Parâmetros Curriculares Nacionais: a relação teoria e prática na atividade docente em Educação Física Escolar Parámetros Curriculares Nacionales: la relación entre teoría y práctica en la actividad docente en Educación Física Escolar |
|||
* Licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas Campograndenses (FEUC/RJ) Pós-graduada em Língua Portuguesa pelas FEUC/RJ Discente da graduação em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ) Professora de Língua Portuguesa na rede Municipal de Japeri ** Discentes da graduação em Ed. Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ): *** (orientador) Mestre em Ciências da Motricidade Humana Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Castelo Branco (Brasil) |
Débora Accioly* Rejane Almeida** Amanda Feital** André Souza** José Mauro de Sá Oliveira*** |
|
|
Resumo Neste artigo, trata-se da temática dos Temas Transversais, propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, em relação à prática pedagógica de professores de Educação Física. O objetivo desse trabalho é verificar se os profissionais dessa área possuem conhecimento sobre esse assunto e se tal conhecimento é suficiente para que eles relacionem teoria e prática durante as aulas na escola. Para o desenvolvimento dessa pesquisa, selecionou-se como público alvo, um grupo de 16 professores de Educação Física (Ensino Fundamental) do RJ e seus respectivos alunos. Aos professores foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas, aos alunos questionários. Unitermos: Educação Física. Temas Transversais. Escola.
Abstract In this article it is the theme of Transversal themes, proposed by the National Curriculum in relation to practice teaching of physical education teachers. The aim of this study is to verify that these professionals have knowledge about this subject and if that knowledge is enough for them to relate theory and practice during classes at school. For the development of this research was selected as target audience, a group of 16 teachers of Physical Education (Elementary School) of RJ and their students. Teachers were applied semi-structured questionnaires to students. Keywords: Physical Education. School. Transversal Themes.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Já há algum tempo, no âmbito da educação, de modo geral, tem-se discutido muito a questão dos Temas Transversais (TTs) e da importância de fazer com que eles representem muito mais que um conjunto de orientações, isto é, que possam de fato fazer parte da prática pedagógica de todos os professores, independente da disciplina lecionada. No contexto da Educação Física, não é diferente, porém, observa-se que muitos professores ainda sentem certa dificuldade em transpor a teoria para prática durante suas aulas.
Batista (2001, p.16) afirma que "alguns professores de Educação Física sentem necessidade do conhecimento teórico, o qual é fundamental, para assim se fazer uma adaptação das ideias para a parte prática". Sabe-se que a prática não pode andar separada da teoria e vice-versa e, portanto, o referencial teórico ajuda e muito o professor a desenvolver suas aulas.
Ruy e Ramos (2007) realizaram uma pesquisa cujo objetivo principal era justamente esse, verificar essa relação teoria e prática no que concerne a prática pedagógica dos professores de Educação Física e os Temas Transversais, nessa ocasião, os dados obtidos pela pesquisa corroboraram que de fato os professores dessa área ainda se demonstram inseguros com relação à aplicação dos TTs.
Passados três anos, emerge nos autores desta pesquisa, uma inquietação em verificar se tal contexto sofreu alterações, afinal, nos últimos anos, desde a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) em 1998, tem-se enfatizado com freqüência a importância de o professor buscar romper com a visão tradicionalista, para a qual o aluno é um mero repetidor de movimentos e aula de educação física é um mecanismo seletivo de alunos com mais habilidades motoras, ficando os demais muitas vezes a margem do processo educativo.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais configuram-se em um conjunto de orientações cuja preocupação fundamental é formação para a cidadania com destaque para o papel social do professor. Ou seja, o foco não está mais em um ensino puramente mecânico e esvaziado de significado; o professor não é mais o único detentor do conhecimento e o aluno aquele que memoriza as informações. O processo educativo torna-se, nessa visão, algo dinâmico e transversal.
