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Influência do estresse em eventos competitivos relacionados à dança

Influencia del estrés en las competiciones relacionadas con la danza

 

*Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício (CEPE), São Paulo

**Departamento de Psicobiologia

Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo-SP

***Departamento de Biociências

Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, Santos-SP

(Brasil)

Geovana Silva Fogaça Leite*

Marco Túlio De Mello* **

Murilo Dáttilo* **

Hanna Karen Antunes* ***

hanna.karen@unifesp.br

 

 

 

 

Resumo

          A dança clássica é uma atividade cuja essência está relacionada com aspectos que envolvem expressão corporal, leveza, agilidade e sentimentos como auto-confiança, exigindo-se além de uma grande bagagem técnica, uma profunda expressão dramática. Considerando todas as exigências para essa modalidade, e a imprevisibilidade da mesma frente a competições, muitas vezes, pode haver uma interpretação antecipatória na qual o bailarino supõe que não poderá enfrentar com sucesso a situação, antecipando conseqüências negativas. Desta forma, discute-se nesse trabalho as interferências do estresse competitivo com especial destaque para a influência da ansiedade no desempenho e as considerações psicobiológicas pertinentes a essa situação.

          Unitermos: Estresse. Ansiedade. Dança. Competição.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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A dança clássica

    A dança clássica pode ser considerada um campo propício para a troca e compreensão entre os indivíduos, estabelecendo relações com o universo através do corpo, utilizando o refinamento dos sentidos (visão, audição, tato) assim como dos sentidos subjetivos, bem como a sensibilização emocional aguçada. A partir de sua essência (corpo) em formas únicas de expressão e execução, a dança, transmite para o público as sensações vivenciadas naquele momento, silenciosamente, numa forma única de expressão corporal, sentimentos e sensações, sendo capaz de transmitir para o público as vibrações e energias presentes na proposta coreográfica.

    Em um contexto geral, a dança se desenvolve no espaço e no tempo expressando, as potencialidades expressivas através do movimento corporal conforme sua interpretação e estética podendo ser caracterizada pela busca da leveza e agilidade, com domínio corporal. Em sua bagagem técnica, possui princípios posturais (alinhamento postural - ereta/alongada) e de colocação do corpo, que devem ser mantidos em todos os movimentos, levando ao máximo as potencialidades do equilíbrio, agilidade e harmonia de movimento. É com certeza uma modalidade capaz de associar, flexibilidade, coordenação, ritmo, controle motor, criatividade (composição coreográfica) e memória. Possuindo grande quantidade de exercícios com saltos, giros, flexões e extensões, piques em velocidade, que são realizados em diferentes tempos e durações, e para isso, faz se necessário a junção entre a técnica e a performance física, mantendo sempre uma íntima relação com a arte (MALANGA, 1985; DANTAS, 1989; SAMPAIO, 1996; BENZECRY, 1999).

    É uma modalidade caracterizada pela presença da expressão dramática (caráter artístico) com movimentos de estabilidade e recuperação rápida, sem a perda do equilíbrio corporal. Contrastando força e leveza, exigindo grande grau de preparo físico, psicológico e estético dos bailarinos.

    O praticante necessita de um elevado nível de dedicação, motivação, atenção e concentração, sendo que , assim como nas outras modalidades competitivas, o sucesso ou a superação a cada apresentação fazem partes dos objetivos da apresentação.

    Situações de risco (colisão, queda, erros, imprevistos com acessórios e figurinos) presença de pressões externas, torcida, dirigentes, companheiros de equipe, exposição à avaliação social em ambiente desconhecido, distância de casa, são freqüentes acontecimentos presentes na carreira de um bailarino. Por isso, muitas vezes, pode haver uma interpretação antecipatória na qual o bailarino supõe que não poderá enfrentar com sucesso a situação, antecipando conseqüências negativas (MARTENS et al, 1990; PAULINETTI & MACHADO,1997).

