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Comparação da coordenação apendicular entre crianças que nasceram

pré-termo e termo de quatro e cinco anos de idade das 

escolas públicas do Município de Cascavel, Paraná

Comparación de la coordinación apendicular entre niños nacidos prematuros y a término 

de cuatro y cinco años de edad de las escuelas públicas del Municipio de Cascavel, Paraná

 

*Licenciado em Educação Física

pela Faculdade Assis Gurgacz

Especializanda em Educação Física Escolar Lazer

E Recreação na Faculdade Assis Gurgacz

**Mestre em Ciência do Movimento Humano

pela Universidade Federal de Santa Maria

Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente

pela Faculdade de ciências medicas, UNICAMP

Docente da Faculdade Assis Gurgacz, PR

Marcos Robson Silva*

Débora Bourscheid**

professormarcosrobson@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A maioria dos comportamentos humanos parece resultar em grande parte, de modelos de crescimento determinados geneticamente. Por essa razão, as etapas evolutivas em que os comportamentos aparecem não diferem de forma apreciável de um para outro indivíduo. O desenvolvimento motor se produz pela combinação de influências de maturação e das influências do ambiente. Para tanto o objetivo do presente estudo foi comparar a coordenação motora apendicular de crianças que nasceram pré-termo e termo de 4 e 5 anos de idade das escolas públicas do Município de Cascavel – PR. Com propósito de identificar as crianças que nasceram pré-termo e termo utilizou-se um questionário de anamnese social e gestacional. Para a avaliação da coordenação apendicular de crianças pré-termo e termo, foi utilizado o protocolo de Lefèvre (1972), com as provas de coordenação apendicular, conforme idade. Para a definição do crescimento utilizou-se como padrão de referência a curva do Center for Disease Control and Prevention – CDC – NCHS (2000). Foi realizada a verificação da estatura a partir dos procedimentos descritos por Guedes & Guedes (2007). Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva, utilizando o Software SPSS versão 13.0 e a análise foi o teste qui-quadrado ao nível de 5% de significância, para identificar a associação do crescimento fora e dentro do intervalo sob referência da curva do CDC 2000, e a associação da prematuridade com a coordenação apendicular. Como resultados obteve-se a inadequação da coordenação apendicular nas faixas etárias de 4 e 5 anos com um total de 75% de inadequação, apesar de estudos realizados com idades superiores os resultados se confirmam, apenas com algumas alterações em relação ao sexo, na idade de 4 anos a indefinição do sexo masculino é de 59% contra 71% do sexo feminino, na faixa etária de 5 anos a indefinição corresponde a 80% no sexo masculino contra 70% do sexo feminino, em relação aos nascimentos pré-termo essa indefinição corresponde a 78% contra 73% de nascimentos termo. Com relação ao crescimento apenas 11% crianças não estão com o IMC dentro do intervalo do CDC, e 89% encontram-se dentro desse intervalo. Entre os prematuros 3% está fora do intervalo e 97% estão dentro do intervalo. Entre os adequados para o tempo de gestação 13% estão fora do intervalo e 87% estão dentro do intervalo. Conclui-se que tanto as crianças termo quanto as prematuras tiveram índices preocupante quanto ao desenvolvimento sendo necessário efetivar programas de estimulação motora nas escolas, por meio de mais aulas de Educação Física durante a semana e contar com profissionais qualificados para o exercício deste ensino. Outro fato é que as crianças encontraram-se em sua maioria de acordo com o intervalo de crescimento do CDC-NCHS, (2000), porém o desenvolvimento neurofuncional não está acompanhando o ritmo do crescimento.

          Unitermos: Coordenação apendicular. Pré-termo. Termo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Crescimento e desenvolvimento são fenômenos diferentes em sua concepção fisiológica, paralelos em seu curso e integrados em seu significado; poder-se-ia que são dois fenômenos em um só. Crescimento significa divisão celular e conseqüente aumento de massa corpórea que pode ser identificada em unidade tais como g/dia, g/mês, kg/mês, kg/ano, cm/mês, cm/ano, isto é, aumento de “unidade de massa” em determinada “unidade de tempo”. (MARCONDES, 2002).

    O processo, de crescimento físico e desenvolvimento motor são abordados globalmente com ênfase em suas determinantes biológicas que, por sua vez, recebem todas as interferências do ambiente. Assim, à medida que a pessoa cresce, desenvolve-se e torna-se madura, está pronta a executar determinadas tarefas motoras, integralizadas com o ambiente (ARRUDA, 1997).