Darido (et al, 2001), ressalta a relevância da articulação entre o aprender a fazer, a saber por que está fazendo e como relacionar-se neste fazer. O professor, então, passa a ser um orientador da aprendizagem; o aluno um produtor de conhecimento; o conteúdo, conhecimentos contextualizados com a realidade dos alunos, incluindo segundo a proposta dos PCNs:
(...) as preocupações contemporâneas com o meio ambiente, com a saúde, com a sexualidade e com as questões éticas relativas à igualdade de direitos, à dignidade do ser humano e à solidariedade (BRASIL, 1997, p. 4).
Pela ciência e convicção da coerência dessa concepção de educação, essa pesquisa pretende verificar a ocorrência de alterações na prática pedagógica e na concepção dos professores de Educação Física do Ensino Fundamental, assim como, a visão dos alunos com relação aos conteúdos trabalhados pelos professores dessa disciplina.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Temas Transversais
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, ou PCNs, constituem-se em um conjunto de referências que têm como objetivo nortear a organização de conteúdos curriculares em âmbito nacional e orientar o professor na responsabilidade no processo de formação do brasileiro. Os PCNs são inspirados no modelo espanhol de currículo nacional do início da década de 90.
No Brasil, esses referenciais foram organizados durante o Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que submeteu o modelo espanhol elaborado por César Coll e outros especialistas, a uma comissão eleita pelo próprio governo para esse fim, assim, em 1997, foram publicados os documentos referentes aos 1º e 2º ciclos; no ano seguinte, os referentes aos 3º e 4º ciclos, incluindo a Educação Física.
Com relação aos Temas Transversais, propostos pelos PCNs, tem-se uma sugestão de temas que podem ser abordados por todos os professores de maneira contextualizada com os conteúdos de ensino independente da disciplina. A proposta defende a inserção de temas de relevância social, sem, no entanto, constituir-se como novas disciplinas. De acordo com os PCNs:
Não constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas que aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto é, permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a escolaridade obrigatória. A transversalidade pressupõe um tratamento integrado das áreas e um compromisso das relações interpessoais e sociais escolares com as questões que estão envolvidas nos temas, afim de que haja uma coerência entre os valores experimentados na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores (BRASIL, 1997, p.64).
Nesse sentido, os TTs são, ou ao menos deveriam ser um elo entre o contexto de vida real dos alunos e os conteúdos escolares, uma vez que enfatizam assuntos de relevância social que podem e devem ser trabalhados por todas as disciplinas. Desta forma, os TTs encontram-se organizados em seis áreas, da seguinte maneira:
Ética (respeito mútuo, justiça, diálogo, solidariedade);
Orientação Sexual (corpo: matriz da sexualidade, relações de gênero, prevenções das doenças sexualmente transmissíveis);
Meio Ambiente (os ciclos da natureza, sociedade e meio ambiente, manejo e conservação ambiental);
Saúde (autocuidado, vida coletiva);
Pluralidade Cultural (pluralidade cultural e a vida das crianças no Brasil, constituição da pluralidade cultural no Brasil, o ser humano como agente social e produtor de cultura, pluralidade cultural e cidadania);
Trabalho e Consumo (relações de trabalho; trabalho, consumo, meio ambiente e saúde; consumo, meios de comunicação de massas, publicidade e vendas; direitos humanos, cidadania);
Dentre os seis TTs, a Ética é o eixo norteador, pois é elemento fundamental na manutenção da vida em sociedade, afinal sem respeito mútuo, justiça, diálogo e solidariedade, não é possível manter a harmonia social. A respeito desse Tema CORDIOLLI acrescenta:
A ética na educação escolar está sempre intimamente associada à formação de valores e padrões de conduta, presentes nas preocupações dos professores (...). A ética diz respeito às reflexões sobre as condutas humanas em geral (1999, p. 10).
Cabe ao professor de Educação Física, portanto, criar contextos em que os valores ligados ao princípio da dignidade humana e da construção da autonomia moral estejam sempre presentes em suas aulas e que possam também transcender os limites da escolar agregando significado à vida de cada aluno.
