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Atividades acadêmicas complementares em cursos de Licenciatura 

em Educação Física: um estudo de caso de duas instituições 

de ensino superior brasileiras

Actividades académicas complementarias en los cursos de Licenciatura en 

Educación Física: un estudio de caso de dos instituciones de enseñanza superior brasileñas

 

*Aluna/o regular do Mestrado em Educação Física

da Universidade São Judas Tadeu

**Docente dos cursos de Mestrado e Doutorado

em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu

(Brasil)

Elaine Xavier de Almeida*

Edson Barbosa*

Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva**

sheila.silva@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo de caso tem como objetivos apresentar a análise de duas IES (Instituição de Ensino Superior) da Cidade de São Paulo, Brasil, a respeito da estrutura e desenvolvimento das AACC (Atividades Acadêmico-Científico-Culturais) oferecidas e solicitadas aos graduandos para verificar se as mesmas estão de acordo com as normas da legislação educativa brasileira a respeito da formação de professores e como se propõem a compor as diferentes estratégias de formação e ampliação do universo cultural do futuro professor de Educação Física. Para isso, foram entrevistados dois coordenadores de curso, de duas IES. A pesquisa de campo demonstrou que o desenvolvimento das AACC tem causado grande confusão na comunidade acadêmica carecendo de mais discussão e reflexão da parte dos cursos de formação profissional. Grande parte dos professores formadores desconhece a temática e a legislação que a contempla o que, somado às demais informações coletadas, permitem inferir que existe desarticulação entre o relato a respeito de como as IES investigadas desenvolvem as AACC e a política de formação docente prevista nos documentos legais sobre a formação docente no país. A consolidação da política de ampliação cultural dos futuros professores de Educação Física no Brasil, portanto, ainda está por ser consolidada e muito ainda precisa ser feito para que coordenadores de curso de Educação Física e docentes deste nível de formação profissional compreendam e explorem devidamente as AACC para que as mesmas atinjam a finalidade para a qual foram propostas na legislação educacional brasileira.

          Unitermos: Atividades Acadêmico-Científico-Culturais – AACC. Formação profissional. Formação de professores. Educação Física.

 

Resumen

          El presente estudio de caso tiene como objetivos presentar un análisis de dos IES (Institución de Enseñanza Superior) de la ciudad de Sao Paulo, Brasil, sobre la estructura y desarrollo de las AACC (Actividades Académico-Científico-Culturales) ofrecidas y, también, solicitadas a los estudiantes de grado para verificar si ellas atienden la normatización de la legislación educativa brasileña sobre formación docente y, además, como se proponen a componer el listado de diferentes estrategias de formación y ampliación del universo cultural del futuro profesor de Educación Física. Con ese fin, fueron encuestados dos coordinadores de curso, de dos IES. La investigación mostró que el desarrollo de las AACC ha producido grandes confusiones en el universo académico, exigiendo más debate y reflexión da parte de los cursos de formación profesional. Gran parte de los profesores formadores desconoce la temática y la legislación correspondiente, hecho que, junto a otras informaciones recolectadas, permite decir que existe desarticulación entre lo que se dice que pasa con las AACC en las IES investigadas y la política de formación docente prevista en los documentos legales sobre la formación docente en Brasil. La consolidación de la política propuesta para la ampliación cultural de los futuros profesores de Educación Física en Brasil, por lo tanto, aún no se ha consolidado, habiendo mucho por hacer para que los coordinadores de cursos de Educación Física y docentes de ese nivel de formación profesional comprendan y desarrollen adecuadamente las AACC para que las mismas cumplan la finalidad para cual fueron propuestas en la legislación educativa brasileña.

          Palabras clave: Actividades Académico-Científico-Culturales – AACC. Formación profesional. Formación de profesores. Educación Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O interesse pelo estudo partiu de uma discussão ocorrida na disciplina de Formação Profissional em Educação Física e Esporte ministrada no programa de Mestrado e Doutorado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu.

