuação do profissional de Educação Física nas áreas da ginástica laboral e da ergonomia, sob uma ótica humanizadora, aliado a investigação das representações sociais, com o intuito de apresentar à sociedade acadêmica e profissional ferramentas, para uma atuação cada vez mais relevante e comprometida com o seu público.

    Inicialmente faremos uma abordagem sobre o profissional de Educação Física e a intervenção em ginástica laboral, bem como seus objetivos e características. Posteriormente trataremos sobre ergonomia e finalizaremos abordando a cerca da relação com os trabalhadores e as representações sociais.

1.     O Profissional de Educação Física e a intervenção em ginástica laboral

    De acordo com a Associação Brasileira de Ginástica Laboral (ABGL), a Resolução CONFEF nº 073/2004, compete unicamente aos Profissionais de Educação Física as funções de planejar, executar e coordenar Programas de Ginástica Laboral (PGL) (BRASIL, 2010). Sendo assim, toda vez que mencionarmos o profissional que atua em ginástica laboral estamos nos referindo aos Educadores Físicos.

    Antes de iniciarmos as discussões a cerca da intervenção em ginástica laboral, torna-se necessário esclarecermos a sua definição. Embora o conceito de ginástica laboral seja amplamente difundido entre profissionais e sociedade em geral, ainda existem equívocos quanto a sua aplicação. Como o próprio termo já diz, laboral vem de labor, que significa trabalho, portanto, para caracterizar a aplicação da ginástica laboral, esta deve ser aplicada para trabalhadores em seu ambiente de trabalho.

    Diferentes autores, como Lima (2008), Mendes e Leite (2008), Martins (2001) concordam ao afirmarem que a ginástica laboral é a prática de exercícios, mais especificamente alongamentos, realizada durante a jornada de trabalho, com o objetivo de alongar, tonificar e relaxar a musculatura, minimizando assim os efeitos nocivos da ocupação laborativa. A prática da ginástica laboral aliada a outras medidas adotadas pela empresa, como recursos ergonômicos, segurança e medicina do trabalho, visa prevenir e reduzir a incidência de doenças ocupacionais, principalmente os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT’s).

    As sessões de ginástica laboral são de curta duração, geralmente de cinco a 15 minutos, de acordo com a disponibilidade da empresa (MARTINS, 2001). A caracterização do tipo e objetivo das sessões irão depender do horário de execução, se realizada no início ou nas primeiras horas de trabalhos, caracteriza-se a Ginástica Laboral Preparatória (GLP), que tem como principal objetivo a preparação para a jornada de trabalho, por meio de aquecimento muscular e atividades de despertar, auxiliando na prevenção de dores, lesões e acidentes de trabalho. Já a Ginástica Laboral Compensatória (GLC) ou Ginástica de Pausa, é realizada no meio da jornada de trabalho, ou depois de um pico de produção, tem como principal objetivo promover o relaxamento muscular e a compensação postural, auxiliando assim na redução/prevenção da fadiga e de vícios posturais. Existe também a Ginástica Laboral Relaxante (GLR), Ginástica Corretiva (GC) e a Ginástica Laboral de Manutenção (GLM) ou de conservação, mas estas são menos difundidas (MENDES; LEITE, 2008).

    O profissional que atua em ginástica laboral deve apresentar capacidade de liderança, inteligência emocional, argumentação, conhecimento corporativo que o ajudarão tanto nas negociações e apresentação de resultados aos gestores empresariais, quanto na implantação e manutenção do PGL junto aos trabalhadores dos diferentes setores ocupacionais. Outras características são fundamentais para a boa prática da ginástica laboral, referem-se à responsabilidade, conduta ética, comprometimento, pontualidade, capacidade de comunicação e socialização com os trabalhadores, o profissional de Educação Física deve conquistar o respeito e a simpatia dos trabalhadores (MACIEL, 2008).

    O respeito e a relevância da ginástica laboral dependem muito do nível de conhecimento e embasamento teórico do profissional, bem como a capacidade de aplicação. Os trabalhadores precisam entender de forma simples e dinâmica todas as informações repassadas, para tanto é necessário envolver as pessoas no processo de conscientização e em conjunto construir os conceitos que irão nortear as atitudes relacionadas à promoção da saúde, prevenção de doenças e de acidentes.