Com a iniciação cada vez mais precoce da vida sexual, o elevado índice de gravidez na adolescência e o aumento de pessoas contaminadas por doenças sexualmente transmissíveis, tratar da Orientação Sexual é certamente uma medida sócio-educativa válida e fundamental. Cabe ressaltar, porém, que esse Tema tem uma abordagem muito mais ampla, englobando assuntos como: os papéis sociais, os estereótipos e os preconceitos que envolvem a diferença entre gêneros.
Com relação ao tema Meio Ambiente, muito se tem falado da crise ecológica mundial, por isso, é de total bom senso que a escola conscientize as crianças desde bem pequenas, sobre a importância da preservação da natureza na manutenção vital dos seres vivos, aumentando as chances de formar cidadãos responsáveis e conscientes. Segundo CORDIOLLI, falar de Meio Ambiente pressupõe reconhecer:
O ser humano como parte do meio ambiente um dos outros, e as relações que estabelecemos entre nós — relações sociais, econômicas, culturais — fazem parte do nosso meio e, portanto, são objetos da área ambiental (p. 23).
Quanto à Saúde, sem dúvida, incidem sobre esse tema, melhoras com relação à higiene pessoal e principalmente à higiene coletiva. Almeja-se com esse Tema possibilitar melhorias na qualidade de vida através do acesso às informações e às experiências fundamentadas em aspectos profiláticos e no investimento em políticas públicas.
Para os PCNs a concepção de saúde deve está fundamentada no exercício da cidadania, o que perpassa pelo estilo de vida construído ao longo do tempo. Segundo CORDIOLLI (p. 27), “O nível de saúde das pessoas reflete a maneira como elas vivem, numa interação dinâmica entre potencialidades individuais e condições de vida”.
Tratar da Pluralidade Cultural em um país como o Brasil, multicultural, é sem dúvida, uma forma de possibilitar aos alunos conhecer a diversidade cultural que compõe a nação com respeito e valorização das diferenças, sejam elas de que origem for, fortalecendo assim, a identidade nacional. A Pluralidade Cultural enquanto tema transversal propõe, portanto, a atuação sobre um dos mecanismos de discriminação e exclusão que impedem a garantia do direito à cidadania para todos.
E finalmente, Trabalho e Consumo. Conhecer essa relação é fundamental para o entendimento das relações sociais que envolvem esse tema, assim como a própria relação do homem com a natureza. A esse respeito, COSTA (1999) acrescenta que o professor pode também abordar a influência da mídia na sociedade de consumo, a desvalorização do trabalho corporal, a questão do desemprego gerada pela automação dos serviços e da organização das práticas de lazer comunitário, sendo o lazer uma necessidade do trabalho.
Também com relação a esse tema, CORDIOLLI afirma:
Direta ou indiretamente, de forma explícita ou implícita, a escola trabalha com valores, representações e posicionamentos relativos ao mundo do trabalho e do consumo. É necessária a valorização de determinadas profissões e tipos de trabalhos, assim como sua tradução em práticas de consumo, na pose ou não de objetos ou em marcas de distinção social (Idem, p.36).
Temas Transversais: da teoria a prática nas aulas de Educação Física Escolar
As aulas de Educação Física escolar podem proporcionar aos alunos a vivência corporal dos temas transversais, visto que todos perpassam a corporeidade no âmbito social, cognitivo e afetivo expressados pelo movimento nas inter- relações e na prática da cidadania. Segundo DARIDO (et al, 2001) a Educação Física escolar deve enfatizar mais o aspecto social do que o individual na abordagem dos Temas Transversais, estimulando a reflexão sobre cada atitude e informação trabalhada nas atividades propostas.
Dentro do que propõem os TTs, poderá o professor aplicar durante suas aulas, de forma ajustada as especificidades de cada ciclo, reflexões sobre fatores sociais importantes para a formação crítica e cidadã na qual se coloca o papel da escola diante do aluno. Nas aulas de Educação Física (EF) é possível:
(...) discutir sobre o que veiculam jornais, revistas, livros, fotos, propaganda ou programas de TV e trazer à tona suas mensagens — implícitas ou explícitas — sobre valores e papéis sociais (PCNs, BRASIL, 1997, p. 36).
