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Efeito agudo do exercício de força sobre o perfil lipídico

Efecto agudo del ejercicio de fuerza sobre el perfil lipídico

 

*Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, SP

**Departamento de Ciências do Esporte

Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

Uberaba, MG

(Brasil)

Moacir Marocolo Júnior**

Luis Antônio Silva Campos**

Edison Moraes Maitino*

Gustavo Ribeiro da Mota**

grmotta@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O exercício físico tem sido amplamente recomendado como ferramenta não-farmacológica, de baixo custo financeiro, no tratamento de pacientes hiperlipidêmicos e, ainda, na manutenção de valores adequados em indivíduos normolipidêmicos. O objetivo desta revisão foi analisar estudos que verificaram direta ou indiretamente o efeito agudo dos exercícios de força sobre o perfil lipídico em humanos. Segundo os estudos revisados, é possível que os exercícios de força muscular promovam melhoria do perfil lipídico de maneira aguda.

          Unitermos: Atividade física. Treinamento de força. Lipídeos sanguíneos. Dislipidemia.

 

Abstract

          Exercise has been widely recommended as a non-pharmacological tool, of low financial cost for the treatment of hyperlipidemic patients, and also in maintaining proper values in normolipidemic individuals. The aim of this review was to examine studies that found directly or indirectly the acute effect of strength training on lipid profile in humans. According to the studies reviewed, it is possible that strength exercise improved lipid profile acutely.

          Keywords: Physical activity. Strenght training. Blood lipids. Dyslipidemias.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O sedentarismo e o pobre condicionamento físico têm sido considerados fatores de risco para mortalidade prematura. Esta associação é tão significante quanto aquela estabelecida pelo fumo, pela dislipidemia e pela hipertensão arterial (Warren, Barry et al. 2009; Martinez-Gomez, Eisenmann et al. 2010). Estudos bem controlados sugerem que, mesmo em indivíduos com condições econômico-sociais semelhantes, a precária aptidão física é importante fator de risco para doenças cardiovasculares (Froberg and Andersen 2005; Gaillard, Sherman et al. 2007; Zeno, Kim-Dorner et al. 2010). Contrariamente, a prática regular de atividade física (AF) tem sido recomendada para a prevenção e tratamento de algumas doenças cardiovasculares, seus fatores de risco, e outras doenças crônicas (Banz, Maher et al. 2003).

    Por sua vez, as doenças cardiovasculares se constituem na principal causa de morte em todo o mundo, notadamente em países economicamente avançados. Tal situação provoca enormes gastos financeiros (Lazzini and Lazzini 2009) e desencadeia uma série de problemas para saúde pública. Dentre as várias doenças cardiovasculares, a mais comum é a doença arterial coronariana (DAC). Ademais, a DAC tem sido considerada isoladamente como a maior causa de morbidade e mortalidade no mundo (Genest and Pedersen 2003).

    Considerando o grande impacto negativo da DAC sobre a saúde pública, estratégias que possam contribuir para sua prevenção e ou tratamento são imprescindíveis. Nesse sentido, conhecer, educar e tomar atitudes preventivas em relação aos seus mecanismos é fundamental. Os principais fatores de risco para DAC constam da tabela 1.

Tabela 1. Fatores de risco para doença arterial coronariana (Torpy, Burke et al. 2009)

    A dislipidemia é definida como distúrbio dos lipídios sanguíneos e se constitui no excesso de colesterol total (CT), de lipoproteína de baixa densidade colesterol (LDL) e de triglicérides (TG) associados com a baixa concentração da lipoproteína de alta densidade colesterol (HDL). Como fator de risco modificável, a dislipidemia tem possibilidade de tratamento (Torpy, Burke et al. 2009). Dessa maneira, especificamente, a diminuição das concentrações de CT, LDL e TG, além de aumentos do HDL, são objetivos importantes em programas de combate à DAC (Couillard, Despres et al. 2001).

    A AF tem sido amplamente recomendada como ferramenta não-farmacológica, de baixo custo financeiro, no tratamento de pacientes hiperlipidêmicos e, ainda, na manutenção de valores adequados em indivíduos normolipidêmicos (Wise 2010). Entretanto, acredita-se que os benefícios da AF sobre o perfil lipídico só ocorrem em longo prazo, ou seja, com a AF crônica (treinamento físico). Apesar disso, alguns estudos têm mostrado que esses efeitos interessantes podem ocorrer mesmo em situações agudas, isto é, logo após ou poucas horas depois da AF. Assim, o objetivo desta revisão foi analisar estudos que verificaram direta ou indiretamente o efeito agudo dos exercícios de força sobre o perfil lipídico em humanos.

Métodos

Estratégias de busca

    Foram analisados estudos publicados originalmente na língua inglesa, tendo como referência as bases de dados MEDLINE (National Library of Medicine). A estratégia de busca utilizou as seguintes palavras-chave: lipid profile, resistance exercise, weight exercise, strength exercise and acute effects.

    Não foram considerados neste trabalho de revisão os resultados de artigos que implicavam em exercícios exclusivamente aeróbios, exercícios concorrentes (força e aeróbio concomitantes), além dos estudos sobre os efeitos crônicos induzidos pelo treinamento físico.

