efdeportes.com

Estudo do desempenho motor de crianças e suas 

ansiedades-estado frente às aulas de Educação Física

Estudio del rendimiento motor de niños y sus ansiedades-estado frente a las clases de Educación Física

 

*Mestrando pelo Programa de Pós-graduação UEM/UEL

**Doutor em Aprendizagem Motora pela Universidade do Porto

***Doutora em Educação Física

pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

(Brasil)

Marcus Vinicius Mizoguchi*

Vanildo Rodrigues Pereira**

Lenamar Fiorese Vieira***

mvmizoguchi@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Esta pesquisa é de caráter analítico correlacional entre os cálculos do nível de ansiedade-estado e o desempenho motor em alunos de terceira e quarta série com idade de 9 e 10 anos. O estudo tem como objetivo analisar a relação entre as duas variáveis em escolas públicas e particulares. Foi realizado o teste ABC do movimento para verificar o nível motor dos alunos e o teste de ansiedade-estado, CSAI-2C (Competitive State Anxiety Inventory 2 adaptado para crianças), que avalia o nível de ansiedade que o indivíduo se encontra momentos antes das atividades em aula. A coleta para avaliar o desempenho motor das crianças foi realizada individualmente em uma sala separada, diferente do questionário de ansiedade que foi aplicado momentos antes da aula de educação física. A análise dos dados foi estatística dissertativa, segundo parâmetros estatísticos definidos a partir do teste de normalidade Shapiro-WIlk. Os resultados indicaram que não houve correlação entre o desempenho motor e a ansiedade-estado. Entre as escolas, as instituições particulares tiveram um melhor desempenho motor e uma ansiedade cognitiva abaixo das públicas. Evidenciou-se no sexo masculino um nível de ansiedade menor e melhores habilidades com bola e no feminino uma predominância nas habilidades de equilíbrio. Desta forma, concluiu-se que as aulas de educação física não interferem na ansiedade ao ponto de piorar o desempenho motor dos alunos. Nas escolas particulares possui um maior estimulo motor e uma existência predominante de habilidade com bola no sexo masculino e de equilíbrio por parte das meninas. No momento das aulas de educação física o sexo feminino é mais ansioso que o sexo masculino.

          Unitermos: Ansiedade. Desempenho motor. Educação Física.

 

Artigo apresentado em forma de pôster no VI Congresso Nacional de Ciência del Deporte y Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

1.     Introdução

    Muito estudiosos já tentaram separar o desenvolvimento motor em fases, cada um com uma estratégia diferente, como explicam Gallahue e Ozmun (2003) ao citar Freud em seu estudo desenvolvimentista psicossexual, Erickson no estudo psicossocial, Gesell que classificou o desenvolvimento do sistema nervoso central e, Piaget, pelo processo de interação com o meio externo.

    Segundo Flinchum (1981) a fase em que ocorrem maiores mudanças é a fase da primeira infância, onde o crescimento e o desenvolvimento da coordenação é mais acelerado. Entretanto, na fase final da infância, entre a idade de 6 até os 10 anos, existe um progresso na organização dos sistemas sensorial e motor (GALLAHUE; OZMUN, 2003). A diferença entre os padrões dos alunos do sexo masculino e o feminino seria insignificante nesta idade, possibilitando que as aulas que envolvem contatos físicos possam ser efetivadas em sistema misto. Apesar das mudanças não serem tão significativas como no estágio da primeira infância, as habilidades são melhoradas de acordo a integração, a estrutura motora e a fisiológica.

    Assim, dependendo do estímulo que a criança recebe, poderá variar de estrutura motora e, além disso, verificar-se a interrupção de alguns alunos devido a ansiedade estruturada (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

    Essa ansiedade está presente quando algum indivíduo está prestes a efetuar alguma ação, cujo resultado desconhece, podendo ser positiva e boa para ele, ou até provocar um trauma. Isso ocorre muito em atividades que envolvem competições, podendo ser em jogos, brincadeiras e até mesmo nas aulas de educação física, onde a competição costuma ser freqüente entre os alunos. Por isso, a ansiedade pode intervir no desempenho motor do sujeito, podendo haver uma relação entre as duas variáveis.