Sabe-se que quando se trata de Educação não existe uma receita pronta, cabe ao professor observar a realidade de cada turma, considerando sempre seus anseios e necessidades, a fim de desenvolver um trabalho significativo e prazeroso para o aluno. Isso é possível através da fusão entre fundamentação teórica e a própria experiência profissional.
Para o bom desenvolvimento da aula de EF, o professor pode utilizar-se de diferentes estratégias, tais como: atividades rítmicas expressivas, lutas, capoeira, jogos, brincadeiras, o leque de possibilidades do folclore, etc. Cabe ressaltar, porém, que nem sempre a estratégia utilizada para uma turma servirá para outra, é preciso atenção na hora de planejar.
As alternativas de atividades, como se pode perceber, são variadas, e como não é pretensão desse artigo propor uma receita pronta, ou apresentar planos de aula, optou-se pelo destaque dos jogos e brincadeiras como uma possibilidade bastante válida para o desenvolvimento das aulas de EF no Ensino Fundamental.
Nesse sentido, selecionou-se como exemplo, a proposta apresentada pelo professor de EF, Bastos, que em seu artigo: “Jogos Transversais: uma proposta de abordagem dos temas transversais nas aulas de Educação Física” discute o assunto e exemplifica a questão, com alguns de seus jogos.
Segundo o autor, seu trabalho surge através do seguinte questionamento:
(...) que conteúdos os alunos deverão adquirir a respeito dos jogos, a fim se tornarem preparados e aptos para enfrentar as exigências da vida social, exercício da cidadania, e as lutas pela melhoria das condições de vida, de trabalho e de lazer? (DARIDO e RANGEL, 2005, p.160).
Especialista em Educação Física Escolar, o autor, parte dos TTs para conteúdos, usando como estratégia o que convencionou chamar “Jogos Transversais”. Ele acredita ser uma forma eficaz para uma Educação Física comprometida como a formação para a cidadania. BASTOS (2010) afirma que:
A prática dos jogos nada mais é do que, a construção de uma situação didática que busca valorizar e potencializar a capacidade de questionar, de debater, de refletir sobre os temas sociais em questão. Todos os jogos podem e devem ser adequados a realidade local e coletiva. Variações poderão surgir. Espera-se também que, principalmente, possam servir de inspiração para que novos jogos sejam criados por qualquer aluno, profissionais ou pessoa que simpatize e os adote. Esta proposta defende basicamente a indissociação da construção dos processos de aprendizagem dos jogos, do processo de construção da cidadania (Disponível em http://www.efdeportes.com/efd142/temas-transversais-nas-aulas-de-educacao-fisica.htm).
Outro exemplo que pode ser mencionado encontra-se no artigo “Jogos e brincadeiras populares com o grupo de capoeira cara de lata: temas transversais na busca pela pluralidade cultural”, no qual foram propostas algumas formas de se trabalhar com um dos TTs (Pluralidade Cultural) de forma simples e combinada com a realidade social, podendo servir de exemplo para professores de EF em sua prática pedagógica no âmbito escolar.
Segundo a pesquisa elaborada pelos autores desse artigo, ao tratar do resgate dos jogos e brincadeiras populares, leva-se a criança a se desenvolver em vários aspectos, pois como comprovado na pesquisa de campo, com uma simples intervenção foi possível obter uma resposta significativa acerca desse tema. Um trabalho consistente, criativo, lúdico e prazeroso possibilitará a criança a ampliação do quadro cultural e a valorização da diversidade cultural.
Destacou-se aqui, portanto, alguns exemplos válidos e frutos de experiências bem sucedidas de profissionais que estão realmente preocupados com o papel social da educação, e com a contribuição da Educação Física para a formação do aluno.