    De acordo com Leite e colaboradores (2008), estudos tem revelado que os professores que vem se formando recentemente não estão recebendo preparo suficiente nas IES para enfrentar os diversos problemas encontrados em sua atuação profissional. Mencionam, ainda, que as disciplinas dos cursos de licenciatura trabalham de forma isolada da prática e da realidade das escolas, enfatizando que os mesmos devem repensar esta visão e se organizarem para superar o modelo da racionalidade técnica, assegurando a base reflexiva na formação e atuação profissional.

    Silva (1997) destaca o papel dos estágios supervisionados como uma ferramenta para desenvolver o raciocínio crítico-reflexivo dos graduandos em Educação Física, no entanto é possível afirmar que a formação crítico-reflexiva pode permear diversas disciplinas e atividades presentes na formação do profissional de Educação Física e Esporte e, sendo assim, porque não pensar que as AACC podem ser uma dentre essas possibilidades?

    Foram encontrados poucos estudos científicos abordando a temática da AACC na área da Educação Física, sendo um dos aspectos que justificam a realização desta pesquisa.

    Concordamos com Molina, Myiabara e Silva (2010) que estudos a respeito das AACC se justificam porque

    o surgimento das Atividades Acadêmico-Científico-Culturais ou Atividades Complementares (AACC) na formação profissional em EF no Brasil é muito recente, e a falta de literatura a respeito do assunto justifica a publicação das primeiras experiências acadêmicas referentes à sua implementação como um recurso possível para sua melhor compreensão e aproveitamento.

    Diante da constatação dessa necessidade de melhor compreender as inovações recentemente introduzidas na formação do professor de Educação Física brasileiros e levantar pontos para posteriores discussões, portanto, realizamos esta pesquisa junto a dois coordenadores de curso de Educação Física em funcionamento na cidade de São Paulo.

    Sendo assim, tivemos como objetivos apresentar a análise de duas IES (Instituição de Ensino Superior) da cidade de São Paulo, Brasil, a respeito da estrutura e desenvolvimento das AACC, tanto as oferecidas pelas IES quanto aquelas solicitadas aos graduandos e realizadas fora das IES, para verificar se as mesmas estão de acordo com as normas da legislação educativa brasileira a respeito da formação de professores e como se propõem a compor as diferentes estratégias de formação e ampliação do universo cultural do futuro professor de Educação Física.

Revisão de literatura

    As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica, em nível superior, por meio dos cursos de licenciatura, graduação plena, foram instituídas pelo Parecer CNE/CP no. 09/2001 e pela Resolução CNE/CP no. 01/2002, objetivando estruturar e nortear os cursos de formação, pautando as competências de informações e conhecimentos necessários para a formação inicial dos educadores brasileiros.

    Na legislação educacional brasileira está contemplada a composição da carga horária dos cursos de formação universitária na modalidade de licenciatura e servem como norma reguladora que deve ser seguida pelas IES, ainda que exista certa margem de flexibilidade para que sejam formulados currículos em diferentes regiões do país com a finalidade de atender peculiaridades locais, diferentes perfis institucionais e diferentes perfis do corpo docente.

    Estas orientações podem ser encontradas no Parecer CNE/CES nº 28/2001 que define duração e carga horária dos cursos de licenciatura da seguinte forma:

    A duração dos cursos de licenciatura pode ser contada por anos letivos, por dias de trabalho escolar efetivados ou por combinação desses fatores. [...] Já a carga horária é número de horas de atividade científico-acadêmica, número este expresso em legislação ou normatização, para ser cumprido por uma instituição de ensino superior, a fim de preencher um dos requisitos para a validação de um diploma que, como título nacional de valor legal idêntico, deve possuir uma referência nacional comum.

    De acordo com a Resolução CNE/CP no. 02/2002, o curso de formação de professores da Educação Básica em nível superior, modalidade licenciatura, graduação plena, deverá ter duração mínima de 3 (três) anos e carga horária mínima de 2.800 (duas mil e oitocentas) horas. Na distribuição dessas horas, são destinadas 200 (duzentas) horas para o cumprimento das Atividades Acadêmico-Científicas-Culturais, objetivando ampliar o repertório de conhecimentos e enriquecendo o currículo nas questões científicas e culturais do aluno, ou seja, o equivalente a 7% da carga horária total destinada ao curso.