    A ansiedade, segundo Ruiz (1977), é um estado de tensão quando o indivíduo presencia algum perigo para o seu corpo. Ela acontece em momentos específicos em que o sentimento de tensão e apreensão é momentâneo ou em diversas circunstancias (TOMÉ; VALENTINI, 2006). Este tema tem sido muito utilizado para pesquisar atletas de alto rendimento, pois a ansiedade até certo ponto, é considerada boa para o desempenho (HANIN apud SAMULSKI, 2002), porém tanto o baixo nível de ansiedade como o alto nível pode ocasionar problemas no desempenho. A ansiedade que foi objeto deste estudo é a ansiedade-estado, definida por Cratty (1986), como reações de indivíduos em tempos determinados e situações tensas. Já a ansiedade-traço, é citada por Rose Junior et al (1997) como definidora de características mais estáveis do indivíduo.

    Segundo Magill (1984), o nível de ansiedade no momento da realização de uma ação e o tipo de tarefa que o indivíduo estará efetuando são aspectos importantes para relacionar a ansiedade e o desempenho motor. Para isso, Spielberger (1966), mostra a divisão entre ansiedade-traço e a ansiedade-estado, onde a primeira representa a predisposição do sujeito em sentir ou não o perigo em uma ação. Já a ansiedade-estado, está interligada aos sentimentos e a como esta pessoa reage em tais ações.

    Neste caso, a ansiedade-estado representa um fator muito importante, pois existem duas variantes que seria a importância da situação para o sujeito e a incerteza do resultado, que revelará se o nível de ansiedade-estado estará alto ou não. Pode-se citar um exemplo de uma aula de educação física, onde o professor aplica uma atividade entre os alunos com o objetivo de chegar primeiro em um determinado lugar. As pessoas que sabem que são mais lentas que os outros, podem ficar receosas e ainda ansiosas, mas se esta atividade for avaliada e todos os pais estão assistindo, o rendimento da parte motora decresce. Às vezes as dificuldades que a criança tem de completar certas atividades, não estão relacionadas com a própria atividade em si, mas devido à parte de ansiedade do sujeito que decresce o seu desempenho.

    Para desenvolver o estudo, foi necessário que se buscasse respostas à seguinte questão-problema: existe relação entre a ansiedade-estado frente as aulas de educação física e o desempenho motor de crianças de 9-10 anos das redes pública e particular de ensino?

    Para dar resposta a esta e outras questões pertinentes, foram formulados os seguintes objetivos de estudo:

    Objetivo geral: analisar o desempenho motor e a ansiedade-estado de crianças de 9 e 10 anos face às aulas de educação física, em escolas públicas e particulares de diferentes localidade da cidade de Maringá.

    Sendo que, os objetivos específicos foram: identificar o desempenho motor de alunos na idade de 9 e 10 anos de escolas públicas e privadas; identificar o nível de ansiedade-estado desses alunos nas aulas de educação física; estabelecer comparações dos resultados entre alunos quanto ao gênero masculino e feminino e entre as escolas públicas e particulares pesquisadas; correlacionar o desempenho motor e a ansiedade-estado nas aulas de educação física.

2.     Metodologia

    O desenvolvimento da pesquisa foi do tipo descritivo - correlacional, que de acordo com Thomas, Nelson e Silverman (2008), investiga variáveis de uma dada situação da realidade, sem causar qualquer interferência.

    Para a escolha das escolas, foi feito um mapeamento de todas as escolas públicas e privadas da cidade de Maringá, dividindo-as em 4 áreas de acordo com suas proximidades. Logo em seguida, foram selecionadas as escolas que possuíam crianças que estudavam na terceira e quarta série do ensino fundamental da grade antiga, quer dizer, oito anos de ensino fundamental. Duas escolas estaduais e duas particulares de uma determinada área aceitaram participar desse estudo, providenciando os locais necessários e tempo para a realização com os alunos.