    Por ser a ginástica laboral, uma prática de adesão voluntária, o profissional deve conduzir a sessão de ginástica laboral de forma que a transforme em um momento agradável, prazeroso, promovendo a interação social e ações educativas, com o intuito de estimular a conscientização. Para Cañete (1996), a ginástica laboral estimula as interações sociais e a motivação dos trabalhadores, promovendo significativas melhoras no clima organizacional, tornando-o mais humanizado.

    Para tanto é imprescindível que o Educador Físico tenha um olhar amplo sobre os trabalhadores e o ambiente ocupacional, atuando de forma engajada e comprometida. A relevância da ginástica laboral deve ultrapassar a barreira do físico, das doenças, para atingir patamares de atitude, comportamento e interação.

    Além de ter um profundo conhecimento sobre a ginástica laboral, o profissional deverá ter conhecimento sobre a aplicação da ergonomia e das legislações trabalhistas.

1.2.     A Ergonomia

    De acordo com Nascimento e Moraes (2000) ergonomia advém da junção de duas palavras gregas, “Ergos” e “Nomos”, a primeira significa trabalho e a segunda, leis, normas e regras. Ou seja, ergonomia se refere às leis do trabalho, bem como ao planejamento e adequação do ambiente ocupacional, com o intuito de oferecer segurança e conforto aos trabalhadores.

    A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) conceitua a ergonomia, ou fatores humanos, como:

    [...] uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema (BRASIL, 2007, p.1).

    O surgimento da ergonomia se deu no ano de 1950 em países industrializados e socialmente desenvolvidos. De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), a ergonomia tem a função de adequar os postos de trabalho às características antropométricas dos trabalhadores, bem como observa o tempo e a intensidade das tarefas executadas, as condições ambientais (ventilação, temperatura, luminosidade e ruídos), além do estresse e da monotonia, tudo com o intuito de minimizar ao máximo os efeitos nocivos da tarefa ocupacional.

    No Brasil, a ergonomia tem obrigatoriedade legal, na forma de Norma Regulamentadora (NR) do Ministério do Trabalho. A Norma Regulamentadora da Ergonomia é a NR-17, que está em vigor desde 1978. A NR-17 tem por finalidade estabelecer parâmetros, que possibilitem adaptar as condições ocupacionais às características psicofiológicas das pessoas, de modo a garantir o máximo de conforto, segurança e o desempenho (BRASIL, 2010).

    Para promover as adaptações ergonômicas dos postos de trabalho, primeiramente torna-se necessário realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que tem por finalidade identificar os riscos ocupacionais e as características psicofisiológicas dos trabalhadores. Para a realização da AET, pode-se utilizar a aplicação de diferentes instrumentos, de acordo com às característica da tarefa ocupacional a ser avaliada, como por exemplo: a aplicação de “check-list” (COUTO, 2002), para identificar as características do mobiliário e dos trabalhadores, bem como avaliação do risco ergonômico das posturas adotadas durante a execução da tarefa ocupacional, por meio da aplicação do Método REBA (Rapid Entire Body Assessment)  (HIGNETT; MCATAMNEY, 2000).

    No processo de AET, deve-se envolver o maior número de trabalhadores, pois as informações fornecidas são fundamentais para a apresentação de adequações funcionais e condizentes com a realidade. Embora a adoção das medidas ergonômicas seja obrigatória tanto pela empresa, no que se refere a disponibilizar um ambiente de trabalho seguro, quanto aos trabalhadores em utilizar os equipamentos/dispositivos de proteção e adotar atitudes seguras, os bons resultados vão existir de maneira muito mais significativa se as pessoas, de todos os níveis hierárquicos, estiverem envolvidas e comprometidas com as medidas de adequação, conscientização e prevenção adotadas pela empresa. Para Nagamachi (1996), quando os trabalhadores são envolvidos no processo decisório, tendem a sentirem responsáveis pelos resultados, gerando sentimentos de satisfação e motivação.

    Os resultados obtidos na AET devem ser apresentados à empresa na forma de relatório ou laudo ergonômico, quando o profissional que desenvolver a avaliação estiver legalmente habilitado para emitir o laudo ergonômico. O laudo ergonômico tem a função de documentar a empresa, de acordo com as exigências do Ministério do Trabalho e Emprego, bem como prepará-la para eventuais ações jurídicas, fiscalizações e autuações dos órgãos competentes.

    Além do relatório ergonômico, o profissional de Educação Física que atua com a ginástica laboral deve apresentar periodicamente a empresa um relatório dos objetivos, avaliações e resultados obtidos por meio da realização do PGL. O relatório da ginástica laboral tem a finalidade de apresentar aos gestores a evolução e influência do PGL para os trabalhadores e para a empresa.