Desenvolvimento

Exercícios de força e perfil lipídico

    Os efeitos metabólicos associados à perda de massa muscular que normalmente acompanham o processo natural de envelhecimento, ou a diminuição da AF conduzem à alta prevalência de obesidade, resistência à insulina, diabetes tipo 2, dislipidemia e hipertensão (Klein, Burke et al. 2004). Contrariamente, o ganho e/ou a preservação da massa muscular esquelética tem sido considerado como importante fator para evitar ou mesmo combater os efeitos deletérios do envelhecimento. Tal situação se baseia, notadamente, em evidencias que apontam para forte correlação entre taxa metabólica de repouso e massa muscular (Lemmer, Ivey et al. 2001; Speakman and Selman 2003). Dessa forma, tem sido hipotetizado que o treinamento resistido com pesos e o conseqüente aumento na força e massa muscular, poderiam reduzir múltiplos fatores de risco para doenças cardiovasculares mesmo sem aumentar, por exemplo, o consumo máximo de oxigênio (VO2max) (Jurca, Lamonte et al. 2004; Ibanez, Izquierdo et al. 2005; Braith and Stewart 2006).

    Interessante estudo verificou o efeito agudo do exercício resistido nos lipídeos sanguíneos e comparou, além da situação controle, duas situações distintas em termos de intensidades (Hill, Bermingham et al. 2005). Na situação controle, os indivíduos permaneciam em repouso por 40 min. Por sua vez, os protocolos de treinamento consistiram, ambos, em oito diferentes exercícios com intervalo de 1 minuto entre os grupos. A sessão de exercícios, denominada de alta intensidade, consistia de três séries de 10 repetições máximas (RM). Já na sessão de baixa intensidade, a carga utilizada era de 50% de 10 RM, porém, com 20 repetições por série. Os demais fatores inerentes à prescrição dos exercícios (intervalo, velocidade de execução, exercícios) eram exatamente os mesmos para manter igual o volume de trabalho. Os resultados demonstraram que apenas na sessão de treinamento denominada de intensa houve alteração em relação ao basal. Dos parâmetros bioquímicos analisados somente o HDL colesterol modificou, aumentando, significativamente logo após a sessão. Porém, em apenas 15 minutos após o final desta mesma a concentração de HDL retornava aos valores basais. Esses resultados sugerem que há um limiar de intensidade para que ocorra alguma modificação no perfil lipídico de maneira aguda (Hill, Bermingham et al. 2005). O fato desses autores não coletarem amostras após algumas horas como, por exemplo, 10 horas depois parece limitar bastante o estudo.

    Também com a idéia de comparar protocolos de treinamento para verificar o efeito agudo do exercício resistido sobre o metabolismo lipídico, pesquisa demonstrou que o protocolo com maior volume (8 a 12 RM) foi melhor do que o de volume inferior (1 a 5 RM), no sentido de alterar positivamente o perfil lipídico. No entanto, esse aumento na concentração de HDL colesterol foi observado apenas 24 horas depois do encerramento da sessão única de exercícios e foi significativo somente em relação aos valores médios obtidos após cinco minutos do fim do treinamento e não em comparação aos valores basais (Wallace, Moffatt et al. 1991). Dessa forma, quando se analisou o efeito em relação ao valor de repouso, não houve alteração significativa. Esses dados podem ser atribuídos ao fato de que os voluntários eram apenas do gênero masculino e treinados em exercícios resistidos, o que conferia a eles adaptações específicas com menor margem para efeitos.

    Por outro lado, alguns autores demonstraram que a concentração de HDL pode aumentar logo após sessão única de exercícios resistidos (Kantor, Cullinane et al. 1987; Jurimae, Karelson et al. 1990; Hill, Bermingham et al. 2005). O que poderia contribuir para a discrepância, pelo menos em parte, em termos de resposta do HDL, entre esses estudos citados seria a configuração da sessão de exercícios resistidos, o gasto energético proporcionado e o tempo de coleta das amostras sanguíneas. Deve-se ressaltar que fatores intrínsecos associados com a da configuração do treinamento, como número de exercícios, tamanho dos grupos musculares empregados, sequência dos exercícios, número de grupos musculares, número de repetições, intensidade (peso), velocidade de movimento, intervalo entre os grupos musculares e exercícios, influenciam nos resultados encontrados.

    Além disso, os outros efeitos não detectados podem ser provenientes do tempo de coleta efetuado, uma vez que alguns estudos citados mostraram aumentos ou diminuições das variáveis logo após a sessão com exercícios ou, apenas, após 48 horas do encerramento da mesma. Assim, há necessidade de outras pesquisas para que os fatores influenciadores dessas respostas possam ser mais bem compreendidos.

Conclusão

    Segundo os estudos aqui revisados, constatamos que é possível que os exercícios de força muscular promovam melhoria do perfil lipídico em humanos. Assim, de forma associada a outras intervenções como, por exemplo, dieta e educação adequadas, os exercícios de força muscular podem contribuir agudamente para a redução da concentração sanguínea de colesterol total, de lipoproteína de baixa densidade colesterol e de triglicérides, bem como para o aumento da concentração da lipoproteína de alta densidade colesterol. Nesse sentido, tal informação deveria ser democratizada porque há prevalência significativa da crença de que apenas os exercícios aeróbios podem colaborar no sentido de reduzir riscos para doenças cardiovasculares.

Referências bibliográficas

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