    Foram selecionadas 204 crianças com idade de 9 e 10 anos matriculados na 3ª e 4ª série do ensino fundamental de escolas particulares e públicas de Maringá – Paraná, sendo 135 alunos de instituições da rede pública e 75 da rede particular. A escolha das escolas do ensino fundamental foi aleatória dentro da área selecionada, assim como a seleção dos alunos, com a devida autorização do Núcleo Regional de Maringá e da Secretaria Municipal de Educação e autorização das escolas particulares. Todas as crianças selecionadas tiveram que apresentar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos responsáveis.

Tabela 1. Caracterização da amostra por gênero e escola

    Para fazer uma relação entre aspectos motores e aspectos psicológicos, foi necessário efetuar testes distintos e encontrar fidedignidade para que os resultados não se configurem distorcidos da realidade. Para isso foi escolhido o teste ABC do movimento, de Henderson e Sugden (1992) e o CSAI (Competitive State Anxiety Inventory) adaptado para crianças (CSAI-2C) por Polman, Rowcliffe, Borkoles e Levy (2007).

    O teste ABC do movimento é composto por várias baterias de testes, entre eles três de habilidades manuais, duas de habilidades com bola e três de equilíbrio, sendo dinâmico e estático, variando de acordo com as idades. É também dividido por idades, sendo utilizado neste estudo a terceira bateria feita para crianças de 9 e 10 anos. A pontuação varia entre 0 e 5 pontos para cada tarefa, podendo variar entre 0 e 40 na pontuação total, sendo que quanto menor a pontuação, melhor o desempenho motor do individuo.

    Quanto ao Teste CSAI-2C, ou seja, de ansiedade-estado, de Polman, Rowcliffe, Borkoles e Levy (2007) traduzido para língua portuguesa pelo método back-translation com o intuito de descobrir os estados cognitivos e somáticos da ansiedade e a autoconfiança dos alunos antes das atividades propostas na aula de educação física.

    O questionário é composto por 15 questões, sendo 5 avaliando aspectos cognitivos, 5 avaliando aspectos somáticos e por fim 5 relacionados a autoconfiança. Cada questão possui uma pontuação de 1 (absolutamente não) a 4 (muitíssimo). A pontuação total de cada aspecto pode variar entre 5 e 20, sendo que nos aspectos cognitivos e somáticos a menor pontuação mostra uma ansiedade mais baixa e na autoconfiança a pontuação mais elevada, mostra que o sujeito é menos ansioso.

    A aplicação e análise dos resultados do teste CSAI-2C foi acompanhada por dois profissionais psicólogos com mestrado em educação física e membros do Grupo Pró-esporte do departamento de Educação Física da UEM.

    Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética (parecer nº 443/2009), foi solicitado aos Pais das crianças a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a participação das mesmas no teste.

    O Termo de Consentimento foi entregue aos alunos, para que os responsáveis possam assinar o documento autorizando seu filho a participar da pesquisa. Após o retorno do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais ou responsáveis, a avaliação do teste ABC do Movimento e o questionário CSAI-2C foram aplicados.

    Todos os testes foram realizados uma vez com todas as crianças. Estiveram presentes dois acadêmicos de educação física, que auxiliaram na aplicação, e os mencionados psicólogos para o teste de ansiedade em cada criança.

    Os dados foram organizados no programa Excel® for Windows. O tratamento estatístico foi realizado através do Programa SPSS 13. Foram utilizados os recursos da estatística descritiva (frequência e percentual). A distribuição de normalidade dos dados foi verificada através do teste de Shapiro-Wilk, recomendado para amostras com número superior a 50 indivíduos. A verificação de diferenças entre as médias foi feita através dos Testes U de Mann-Whitney para grupos independentes e de Kruskall-Wallis para comparação de mais de 2 grupos independentes. A correlação entre as variáveis foi analisada através do teste de correlação de Spearman.