    Em estudo realizado por Zat (2009) foi apontado que a aplicação da ginástica laboral e da ergonomia tendem a produzir melhores resultados se durante todo o processo forem identificadas às representações sociais dos trabalhadores sobre temáticas a fins como a própria ginástica laboral, ergonomia, saúde e doença. A seguir dissertaremos a cerca da relação com os trabalhadores e sobre as representações sociais.

1.3.     A Relação com os trabalhadores e as representações sociais

    Seja na implantação ou na manutenção de um PGL, ou no processo de avaliação e adequação ergonômica, o profissional deve manter uma relação de proximidade, ética, respeito e comprometimento com os trabalhadores e empresários. Nossa intervenção profissional deve ser de excelência, que possibilite melhoras significativas em todo ambiente ocupacional.

    O momento da realização da sessão de ginástica laboral, também é um momento de interação social entre os trabalhadores, bem como uma importante oportunidade para promover a conscientização. Neste sentido, ouvir as pessoas, é indispensável para sabermos o que pensam, pois o pensamento rege a ação e se de fato quisermos promover conscientização, precisamos ampliar o pensar para melhorarmos/adequarmos às atitudes, as quais contribuirão para uma melhora das condições de saúde e bem estar.

    De acordo com Moscovici (2003), a Teoria das Representações Sociais destina-se a compreender como se dá a construção do conhecimento no meio social, utilizando elementos do senso comum para compreender a relação indivíduo e sociedade. Para Jodelet (1985 apud SPINK, 1993), as representações sociais manifestam-se de diferentes maneiras, pela fala, pelas atitudes, imagens, conceitos, teorias, além das expressões culturais e artísticas. São construídas e partilhadas no contexto social, criando uma realidade comum, tornando possível a comunicação, indo muito além das construções cognitivas, pois perpassam pela ação, pelo afeto, pelas formas de comunicação nas quais circulam.

    Queiroz (2003), baseado nos estudos de Émile Durkhein (1858 – 1917), afirma que o ser humano é influenciado na sua forma de pensar e agir pela realidade externa ou social, ou seja, o meio influencia o indivíduo. Desta forma, a cultura e a filosofia de um ambiente de trabalho são aspectos influenciadores da ação humana.

    As atitudes das pessoas tendem a estar relacionadas com as representações sociais do grupo as quais pertencem. Desta forma, as ações dos trabalhadores quanto à adesão aos programas de ginástica laboral, as orientações ergonômicas, as medidas de segurança, de promoção da saúde, de prevenção das doenças, entre outras, são norteadas pela sua forma de entender e se relacionar com estas temáticas, se a relação for de comprometimento, a ação será de adesão, já o contrário também é verdadeiro. Mais uma vez, destaca-se a relevância em realizar um estudo das representações sociais para nortear as medidas educativas e de conscientização, para que sejam compatíveis com a realidade e necessidade dos trabalhadores (ZAT, COÊLHO, 2008).

Considerações finais

    Assim como o mundo corporativo busca constantemente alternativas para adequar-se as exigências e necessidades da realidade atual, nós enquanto profissionais/acadêmicos precisamos estar prontos para prestar um serviço que atenda com excelência esta demanda de mercado. A ginástica laboral e a ergonomia aliadas às representações sociais são medidas diferenciadas e de resultado comprovado, que contribuem para a humanização no ambiente de trabalho, bem como para melhorar as condições de vida, de saúde e de trabalho das pessoas.

    O profissional de Educação Física, responsável pelo PGL deve ter um olhar amplo do contexto de trabalho, para ter condições de entender a origem dos problemas ocupacionais, principalmente o que se refere ao adoecimento, aos acidentes e ao clima organizacional. E com base na causa criar medidas educativas e de conscientização, com o intuito de estimular a adoção de atitudes positivas que contribuirão para a promoção da saúde e prevenção de doenças.

    Todas as ações adotadas em ginástica laboral e ergonomia devem envolver os diferentes níveis hierárquicos da empresa, apresentando condições para a sua efetivação, bem como o profissional de Educação Física deve apresentar aos gestores os objetivos e resultados na forma de relatório, para efetiva avaliação e comprovação dos resultados do PGL. Acima de tudo, a ginástica laboral é uma ferramenta com múltiplas possibilidades de resultados, cabe a nós profissionais trabalharmos para que por meio dela, consigamos os melhores resultados, que realmente melhorem a vida de seus participantes e seja um investimento viável e de resultado para os empregadores.

Referências

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