    As AACC fazem parte da estrutura de um curso de licenciatura e atendem ao disposto nos itens 5 e 6 do Parecer CNE/CES no. 583/2001 no que se refere a

    5) Estimular práticas de estudo independente, visando uma progressiva autonomia profissional e intelectual do aluno;

    6) Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se referiram à experiência profissional julgada relevante para a área de formação considerada;

    Sendo assim, as AACC devem possibilitar aos alunos ampliar conhecimentos de interesse para sua formação pessoal de professor, com experiências e vivências acadêmicas dentro ou fora da IES.

    A partir da exigência estipulada pela legislação entende-se que elas devam complementar a formação do licenciado em Educação Física oportunizando o enriquecimento do currículo acadêmico nas questões científicas e culturais, por meio da participação em atividades extra-aula.

    O aspecto essencial desta exigência legal é o entendimento que o futuro professor, como orientador do desenvolvimento de outras pessoas, não pode ter conhecimento restrito à sua área específica de atuação, mas tem necessidade de dominar um amplo repertório de conhecimentos culturais que lhe permitam refletir sobre o seu papel no mundo, identificar as características do mundo do qual faz parte, conhecer os recursos culturais que estão disponíveis para enriquecer o seu trabalho e, principalmente, que o preparem para facilitar o acesso a esse amplo repertório de conhecimentos a seus alunos.

    Atualmente tem-se valorizado as questões culturais no âmbito da formação profissional. Para Moreira e Candau (2003), essa valorização pode ter interferência da necessidade das intervenções interdisciplinares que vem surgindo como forma de superar o indesejável fracionamento das áreas de conhecimento que colaboram para a perda de significado das experiências escolares para os estudantes de todos os níveis de ensino.

    Entende-se que as AACC vão ao encontro da missão que o processo de formação docente tem de ultrapassar a aquisição pura e simples de conhecimentos e objetivar estabelecer a identidade de determinado profissional, nesse caso, o professor de Educação Física.

    Conforme Nóvoa (1995), o processo de formação de professores deve se utilizar dos aspectos técnicos, mas também deve levar o licenciando a refletir sobre o papel do professor, focando nos saberes necessários para sua atuação profissional, entre os quais se destacam o incentivo à prática da contemplação, admiração e valorização científica e cultural de outras atividades como possibilidade de estimular a capacidade do graduando articular o que vê em seu cotidiano e nos momentos de lazer, com o que aprende no âmbito acadêmico e pessoal.

    A Resolução CNE/CP no. 01/2002 determinou um conjunto de princípios e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino que direcionam para que no processo de formação profissional haja coerência entre formação teórica e a prática aplicada na atuação profissional, o que inclui a prática de ensino em vários momentos do curso, a inserção do futuro educador no universo escolar desde o primeiro ano do curso, a realização dos estágios curriculares como forma de inserção gradativa nas problemáticas presente no mercado de trabalho do professor e, ainda, as AACC como enriquecimento curricular.

    Tais princípios tiveram orientação concreta estabelecida na Resolução CNE/CP no. 02/2002, na qual se estabeleceu que a formação de professores da Educação Básica deve ser efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 horas, distribuídas em:

I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso;

II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso;

III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural;

IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de Atividades Acadêmico-Científico-Culturais.

    Uma vez que as AACC constam da Resolução no. 02/2002, as IES podem e devem adequá-las ao perfil profissional que desejam e contato assistemático com várias IES brasileiros por meio de contatos informais com colegas que atuam em diferentes lugares, nos permite afirmar que há diferentes maneiras de lidar com elas, tendo em comum que todas as IES de que temos conhecimento possuem em comum a existência de um regulamento que é disponibilizado aos alunos e de um ou mais professores encarregados de registrar os documentos comprobatórios de sua realização. No entanto, cabe refletir a respeito das peculiaridades de cada IES na condução desse processo e se seu real aproveitamento como enriquecimento cultural é efetivo no processo de formação de professores.

Método

    A pesquisa caracteriza-se como Estudo de Caso, que utilizou como instrumento uma entrevista semi-estruturada aplicada a dois coordenadores de curso de Licenciatura em Educação Física de duas IES localizados na cidade de São Paulo, Brasil, e a análise documental do regulamento das AACC de ambas IES.

    Para cumprir o objetivo do estudo, primeiramente foi realizado contato por telefone, os pesquisados foram informados sobre o objetivo de estudo e, mediante o aceite em participar da pesquisa, data e horário foram agendados. No dia da entrevista, realizada na própria IES, os pesquisados assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido a respeito dos objetivos e características da pesquisa. Em seguida, um documento contendo 16 (dezesseis) questões a serem abordadas durante a entrevista foi entregue aos participantes, a fim de conhecerem detalhadamente o teor do instrumento de pesquisa.

    A entrevista foi gravada num gravador digital, e, no mesmo dia, as respostas foram transcritas, sendo, posteriormente, lidas e validadas pelos entrevistados denominados neste estudo de Coordenador 1 e Coordenador 2.

    O questionário versou sobre o que se considera como AACC, qual sua relevância para o aluno e quais são os objetivos na formação do profissional licenciado em Educação Física naquela IES.

Resultados e discussão

    De acordo com o depoimento do Coordenador 1, a IES-1, tanto por iniciativa do curso de Educação Física, quanto de outros cursos da universidade, oferece atividades nas quais o licenciando cumprirá suas AACC. Apesar das AACC não serem entendidas como uma disciplina curricular específica, elas podem ser utilizadas como meio para aprofundar uma área ou assunto estudado ou que, por outro lado, assuntos nos quais se identifique que o aluno possui alguma dificuldade, ou seja, com o objetivo de suprir alguma deficiência ou carência identificada em determinada disciplina curricular.

    Nesse sentido, a IES-1 pressupõe que projetos, tanto de extensão quanto de iniciação científica não devem ser confundidos com as AACC, pois são formalizados e computados de outra forma no histórico escolar, conforme consta no estatuto e no regimento da Universidade. No entanto, quando se trata de alunos transferidos de outra IES na qual projetos de extensão ou iniciação científica já venham computados como AACC, a IES-1 ao receber este aluno acata o regimento da IES da qual ele veio e valida tais atividades como AACC.

    De forma a acompanhar parte das atividades realizadas pelo aluno e para atender possíveis carências de conhecimentos dos seus alunos conforme já mencionado, a proposta da IES-1 oferece e exige que 50% das AACC sejam realizadas no interior da própria IES. O lado positivo desta exigência é que isto facilita a ligação dos temas propostos que são relacionados com os temas tratados no currículo da formação acadêmica, aprimora os conhecimentos gerais dos alunos, mas, o lado negativo, é que o aluno deixa de usar toda a carga horária destinada às AACC para conhecer os recursos presentes em sua comunidade ou em sua cidade, tanto como futura ferramenta de trabalho, quanto como uma forma de inserir-se como profissional consciente das condições presentes na sociedade na qual se situa.

    Tal exigência pode, por outro lado, denotar contato insuficiente da IES com a comunidade onde se situa, seja por meio de convênios, seja por meio da realização de projetos em conjunto com as pessoas e instituições do seu entorno ou, ainda, uma descrença na capacidade do aluno em identificar e selecionar oportunidades que possam aprimorar sua bagagem cultural e visão crítica sobre a sociedade.

    Procedimentos diferenciados em relação às AACC de cursos diferentes e diferentes formas de compreendê-las e valorizá-las também foram identificados na pesquisa de Kasseboehmer e Ferreira (2005). Com objetivo de elencar as AACC e detectar se existem percepção e preocupação das IES de que as AACC realmente ampliem a formação cultural do futuro professor de Química de universidades públicas paulistas, os pesquisadores realizaram uma entrevisa semi-estruturada com coordenadores de nove cursos de licenciatura, além da leitura do Projeto-Político-Pedagógico. Os resultados revelaram que, em algumas das IES pesquisadas, houve a preocupação em planejar e oferecer possibilidade de cumprimento das AACC na própria universidade visando colaborar para a diversificação de sua formação. Já em outras IES, os depoimentos mencionaram certa descrença na realização das AACC nos currículos de licenciatura como forma de enriquecimento cultural, acreditando-se que elas, possivelmente, venham a ser utilizadas para outras finalidades. Além disso, a pesquisa registrou que existe uma baixa valorização destas atividades de parte das IES pesquisadas, mas, por outro lado, aqueles que buscaram conhecer e compreender os objetivos atribuídos a elas acabou por perceber sua importância e passaram a defendê-las também para as outras habilitações do curso de Química.