3.     Resultados

Percepção da ansiedade quanto ao gênero

    Com relação ao questionário relacionado a ansiedade realizado antes da aula de educação física, esta é dividida em três tipos de ansiedades (cognitiva, somática e a autoconfiança), sendo a autoconfiança inversamente proporcional aos outros tipos de ansiedade, isto é, quanto maior o valor da ansiedade autoconfiança, menor será a ansiedade do sujeito, como pode-se observar no tabela 2.

Tabela 2. Valores médios da percepção da ansiedade quanto ao grupo

Mann-Whitney test

* Diferenças significativas (p<0,05)

    Identificou-se que a houve diferença significativa na ansiedade cognitiva e a autoconfiança entre meninos e meninas (p=0,005), mostrando que o sexo feminino apresenta-se mais ansioso nos momentos antes das aulas de educação física. A ansiedade somática entre os gêneros não apresentou qualquer diferença significativa, mostrando não haver uma mudança diferenciada entre meninos e meninas nos aspectos fisiológicos no momento da aula de educação física.

Desempenho motor entre gêneros

    Com relação ao teste de desempenho motor, ele foi dividido em habilidades, sendo as habilidades com bola, habilidades manuais e as habilidades de equilíbrio. Diferentemente do questionário de ansiedade, o teste pôde identificar o desempenho do sujeito como um todo. A tabela 3 mostra a diferença do desempenho motor de cada habilidade e a total entre meninos e meninas de todas as instituições.

Tabela 3. Valores médios do desempenho motor entre os alunos do gênero masculino e feminino

Mann-Whitney test

* Diferenças significativas (p<0,05)

    Houve diferença significativa nas habilidades com bola, mostrando que os meninos possuem um melhor desempenho neste tipo de habilidade que as meninas. Em contrapartida, o gênero feminino teve um desempenho melhor nas habilidades de equilíbrio e semelhante nas habilidades manuais, envolvendo as destrezas finas.

    Apesar destas diferenças, o desempenho total, tanto do gênero masculino como do feminino, apresentaram-se equiparados e classificados como desenvolvimento motor típico (teste), mostrando um desempenho motor adequado por todos os alunos de modo geral.

Percepção da ansiedade entre as escolas

    A ansiedade-estado foi utilizada para a comparação entre as escolas públicas e particulares. Na tabela 4, encontram-se os aspectos da ansiedade entre os dois tipos de instituições.

Tabela 4. Valores médios de percepção da ansiedade entre as escolas públicas e privadas nas aulas de educação física

Mann-Whitney test

* Diferenças significativas (p<0,05)

    Com relação entre as escolas, houve diferença significativa na ansiedade de autoconfiança, havendo uma maior confiança nos alunos de escolas particulares que as públicas (Tabela 4).

Desempenho motor entre escolas

    Na tabela 5, identifica o desempenho motor entre as escolas públicas e privadas, sendo separadas entre as habilidades.

Tabela 5. Valores médios do desempenho motor dos alunos de instituições privadas e públicas

Mann-Whitney test

* Diferenças significativas (p<0,05)

    Houve uma diferença entre desempenho motor das crianças de escolas particulares e públicas (Tabela 5). O desempenho total das instituições particulares se encontra em um estado de desenvolvimento motor típico, sendo superiores as outras instituições públicas que se encontra na zona de perigo, tendo um risco de transtorno do desenvolvimento da coordenação. Tanto as habilidades manuais como as com bola, pode-se perceber que os sujeitos das instituições privadas possuem um melhor desempenho motor.

    Não houve fortes correlações entre as habilidades motoras estudadas e o desempenho total dos indivíduos com os aspectos de ansiedade que o questionário proporcionou dos alunos.

    Observou-se que houve uma correlação baixa entre as variáveis, apresentando uma relação inversamente proporcional em todas as habilidades motoras ao comparar com os aspectos cognitivos, quer dizer, com o aumento da ansiedade haveria uma diminuição do desempenho.

