Prevalência e causas de sobrepeso/obesidade em crianças inseridas no Programa Bolsa-Família Predominio y causas de sobrepeso/obesidad en niños del Programa de Asistencia Familiar Prevalence and causes of overweight/obesity on children in the Family Assistance Program |
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*Iniciação Científica Voluntária, ICV/ UNICENTRO campus Irati **Departamento de Educação Fisica/Unicentro campus Irati (Brasil) |
Laís Rafaela Malanowski* Prof. Dr. Erivelton Fontana de Laat** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de sobrepeso/obesidade de crianças inseridas no programa Bolsa – Família. Este estudo caracterizou-se como descritivo exploratório, com amostra constituída de 33 crianças de ambos os sexos, selecionadas de forma intencional nas escolas com o maior número de crianças de famílias inseridas no programa de distribuição de renda da cidade de Irati-Pr, A massa corporal (MC) foi determinada por meio de uma balança antropométrica digital da marca Camry e a estatura (EST) por meio de um estadiômetro portátil fixado à parede, e a partir dessas informações foi obtido o índice de massa corporal (IMC) e classificada de acordo com os pontos de corte sugeridos por Conde e Monteiro (2000). A análise dos dados consistiu em estatística descritiva de média e desvio padrão e teste de freqüência para mensurar a distribuição da amostra. Os resultados encontrados no presente estudo são preocupantes, pois demonstram considerável proporção de crianças na faixa de sobrepeso/obesidade, com 71% das meninas e 58% dos meninos. Em contrapartida os índices de desnutrição encontrados são extremamente baixos 15 % nos meninos e 7% nas meninas. Concluímos que os resultados do presente estudo indicam mudanças nutricionais em classes socioeconômicas incluídas em programas sociais. É importante ressaltar que a maioria dos indivíduos teve um diagnóstico favorável do ponto de vista da desnutrição e desfavorável a obesidade, pois o mapeamento e entendimento do desenvolvimento da transição nutricional é necessário para lidar com as situações de obesidade e desnutrição. Unitermos : Bolsa-família. Obesidade. Desnutrição. Crianças.
Abstract Keywords : Purse-family. Obesity. Malnutrition. Children.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Ministério da Saúde (2003) define estado nutricional como “um excelente indicador de saúde e qualidade de vida, espelhando o modelo de desenvolvimento de uma determinada sociedade”.
O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades que beneficia famílias pobres (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extremamente pobres (com renda mensal por pessoal de até R$ 60,00) (MS, 2003)
O PBF pauta-se na articulação de três dimensões essenciais à superação da fome e da pobreza: 1) Promoção do alívio imediato da pobreza, por meio da transferência direta de renda à família; 2) Reforço ao exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e Educação. 3) Coordenação de programas complementares, que têm por objetivo o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do (PBF) consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza. Para aderência ao (PBF), a família se compromete a manter suas crianças e adolescentes em idade escolar freqüentando a escola e a cumprir os cuidados básicos em saúde: o calendário de vacinação, para as crianças entre 0 e 6 anos, a agenda pré e pós-natal para as gestantes e mães em amamentação, e a pesagem e medição mensal para realização da avaliação nutricional através do índice de massa corporal (IMC).
As informações sobre a população infantil brasileira (entre 1 e 4 anos) permitem aos pesquisadores conhecer que em quinze anos, a prevalência de crianças desnutridas foi reduzida (19,8% para 7,6%), ao passo que a prevalência da obesidade infantil (4,6%, 4,6%), não foi alterada. A grande predominância de desnutrição em 1974/75 (mais de 4 desnutridos para 1 obeso) foi reduzida em 1989 para pouco menos de 2 desnutridos para 1 obeso (MONTEIRO et al., 2000).
Batista Filho e Rissin (2003) relatam os programas propostos pelo governo como fatores que não podem ser descartados no processo de transição nutricional, mas que também não apresentam avaliações seguras sobre os seus resultados, como por exemplo, o incentivo ao aleitamento materno, a merenda escolar, o leite distribuído por alguns estados, os alimentos distribuídos em situações emergenciais, a bolsa-família e a bolsa-escola.