Metodologia
Para realização dessa pesquisa, optou-se pela utilização de instrumentos semelhantes: entrevistas semi-estruturadas e questionários.1 O primeiro instrumento foi aplicado a um grupo de 16 professores de Educação Física do Ensino Fundamental, do RJ, para verificar a opinião desses profissionais com relação à temática abordada; e o segundo instrumento, a cinco alunos de cada professor, com o intuito de obter informações sobre os conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física escolar. Após coletar e analisar os dados obtidos nessa primeira etapa, levantaram-se os percentuais e geraram-se alguns gráficos para melhor visualização das informações.
Questões para os professores 1. Você conhece as propostas dos PCNs e dos Temas Transversais? O que acha delas? 2. Durante a sua formação, você cursou disciplinas relacionadas aos PCNs e aos Temas Transversais? 3. Você considera importante trabalhar com conteúdos que tenham relevância social nas aulas de Educação Física? Por quê? 4. Com quais você trabalha? 5. Na sua opinião, qual o papel da Educação Física escolar hoje? Questões para os alunos 1. Você gosta das aulas de Educação Física? Por quê? 2. Quais são as atividades que você mais gosta de realizar nas aulas de Educação Física? Por quê? 3. Alguma vez você já deixou de participar das aulas de Educação Física? Por quê? 4. Você gostaria de aprender coisas novas nas aulas de Educação Física? O que? 5. Você já teve aula teórica de Educação Física? |
Análise das respostas dos professores
Os gráficos a seguir revelam importantes informações sobre as concepções dos professores acerca dos PCNs e TTs.
|
|
Gráfico 1 |
Gráfico 2 |
No primeiro gráfico é possível perceber que mais da metade dos professores (62%) admitiram não ter um conhecimento consistente a respeito dos Parâmetros Curriculares Nacionais e Temas Transversais. O que demonstra um dado preocupante se for considerado a concepção de Educação Física abordada nos PCNs. Para tal questão é possível levantar várias hipóteses, tais como, a formação anterior à criação dos PCNs, a falta de atualização profissional, o desinteresse docente, etc.
O segundo gráfico aponta um dado que de certa maneira pode ser considerado positivo, pois dos 62% que admitiram não lembrar muito bem dos PCNs e TTs, apenas 19% não desenvolvem os TTs em suas aulas, limitando-se ao método tradicional.
Cabe ressaltar que esse gráfico relaciona-se à questão três do instrumento aplicado aos professores, e leva em consideração a hipótese de que muitas vezes os professores (38%) desenvolvem os Temas Transversais durante as aulas de EF, porém o fazem de maneira aleatória, sem ao menos terem consciência disso.
Gráfico 3
No terceiro gráfico, corroborando a hipótese mencionada a cima, os professores ainda que de forma não intencional, acabam por desenvolver os TTs, sendo os temas Ética (34%), Saúde (30%) e Orientação Sexual (20%) os mais abordados.
O baixo índice de aplicação dos demais TTs sugere algumas hipóteses, tais como, a pouca importância que os professores de EF lhes conferem ou a dificuldade dos mesmos em aplicá-los.
Análise das respostas dos alunos
Através das respostas dos alunos (total de oitenta) obtiveram-se algumas informações importantes, como a estima dos alunos pelas aulas de EF, de forma que dos oitenta alunos entrevistados, 96% relataram gostar das aulas de EF, sendo a maior ocorrência de justificativa para tal apreciação o fato, das aulas serem divertidas e serem realizadas fora da sala de aula, num ambiente em que o movimento é livre.
Dentre as atividades preferidas pelos alunos, os maiores percentuais foram para jogos com bola (72%) e piques (28%), isso demonstra um grande interesse dos alunos pelo objeto bola, o que não necessariamente está relacionada aos desportos, podendo o professor aproveitar tal interesse para desenvolver variadas atividades envolvendo TTs.
Quando questionados se já haviam deixado de participar das aulas de EF, 96% responderam que não faltavam, sendo a principal justificativa dos demais (4%) o fato de que as aulas eram rotineiras, ou eles tinham vergonham de participar porque não sabiam jogar direito.