    A correlação da ansiedade somática também mostrou relações inversas com exceção das habilidades de equilíbrio. Diferentemente da autoconfiança que com seu aumento, as habilidades motoras também se elevam com exceção das habilidades manuais.

4.     Discussão

    As diferenças significativas entre as variáveis dos aspectos da ansiedade e do desempenho motor nos indivíduos em estudo podem ser justificadas, pois diferente da idade de 7 anos em que as crianças não consideram diferentes o esforço e o resultado, pensando inclusive que são tarefas complexas e que os adultos são os únicos a executarem, as crianças entre 8 e 10 anos tendem a pensar no esforço como a causa do resultado, levando à competição precoce, e a raciocinar que seu desempenho e vitória significam competência e sucesso (NICHOLLS, 1984). Esta competitividade, segundo Weinberg e Gould (2001), pode levar a um alto escore de ansiedade, atrapalhando o desempenho do sujeito, diferente dos resultados encontrados no estudo (tabela 6) em que a correlação entre os dois fatores foram baixas, acreditando ser diferentes as exigências nas aulas de educação física e nas competições de rendimento.

    Pode-se evidenciar um maior nível de equilíbrio obtido por parte do sexo feminino dos grupos, e habilidades com bolas são mais presentes no sexo masculino (Tabela 3). Com relação ao equilíbrio, Cury e Magalhães (2006) encontraram variações no equilíbrio ao longo da infância até oito anos, sendo que de 7 a 10 anos a criança apresenta desempenho de equilíbrio equiparado ao adulto (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2001). Tendo como principal acompanhador deste processo, o professor, que avalia o desempenho motor das crianças em todas suas habilidades motoras em diversos momentos e que tem o papel fundamental da identificação desses transtornos de coordenação (BUZZO, 2009).

    Essas diferenciações, tanto entre os gêneros como nas instituições, podem estar ligados a distintos estímulos motores recebidos nas aulas de educação física, pois ambientes propícios para a aprendizagem e oportunidades adicionais para a prática a criança possibilita adquirir habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Alterações que ocorrem nas estruturas sociais, a modernidade, a urbanização, novas tecnologias e a economia da sociedade, segundo Spence e Lee (2003), levam influências na instituição familiar, afetando a infância dos jovens e conduzindo ao sedentarismo (BLAAK et al, 1992).

    Guedes e Guedes (1993), concluíram que os sujeitos do sexo masculino tiveram em quase todos os testes de desempenho motor uma diferença favorável nas habilidades motoras desde os 7 anos de idade, diferentemente dos resultados do presente estudo, sendo que das três habilidades motoras, somente as habilidades com bola foram superiores entre os meninos. Os fatores socioculturais, podem justificar esse favorecimento para os meninos que são mais encorajados a praticar atividades físicas, e vivenciar momentos que levam ao desconforto físico. Assim, ambientes educacionais que enfatizam nos interesses dos alunos, promovendo a aprendizagem no sucesso escolas e a motivação, promovem fatores positivos entre os sujeitos, estimulando as inter-relações e a organização escolas (VALENTINI, 1997).

    A ansiedade encontrada entre meninos e meninas, evidenciou uma ansiedade maior no sexo feminino (Tabela 2). Estes resultados podem ser encontrados em estudos como o de Silverman et al (1995), avaliando crianças entre 7 e 12 anos; Guida e Ludlow (1989), avaliando alunos de escola elementar e Inderbitzen e Hope (1995), utilizando adolescentes, mostraram que as meninas tinham uma ansiedade mais alta que os meninas em várias comparações. Rosa (1998), explica o fato devido a expectativa ética, envolvendo o comportamento feminino devido à nossa cultura que dá mais liberdade ao sexo masculino que o feminino. Outros fatores que podem explicar esse resultado psicológico entre os gêneros é o fato das mulheres possuírem mais ansiedade nas preocupações relacionadas à saúde, segurança social e escola (SILVERMAN et al, 1995).