    Percebe-se que o balé clássico, é uma proposta de trabalho pautado na reprodução e repetição a fim de chegar a um movimento tecnicamente perfeito, elaborado através de um código técnico de passos e normas, mantendo sua forma sistematizada sem permitir alterações em sua execução (rigidez técnica), apresentando relação com raízes hierárquicas na relação professor/aluno, exigindo exacerbação da disciplina corporal na formação dos bailarinos a partir da busca pela execução perfeita do movimento (ASSUMPÇÃO, 2003).

    Achcar (1998) acrescenta que, a beleza corporal, a visão, a precisão, a coordenação, a flexibilidade, a tenacidade, a imaginação fazem parte da essência do ensino do balé.

    Essa modalidade exige dos bailarinos uma homogeneização, tendo um modelo ideal de rostos e suas angulações, nas expressões, olhares, no padrão estético, corporal (peso, estatura), postural, execução dos movimentos (flexibilidades e ângulo de execução), finalizações (posições de braços, pernas, mão e pés). Sendo considerado como modalidade básica para o desenvolvimento de todas as outras relacionadas com a dança artística (jazz, moderno, contemporâneo), envolvendo o domínio dos movimentos individuais, a melhora da consciência corporal e autoconsciência, com a utilização da música clássica (instrumental) para contextualização do ritmo e, tipo de movimentos realizados, sendo que, a seqüência e agrupamento de movimentos constituem uma coreografia, (onde as capacidades de atuar, sentir e pensar se unificam) a qual é apresentada e avaliada nas competições de dança (ASSUMPÇÃO, 2003; ARRUDA, 1988).

    Os bailarinos muitas vezes, em sua rotina de apresentações, festivais e competições, se deparam com situações que podem ser interpretadas como ameaçadoras, podendo acarretar sentimentos como; medo, incertezas, falta de segurança, nervosismo excessivo, tendo a possibilidade de gerar erros incomuns, aumento da agressividade, irritação e dificuldades na concentração (BURITI, 1997; SAMULSKI, 2002).

    Nessa linha de raciocínio, parece ser plausível que exatamente por serem expostos a fatos os quais não podem ser controlados facilmente, tendo como meta a execução de uma seqüência de movimentos complexos (nível da coreografia e probabilidade de erro) que exigem considerável grau de memória e habilidade técnica (clássica), os bailarinos acabam respondendo aos estímulos através de evoluções negativas advindos do sistema físico, psíquico e de conduta (ROJAS, 1997; MACHADO et al 2008).

O estresse competitivo

    O estresse geralmente é iniciado por situações ou circunstâncias que são percebidos ou interpretados como perigosas, potencialmente prejudiciais, ou frustrantes. Se um estressor é percebido como perigoso ou ameaçador, sem a respectiva presença de um perigo objetivo, uma reação emocional (ansiedade) é evocada (SPIELBERGER, 1989).

    Além disso, ele pode ser causado como reação a um estímulo, emitindo uma resposta ansiosa que pode ser compreendida como a reação emocional frente a uma situação estressante (BECKER JÚNIOR, 2000).

    Pode ser um acontecimento físico, ou psicológico, que pode causar modificações nos acontecimentos de níveis superiores, assim como nas respostas neurofisiológicas.

    Podendo ser positivo ou negativo, sendo o estresse negativo aquele causador de frustrações e situações diárias que fogem ao controle e são percebidas como uma ameaça. O nível de estresse tem grande relação com a ativação da liberação de cortisol (a partir da ativação do eixo HPA) com conseqüente aumento da atividade simpática, liberação de catecolaminas e glicocorticóides pelas glândulas supra-renais. Tanto o estresse físico, quanto o psicológico podem ocasionar ativação do eixo (X CURSO DE VERÃO EM PSICOBIOLOGIA, 2010).

    Nas competições o estresse pode ser causado por dois fatores: inter-pessoal e situacional, podendo ter como conseqüências negativas: aumento da fadiga, dores, angústia, ansiedade, depressão, diminuição do desempenho intelectual, desorientação espaço-temporal, atenção dispersa, impossibilidade de relaxamento, alteração do estado de alerta, tensão muscular facial e mandibular, respostas desproporcionais aos estímulos externos (ROJAS, 1997).