A transição nutricional vem ocorrendo de forma rápida no Brasil, diferentemente do ocorrido nos Estados Unidos. Segundo a OMS (2004, p.31), na população adulta, “a distribuição de IMC varia significativamente de acordo com o estágio de desenvolvimento atingido numa sociedade transicional.” Nos primeiros estágios da transição, altos valores de IMC encontram-se nas classes mais altas, e nas últimas fases voltam-se aos estratos mais pobres.
O Brasil tem substituído o problema da escassez pelo problema do excesso dietético. A desnutrição, embora relevante em famílias de baixa renda, tem diminuído em todas as idades e em todos os estratos socioeconômicos e a obesidade em adultos tem ocorrido mais na baixa renda, principalmente em mulheres (MONTEIRO et al., 2000).
A partir do exposto, torna-se necessário que estudos que se atentem em crianças inseridas em programa de distribuição de renda.
Objetivos
Avaliar a prevalência de sobrepeso/obesidade de crianças inseridas no programa Bolsa – Família.
Metodologia
Este é um estudo do tipo descritivo exploratório, e sua amostragem foi de 33 crianças de ambos os sexos, obedecendo todos os critérios de inclusão. Para compor a amostra do estudo, foi selecionada de forma intencional, as escolas com o maior numero de crianças de famílias inseridas no Programa Bolsa-Família.
Os sujeitos das amostras foram selecionados junto a secretaria do Bem-Estar Social da cidade de Irati-Pr, que indicou 2 escolas municipais com o maior numero de possíveis avaliados. Dentre todos os alunos que atendiam os critérios de inclusão, pelos quais deveriam estar matriculados na escola no ano letivo de 2010, terem completado em 2010 a idade mínima de 7 e a máxima de 10 anos, além de estarem com o termo de consentimento livre e esclarecido assinado e o questionário socioeconômico devidamente preenchido pelo responsável no momento da coleta de dados.
Este estudo foi desenvolvido em conformidade com as instruções contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para estudos com seres humanos, do Ministério da Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Metodista de Piracicaba. Todos os responsáveis pelos escolares, após serem informados sobre o propósito da investigação e os procedimentos a serem adotados, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A massa corporal (MC) foi determinada por meio de uma balança antropométrica digital, da marca Camry, graduada de 0 a 150 kg, com precisão de 0,05 kg, e a estatura (EST) por meio de um estadiômetro portátil fixado à parede, da marca Sanny, graduado de 0 a 200 cm, com escala de precisão de 0,1 cm, de acordo com procedimentos padronizados. A partir dessas informações foi obtido o índice de massa corporal (IMC).
O estado nutricional foi classificado por meio do IMC, segundo sexo e idade, a amostra foi classificada de acordo com os pontos de corte sugeridos por Conde e Monteiro (2006) para meninas, que são: baixo peso = 13,09, normal > 13,10 e < que 17,70, sobrepeso > 17,71 < que 20,83, obesidade = 23,68.
Em meninos são: baixo peso = 12,92, normal > 12,93 e < que 18,34, sobrepeso > 18,35 < que 23,16, obesidade = 23,17.
A análise dos dados consistiu em estatística descritiva de média e desvio padrão e teste de frequência para mensurar a distribuição da amostra.
Resultados e discussão
Na Tabela 1 são apresentados os resultados para caracterização da amostra em relação a idade decimal, massa corporal, estatura e índice de massa corporal. Nas Tabelas 2 e 3 são apresentados os resultados de distribuição de freqüência e prevalência do estado nutricional das meninas e meninos, respectivamente.
Observando os resultados do presente estudo, identifica-se a prevalência de 21,5% da amostra com valores de estado nutricional considerados aceitáveis, 78,5% da amostra apresentam alterações do estado nutricional, sendo 7% com baixo peso corporal, 50% com sobrepeso e 21,5% com obesidade em meninas.
Para a amostra composta por meninos, 26% apresentaram valores aceitáveis do estado nutricional e 74% apresentaram alterações, sendo elas 15,5% baixo peso, 52% sobrepeso e 6,5% obesos.