    A ansiedade pode ter variações dependendo de fatores genéticos nas mulheres, possuindo um nível maior de ansiedade. A personalidade definida como responsável pela segurança, cuidado e proteção ao invés de competição entre sujeitos, propiciam o aumento da tensão (SILOVE et al, 1995). Um estudo feito por Rosa (1998), revelou resultados similares, considerando que pessoas do sexo feminino são mais ansiosas, comparadas com os meninos.

    Para que a ansiedade seja trabalhada adequadamente, o individuo deve passar por experiências e a familiarização em atividades nas quais ocorrem estresse, para que haja um desencadeamento e uma severidade na ansiedade entre outros fatores (FREITAS, 1999), podendo lidar melhor com a situação e não haver um decréscimo no desempenho motor no momento da atividade. Entretanto, deve-se adotar um trabalho cauteloso sobre esses exercícios, pois uma das fontes importantes deste fator psicológico é o medo excessivo e a avaliação social, que pode vir de experiências de sucesso e insucesso no passado, podendo desenvolver relações problemáticas com outros sujeitos (GOMES, 2005). Este trabalho diferenciado pode ter sido relevante na diferenciação da ansiedade-estado entre as escolas (Tabela 4), mostrando que as privadas possuem um trabalho mais sistematizado para atender seus alunos.

    Mesmo não avaliando o nível socioeconômico (NSE) entre as instituições particulares e privadas, houve uma relação com vários estudos, como de Rosa (1998) e Guida e Ludlow (1989), identificando que o NSE dos sujeitos foram fatores relevantes com a ansiedade, mostrando que quanto maior o NSE, menos ansiosos os indivíduos eram e vice-versa, pois uma pequena ponderação é a de os sujeitos possuem dupla jornada de trabalho e estudo, não havendo tempo de descanso e realizações escolares.

    Essas divergências no desempenho motor e ansiedade-estado antes das aulas de educação física entre gêneros e principalmente entre instituições, podem ser amenizadas com uma maior intervenção do profissional, não só de educação física, mas de outras disciplinas. Almeira Junior (2000) procurou analisar as situações da educação física no ensino fundamental, tendo como resultado indicações que as intervenções dos profissionais nas aulas são escassos, fazendo a entrega da bola, informando sobre o tempo restante das aulas ou separando algumas discussões dos alunos (DARIDO, 2001).

    Com relação às diferenças significativas entre as instituições (tabelas 4 e 5), pode-se entender que haja uma divergência no planejamento curricular entre as escolas, onde segundo Oliveira (2004), não existem conteúdos sistematizados na área da educação física, diferente das outras matérias. Desta maneira, um trabalho diferenciado na fase de transição (GALLAHUE; OZMUN, 1995), pode interferir na aprendizagem dos alunos, sendo alguns mais estimulados, outros menos, a efetuarem atividades motoras.

    Um estudo realizado por Picinin (2007), identifica que a motivação dos alunos irá depender dos conteúdos oferecidos pela escola, a metodologia do professor, a relação entre alunos-alunos e alunos-professor, além de motivos pessoais e gosto pela prática das atividades propostas em aula, tanto nas escolas públicas como nas escolas particulares. Este mesmo estudo aponta que os materiais proporcionados nas aulas de educação física em ambas instituições foram suficientes e adequadas para a realização das práticas. Piletti (1984), afirma que a utilização e a manipulação de objetos nas aulas auxilia na vivência de situações reais e concretas, principalmente nos primeiros anos do ensino fundamental. Outro fator em estudo foi a freqüência e participação dos alunos nas aulas de educação física, observando que existe uma freqüência maior dos alunos de escolas particulares nas aulas, podendo levar a maiores estímulos motores, favorecendo o desenvolvimento do sujeito, conseqüentemente tendo um desempenho melhor quando comparadas com instituições públicas. Com o aumento das atividades, os indivíduos recebem maiores estímulos e estresse nos fatores psicológicos, promovendo nas futuras atividades uma menor ansiedade devido ao fato da criança já ter passado por determinadas situações (WEINBERG; GOULD, 2001).