    Deve-se levar em consideração que, quando se refere a um processo competitivo, as pessoas envolvidas estão sendo submetidas constantemente a um verdadeiro bombardeio de observações, opiniões e julgamentos que podem criar expectativas, objetivos e pressões inadequados para seu desenvolvimento como atleta.

    Em períodos de competição, quando as habilidades atléticas são publicamente testadas e avaliadas, a pressão que o atleta suporta pode se tornar um fator de influência negativa no seu desempenho (ROSE JUNIOR, 2002; BERTUOL E VALENTINI, 2006).

    No contexto competitivo, o atleta tem como objetivo responder com bom rendimento, por isso tais fatores podem ter interferências positivas ou negativas. Bertuol e Valentini, em estudo realizado em 2006 afirmam que em períodos de competição, quando as habilidades atléticas são publicamente testadas e avaliadas, a pressão que o atleta suporta pode tornar-se um fator de influência negativa no desempenho. Vasconcelos-Raposo et al., (2007) mostra que em alguns casos a competição pode ser vista pelo praticante como uma ameaça, dependendo da disposição da personalidade (competitividade), atitudes, importância do evento (competição) e resultado, avaliação subjetiva de competência/ habilidade em relação a situação (MARTENS et al, 1990, HALL & KERR, 1997)

    Quando falamos de respostas ansiosas ligadas ao estresse, podemos ver mais diretamente a relação com os efeitos negativos relacionados à performance atlética, níveis alterados de estresse e ansiedade podem causar efeitos negativos no desempenho individual, pois pode gerar preocupações relacionadas ao rendimento negativo, problemas na concentração, geração de imagens de desastre ou outras imagens situacionais prejudiciais a avaliação e problemas de autocontrole (DAVIDSON & SCHWARTZ, 1976; ROSE JUNIOR et al., 1999).

    A percepção de ameaça liga o agente estressor e a resposta ansiosa, o que leva a uma variação desse estado em termos de intensidade e duração, em função da quantidade de ameaça percebida e a situação vivenciada (SPIELBERGER, 1989; DUNN & NIELSEN, 1993).

A ansiedade e a influência no desempenho competitivo

    A ansiedade pode ser considerada uma forma de expressão da personalidade de um indivíduo (ansiedade traço), um estado emocional transitório (ansiedade estado) que envolve grandes conflitos, um tipo de incerteza subjetiva que compromete o comportamento normal do individuo gerando, modificações psicológicas (ansiedade cognitiva) e fisiológicas (ansiedade somática) sendo caracterizada por sentimentos desagradáveis de preocupação, tensão, apreensão, angústia e sofrimento. Para se diferenciar a ansiedade normal da patológica deve-se, considerar se, a reação ansiosa é de curta ou longa duração, se está relacionada ou não a um estímulo específico, e se produz no indivíduo a limitação ou bloqueio em alguma esfera da sua vida: social, afetivo, mental, etc. (CASTILLO et al., 2000; WEINBERG E GOULD 2001; BUCKWORTH & DISHMAN, 2002; X CURSO DE VERÃO EM PSICOBIOLOGIA, 2010).

    É caracterizada por um estado subjetivo de apreensão ou tensão conseqüente da interpretação de uma situação de perigo real ou imaginário, um tipo de afeto negativo, sendo acompanhado por sensações corporais desagradáveis tais como, medo, temor, preocupações, sensação de vazio no estômago; aumento da pressão arterial, freqüência cardíaca e respiratória; aperto no peito e sudorese aumentada (BUCKWORTH & DISHMAN, 2002; RAEDEKE,2007; X CURSO DE VERÃO EM PSICOBIOLOGIA, 2010).

