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Barreiras percebidas e nível de atividade física de universitários

residentes na Casa do Estudante da Universidade Federal do Sul do Brasil

Percepción de barreras y nivel de actividad física de los estudiantes 

universitarios residentes en la Casa del Estudiante de la Universidad del Sur de Brasil

 

*Atualmente curso especialização na Universidade Federal de Santa Maria

Graduada em Educação Física pela UFSM, RS

**Atualmente curso especialização na Universidade Federal de Santa Maria

Graduada em Educação Física pela UFSM, RS

Integrante do Laboratório de Aprendizagem Motora, UFSM

*** Graduada em Educação Física pela UFSM, RS

Mestrado em Ciência do Movimento Humano pela UFSM

Doutorado em Ciencias Aplicadas a la Actividad Física y al Deporte

pela Universidad de Córdoba, Espanha

Atualmente é professor adjunto- I da Universidade Federal de Santa Maria

Juliana Roso Tondo*

Tatiana Rodrigues da Silva**

Maria Amélia Roth***

rthaty@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Mensurar o nível de atividade física e as barreiras percebidas pelos estudantes universitários residentes da Casa do Estudante II (CEU II) do Campus da Universidade Federal do Sul do Brasil, em relação às práticas de atividades físicas oferecidas pelo Centro de Educação Física e Desportos. Métodos: A amostra foi composta por 172 universitários (94 homens) residentes da CEU II com média de idade de 21-22 anos, regularmente matriculados na UFSM no ano letivo de 2010. Para a estimativa do nível de atividade física foi utilizado o Questionário de Atividades Físicas Habituais, (Nahas, 2006), e a Percepção de Possíveis Barreiras para a prática regular de atividade física foi obtida mediante emprego de questionário proposto por Martins e Petroski (2000). Resultados: Os universitários residentes na CEU II apresentaram nível de atividade física baixo, caracterizando um comportamento pouco ativo (45%) quanto à prática de atividades físicas, e a barreira considerada pelos universitários, como quase sempre presente, foi a jornada de estudos extensas (35,9%), seguida de preferência em fazer outras coisas, além do desconhecimento de projetos gratuitos do CEFD e da falta de companhia, ambas com 17,6%. Conclusão: Encontrou-se um baixo nível de atividade física por parte dos estudantes que apresentaram como barreira mais freqüente a jornada de estudos extensa.

          Unitermos: Barreiras. Nível de atividade física. Universitários.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O século XX assim como a primeira década do século XXI foram períodos marcados pelo avanço da tecnologia e da ciência nos aspectos preventivos ou no próprio combate às doenças crônico-degenerativas (obesidade, diabetes, hipertensão, cardiopatias, câncer). Esses avanços, os ligados à atividade física, possibilitaram, entre outros fatores, um aumento na expectativa de vida, proporcionando benefícios psicológicos, tais como diminuição do estresse e da ansiedade para a população. Estudos realizados nos Estados Unidos afirmam que a prática sistemática do exercício físico está associada à ausência ou a poucos sintomas depressivos ou de ansiedade (BOSCOLO, 2005 apud SILVA et al., 2010), a observação destes dados, por si só, demonstra a relevância das atividades físicas continuadas.

    Esses fatores nos levam a refletir que as escolhas que fazemos no dia a dia, a forma de encarar desafios e a qualidade de vida são de importância vital para a saúde (MADUREIRA et al., 2003). Nas últimas décadas, passou-se a olhar a atividade física com diferentes percepções, fazendo com que ela passasse a ser estudada e valorizada como um importante aspecto de prevenção e de tratamento de inúmeras doenças, de tal forma que não é mais apenas a doença já instaurada no organismo humano que merece a atenção da ciência. Neste sentido, convém relembrar que poucas coisas na vida são mais importantes do que a saúde. De forma semelhante, poucas coisas são tão essenciais para a saúde e o bem-estar como a atividade física (NAHAS, 2006).

    A importância da prática de atividades físicas regulares para a recuperação, a manutenção ou a melhoria das condições de saúde tem sido objeto de estudos de diferentes pesquisadores nos últimos anos (MONTEIRO et al., 2003; GUEDES et al., 2006, SILVA et. al., 2010), enfatizando, dessa maneira, a importância da questão.