    Steinschneider (1991) apud Carabolante (2003) propõe que o crescimento normal de uma criança inclui inicialmente um período de crescimento rápido, seguido de uma fase lenta até a puberdade, onde ocorre um período de aceleração. A altura ao nascer é por volta de 50 cm, e o bebê cresce em média 25 cm no primeiro ano e 15 cm no segundo, e o peso ao nascimento é de aproximadamente 3.300 g, dobrando de peso aos cinco meses e triplicando ao fim do primeiro ano de vida, e a partir do primeiro ano o ganho ponderal médio é de 2 a 3 kg até o estirão pré-pubertário, dos nove aos 10 anos.

    Quanto ao tempo de nascimento observa-se neste estudo aspectos da prematuridade ao nascer, onde no Brasil, as informações sobre os nascimentos prematuros são mais escassas e menos confiáveis. Apesar dos avanços tecnológico e científico, a prematuridade, ainda hoje, é um grande problema na Obstetrícia e na Neonatologia, constituindo-se em uma das causas de morbidade e mortalidade neonatal.

    Dados de 2003 do Ministério da Saúde apontam prevalência de 6,4% de recém-nascidos (RNs) prematuros em nosso país, com alguma variação dependendo da região. Enquanto na Finlândia, França e Dinamarca representa 5% dos nascimentos, na Alemanha, Canadá, Japão e EUA é mais elevada, podendo estar presente em até 12,5%.(SANTOS; OLIVEIRA; BEZERRA, 2006).

    Para diagnosticar parto pré-termo é necessário que a gestação seja maior que 22 semanas e menor que 37 semanas, na presença de contrações e dilatação do colo. Sabe-se que a prematuridade ocorre em média de 10% dos nascimentos. Dos partos prematuros 1/3 são por rupturas prematuras das membranas pré-termo, 25% decorrente de infecções e 45% de causa ignorada (FIGUEIREDO, 2005).

    Quando se fala sobre recém-nascidos pré-termo, é importante lembrar que estamos lidando com um sistema nervoso numa fase de desenvolvimento diferente daquele do recém-nascido a termo. Nesse período, o sistema nervoso sofre modificações importantes que podem ser observadas em nível macroscópico, como o aparecimento de sucos e giros no encéfalo, e microscópico, tais como a migração celular, mielinização, arborização dentrítica e das terminações axonais. Obviamente, tais modificações são acompanhadas por uma mudança no padrão de comportamento neurológico dessas crianças (GHERPELLI, 1996).

    A prática de denominar um recém-nascido como prematuro baseada somente no período de gestação ou no peso não é mais usada. Há pouca concordância sobre as causas exatas do nascimento pré-termo, porém certo número de fatores tem contribuído para isso, incluindo o uso de drogas, fumo, idade da mãe, ganho de peso excessivo e condições sociais e econômicas adversas. Os efeitos a longo prazo do nascimento prematuro não são tão claros quanto as conseqüências a curto prazo.

    Nos últimos anos, as Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal têm sido relacionadas com problemas de desenvolvimento a longo prazo em alguns bebês prematuros. (GALLAHUE;OZMUN, 2005). Segundo o mesmo autor, o bebê pré-termo ainda tem a possibilidade de ter mais dificuldades no aprendizado, prejuízos na linguagem e na interação social e problemas de coordenação motora do que um bebê a termo total. Por alguma razão desconhecida, os meninos parecem ser mais gravemente afetados do que as meninas.

    Desta forma, este estudo teve como objetivo comparar o desenvolvimento da coordenação apendicular de crianças pré-termo e a termo em idade de 4 e 5 anos matriculados no pré-escolar e primeiro ano do ensino fundamental das escolas públicas do município de Cascavel - Paraná.

Materiais e métodos

    O presente estudo foi um estudo quantitativo descritivo realizado de maneira transversal. A população consistiu de 48 escolas municipais da zona urbana da cidade de Cascavel - PR e 2053 crianças, matriculadas no pré-escolar. A amostra contou com 11 escolas, sendo 34 crianças de 4 anos e 214 de 5 anos de idade de ambos os sexos, matriculadas no pré-escolar, perfazendo um total de 248 crianças. Nesta amostra obteve-se 36 crianças pré-termo (abaixo das 37 semanas) e 214 a termo (acima das 37 semanas).

    Todos os procedimentos da pesquisa estão de acordo com as técnicas adequadas descritas na literatura e não implicaram em qualquer risco físico, psicológico ou moral ou prejuízo aos indivíduos participantes. Portanto, o estudo cumpriu as “Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos” (196/96) editadas pela Comissão Nacional de Saúde. Este estudo obteve o aceite do comitê de ética em pesquisas com seres humanos da universidade do oeste do Paraná (UNIOESTE), com o protocolo 13762-2004.

    Os escolares foram avaliados individualmente, na própria escola durante o horário normal de freqüência do aluno na escola, nos dias combinados com a direção do estabelecimento, sem prejuízo às aulas. Para a coleta de dados os escolares foram orientados para se apresentar com o mínimo de vestimentas possíveis (camiseta e bermuda).

    Para a identificação das crianças pré-termo foi utilizado a questão 37 da anamnese gestacional.

    Como instrumento de pesquisa utilizou-se a aferição da massa corporal sendo determinada através de uma balança antropométrica digital, marca Filizola, graduada de 0 a 150 kg, com precisão de 0,1 kg de acordo com os procedimentos descritos por Guedes (2007). Foram solicitadas as crianças que ficassem descalças e ao subirem na balança que se posicionassem de costas para a escala de medidas, os pés deverão estar paralelos e os braços naturalmente relaxados ao longo do corpo. Após o posicionamento adequado da criança foi registrada a medida em ficha antropométrica da turma a qual foi avaliada.

    Para a verificação da estatura, foi utilizado um estadiômetro de parede da marca Seca®, com escala de precisão de 0,1 cm, de acordo com os procedimentos descritos por Gordon, Chumlea e Roche (1988), as crianças foram posicionadas de pé, descalças, de costas para a escala de medidas, com a coluna ereta de forma que as superfícies posteriores dos calcanhares, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital ficassem em contato com a escala de medidas, e o olhar orientado para a linha do horizonte. Com o auxílio de um esquadro de parede deslizando sobre a fita métrica até tocar o vértex da cabeça, foi realizado a leitura da medida, utilizou-se como padrão de referência para a determinação do crescimento a curva do Center for Disease Control and Prevention – CDC – NCHS (2000).

    Para a verificação do desenvolvimento neurofuncional foi utilizado o Exame Neurológico Evolutivo de Lefèvre, (1972). O teste conta com 124 provas que foram divididas em blocos que compuseram os exames da fala, do equilíbrio estático, do equilíbrio dinâmico, da coordenação apendicular, da coordenação tronco-membro, das sincinesias, da persistência motora, do tono muscular e da sensibilidade. Em cada exame as provas foram distribuídas desde as de mais fácil execução às mais difíceis, sendo divididas em grupo por idade, subentendendo-se que a criança aos quatro anos era capaz de realizar todas as provas selecionadas. A avaliação foi realizada individualmente, com a criança vestida e sem sapatos, recebendo os escores de: eficaz quando conseguiu realizar o que foi solicitado ou ineficaz, quando não foi capaz de realizar a solicitação (LEFÉVRE, 1972).

    O exame de coordenação apendicular consta de 28 provas que informam sobre direção e medida do movimento, desenvolvimento da capacidade práxica, disposição de sinergias nos movimentos e demais, que permitem investigar um tipo de coordenação muito importante para o aprendizado escolar. Sabe-se que a organização perceptiva e motora, do espaço é necessária para a escrita, pois há uma evolução gráfica que muda com a idade (LEFÉVRE, 1972).

    A avaliação do Exame Neurológico Evolutivo Lefèvre, (1972), procedeu da seguinte forma: Todas as provas foram demonstradas pelo examinador, quantas vezes foram necessárias até que foi garantido o entendimento de sua realização pelo avaliado. A criança pôde fazer duas tentativas em cada prova, não fazendo diferença se a criança realizou a prova na primeira ou segunda tentativa. Se a criança foi mal sucedida na primeira tentativa o examinador explicou novamente a prova.

    Foi organizado na própria escola um circuito, onde a criança percorreu, iniciando pelas medidas antropométricas e seguindo com as provas do Exame Neurológico Evolutivo de Lefèvre, 1972, (ENE). Foram utilizadas Fichas de cada variável para cada turma avaliada.

    As crianças submetidas ao exame iniciaram as provas próprias para a sua idade. Os casos em que o desenvolvimento não foi discrepante foram simplesmente examinados com as provas próprias da idade e considerados adequados, de acordo com o padrão estabelecido, quando a criança não completasse as provas referentes a sua idade regrediam para as provas anteriores a sua idade.

    Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva, utilizando o Software SPSS versão 13.0 e a análise foi o teste qui-quadrado ao nível de 5% de significância, para identificar a associação do crescimento fora e dentro do intervalo sob referência da curva do CDC 2000, e a associação da prematuridade com a coordenação apendicular.

Resultados

    Foram pesquisadas 34 crianças de 4 anos (Tabela 1). Verificou-se a associação entre a coordenação apendicular e o sexo da criança. A porcentagem de crianças com a coordenação apendicular indefinida é de 65%. Entre as crianças do sexo masculino 59% possuem a coordenação apendicular indefinida e 41% possui a coordenação apendicular definida. Entre as crianças do sexo feminino, 71% possuem a coordenação apendicular indefinida e apenas 29% possui a coordenação apendicular definida.

Tabela 1. Relação entre a coordenação apendicular e o sexo das crianças de 4 anos

    Realizado o teste qui-quadrado para verificar se existe associação entre o crescimento e o sexo das crianças de 4 anos, obteve-se p-valor=0,47, ou seja, não há associação significativa ao nível de 5%.

    Foram pesquisadas 214 crianças de 5 anos (Tabela 2). Também verificou-se a associação entre a coordenação apendicular e sexo da criança. A porcentagem de crianças com a coordenação apendicular indefinida é de 75%. Entre as crianças do sexo masculino 80% possuem a coordenação apendicular indefinida e 20% possui a coordenação apendicular definida. Entre as crianças do sexo feminino, 70% possuem a coordenação apendicular indefinida e apenas 30% possui a coordenação apendicular definida.

Tabela 2. Relação entre a coordenação apendicular e o sexo das crianças de 5 anos

    Realizado o teste qui-quadrado para verificar se existe associação entre o crescimento e o sexo das crianças de 5 anos, obteve-se p-valor=0,10, ou seja, não há associação significativa ao nível de 5%.

    Considerando o total de 248 crianças de 4 e 5 anos (Tabela 1), 85% (212) delas nasceram com 37 semanas de gestação ou mais, e apenas 15% (36) com menos de 37 semanas de gestação (prematuros). Apenas 11% (28) crianças não estão com o IMC dentro do intervalo do CDC, e 89% encontram-se dentro desse intervalo. Entre os prematuros 3% (1) está fora do intervalo e 97% (35) estão dentro do intervalo. Entre os normais para o tempo de gestação 13% (27) estão fora do intervalo e 87% (185) estão dentro do intervalo.

Tabela 3. Relação entre o crescimento e a pré-maturidade das crianças de 4 e 5 anos

Nota: Para determinar o crescimento utilizou-se a curva de crescimento CDC-NCHS onde se relaciona o IMC (BMI) com a idade.

    Realizado o teste qui-quadrado para verificar se existe associação entre o crescimento e a pré-maturidade das crianças, obteve-se p-valor=0,08, ou seja, não há associação significativa ao nível de 5%.

    Verificou-se também a associação entre a coordenação apendicular e a pré-maturidade das crianças de 4 e 5 anos (Tabela 2). A porcentagem de crianças com a coordenação apendicular definida é de 27%. Entre os prematuros 78% possui a coordenação apendicular indefinida e 22% possui a coordenação apendicular definida. Entre os normais para o tempo gestacional 73% possui a coordenação apendicular indefinida e 27% possui a coordenação apendicular definida.

Tabela 4. Relação entre a coordenação apendicular e a pré-maturidade das crianças de 4 e 5 anos

    Realizado o teste qui-quadrado para verificar se existe associação entre a coordenação apendicular e a pré-maturidade das crianças, obteve-se p-valor=0,52, ou seja, não há associação significativa ao nível de 5%.

Discussão dos resultados

    Quanto aos objetivos que foi identificar o padrão de coordenação apendicular de crianças de 4 e 5 anos em relação ao sexo e ao tempo de nascimento, observou-se que as crianças de 4 anos apresentaram menor percentual de inadequação para as provas de sua idade quando relacionado com as crianças de 5 anos.

    No estudo realizado por Bobbio (2006), com crianças de 6,03 e 7,08 anos de idade da cidade de Campinas-SP, encontrou um índice de 45,7% de inadequação da coordenação apendicular para a idade.

    Neste estudo obteve-se um percentual de 65% de inadequação para a idade de 4 anos e 75% para a idade de 5 anos. Se comparado com o estudo de Bobbio (2006), os resultados tiveram uma grande diferença, o que pode estar relacionado com fatores do ambiente, fator maturacional embora os testes realizados fossem próprios para cada idade. Pode-se considerar também o estado emocional em que esses indivíduos se encontravam no momento das coletas, pois crianças pequenas são mais difíceis de apresentarem atenção e ainda o ambiente com falta de estimulação vinculada a sistemas mais organizados. No entanto fica uma incógnita em relação a esses valores já que as crianças do estudo de 4 e 5 anos freqüentam o pré-escolar. Com isso pode-se afirmar que devam ser realizados outros estudos investigando fatores vinculados a estimulação familiar, qualidade nutricional e aspectos do contexto social.

    Pode-se chamar atenção que os índices obtidos para adequação da coordenação apendicular no período de convalidação do protocolo de Lefèvre 1972, eram de 75%, no entanto alcançar este percentual nos dias de hoje é algo bastante complicado, devido ao estilo de vida atual onde as mães não são mais presenciais no cotidiano das crianças, tendo em vista a necessidade de auxiliar no aspecto financeiro familiar. Outro fator são os índices de violência terem aumentado consideravelmente não permitindo ao acesso do “brincar na rua”, como antigamente.

    Sabe-se que o processo de crescimento físico e desenvolvimento motor são abordados globalmente com ênfase em suas determinantes biológicas que, por sua vez, recebem todas as interferências do ambiente. Assim, à medida que a pessoa cresce, desenvolve-se e torna-se madura, está pronta a executar determinadas tarefas motoras, integralizadas com o ambiente (ARRUDA, 1997).

    O mesmo autor ressalta que esta situação evidencia um processo evolutivo nestas prontidões do indivíduo como um todo na medida do avanço do tempo. Essas prontidões motoras são expressas pelas manifestações motoras. Neste contexto das manifestações motoras, torna-se importante delinear o papel da criança, em especial daquela, em idade pré-escolar.

    Conforme Rosa Neto (2002) o desenvolvimento motor acontece desde o momento da concepção, o organismo humano segue uma lógica biológica, uma organização, um calendário de maturação e evolução, necessita estar aberto à integração à estimulação. As possibilidades motoras da criança evoluem amplamente de acordo com sua idade e chegam a ser cada vez mais variadas, completas e complexas.

    Complementando a idéia anterior para Feitosa e Silva (2003), em seu estudo com 60 crianças, sendo 15 de 1ª infância e 45 de 2ª infância com faixa etária de 5 e 7 anos, apresentaram resultados que apontam um fato bastante interessante pois ao focar a 1ª infância observa-se que as crianças já encontravam-se com a idade motora abaixo da idade cronológica, da mesma forma que as crianças da 2ª infância que possivelmente deve estar atribuído a falta de estimulação proveniente do ambiente. Assim, observa-se a falta de estimulação já quando bebê, persistindo na idade pré-escolar.

    Em estudo realizado por Bobbio (2006), foram avaliadas 238 crianças da primeira série do ensino fundamental: 118 de escolas públicas (60 meninos e 58 meninas) e 120 da escola privada (66 meninos e 54 meninas), no município de Campinas, não houve diferença entre os dois grupos estudados. Pressupondo que o nível sócio-econômico não teve influência neste equivalente.

    Em estudos de Perticarati e De Marco, 2006 que objetivou avaliar o desenvolvimento motor de crianças de 3 a 7 anos de idade da cidade de Piracicaba, com base nos estudos de Lefèvre (1976) através do Exame Neurológico Evolutivo - ENE. Para a coordenação apendicular obteve 84,2 % das crianças de 5 anos apresentaram fracasso neste exame. Nas faixas etárias (3, 4, 6, 7 anos) o número de fracassos foi superior a 50%.

    Neste estudo quando relacionado o sexo com a coordenação apendicular obteve-se para o sexo masculino 59% de coordenação apendicular indefinida e 41% de coordenação apendicular definida. Entre as crianças do sexo feminino, 71% possuem a coordenação apendicular indefinida e apenas 29% possui a coordenação apendicular definida. Os dados mostrados identificam melhor coordenação apendicular para os meninos em relação às meninas.