Perguntados se gostariam de aprender coisas novas nas aulas de EF, 93% respondeu que sim, e 7% respondeu que preferia apenas jogar bola. Como sugestão os alunos mencionaram jogos e brincadeiras diferentes. Foram mencionados também o vôlei e o basquete.
Com relação à ocorrência de aulas teóricas, todos os alunos relataram nunca ter tido esse tipo de aula na disciplina de EF. Questionou-se o que era feito nos dias de chuva, nas escolas em que a quadra ou espaço reservado para as aulas não oferecia proteção, para tal questionamento os alunos relataram que nesses casos a aula é suspensa ou os alunos assistem DVD ou utilizam jogos de tabuleiro.
Considerações finais
Chega-se a esse ponto da pesquisa com propriedade para corroborar a hipótese levantada no início da pesquisa, de que o professor de Educação Física ainda sente certa dificuldade na aplicação dos TTs em suas aulas. Pode-se, porém, inferir que essa situação tem sofrido alterações, como foi exemplificado com o trabalho do professor Bastos, o que pode ser considerado um ponto positivo.
Sabe-se que toda e qualquer mudança no âmbito da educação se processa de maneira lenta, por isso, é compreensível que ainda existam muitos professores com práticas pedagógicas arraigadas em modelos ultrapassados e desproporcionais a concepção de EF abordado nos PCNs. Cabe ressaltar, que embora compreensível esta não é uma situação aceitável, pois a EF precisa assumir o seu papel na formação do aluno cidadão, para tal é preciso uma prática que leve o aluno a ser crítico e reflexivo e o primeiro passo é admitir a necessidade de mudança
Essa pesquisa serve como um alerta aos professores de Educação Física para que estejam atentos a importância de inserir os TTs na dinâmica das suas práticas pedagógicas transpondo as orientações abordadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais para a prática, buscando fazer do seu trabalho algo mais que um ensino de técnicas, isto é, criar situações que levem as crianças a formarem-se como cidadãos. Nesse trabalho mencionaram-se algumas estratégias que podem funcionar como elementos de transversalidade (jogos e brincadeiras, lutas e atividades rítmicas expressivas), mas há possibilidade de utilização de outros elementos, e isso, deve ser explorado através de experiências diversificadas.
Nota
1. Os instrumentos utilizados foram validados em pesquisa publicada por Ruy e Ramos (2007).
Referências
ACCIOLY, Débora C. da S et al. Jogos e brincadeiras populares com o grupo de capoeira cara de lata: temas transversais na busca pela pluralidade cultural. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 15 - Nº 146 - Julho de 2010. http://www.efdeportes.com/efd146/temas-transversais-na-busca-pela-pluralidade-cultural.htm
BATISTA, Luiz Carlos da Cruz. Educação física no ensino fundamental. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.
BASTOS, Mendes Denis. Jogos Transversais: uma proposta de abordagem dos temas transversais nas aulas de Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 14, Nº 142, março de 2010. http://www.efdeportes.com/efd142/temas-transversais-nas-aulas-de-educacao-fisica.htm
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília/DF, 1997.
COSTA, Gilbert Coutinho. Educação Física E Os Temas Transversais Nos Pcns: A Possível Formação Do Cidadão. In: http://cev.org.br/biblioteca/educacao-fisica-e-os-temas-transversais-nos-pcns-a-possivel-formacao-do-cidadao, 1999.
CORDIOLLI, Marcos. Para entender os PCNs: Os temas transversais. Curitiba: Módulo, 1999.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
DARIDO, Cristina Suraya, e al. A Educação Física, a formação do cidadão e os Parâmetros Curriculares Nacionais. CDD. 20.ed. 613.707 Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 15(1):17-32, jan./jun. 2001.
RUY, Clarina R. e RAMOS, Glauco N. S. A prática pedagógica dos professores de Educação Física e suas relações com os Temas Transversais. In. III Colóquio de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana: o lazer em uma perspectiva latino-americana, 2007, São Carlos. Anais... São Carlos: SPQMH – DEFMH/UFSCar, 2007.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 153 | Buenos Aires,
Febrero de 2011 |