    A população de jovens universitários, de acordo com Guedes et al. (2006), não é regularmente ativa, apesar de ter conhecimento que um estilo de vida fisicamente ativo favorece a manutenção da saúde. Atribuí-se este conhecimento aos jovens universitários porque eles têm acesso a informações atualizadas, através de bibliografias científicas, internet etc. Conforme Fontes e Vianna (2009), o jovem universitário atribui dois motivos para não praticar regularmente atividades físicas: porque o ingresso na universidade é um evento marcado por novas relações sociais, com a possibilidade de adoção de estilo de vida sedentário, tendo que disponibilizar um grande período de tempo ocupado com provas, trabalhos e muito estudo o que faz com que, muitas vezes, abdique da atividade física no lazer para estudar; e o segundo motivo, na mesma população, encontram-se jovens que adquirem, nesta etapa, o gosto pela prática de exercícios e tornam-se adultos fisicamente ativos pelo fato do ambiente universitário proporcionar-lhes habilidades e conhecimentos quanto à adoção de um estilo de vida saudável.

    A despeito da importância da prática habitual de atividade física, as estatísticas relativas ao sedentarismo em populações de todo o mundo são extremamente preocupantes. Levantamento nacional realizado nos Estados Unidos mostrou que um em cada quatro adultos norte-americanos é inativo ou insuficientemente ativo (CDC, 2001 apud GUEDES et. al., 2006). No Brasil, embora baseando-se em estudos regionais, envolvendo tão-somente amostras selecionadas no Estado de São Paulo, os dados disponíveis apontaram proporção de 60-65% de comportamento sedentário na população adulta. Destaque-se que, no Brasil, não se dispõe de uma base de dados sólida a respeito da prevalência de baixo nível de atividade física da po­pulação e são especialmente escassos os estudos sobre o perfil da atividade física de estudantes universitários (FONTES et al, 2009), fato que demanda, pois, o incentivo à pesquisa nesta área.

    Um dos fatores predominantes para a ausência de prática de atividades físicas são as barreiras, entendidas como motivos, razões ou desculpas declaradas pelo indivíduo que representam um fator negativo em seu processo de tomada de decisão - a prática de atividades físicas (MARTINS e PETROSKI, 2000). Existem três tipos de barreiras a serem vencidas, as barreiras socioculturais que podem ser caracterizadas como resistência à mudança, conservadorismo e influência negativa do meio; as barreiras pessoais que tratam das próprias barreiras impostas pelo indivíduo (medo, descrença, desinteresse, preguiça, falta de tempo, apatia) e as barreiras ambientais como falta de locais para a prática, de equipamentos e de condições favoráveis (MENESTRINA, 2005). A relevância em identifi­car as barreiras e sua respectiva dimensão (psicológica, social, ambiental) reside na utilidade de direcionar estratégias de intervenção distintas para cada categoria (SANTOS et al, 2010).

    Como meio de promoção de atividades físicas, o Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), da UFSM, está localizado no Campus universitário com instalações e projetos de pesquisa e extensão e se encontra a 300m da Casa do Estudante Universitário (CEU II), o que possibilita o acesso fácil para a prática de diversas opções de atividades. Entre os projetos de extensão destinados aos universitários, há três voltados exclusivamente para os universitários residentes da CEU II. Fato que, na prática, determina a ausência de uma barreira ambiental, pois, há fácil acesso e possibilidades variadas de participação.

    Em face destas considerações, o objetivo do presente estudo foi mensurar o nível de atividade física e as barreiras percebidas pelos estudantes universitários residentes da CEU II em relação às práticas de atividades físicas oferecidas pelo CEFD/UFSM.

Métodos

População e amostra

    A população deste estudo foi composta por universitários residentes da Casa do Estudante (CEU II) da Universidade Federal de Santa Maria. A amostra do estudo teve 172 universitários residentes da CEU II (94 homens e 78 mulheres) regularmente matriculados na UFSM no ano de 2010.

