As influências na técnica dos nados crawl e costas Las influencias en la técnica de nado crol y espalda |
|||
*Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT-Lisboa/PT) Especialista em Educação Física com ênfase em Natação (FACIMAB) Técnico de Natação do Clube Tuna Luso Brasileira Coordenador da academia do Clube Assembléia Paraense **Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT-Lisboa/PT) Especialista em Educação Física com ênfase em Natação para Bebês (FACIMAB) Professora de natação da Academia Pelé Club Professora de Ginástica da academia Viva Fitness ***Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT-Lisboa/PT) Especialista em Fisiologia do Exercício (FIBRA) Coordenador de Educação Física do Colégio Ipiranga Supervisor Técnico da academia do clube Assembléia Paraense |
Wilson Fernando Wilkinson Rodriguez* fernandowilkinson@aponline.com.br Paloma Aguiar Ferreira da Silva Raiol** Rodolfo de Azevedo Raiol*** (Brasil) |
|
|
Resumo A tecnologia empregada nos trajes de natação (super-maiôs) contribuiu fortemente para a “quebra” de vários recordes e marcas em todo o mundo. Porém com a proibição de seu uso, os treinadores voltaram a se ater aos aspectos técnicos dos nados que eram minimizados pelo uso dos super-maiôs. Este estudo objetivou identificar os principais erros técnicos dos nados Crawl e Costas bem como a técnica correta para obter o melhor desempenho possível nesses nados. Para tal, foi realizada uma revisão de literatura com 20 trabalhos científicos, entre livros, artigos e comunicações de congressos. Os resultados demonstraram que mesmo na natação de alto nível ainda ocorrem diversos erros nas técnicas dos nadadores de Crawl e Costas, onde foi identificado o arrasto hidrodinâmico a pior conseqüência desses erros. Sendo que para alcançar a técnica correta a posição corporal na água e o alinhamento lateral aparecem como os fatores mais importantes. Unitermos: Natação. Arrasto hidrodinâmico. Posição corporal. Alinhamento lateral.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A natação é um esporte bastante popular no mundo todo. No Brasil, com o sucesso internacional de atletas como Cesar Cielo e Thiago Pereira e a vinda de grandes eventos esportivos para o Brasil como o Pan do Rio em 2007 e as Olimpíadas em 2016 também no Rio de Janeiro a procura por este esporte tem sido acentuada.
No cenário atual da natação de alto nível existe um número cada vez maior de atletas disputando competições de nível internacional e estes estão conseguindo índices para essas competições cada vez mais jovens.
Vários são os fatores que influenciaram nessa melhora acentuada nos tempos dos nadadores, sendo que a tecnologia em vestimentas para o nado merece destaque. A eficácia tecnológica dessas novas vestimentas, popularmente conhecidas como super-maiôs, é tão acentuada que mesmo nadadores com a técnica de nado não tão bem apurada conseguiam atingir os índices técnicos das mais importantes competições graças a esse auxílio tecnológico.
Porém, com a proibição do uso de super-maiôs, voltou-se a ter um olhar diferenciado as técnicas dos nados como forma de incremento no desempenho dos atletas, pois seus tempos diminuíram substancialmente sem o auxílio tecnológico. Sendo assim, laboratórios de pesquisa e treinadores passaram a ter atenção especial ao conjunto de técnicas aplicadas aos diferentes nados na tentativa de conseguir bons resultados sem o auxílio do super-maiô.
Esse estudo visa identificar os principais erros de técnica nos nados estilo Crawl e estilo Costas e a melhor maneira de corrigi-los proporcionando melhor desempenho do atleta.
Revisão de literatura
De vários fatores influenciadores do rendimento em Natação, a Técnica e unanimemente considerada como um dos parâmetros mais importantes, assim esta se apresenta como preocupação central do processo de treino desta modalidade (COSTILL; MAGLISCHO; RICHARDSON, 1992, Vilas-Boas, 1998).
Em estudos efetuados em nadadores de alto nível, freqüentemente encontramos referências à existência de erros técnicos em aspectos básicos das técnicas de nado (Soares, 2000, Fernandes, 2001, ARELLANO; LÓPEZ-CONTRERAS; SÁNCHEZ-MOLINA, 2003). Estes erros técnicos já não deveriam existir nas fases avançadas do processo de treino, devendo ter sido corrigidos e eliminados na fase do Treino de Base (VILAS-BOAS, 1998).