    Pereira (2005), constatou em seu estudo realizado com 37 crianças na faixa etária de 6 e 7 anos, sendo 20 do sexo masculino e 17 do sexo feminino, deste grupo 30 crianças nasceram a termo e 7 pré-termo. Identificou que os indivíduos do sexo feminino apresentaram um melhor desenvolvimento na questão psicomotora. Não foi associada a relação do tempo gestacional na avaliação psicomotora, embora tenha sinalizado tal característica da amostra.

    Neste estudo encontrou-se melhor desempenho para os meninos na idade de 4 anos. Já na idade de 5 anos as meninas foram superiores, percebendo que a partir de um olhar transversal por idade, observou-se que as meninas mantiveram os índices de adequação e os meninos regrediram os índices de 4 anos para a idade de 5 anos.

    O estudo de Pereira (2005) mostrou melhor desempenho para o sexo feminino. Dado este que intriga, pois a aquisição de novas habilidades relaciona-se à faixa etária e às interações vividas com os outros indivíduos de seu grupo social. A avaliação do desenvolvimento é, portanto um processo individualizado, dinâmico e compartilhado com cada criança (JENG, 2000). Sendo assim a tendência é progredir conforme a idade.

    O manual desenvolvido pelo Ministério da Saúde do Brasil (2003), que engloba indicadores de crescimento e desenvolvimento, e é adotado para serviços públicos de saúde, é pouco utilizado no que se refere a desenvolvimento. Assim, enquanto crescimento e estado nutricional são bem descritos, pouco se conhece sobre o desenvolvimento de habilidades motoras e presença de marcos de maturação neuromotora entre a população pré-escolar que freqüentam os serviços públicos de saúde.

    Em estudos de Mussen (1970) e Savastano (1982) quanto a maturação e a aprendizagem referem que enquanto a primeira é determinada pelo padrão hereditário do organismo e tem início muito antes do nascimento a aprendizagem é um processo pelo qual uma atividade é originada ou alterada através de procedimentos de treino e depende do estímulo exterior, ou seja, da interação da criança com o meio ambiente.

    Os dados encontrados sugerem um alto índice de atraso motor determinado pelo meio aos quais as crianças encontram-se inseridas. Meio este que tem afetado mais o público masculino do que o feminino diferente dos estudos encontrados até então. Porém ao que refere-se ao crescimento as crianças tanto nascidas termo e pré-maturas encontram-se de acordo com o esperado, já no que cabe ao desenvolvimento psicomotor não se pode dizer o mesmo, onde é evidenciado o bom crescimento e não o pareamento do desenvolvimento.

    Quanto a associação do tempo gestacional e a coordenação apendicular não foi encontrado associação, por causa dos semelhantes percentuais de coordenação apendicular encontrados entre as crianças nascidas termo e prematuras.

    Embora o percentual de adequação dos prematuros fosse menor que os nascidos termo, neste estudo a prematuridade não foi determinante do atraso encontrado, já que estatisticamente apresentou percentuais próximos 22% para 27%. Cabe dizer que em relação ao crescimento as crianças prematuras tiveram melhor adequação no intervalo do CDC-NCHS que as nascidas termo.

Conclusão

    Quanto a associação de crianças pré-termo e termo não teve diferença na inadequação, já que os pré-termo tiveram 78% de inadequação e nascimentos a termo com 73% de inadequação, com 5% de erro a diferença não se torna relevante para que questionamentos sejam feitos em relação aos dois grupos pesquisados.

    Em relação ao objetivo traçado nesse estudo, cabe aqui discutir alguns aspectos identificados no período da coleta de dados. O primeiro aspecto está relacionado a diferença entre as culturas comportamentais das crianças entre as escolas, observando-se índices de desatenção e agitação em algumas escolas investigadas, embora todas compreenderam a zona urbana do município de Cascavel. Outra limitação se deu ao pequeno índice de crianças avaliadas devido a não entrega dos termos de consentimentos pelos pais e responsáveis entre outros fatores.

    Contudo, o dado preocupante se deu ao alto índice de inadequação motora evidenciando a necessidade de urgência em programas de estimulação física em mais aulas de Educação Física semanais e profissionais qualificados. Necessitamos de análise mais detalhada sobre as vivências motoras das crianças deste estudo, uma vez que as mesmas obtiveram resultados inferiores aos aferidos por Lefèvre, 1972.

Referências

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