Critérios para a seleção da amostra

    A CEU II é composta por quatro prédios de estudantes da graduação e um prédio destinado aos alunos da pós-graduação e servidores da Universidade, sendo que cada prédio é dividido em blocos. Para esta pesquisa, foi excluído o prédio da pós-graduação e servidores, por ter-se a intenção de somente analisar o comportamento dos estudantes da graduação. Fez-se o sorteio de um bloco de cada prédio totalizando quatro blocos, caracterizando uma amostragem randomizada, em que todos tinham oportunidades iguais de participarem do estudo. Para a coleta dos dados, visitou-se cada apartamento da CEU II, sendo realizada uma apresentação breve da pesquisa, seus objetivos e a informação da importância da colaboração de todos. Cada indivíduo participou de maneira voluntária. As visitas iniciaram no mês de abril e encerraram em junho do ano de 2010.

Questionário para mensurar o nível de atividade física habitual

    Para estimativa do nível de atividade física habitual, foi utilizado o Questionário de Atividades Físicas Habituais, desenvolvido originalmente por Russel R. Pate - University of South Carolina/EUA, traduzido e modificado por Nahas (Nahas, 2006). Este instrumento classifica os indivíduos em quatro níveis de atividade física (Inativo, Pouco Ativo, Moderadamente Ativo e Muito Ativo), realizando um somatório arbitrário a partir de respostas positivas relacionadas aos hábitos de atividade física nas ocupações diárias e de lazer através de onze questões. Este questionário foi escolhido por ser recomendado a adultos jovens especialmente a população de estudantes universitários.

Diagnóstico das percepções de possíveis barreiras

    O Diagnóstico da Percepção de Possíveis Barreiras para a Prática regular de Atividade Física foi obtido através do emprego do questionário proposto por Martins e Petroski (2000), o qual foi modificado, nesta pesquisa, para melhor validade junto aos estudantes. O questionário proporciona investigar quais são as principais barreiras à prática regular de atividade física, sendo composto por um quadro envolvendo dezenove questões e mais a opção outros. Neste estudo, a análise foi feita atribuindo importâncias para cada resposta, sendo 5 (cinco) para barreira sempre presente, 4 (quatro) para barreira quase sempre presente, 3 (três) para barreira às vezes presente, 2 (dois) raramente presente e 1 (um) para barreira nunca presente.

    O questionário foi aplicado com a participação de acadêmicos do 2º semestre do curso de Educação Física, Bacharelado/UFSM, matriculados na disciplina de Práticas Curriculares I, sendo que todos foram previamente orientados pela pesquisadora quanto à aplicação dos questionários.

Análise dos dados

    Adotou-se a análise descritiva dos dados (média, desvio padrão, distribuição de freqüência e percentagem), utilizando-se, para tal, o programa estatístico SPSS (versão 11.0).

Resultados

    A amostra deste estudo foi de 172 universitários residentes na CEU II do Campus da UFSM. A caracterização da amostra (Tabela 1) apresenta a média de idade situada em 21-22 anos, sendo homens 22,6 ± 3, e mulheres 21,6 ± 2,5, variando de 17 a 32 anos.

Tabela 1. Caracterização da amostra

Teste de Kruskal-wallis; Qui-quadrado *p<0,05

    Quanto à classificação do nível de atividade física (Tabela 2), pode-se verificar que houve um número maior de pessoas, tanto homens como mulheres, caracterizados como pouco ativo, totalizando 45% da amostra. A prevalência maior ficou entre as mulheres (49%) em comparação aos homens (42,5%). Os universitários se mostraram menos sedentários e mais ativos (16% e 33%), respectivamente, em comparação as universitárias, 23% para ambos. Realizando-se o somatório dos sedentários e de pouco ativos tem-se um universo de 58,5% do sexo masculino e 72% do sexo feminino, demonstrando que as mulheres são mais sedentárias e/ou pouco ativas. Fazendo-se o somatório dos moderadamente ativos e os muito ativos evidenciou-se a prevalência maior de homens 41,5% enquanto que, entre as mulheres, o percentual foi de apenas 28%. Foram considerados, no total da amostra (homens e mulheres), que 64% possuem um baixo nível de atividade e/ou são sedentários.

Tabela 2. Classificação do Nível de atividade física dos universitários (Nahas, 2006).

 

Tabela 3. Questões do questionário referente às Atividades Ocupacionais Diárias

    O questionário de atividades físicas habituais é composto por atividades ocupacionais diárias e atividades de lazer. Com referência às atividades ocupacionais diárias (Tabela 3), foram observadas poucas diferenças entre os sexos, a distinção melhor visualizada deu-se nas atividades físicas intensas, em que os homens (9,6%) demonstraram uma atividade maior em comparação com as mulheres (2,6%). Notou-se que 100% dos entrevistados afirmaram que passam sentados na maior parte do tempo e, quando muito, caminham distâncias curtas.

Tabela 4. Questões do questionário referente às Atividades de Lazer

    Considerando-se as atividades de lazer dos universitários moradores da CEU II (Tabela 4), vê-se que as mulheres participam mais de aulas de dança (15,4%) e ginástica localizada (25,6%), enquanto que os homens preferem, nos momentos de lazer, praticar esportes coletivos (52,1%), fazer musculação (24,5%) e exercícios aeróbicos (22,3%).

Tabela 5. Barreiras para a prática de Atividades Físicas percebidas e importância atribuída pelos universitários residentes da CEU II

Nível de importância das barreiras: 5 = barreira sempre presente; 4 = quase sempre presente; 3 = às vezes presente; 2 = raramente presente e 1 = nunca.

 

Figura 1. Percentual de respostas da barreira jornada de estudos extensa

 

Figura 2. Barreiras relacionadas ao Centro de Educação Física (CEFD) apontadas pelos universitários

    Observa-se, pela Tabela 5, que, entre as acadêmicas, a barreira de maior importância citada foi a jornada de estudos extensa (44,9%), sendo uma barreira quase sempre presente no que se refere à prática de atividades físicas. Já os homens (32,3%) alegaram que esta é uma barreira às vezes se faz presente no seu cotidiano. No total, 35,9% apontam a jornada de estudos como uma barreira quase sempre presente para a prática de atividades físicas (Figura 1), seguida pela preferência em fazer outras coisas, pelo desconhecimento de projetos gratuitos do CEFD e pela falta de companhia, ambas com 17,6%.

    Os universitários residentes na CEU II não apontaram barreiras de importância relevante (5 e 4), mas citaram barreiras de importância 3, às vezes presente, para falta de recursos financeiros (42,4%), ausência de clima adequado (36,5%), desconhecimento de projetos gratuitos do CEFD (35,2%), falta de companhia (32,6%), jornada de estudos extensa (32,3%), preferência em fazer outras coisas (30,2%) e falta de equipamentos disponíveis pelo CEFD (28,2%). Já as universitárias também citaram preferência em fazer outras coisas (36,7%), desconhecimento de projetos gratuitos do CEFD (35,0%), falta de companhia (32,5%), falta de clima adequado (32,1%), além de falta de habilidades físicas (38,7%), ausência de interesse em praticar (38,0%), tarefas domésticas (36,7%), desconhecimento sobre AF – atividades físicas - (35,1%) como barreiras às vezes presentes. No que se refere às barreiras percebidas no Centro de Educação Física e Desportos - CEFD (Figura 2), o desconhecimento de projetos gratuitos foi apontado como a barreira mais encontrada pelos universitários em geral.

Discussão

    O objetivo do presente estudo foi mensurar o nível de atividade física e as barreiras percebidas para a sua prática entre universitários residentes na CEU II da UFSM.

    É relevante classificar as pessoas em sedentárias ou ativas, pois a inatividade física é admitida como importante fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis (BARROS e NAHAS, 2003). Os autores consideram que o sedentarismo pode ser tido como a ausência ou a redução significativa da atividade física, conceito não associado necessariamente à falta de atividade esportiva, mas ao hábito da prática de atividade física regular.

    No presente estudo não foram encontrados níveis elevados de sedentarismo por parte dos estudantes, o que se obteve foi uma prevalência de pouca atividade entre eles. Recentemente, Saldanha Filho et. al. (2009) realizaram um levantamento com os moradores da CEU II acerca da percepção de esporte e lazer entre os universitários e constatou-se, entre os diversos fatores, que 52% não eram praticantes de esportes e/ou lazer. Esta pesquisa confirma os achados do estudo que ora se apresenta, em que a maioria dos universitários (45%) apresentou comportamento inativo quanto à prática de atividades físicas.

    Em estudo de Pinto e Marcus (1995), foi encontrado um alto índice de sedentarismo por parte de universitários. Na ocasião, foi analisado o comportamento de estudantes de uma universidade dos Estados Unidos, concluindo-se que 46,0% deles eram inativos ou se exercitavam irregularmente, indicando que um estilo de vida sedentário caracterizava uma proporção substancial de jovens adultos no campus universitário. Semelhante ao presente estudo, Fontes et. al. (2009) relataram, em sua pesquisa com os discentes de uma universidade da região nordeste do Brasil, a prevalência de baixo nível de atividades entre os estudantes (31,2%), tendo utilizado o IPAQ – versão longa. Marcondelli et. al. (2008), fazendo uso de um questionário com base na literatura da área, observaram alto índice de sedentarismo (65,5%), seguido de 16% que apresentaram baixa atividade, em 281 universitários da área da saúde (medicina, nutrição, farmácia, enfermagem, odontologia e educação física) de Brasília, exceto os estudantes de educação física não foram considerados sedentários. Esses resultados revelam que, tanto no âmbito nacional quanto internacional, os estudantes universitários apresentam baixos índices de atividades físicas.

    Estudos disponíveis na literatura sugerem que entre os adultos jovens a prática de atividade física é reduzida com a idade e os rapazes demonstram ser mais ativos que as moças (GUEDES et. al. 2006). Mesmo verificando os baixos índices de atividade física dos universitários em geral, constata-se que esta pesquisa associa-se a inúmeras outras pesquisas no Brasil e no mundo que apresentam homens mais ativos do que as respectivas companheiras do sexo feminino, que apresentam altos índices de falta de atividades. Vale salientar que uma menor prática de atividades físicas no lazer entre mulheres pode estar relacionada a questões culturais, tendo em vista que meninas são direcionadas para o cuidado com a família, enquanto que os meninos são orientados a atividades laborais e de intensidade mais vigorosa e intensa (SOUSA et al, 2010). Nesta perspectiva, Monteiro et. al. (2003) corroboram com o presente estudo quando se referem a prevalência de homens preferindo praticar esportes coletivos a qualquer outra atividade.

    Por sua vez, Sousa et. al. (2010) analisaram as práticas de atividades físicas no lazer entre universitários do curso de educação física da região nordeste e observaram que os estudantes do sexo masculino apresentaram, como principal atividade, os esportes coletivos (35,6%) seguido da musculação (20,3%), concordando, pois, com os achados deste estudo.

    Quando se constata que 100% dos entrevistados responderam que passam sentados na maior parte do tempo e, no máximo, caminham distâncias curtas pode-se atribuir que o longo período de tempo sentados nas aulas e mesmo entre aqueles universitários que trabalham ou estagiam em laboratórios ou setores que necessitam longos períodos de tempo na posição sentada. Da mesma forma, quando estão em casa, também acabam ficando sentados, seja vendo TV, estudando ou até mesmo conversando com os colegas de apartamento. É importante salientar que grande parte dos universitários da CEU II desloca-se a pé até o seu respectivo centro de estudo, o que acaba por induzir uma atividade que é essencial, a caminhada, contribuindo nas atividades ocupacionais diárias.

    Buscando respostas a respeito da pouca atividade física dos universitários, procurou-se identificar as possíveis barreiras que concorrem para tal. No que se refere às barreiras para a prática de atividades físicas, o importante diagnóstico dos fatores limitantes contribui para entender o processo inerente ao comportamento humano, que é envolvido por diferentes respostas advindas dos contextos socioambiental e individual que influenciam diretamente na forma que é concebido o estilo de vida individual (SOUSA et. al. 2010). A identificação das barreiras nos diferentes grupos populacionais poderia contribuir para a estruturação de programas de atividades físicas que se fizessem mais direcionados para um público específico, aumentando conseqüentemente a sua efetividade (ELSANGEDY et. al, 2008).

    No estudo de Legnani et. al. (2005), consideraram-se as barreiras percebidas por alunos do mestrado em educação física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), utilizando o mesmo instrumento da presente pesquisa, e notou-se que uma das barreiras percebidas de maior importância foi a jornada de trabalho extensa (53,8%). Outras barreiras relatadas, e que foram também encontradas no estudo que se apresenta, foram a falta de clima adequado (42%) e a falta de interesse em praticar (28%). No presente estudo, esta barreira – falta de interesse - foi nomeada por 38,0% das mulheres entrevistadas como uma barreira às vezes presente, já os homens (40,7%) relataram não consistir em uma barreira.

    Piovesan et. al. (2002) realizaram um estudo semelhante com universitários do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e, no que diz respeito às barreiras para a prática da atividade física, através de um questionário de conhecimento, a falta de tempo foi o fator mais citado (com 61,9% das respostas no sexo masculino e 63,8%, no feminino), seguido por preguiça (com 18,8% das respostas no sexo feminino e 12,7%, no masculino). Marcondelli et. al. (2008) também relataram, em seu estudo com universitários da área da saúde, que 66,7% selecionaram a falta de tempo como sendo a barreira mais presente no que se refere à atividade física. No estudo, cujos resultados estão sendo apresentados, não foi acusada a barreira falta de tempo, talvez por não constar no questionário, mas havia a opção outros que deixava o participante livre para citar qualquer barreira que se fizesse presente em seu cotidiano.

    Sousa et. al. (2010) examinaram as barreiras para a prática entre acadêmicos de educação física no nordeste do Brasil e apresentaram fatores limitantes de origem situacional como o clima desconfortável, excesso de trabalho, obrigações familiares e estudos, que encontra eco nos achados do presente estudo. As tarefas domésticas apareceram como barreira para 36,7% das universitárias, Santos et. al. (2010) argumenta que, no Brasil, estima-se que as mulheres gastam, aproximadamente, três vezes mais tempo em afazeres domésticos do que os homens (27,2 versus 10,7 h/se­mana). Por esta razão, as mulheres ficam sem disponibilidade de tempo e disposição para outras atividades.

    Pode-se inferir que as barreiras mais relatadas nos estudos já realizados são a falta de clima favorável, falta de tempo e preocupação com trabalho e/ou estudos.

    A respeito das barreiras encontradas no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), os universitários relataram como barreira às vezes presente o desconhecimento de projetos gratuitos do CEFD (34,7%). Desse modo, fica como sugestão que haja uma melhor divulgação por parte do Centro de Educação Física dos seus projetos junto aos estudantes da Casa do Estudante.

    Outra população que se investiga os níveis de atividade física e barreiras são os adolescentes, devido à importância atribuída a esta fase de construção de hábitos. Em um estudo conduzido por Ceschini e Júnior (2007), com adolescentes na cidade de São Paulo, sobre as barreiras para a prática de atividades físicas, a falta de interesse também foi apontada como uma das principais causas por 25,7% deles, seguida de falta de conhecimento sobre como se exercitar. Diversos estudos com população de adolescentes, usando diferentes metodologias, verificaram uma grande diversidade de barreiras para a AF. Os motivos mais citados são o fato de possuir doença ou lesão, a falta de tempo ou de motivação, a falta de companhia, a ausência de locais adequados, as características ambientais ou simplesmente a preferência por atividades sedentárias (SANTOS et. al, 2010).

    Embora houvesse um baixo nível de atividade física por parte dos universitários, não se obteve tantas barreiras que lhes impeçam a prática. A única barreira que foi apresentada como quase sempre presente foi a jornada de estudos, sendo que as demais ficaram às vezes, raramente e nunca presentes.

    Com escassas pesquisas na literatura brasileira e os estudos já realizados não há unanimidade nas respostas, porque justamente utilizam-se metodologias diferenciadas, determinando que a discussão dos resultados seja um pouco prejudicada. Considerando-se que as barreiras sejam fortes determi­nantes na participação de atividades físicas, é importante a realização de estudos com universitários que procurem elucidar quais as principais barreiras e, a partir destas infor­mações, seja possível contribuir com recomendações para o aumento de comportamentos fisicamente ativos na população.

Conclusão

    A presente pesquisa mensurou o nível de atividade física e as barreiras percebidas pelos universitários residentes da Casa do Estudante (CEU II) da UFSM e constatou um baixo nível de atividade física por parte dos estudantes, apontando como barreira mais frequente a jornada de estudos extensa.

    Faz-se necessário dar continuidade a estudos envolvendo a população de universitários, de modo que a educação física possa contribuir para o desenvolvimento da cultura corporal saudável através da oferta de atividades, a divulgação de projetos a respeito da importância de atividades físicas, assim como oferecer condições para que cada pessoa, independentemente de idade e nível social, desenvolva seu próprio estilo de vida.

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