Arellano, López-Contreras e Sánchez-Molina (2003) verificaram que os itens rotação sobre o eixo longitudinal assimétrica e rotação dos ombros e da cabeça antecipada antes da respiração obtiveram valores superiores a 33% de erros técnicos em seleções pré-juniores e juniores espanholas. Isto incidirá justamente sobre a descrição e análise de um dos aspectos básicos mais importantes das técnicas da modalidade: a Posição Corporal. Na descrição deste parâmetro, iremo-nos reportar aos principais aspectos a considerar diante de uma correta Posição Corporal no nado Crawl e Costas: o Alinhamento Horizontal; o Alinhamento Lateral e a Rotação sobre o Eixo Longitudinal.
O fato de analisar conjuntamente as técnicas de crawl e de costas encontra justificativa no fato de ambas serem técnicas alternadas, durante as quais as ações motoras dos membros superiores e membros inferiores tendem a assegurar uma propulsão contínua. Assim, a Posição Corporal adotada durante o ciclo gestual nestas duas técnicas de nado deverá ser muito semelhante, divergindo apenas no fato do Nado Crawl ser uma técnica ventral e o Nado Costas uma técnica dorsal (COLWIN, 1998).
Na técnica dos nados Crawl e Costas, o corpo deve manter-se o mais horizontal possível, de forma a que apresente uma pequena superfície frontal de contacto com a água, reduzindo assim o arrasto hidrodinâmico (Colwin, 1992). O olhar deverá estar dirigido para o fundo da piscina, para uma zona localizada ligeiramente à frente do nadador (Colwin, 1999). Este fato significa que é importante ter uma posição alta na água, mas sem elevar exageradamente a cabeça, pois se efetuar uma hiper-extensão cervical o arrasto hidrodinâmico aumentará entre 20 a 35% (Clarys, 1988) devido ao afundamento dos Membros Inferiores e ao arqueamento da região dorsal provocados pela tensão dos músculos da região dorsal e da nuca (Alves, 1997).
Além disso, uma ação demasiado profunda dos Membros Inferiores faz aumentar o arrasto hidrodinâmico, sem contribuir para a propulsão, pelo que se recomenda que a ação dos Membros Inferiores não ultrapasse uma linha imaginária que passe pelo ponto mais fundo do trajeto subaquático dos Membros Superiores. Tendo o nado de crawl e o costas técnicas alternadas, os principais desvios na Posição Corporal ocorrem no Alinhamento Lateral (Maglischo, 1993). Durante o nado, qualquer movimento segmentar que crie forças com linhas de ação laterais em relação ao sentido de deslocamento do corpo provocará uma reação aplicada noutro segmento corporal, que o desviará do alinhamento corporal (Alves, 1997). As oscilações no Alinhamento Lateral levarão ao aumento da resistência ao avanço, devido ao aumento da superfície frontal de contacto, conduzindo a um superior custo energético e à redução da velocidade de nado. Para permitir que o nadador preserve um correto Alinhamento Lateral é necessário aproximar as ações propulsivas do eixo longitudinal de deslocamento, o que é facilmente conseguido através da Rotação sobre o Eixo Longitudinal (Maglischo, 1993).
Para Chollet (1990), é possível compensar a tendência lateralizante dos trajetos propulsivos através do papel equilibrador dos Membros Inferiores que exercem pressão sobre a água em direções laterais, acompanhando a Rotação sobre o Eixo Longitudinal e a ação dos Membros Superiores. A cabeça não deve acompanhar a Rotação sobre o Eixo Longitudinal do bloco tronco/Membros Inferiores, devendo manter-se sempre fixa (COSTILL; MAGLISCHO; RICHARDSON, 1992).
Outro fator essencial para um correto Alinhamento Lateral é "não cruzar os apoios", isto é, não ultrapassar a linha média do corpo durante a trajetória dos Membros Superiores. Este fato é importante durante toda a ação dos Membros Superiores, mas tem especial relevo no momento da entrada e na fase da recuperação onde é de especial importância que o nadador não a realize lateralmente (DEKERLE et al., 2005)
A melhor maneira para avaliar o Alinhamento Lateral é observar o nadador de frente (sobre o plano frontal), de maneira que se possa visualizar o eixo longitudinal de deslocamento (Maglischo, 1993).
Entretanto, Castro et al. (2003), afirmam que Posição Corporal depende da prova a ser realizada: Em provas de velocidade (50m, 100m e 200m) deverá existir uma ligeira elevação e extensão do tronco (parecendo a um observador externo que o nadador está a deslocar-se sobre a água), enquanto em provas de fundo (400m em diante) o corpo deverá estar em uma posição mais horizontal. Maglischo (1993) encontrou resultados semelhantes aos de Castro et al., segundo ele quanto maior for a velocidade de nado mais elevada em relação à água deverá ser a Posição Corporal, tendo a ação dos Membros Inferiores uma especial importância na manutenção de um correto Alinhamento Horizontal.
Para realizar as técnicas de crawl e de costas de forma eficiente é essencial efetuar uma correta Rotação sobre o Eixo Longitudinal (Whitten, 1994). Colwin (1992) afirma, que a Rotação sobre o Eixo Longitudinal do tronco e Membros Inferiores é uma causa natural da utilização alternada dos Membros Superiores.
Assim, o corpo do nadador deverá acompanhar o movimento dos Membros Superiores, efetuando a rotação dos ombros, tronco e Membros Inferiores como um todo, senão a bacia e os Membros Inferiores oscilarão lateralmente (Maglischo, 1993).
Várias são as vantagens da correta realização da Rotação sobre o Eixo Longitudinal segundo Costill et al (1992); Maglischo (1993); Whitten (1994); Richards (1996); Alves )1997); Colwin (1998); Cappaert (1999); Castro et al. (2003):
Permite manter o Alinhamento Lateral;
Permite aplicar mais força durante a ação dos Membros Superiores e, em simultâneo, manter o corpo na posição hidro dinâmica;
Permite aumentar significativamente a distância por ciclo de Membros Superiores (ciclo de braçada), pois permite realizar trajetos subaquáticos melhor orientados, criando resultantes propulsivas com direção e sentido muito próximos do eixo longitudinal de deslocamento;
Facilita a ação equilibradora dos Membros Inferiores (pernada), permitindo a ação diagonal destes;
Facilita a recuperação dos Membros Superiores;
Facilita a realização da inspiração, em crawl, sem ser necessário efetuar uma rotação exagerada da cabeça;
Permite reduzir o arrasto hidrodinâmico, através da diminuição da área de secção frontal oposta ao deslocamento.
Em relação à Rotação sobre o Eixo Longitudinal encontramos na literatura alguns valores de referência para a sua execução, nomeadamente entre 30 a 40º (Maglischo, 1993) e aproximadamente 45º (Costill et al, 1992; Whitten, 1994; Richards, 1996).
Outra teoria refere que os nadadores deverão rodar o tronco mais que os aconselhados 45º, verificando que os melhores nadadores efetuam essa rotação até aos 60/70º (Whitten, 1994; CASTRO et al., 2003). Segundo Bailey, (1999), através da rotação do tronco, à semelhança do lançamento da bola no basebol, poderá ser transferida energia do movimento rotacional do tronco e da bacia para os Membros Superiores, implicando um aumento da força propulsiva gerada pelos Membros Superiores (braçada). Conseguindo aproximar mais as ações motoras ao eixo longitudinal de deslocamento e, como tal, se consegue aumentar a distância de nado por ciclo de Membros Superiores.
Outro fator importante para a técnica dos Nados Crawl e Costas refere-se ao comprimento total do corpo, pois quanto maior for o comprimento total do corpo menor será o arrasto hidro dinâmico, assim deverá se privilegiar as posições alongadas na água, tanto no deslize como após partidas e viradas (VILAS-BOAS, 1997).
Corroborando com Vilas-Boas, Sanders (2001) sublinha este aspecto, referindo que os nadadores mais longilíneos têm vantagens hidro dinâmicas, o que lhes permite reduzir o arrasto e aumentar a propulsão; juntamente com as características antropométricas, o nível de flexibilidade dos nadadores também poderá afetar a capacidade do nadador em adotar a posição mais hidro dinâmica, nadadores mais flexíveis conseguem, ao colocar o corpo numa posição mais alongada, minimizar o arrasto devido à diminuição da turbulência gerada perto dos pontos de pressão como ombros, quadril, joelhos e tornozelos (CHATARD et al.1990).