    Quando refere-se a ansiedade patológica, pode- se destacar transtornos de pânico (com ou sem agorafobia), de ansiedade social, de ansiedade generalizada (TAG), transtorno obsessivo compulsivo (TOC), separados em duas categorias, transtornos fóbicos e estados de ansiedade. As diferenças consistem no grau a qual a ansiedade é localizada ou difusa. Nas fobias, a ansiedade é localizada e/ou associada a um objeto ou evento particular. Na categoria estado de ansiedade observa-se que a resposta é difusa e não relacionada a situações específicas (BUCKWORTH & DISHMAN, 2002; ACEVEDO & EKKEKAKIS, 2006; X CURSO DE VERÃO EM PSICOBIOLOGIA, 2010).

    Quando faz se referência a ansiedade relacionada a um estado/situação especifica, não levando em contas nenhum grau patológico, deve se, levar em contas para a intensidade da manifestação da ansiedade a relação da pressão imposta, ao nível de habilidade percebida e à natureza da atividade (SINGER, 1977). O aparecimento dessa condição em situações competitivas é comum, e seus efeitos parecem ser debilitantes na performance esportiva. Porém, tanto o estresse quanto a ansiedade gerados pela competição variam de acordo com os recursos disponíveis (financeiros, preparo técnico, experiências previas, autoconfiança, competências, habilidades), interpretados para lidar com a circunstância ou situação (MARTENS et al., 1990; HALL & KERR, 1997).

    Em casos extremos, os efeitos da ansiedade criam enormes dificuldades, que chegam a perturbar a concentração; níveis excessivos de ansiedade tendem a restringir o "campo" de atenção, e o atleta pode começar a prestar atenção somente a um número de sinais limitados, alterando seu estado de alerta e tensão podendo atuar negativamente em sua performance (DAMÁZIO, 1997), podendo criar a tendência no indivíduo de extrair pensamentos para evitar ou fugir da situação vista como ameaçadora (JUNIOR, et al., 2006; HALL & KERR, 1997).

    A ansiedade excessiva, ou ausência dela, certamente levarão o esportista a resultados negativos, porém no componente somático, um pouco de ansiedade pode favorecer o rendimento de um atleta; estando presente até mesmo em atletas altamente confiantes. Já no componente cognitivo, quanto mais baixo, melhor o desempenho atlético (COX 1998, MORAES, 1990; BERTUOL E VALENTINI, 2006; HALL & KERR, 1997).

    Níveis elevados de ansiedade somática são considerados negativo para habilidades complexas que exijam motricidade fina (ex: dança) (MARTENS et al., 1990) à medida que a ansiedade somática aumenta, os níveis de tensão e nervosismo aumentam (VASCONCELOS–RAPOSO, 2007). Diversos autores acreditam que este tipo de ansiedade esteja mais presente no inicio da competição, ou seja, que ela influência no desempenho inicial apresentando um impacto mínino no desempenho posterior (BURTON, 1988; MARTENS et al.,1990; MORRIS et al., 1997; FERREIRA, 2006), no decorrer da competição esta ativação transforma-se dando lugar a um relativo relaxamento, e, após o término da atividade, este nível volta a oscilar, devido a expectativa da repercussão do resultado (JUNIOR, 2004).

    Nível moderado de ansiedade é considerado ideal para um desempenho adequado; pois assim a atenção do atleta teria seu foco direcionado para uma tarefa específica, sem que ele se distraísse com situações irrelevantes (baixa ativação) ou diminuísse seu campo de visão e prejudicando seu desempenho (alta ativação), tendo assim as alterações fisiológicas necessárias sem a presença de ações negativas no seu campo de percepção cognitiva (COX, 1998; HALL & KERR, 1997; MARTENS et al., 1990; WEINBERG & GOULD, 2001; BERTUOL E VALENTINI, 2006).

    Considerando-se as reações observáveis nos níveis cognitivos e somáticos, Weinberg e Gould (2001) afirmam que um atleta muito ansioso pode apresentar maior dispêndio energético (devido ao aumento na tensão muscular); dificuldades na coordenação; aumento da apreensão, alerta, mudanças na concentração, estreitamento do campo de atenção, isto é, uma incapacidade de observar todo o contexto da jogada.