Tabela 1. Características da amostra por meninos e meninas
Tabela 2. Prevalência de baixo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade em meninas
Tabela 3. Prevalência de baixo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade em meninos
A utilização de métodos antropométricos se apresenta como importante ferramenta, quando utilizada em investigações em que o número de sujeitos que irão fazer parte da amostra é extremamente grande, dificultando a utilização de metodologias mais fidedignas, devido ao alto custo para sua execução.
De acordo com Bellizi e Dietz (1999), o emprego do Índice de Massa Corporal (IMC) por idade é recomendada pela International Obesity Task Force (Força Tarefa Internacional contra Obesidade) para descrever a prevalência de obesidade e sobrepeso em crianças e adolescentes em todo o mundo e analisar as tendências seculares de crescimento e nutrição.
Os resultados encontrados no presente estudo são preocupantes, pois demonstram considerável proporção de crianças na faixa de sobrepeso/obesidade (71% das meninas e 58% dos meninos). De acordo com Bar-Or (2000), estes dados devem ser observados com apreensão, pois existe uma forte relação entre o peso corporal na infância e sua manutenção na idade adulta.
Pierini (2006) na cidade de Botucatu identificou que 33% dos estudantes encontrava-se com sobrepeso/obesidade. Já dados apresentados por Ferreira (2006), que realizou um estudo em Ubá com 14 escolas, todas da rede pública de ensino, e constatou 32,85% de sobrepeso e 23,70% de obesidade entre todos os alunos.
Já os índices de desnutrição encontrados nas crianças incluídas no Bolsa-Familia são extremamente baixos 15 % nos meninos e 7% nas meninas. No estudo de Fernandes (2006), analisando 10.822 escolares da faixa de 7 a 10 anos, da cidade de Santos - SP verificou em relação à desnutrição 3,7%. Diferentemente dos dados encontrados por Pegolo e Silva (2008) o qual foram observados 10,7% de escolares com baixo peso, enquanto que em um estudo na cidade de Piracicaba Tolocka et al. (2008) ao avaliarem 202 crianças, verificaram que 18% das meninas e 14% dos meninos estavam subnutridos.
Neste estudo, verificou que não há semelhanças entre os níveis de desnutrição e sobrepeso/obesidade. Fato que confirma o atual estado de transição nutricional verificado no Brasil, aonde ocorreu inegáveis avanços tecnológicos e programas do Estado para esta mudança.
A obesidade como epidemia vem agravando-se porque o que antes era preocupação somente dos adultos e idosos agora afeta também crianças. Calcula-se que uma prevalência ao redor de 13% da população infantil brasileira possa ser caracterizada como obesa (CONDE e MONTEIRO, 2006) alarmantemente, o presente estudo identificou uma prevalência de obesidade 3 vezes maior.
Conclusões
Concluímos que os resultados do presente estudo devem ser vistos com cautela, pois limitações como a amostra reduzida e a falta de avaliação nutricional podem explicar a composição deste quadro. O fato de pertencerem a famílias em situação de vulnerabilidade social levantou a hipótese de um maior número de crianças com baixo peso, mas como foi visto na avaliação dos resultados esta hipótese não se confirmou, e estes resultados indicam mudanças nutricionais em classes socioeconômicas incluídas em programas sociais.
É importante ressaltar que a maioria dos indivíduos teve um diagnóstico favorável do ponto de vista da desnutrição, ponto de partida de qualquer política publica no Brasil quanto à exclusão social. Esta mudança pode ser um reflexo das ações voltadas para esta população, que em suas famílias tem acesso aprimorado a alimentos.
Conclui-se que o mapeamento e entendimento do desenvolvimento da transição nutricional para que se caracterize e compreenda este fenômeno para aplicação de planos efetivos. Pois o avanço desta transição nutricional preocupa, já que o Brasil tem de lidar com as duas situações – obesidade e desnutrição.
Referências bibliográficas
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MONTEIRO, C.A. et al. Da desnutrição para a obesidade: a transição nutricional no Brasil. In: MONTEIRO, Carlos Augusto (org.) Velhos e novos males da saúde no Brasil. São Paulo: Hucitec,2000. cap.14, p. 247-255.
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TOLOCKA, R.E et al. Perfil de crescimento e estado nutricional em crianças de creches e pré-escolas do município de Piracicaba. R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 19, n. 3, p. 343-351, 3. trim. 2008.
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