Conclusão
Concluímos que o aumento do arrasto hidrodinâmico é um dos fatores que mais pode prejudicar o desempenho do nadador. Sendo assim, para uma técnica de nado adequada deve-se procurar manter o corpo mais horizontal possível apresentado assim uma pequena superfície de contato com a água para ocasionar a diminuição do arrasto hidrodinâmico, pois qualquer elevação da cabeça em relação às pernas modificará a posição corporal fazendo com que as pernas afundem ocasionando maior arrasto dinâmico, porém fica claro que quanto mais rápido for o nado (ou a prova) maior será a tendência de elevação da cabeça em relação aos membros inferiores. Outro ponto importante é o alinhamento lateral, sendo possível compensar a tendência lateralizante provocada pelos Membros inferiores acompanhando a rotação do eixo longitudinal com o tronco e os membros superiores, porém a cabeça de manter-se sempre fixa.
Referencias bibliográficas
ALVES, F. Técnica de crow - Análise descritiva. In: R. Fernandes, J.V. Santos Silva e J.P. Vilas-Boas (eds.), Natação: vivências específicas e conhecimentos teóricos básicos. Colectânea de textos, Porto: AE-FCDEF-UP. pp. 453-499, 1997
ARELLANO, R.; LÓPEZ-CONTRERAS, G.; SÁNCHEZ-MOLINA J.-A. Qualitative evaluation of technique in international Spanish junior and pre-junior swimmers: an analysis of error frequencies. In: J.-C. Chatard (edt.), Biomechanics and Medicine in Swimming IX, pp. 87-92. Université de Saint-Étienne. Ste Etienne, 2003.
BAILEY, M. A Platform for Fast Swimming. Swimming Technique, v. 36, n. 2, p. 26-29, 1999.
CAPPAERT, J. Biomechanics of Swimming Analysed by Three-Dimensional, 1999.
CASTRO, F. et al. Body roll angles in front crawl swimming at different velocities. In: J.-C. Chatard (edt.), Biomechanics and Medicine in Swimming IX, pp. 111-114. Université de Saint-Étienne. Ste Etienne, 2003.
CHATARD, J. C.; BOURGOIN, B.; LACOUR, J. R. Passive drag is still a good evaluator of swimming aptitude. European Journal of Applied Physiology, v. 59, p. 399-404, 1990.
CHOLLET, D. Approche scientifique de la natation sportive. Éditions Vigot, Paris, 1990.
CLARYS, J.P et al. Muscular specificity and intensity in swimming against a mechanical resistance-surface EMG in MAD and free swimming. In: Swimming Science V: International Series on Sport Sciences. B.E. Ungerechts, K. Wilke, and K. Reischle, eds. Champaign, IL: Human Kinetics, 1988. pp. 191–199.
COLWIN, C. M. Swimming into the 21st Century. Leisure Press. Champaign, 1992.
COLWIN, C. M. The Crawl Stroke. Swimming Technique, v.35, n.1, p. 10-13. 1998.
COLWIN, C. M. Swimming Dynamics. Winning Techniques and Strategies, 1999.
COSTILL, D.L.; MAGLISCHO, B.W. E RICHARDSON, A.B. Swimming. Blackwell Scientific Publications, London. 1992.
DEKERLE, J. et al. Stroking parameters in front crawl swimming and maximal steady state speed. Int J Sports Med, v.26, p.53-58, 2005.
FERNANDES, R. Avaliação qualitativa da técnica de nadadores pré-júniores. Revista Natação: 11, Caderno Técnico, 2001.
MAGLISCHO, E. W. Swimming even faster. Mayfield Publishing Company. Moutain View, California, 1993.
RICHARDS, R. J. Coaching Swimming. An Introductory Manual. Australian Swimming Inc., Dickson, 1996.
SANDERS, R. (2001). Start technique - Recent findings [On-line]: http://www.education.ed.ac.uk/swim/papers4/rs5.html.
SOARES, S. Estudo comparativo da incidência de erros nas técnicas de Crow e costas. Comunicações do XXIII Congresso Técnico-Científico da Associação Portuguesa de Técnicos de Natação. Vila Real, 2000.
VILAS-BOAS, J. P Concepção, planeamento e operacionalização de um macrociclo de treino em natação. Comunicações do XXI Congresso Técnico-Científico da Associação Portuguesa de Técnicos de Natação. Porto, 1998b.
WHITTEN, P. The complete book of swimming. Random House. New York, 1994.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 153 | Buenos Aires,
Febrero de 2011 |