    A auto-estima, autoconfiança, reações psicológicas, programa de treinamento, a relação com o técnico, desempenho (esforço, persistência), motivação, participação, situação emocional, motivação familiar, tipo de tarefa, características dos adversários, condições e regras de jogo, recompensas extrínsecas disponíveis (premiação), são fatores que auxiliam para mudanças nos níveis ansiosos em situação competitiva.

    A autoconfiança é um dos componentes que interfere nos níveis de estresse pré competitivo vivenciados pelo atleta, tendo assim relação inversa aos níveis de ansiedade competitiva vivenciados pelo sujeito (SWAIN & JONES 1992; VASCONCELOS-RAPOSO et al., 2007), percebe-se que, quando os atletas estão próximos de alcançarem os objetivos propostos, criam em si uma segurança e confiança o que permite que enfrentem as disputas com todas as condições (SANTOS, 2004; HALL & KERR, 1997). Novas situações e experiências provocam o desenvolvimento de um sistema integrado de estruturas e conteúdos que interferirão na análise (interpretação de ameaça situacional) e nas respostas emitidas (CRUZ; 1996). Para atletas bem preparados, autoconfiantes (interpretam-se como habilidosos e acreditam em seu próprio potencial) a competição terá um caráter desafiador, fato que pode impulsionar seu desempenho, mas para aqueles que não apresentam os requisitos mínimos necessários, ela representará uma ameaça ao seu bem estar físico, psicológico e social, inibindo seu desempenho, provocando altos níveis de estresse e transformando-se em um fator negativo e redutor do desempenho (ROSE JUNIOR, 2002).

    Fatores psicológicos relacionados á ansiedade, podem ter relação com numero de lesões sofridas pelo atleta, ou seja, predispor o atleta a lesões. Em estudo realizado por Lavalle e Flint, (1996), mostrou que alterações de humor como tensão/ansiedade; raiva/hostilidade; e estado negativo de humor são relatados em lesões severas. Pois pode ser que as respostas psicológicas do estresse e ansiedade possam avivar a relação entre estresse psicológico e lesão física uma vez que um grande estado negativo de humor pode contribuir para o aumento da tensão muscular, fadiga física e mental, a qual pode promover a relação entre estresse psicológico e lesão física (ANDERSEN & WILLIANS; 1993).

    Estudos presentes na literatura mostram que indivíduos do gênero feminino são mais afetadas, apresentando menor nível de autoconfiança, maiores níveis de ansiedade e percepção de ameaça, principalmente quando competem em modalidades individuais (JONES et al.,1989; KRANE & WILLIAMS, 1994; GONSALVES & BELO, 2007).

    É importante ressaltar que, numa dada situação, os componentes psicobiológicos da ansiedade são diferentemente proeminentes de indivíduo para indivíduo e no mesmo indivíduo em diferentes situações, variando quanto ao tipo de reação, grau e momento em que isso ocorre, preparo e experiências com a situação, assim como o tipo de interpretação (percepção) e a reação com a qual é respondida.

Comportamento da ansiedade na dança clássica em eventos competitivos

    Tendo em vista que quando se fala do contexto competitivo, estamos visando a ação ótima, o sucesso, a performance máxima e ideal, e que isolar as variáveis que influenciam negativamente neste contexto seria importante e interessante, estudar estas variáveis(fatores) talvez possam aproximar mais deste entendimento, sendo assim percebe-se que, vários fatores podem influenciar na obtenção de um bom desempenho, entre eles, os aspectos psicológicos como humor (ansiedade, raiva, agressividade, hostilidade, vigor, fadiga, depressão) e o estresse podem ser considerados como importantes para que a atividade dos bailarinos possa ser realizadas da melhor forma possível, visto que a partir da sensibilização expressada na dança, estas emoções possam ter maiores representações no contexto artístico.

    A ansiedade é um tipo de emoção secundária, classificada como a maior e principal causadora de problemas na competição (FERRAZ; 1997). Quando o atleta consegue atingir ou manter um nível ótimo de ansiedade ele está psicologicamente controlado o que é benéfico para seu bom desempenho, atletas hábeis são relativamente estáveis, consistentes e previsíveis, aprendendo como se desempenhar bem sob todo tipo de condição (favorável ou desfavorável), respondendo então a competição sob um estado emocional ideal (MACHADO, 2008).

    Mesmo atletas habilidosos, competitivos, que se auto-valorizam, considerando-se competentes para enfrentar a competição, no momento competitivo, sofrem mudanças (elevação) de seu nível de ansiedade, quando o evento se aproxima, com variações na magnitude das mudanças relacionadas ao grau de auto-confiança.

    Tal acontecimento é uma conseqüência de acontecimentos psicológicos que refletem modificações fisiológicas necessárias para o sucesso na ação, no entanto, as alterações cognitivas não obedecem o mesmo comportamento, uma vez que estas estariam relacionadas com a confiança do atleta sob sua capacidade e domínio frente a situação (HALL & KERR, 1997).

    Dados presentes na literatura, mostram que as bailarinas experiênciam nos momentos antes da competição a diminuição do humor ansioso tendo em contrapartida o aumento da tensão e da ansiedade estado. Sendo que parece haver relação entre os níveis de ansiedade presentes na personalidade do sujeito, auto-imagem, a magnitude e variação desta em situação competitiva (LEITE et al., 2009).

    O mesmo estudo aponta que as bailarinas conseguem gerenciar sua ansiedade direcionando-a de maneira a qual esta não tenha grandes influências sobre o desempenho, as correlações apresentadas entre os achados apontados por Leite et al., (2009) mostrando que ocorrem alterações psicobiológicas pré-prova apontando a idéia de que ocorrem alterações significativas nos níveis de ansiedade em condição competitiva em modalidades relacionadas com a arte e expressão dramática (dança clássica); no entanto, apontam que o equilíbrio entre a tensão, ansiedade estado e humor ansioso auxiliam na determinação do sucesso na performance da dança clássica.

Conclusão

    A partir das abordagens feitas no presente trabalho juntamente com os dados presentes na literatura percebe-se que em eventos competitivos é comum a presença de fatores estressantes que por sua vez podem evocar reações emocionais bem como alterações no comportamento dos praticantes, e estas respostas (ansiedade) podem ter magnitudes elevadas (percepção de ameaça), sendo que desta forma pode haver influencias negativas no desempenho do sujeito nos momentos prévios e no momento da realização da atividade.

    Deve-se levar em consideração que níveis médios de ansiedade são considerados ideais para que o atleta suporte com bom preparo a situação, tendo assim níveis de ativação necessários relacionados ao tipo de tarefa ou atividade que irá realizar, lembrando que para cada tipo de atividade existem níveis ideais e diferentes de ativação.

    Especificamente na dança, percebe-se que o comportamento desta variável psicobiológica é semelhante a outros esportes de competição, no entanto com perfis distintos entre os tipos de ansiedade avaliados, as bailarinas mostram-se autoconfiantes, sabendo lidar e controlar suas emoções de forma a qual não haja o descontrole emocional no momento da apresentação, o equilíbrio emocional aparece como uma característica da modalidade talvez sendo uma das qualidades da formação da dança clássica, e estando relacionada com a caracterização da especificidade coreográfica (a incerteza do jogo – jogada não se faz presente na dança) sendo o este equilíbrio e variação destes fatores importantes determinantes do desempenho na dança clássica.

    No entanto deve-se ter cautela ao utilizar de fato tais informações, pois, as evidências são poucas e para que haja o fortalecimento ou engrandecimento de tais afirmações faz se necessário maior número de estudos e investimentos em pesquisa relacionando a arte e os acontecimentos psicobiológicos.

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