    Estes fatores podem justificar o maior anseio dos sujeitos das instituições públicas, relacionadas com as privadas (Tabela 4) e o próprio desempenho motor, onde as privadas mostraram um melhor desempenho significativo (Tabela 5).

5.     Considerações finais

    Os resultados do estudo tornam possíveis algumas considerações relacionadas ao desempenho motor e à ansiedade de crianças frente às aulas de educação física.

    Analisando a relação do desempenho motor e a ansiedade-estado face às aulas de educação física, não foi encontrada nenhuma correlação entre as duas variáveis. Apesar da literatura mostrar problemas em atletas com seu rendimento devido à ansiedade pré-competição, não foi encontrado esta relação nos alunos diante das aulas de educação física, podendo concluir que, diferente das competições, as aulas nas escolas não exigiram alto grau de ansiedade a ponto de interferir no desempenho motor desses indivíduos.

    Em relação ao desempenho motor entre as instituições públicas e privadas, verificou-se superioridade dos sujeitos das escolas privadas, podendo identificar uma diferença significativa comparada com as escolas públicas, principalmente nas habilidades manuais e nas habilidades com bola. Esta diferença pode ser explicada devido ao conteúdo em que cada instituição trabalha, não existindo conteúdos sistematizados na área de educação física, o que pode interferir na aprendizagem motora. Outro fator seria a freqüência dos alunos, pois quanto maior for a presença dos alunos nas aulas de educação física, mais eles serão estimulados motoramente, acarretando um favorecimento no desenvolvimento motor do sujeito.

    Quanto aos níveis de ansiedade-estado, não se verificou diferenças significativas nos aspectos somáticos e de cognitivos, apenas ansiedade autoconfiança, sendo superiores nas escolas públicas comparadas com as particulares. Esta diferença poderia acarretar pensamentos negativos dos alunos frente às aulas, levando em consideração como os outros veriam seu desempenho, tendo o pensamento de derrota e subestimar sua capacidade de realização de tarefas.

    Considerando o desempenho motor entre os gêneros, identificou-se certa superioridade do sexo masculino nas habilidades com bola e maior habilidade de equilíbrio por parte do sexo feminino. Fatores socioculturais podem constituir a justificativa deste fato, devido ao encorajamento dos adultos aos meninos para atividades físicas como o futebol.

    Aspectos psicológicos também tiveram diferenciações entre os gêneros. As meninas apresentaram mais ansiedade nos aspectos cognitivos e de autoconfiança. Esta variação pode ser explicada derivada das condições genéticas, psicológicas de traço e fatores socioculturais, que interferem nas tarefas a realizar.

    Assim, pode-se sugerir novos estudos, nos quais se possa analisar os conteúdos trabalhados entre instituições, juntamente com a ansiedade antes e depois da aula, bem como a freqüência dos alunos. Desta maneira, encontrar possivelmente outros fatores que influenciam a ansiedade e o desempenho das crianças nas aulas de educação física.

Referências

  • BLAAK, E; WESTERTERP, K; BAR-OR, O; WOUTERS, L; SARIS,W. Total energy expenditure and spontaneous activity in relation to training in obese boys. American Journal of Clinical Nutrition. Vol. 55, p. 777-782, 1992.

  • BUZZO, V. O Desempenho Motor e a Percepção de Competência de Escolares com Idade entre 7 e 10 anos. Dissertação de Mestrado – Programa de pós-graduação UEM/UEL. Universidade Estadual de Maringá, 2009.

  • CRATTY, B. Motor performance in childhhod - 5 to 12 years. In: Perceptual and motor development in infants and children. 3.ed. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1986.

  • CURY, R; MAGALHÃES, L. Criação de protocolo de avaliação de equilíbrio corporal em crianças de quatro, seis e oito anos de idade: uma perspectiva funcional. Revista Brasileira Fisioter. Vol. 10 n. 3. 2006.

  • DARIDO, S. Educação Física de 1ª. A 4ª. Série: Quadro atual e as implicações para a formação profissional em educação física. Revista Paulista de Educação Física, supl. 4, p. 61-72, 2001.