    De acordo com o Coordenador 1, os 57 (cinqüenta e sete) cursos da IES-1 oferecem AACC e cabe a cada diretor de área, e a cada coordenador de curso avaliá-las e disponibilizar, no início ou ao longo do ano, aquelas que melhor complementem a formação de seus alunos. Cabe ao aluno se inscrever nas AACC indicadas pela IES, independentemente de qual curso esteja oferecendo-a. Um aluno do curso de Educação Física pode, por exemplo, fazer uma AACC oferecida pelo curso de Biologia, bem como alunos de outros cursos podem se inscrever em AACC oferecidas pelo curso de Educação Física.

    Percebe-se que, nesse contexto, a IES-1 confere certa autonomia para que o aluno procure e eleja atividades que, de acordo com seu critério e juízo, favoreçam sua ampliação de conhecimentos extracurricular, no entanto, será uma comissão de professores que avaliará estas proposições internas, julgará se elas constituem um complemento significativo para a formação profissional, e validará apenas aquelas que condizerem com seu juízo. Caberá, finalmente, ao diretor de área convalidar as AACC validadas por essa comissão de professores e enviar o controle para a reitoria para que passem a constar no histórico escolar do aluno.

    A oferta das AACC no interior da IES-1 é uma exigência feita aos professores de tempo integral e apenas eles podem oferecê-las.

    O cumprimento da metade restante da carga horária devem ser comprovadas via certificados que contenham especificação de carga horária, nome do aluno e natureza da atividade. Esses certificados são avaliados por uma comissão, podendo ou não ser convalidados ou reconhecido o total da carga horária declarada nos certificados apresentados pelo aluno.

    O aluno é orientado a distribuir essas 100 horas que não são cumpridas no interior da IES-1 ao longo de sua formação, mas tem liberdade e autonomia para definir em que momento quer cumpri-las. Há, no entanto, uma professora, denominada nesta instituição de professora tutora, que é responsável pela orientação e acompanhamento dos alunos nesse processo. Caso o aluno chegue ao 5º semestre, num curso que dura 8 semestres, por exemplo, sem ter cumprido nenhuma hora de AACC, essa professora lhe chamará a atenção para o risco de que poderá não colar grau ao término do curso, já que essas atividades são obrigatórias.

    Por não serem consideradas como disciplina curricular, o cumprimento das AACC não recebem notas ou conceitos, e também não se considera que o aluno carregue DP ( regime de dependência) em AACC. O sistema de controle da vida escolar registra apenas o seu cumprimento ou não e, em caso negativo, o aluno não poderá colar grau, e tanto o sistema como em seu histórico escolar constará como “possível concluinte com pendência acadêmica”.

    Para comprovar a participação em atividades internas, o aluno deve apenas se inscrever e participar das atividades. Cabe ao professor responsável lançar essas horas em suas planilhas de controle num processo que é acompanhado pelo diretor do curso. Já para as atividades realizadas externamente há um rigor maior; embora a faculdade entenda que assistir a um jogo de futebol, ir ao cinema ou ao teatro seja complementar à formação do aluno, não basta citar o título do filme ou da peça, por exemplo. Geralmente pede-se um relatório e o tíquete, e há um limite de carga horária para esse tipo de atividade. Analisa-se com muito critério e rigor a documentação que o aluno apresenta como atividade externa.

    Outro ponto importante que vem sendo observado, infelizmente, é o falso cumprimento das AACC pelos alunos, que acabam solicitando de terceiros os tíquetes de cinema e teatro, por exemplo, apresentando-os como comprovantes ao professor de sua IES que, por não exercer qualquer tipo de fiscalização, acaba por aceitar tal documentação sendo incapaz de julgar por sua veracidade ou não.

    Sabe-se de alunos que, por diversas razões como falta de tempo por trabalharem o dia todo, ou mesmo por não compreenderem a finalidade pela qual se exige o cumprimento das AACC, se utilizam de formas ilícitas para comprovarem que realizaram as 200(duzentas) horas de AACC. Relatos informais mostram que a maior parte dos alunos não está consciente do propósito dessa exigência acadêmica, não enxergam como essas atividades podem contribuir com sua formação nem com sua futura atuação profissional e, sendo assim, elas acabam não tendo qualquer importância na vida deles. Seria o caso de perguntar se as IES e os professores responsáveis pelo seu acompanhamento possuem os argumentos e as ferramentas necessárias para que os alunos mudem sua forma de encarar as AACC, contribuindo, dessa maneira, para minimizar a opção dos alunos por apresentar documentos comprobatórios falsos sobre o seu cumprimento.

    É o caso de perguntar se as IES reservam tempo curricular, com professor devidamente remunerado para executar a tarefa de promover a integração das atividades curriculares com as atividades complementares, de refletir sobre o verdadeiro valor das AACC e levar os alunos a pensarem se a atitude de adotar procedimentos ilegais e imorais para comprovar que realizaram algo que, na verdade, deixaram de fazer, é a melhor forma de se formarem profissionais de Educação Física confiáveis e que serão futuros responsáveis pela educação de outras pessoas, inclusive do ponto de vista moral.

    Na IES-1, os professores responsáveis pelas atividades realizadas no interior da universidade oferecem as AACC, cuidando para que estejam de acordo com a propsota pedagógica do curso, e depois devem comparecer às atividades propostas, acompanha-las, e/ou conduzi-las, registrando os alunos que compareceram e as horas cumpridas. É também esse professor quem define o número de alunos sob sua orientação, pois esse número depende do tipo e do objetivo de cada atividade oferecida.

    Na IES-1, a pró-reitoria de ensino se interessa por saber como a atividade complementar oferecida no interior da universidade contribuiu para a formação do aluno na perspectiva deste. Para tanto, solicita aos alunos o preenchimento de um questionário específico durante o último encontro com o professor responsável pelas AACC. As perguntas são voltadas para do objetivo de avaliar, do ponto de vista do aluno, se as AACC foram pertinentes à sua formação, no que elas contribuiram, se ajudaram realmente em sua formação e se eles possuem alguma sugestão a fazer.

    Em relação às leituras de livros sugeridos como AACC, a IES-1 destaca que eles não podem constar da bibliografia básica do curso porque, assim sendo, serão considerados como de leitura obrigatória e essencial ao aluno, e não como leitura complementar.

    Por fim, o Coordenador 1 deixou claro que a IES-1 acredita que as AACC asseguram aquilo que se busca num currículo moderno: flexibilidade. Parte do currículo é definida pelo aluno, que pode fazer escolhas com vistas ao seu futuro profissional, ou mesmo aprofundar-se em alguma disciplina em que sente mais dificuldade, e, por meio de tais atividades, aumentar a possibilidade de superá-la.

    Na entrevista com o Coordenador 2, este relatou que a IES-2 aceita diversas atividades como cumprimento das AACC. Elas podem ser iniciadas no primeiro ano do curso, sendo divididas em diversos temas e categorias: congressos, seminários, semanas de estudo, jornadas científicas, simpósios, conferências, mesas-redondas; comparecimento à defesa de teses; participação como membro de equipes de ginástica e dança; monitorias; participação em pesquisas institucionais; elaboração e leitura de artigos relacionados à Educação Física escolar; apresentação de trabalhos relacionados com a Educação Física escolar; participação em concursos; elaboração e realização de projetos sociais e atividades voluntárias voltadas para a escola; organização e participação em atividades culturais e esportivas autorizadas pelo professor responsável dentro de escolas. Além dessas atividades, a IES-2 entende que as atividades de iniciação científica e projetos de extensão podem ser considerados como AACC. A única atividade que a IES-2 não aceita a título de cômputo de horas de AACC é a experiência profissional anterior ao curso. O Coordenador 2 destacou que todas elas devem ser realizadas em período contrário ao das aulas e, da mesma forma que a IES-1, a bibliografia básica das disciplinas do curso de licenciatura não são computadas como atividade complementar.

    As AACC podem ser cumpridas de diferentes formas, sendo as 200 horas distribuídas em: atividades de ensino, num total de 100 horas; atividades de pesquisa, num total de 50 horas; atividades de extensão, num total de 50 horas.

    O aluno pode cumprir essas horas ao longo de todo o curso de graduação, e caso ele deixe de cumprir qualquer hora de AACC em qualquer série do curso isso não coloca o aluno em DP (dependência) já que na IES-2 as AACC não são consideradas como disciplina curricular. Como na IES-1 e como exige a legislação, caso o aluno chegue a concluir todas as exigências do curso de graduação sem cumprir esse total de horas, ele fica impedido de receber o diploma, o que ocorrerá somente quando totalizar o cumprimento das AACC.

    A IES-2 não mantém parcerias para a realização das atividades complementares, o que dá ao aluno a liberdade de realizá-las em qualquer entidade ou instituição da área escolar ou, não sendo da área escolar, dependerá de autorização do professor responsável.

    Além dos professores designados como responsáveis para cada turma, existem os professores auxiliares, que dão orientações gerais e não estão vinculados diretamente às turmas. Cada professor responsável orienta uma determinada turma sendo que o número de alunos varia de 30 a 80 alunos em cada turma.

    A atividade destes professores envolve orientar sobre quais são as atividades consideradas como complementares, avaliar os relatórios entregues pelos alunos e validar ou não o cumprimento da carga horária referente ao que o aluno entregou. É nesse momento que professor e aluno discutem as atividades realizadas para que este perceba a relação com os objetivos de sua formação na universidade, ou seja, no contexto da área escolar.

    Formalmente, não há procedimento que solicite aos alunos estabelecer relações entre AACC e outros assuntos do curso, no entanto, isso acontece efetivamente na discussão dos relatórios ou quando o aluno pede autorização prévia para realizar uma determinada atividade.

    O Coordenador 2 acredita que nessas discussões o professor responsável pelas AACC leva o aluno a perceber a relação entre o que fez e os conteúdos estudados na graduação. Acredita, também, que as AACC são de fundamental importância para a formação, visto que o aluno as tem como um momento de experiência, de verificar a atuação na área profissional, entendendo que, a partir de sua participação numa atividade complementar, ele está aprimorando seu conhecimento geral da área em que atuará, conhecendo novos aspectos que serão complementados também com o estágio.

    A AACC revela uma nova forma de incentivar o aluno a aprender fora do âmbito da sala de aula e de se interessar por temas que não são aqueles ligados diretamente à parte acadêmica.

Considerações finais

    Em ambas IES analisadas, atendeu-se ao mínimo disposto nas normas estabelecidas pela Resolução CNE/CP no. 02/2002, e ambas contribuem com o aluno oferecendo oportunidades para vivências diferenciadas no interior da própria universidade.

    Analisando as informações coletadas verificou-se que, ainda que exista compreensão a respeito da contribuição das AACC como estratégia que objetiva complementar a formação acadêmica, incentivar a ampliação do universo cientifico-cultural dos futuros profissionais, bem como propiciar conhecimentos que contribuem com o processo de ensino e aprendizagem específica presentes nos cursos de licenciatura em Educação Física, existem diferenças na forma como os professores orientadores das IES realizam o seu trabalho, efetivando ou não uma relação adequada entre a formação acadêmica e as AACC, alguns apenas atuando como conferentes de relatórios e documentos apresentados pelos alunos com pequeno envolvimento reflexivo, seja da parte do professor, seja da parte dos alunos.

    Consideramos que ainda há necessidade de mais pesquisas a respeito do tema não apenas para identificar como as AACC vem sendo conduzidas pelas IES, mas, principalmente, como uma forma de fomentar a reflexão de coordenadores e de professores orientadores a respeito da sua responsabilidade em promover reflexão a respeito das atividades realizadas, de ampliar o conhecimento da própria IES a respeito dos recursos culturais disponíveis na comunidade na qual as IES se inserem e, desta forma, melhor preparar futuros professores de Educação Física.

Referências bibliográficas

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