  • FLINCHUM, B. Desenvolvimento Motor da Criança. Rio de Janeiro: Ed. Interamericana, 1981.

  • GALLAHUE, D; OZMUN, J. Understanding Motor Development: Infants, Children, Adolescents, Adults. Dubuque: Brown e Benchmark, 1995.

  • GALLAHUE, D; OZMUN, J. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças, Adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2003.

  • GUEDES, D; GUEDES, J. Crescimento e Desempenho Motor em Escolares do Município de Londrina, Paraná, Brasil. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (supl. 1): 58-70, 1993.

  • GUIDA, F.; LUDLOW, L. A cross-cultural study of test anxiety. Journal of Cross-Cultural Psychology, 20, 178-190. 1989.

  • INDERBITZEN, H.; HOPE, D. Relationship among adolescent reports of social anxiety, anxiety, and depressive symptoms. Journal of Anxiety Disorders, 9, 385-396. 1995.

  • MAGILL, R. Aprendizagem Motora : Conceitos e Aplicações. São Paulo: Editora Edgard Blücher LTDA, 1984.

  • NICHOLLS, J. Conceptions of ability and achievement motivation, In: AMES, R; AMES, C. Research on Motivation in Education. New York: Academic, 1984.

  • OLIVEIRA, A. Planejamento a Educação Física Escolar. In: VIEIRA, J (org). Educação Física e Esportes: estudos e Proposições. Maringá, Eduem, 2004.

  • PILETTI, N. Psicologia Educacional. 2, ed. São Paulo, Ática, 1984.

  • POLMAN, R; ROWCLIFFE, N; BORKOLES, E; LEVY, A. Precompetitive State Anxiety, Objective and Subjective Performance, and Causal Attribution in Competitive Swimmers. Pediatric Exercise Science, Human Kinetic, 2007.

  • ROSA, J. Ansiedade, Sexo, Nível Sócio-econômico e Ordem de Nascimento Psicol. Reflex. Crit. vol.11 n.1 Porto Alegre, 1998.

  • ROSE JUNIOR, D; VASCONCELLOS, E. Ansiedade-Traço Competitiva E Atletismo: Um Estudo Com Atletas Infanto-Juvenis. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 11(2):148-54. 1997.

  • RUIZ, E. A vida dominada pela ansiedade. Família Cristã. São Paulo, v.43, n.498, p.16-19, Jun. 1977.

  • SHUMWAY-COOK A, WOOLLACOTT MH. Postural control In: Motor Control: Theory and Practical Applications. 2. ed., Baltimore: Williams e Wilkins; 2001. P. 163-191.

  • SILOVE, D.; MANICAVASAGAR, V.; O’CONNELL, D.; MORRIS-YATES, A. Genetic factors in early separation anxiety: Implications for the genesis of adult anxiety disorders. Acta Psychiatrica Scandinavica. 92, 17-24. 1995.

  • SPENCE, J; LEE,R. Toward a comprehensive model of physical activity. Psychology of Sport and Exercise. Vol 4, p. 7-24, 2003.

  • SPIELBERGER, C. Theory and Research on Anxiety. In: SPIELBERGER, C. Anxiety and behavior (p.3-22). New York: Academic Press, 1966.

  • TOMÉ,T. & VALENTINI, N. Benefícios da Atividade Física Sistemática em Parâmetros Psicológicos do Praticante: Um estudo sobre Ansiedade e Agressividade. R. da Educação Física/UEM. v. 17, n. 2, p. 123-130, 2. sem. 2006.

  • VALENTINI, N. The influence of two motor skill interventions on the motor skill performance, perceived physical competence, and intrinsic motivation of kindergarten children. (Unpublished Master’s Thesis) - Auburn University, Auburn, 1997.

  • WEINBERG, R; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício 2º edição- Porto Alegre: Artmed, 2001.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 153 | Buenos Aires, Febrero de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados