efdeportes.com

A especialização precoce em jovens atletas na modalidade de voleibol

La especialización precoz jugadores jóvenes en la modalidad de voleibol

 

*Graduado em Educação Física

**Mestre em Educação Física

Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP/SP)

(Brasil)

Arnaldo Stenico Arruda de Oliveira*

oliveirastenico@ig.com.br

Rubem Machado Filho**

rubemfit@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento alguns dos efeitos do treinamento precoce em jovens atletas na modalidade de voleibol, com o objetivo de provocar a reflexão dos profissionais atuantes na área de treinamento de voleibol para que os mesmos possam refletir e ponderar sobre a especialização precoce.

          Unitermos: Especialização precoce. Voleibol. Jovens.

 

Abstract

          This paper aims to survey some of the effects of early training in young athletes in the sport of volleyball, with the aim of provoking reflection of professionals in the area of training of volleyball so that they can reflect and ponder early specialization.
          Keywords: Early specialization. Volleyball. Youngs.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A especialização precoce é entendida como um processo que acontece quando crianças são introduzidas antes da fase pubertária a um treinamento planejado e organizado em longo prazo, e que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais, com o objetivo do gradual aumento do rendimento, além, de participação periódica em competições esportivas (1).

    É comum, nos campeonatos brasileiros de seleções estaduais infanto-juvenis e juvenis de voleibol, que são realizados anualmente, premiar-se o atleta de maior destaque. Entretanto, não foram poucos os laureados que jamais conseguiram distinção na categoria adulta, seja em seus clubes, seja na seleção brasileira (2).

    É, também, corriqueira a conquista de campeonatos regionais por equipes constituídas, na sua totalidade, de adolescentes que, depois, largam a prática do voleibol, desiludidos, pois percebem que não mais conseguem acompanhar as performances técnicas de seus companheiros de clube ou adversários, muitos dos quais foram, um dia, seus reservas (2).

    As principais equipes de grande porte na maioria das vezes estão preparadas para oferecer um treinamento de alto nível visando resultados de qualidade aos seus atletas, isso porque eles contam com uma equipe de profissionais multi- disciplinar qualificada além de uma excelente infra-estrutura fornecida pelos clubes e patrocinadores (3). As equipes menores muitas vezes não dispõem de toda essa infra-estrutura mesmo assim vem se muitas vezes “forcadas” a apresentar resultados positivos. Esse é exatamente o ponto mais critico dessa realidade enfrentada pela equipes de voleibol que trabalham com as categorias de base.

    O treinamento de jovens atletas não pode ser pensado e estruturado sem levar em consideração a fase critica do desenvolvimento pela qual esses jovens seres estão passando (4).

    A partir da problemática exposta, este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento alguns dos efeitos do treinamento precoce em jovens atletas do sexo feminino na modalidade de voleibol, com o objetivo de provocar a reflexão dos profissionais atuantes na área de treinamento de voleibol para que os mesmos possam refletir e ponderar sobre a especialização precoce.

Aspectos biológicos da especialização precoce

    Entre os 10-16 anos garotas e garotos passam por grandes modificações em dimensão, proporção e composição corporais, porém o ritmo destas mudanças varia de indivíduo para indivíduo (5). A maioria dos atletas mirins e infantis do sexo masculino apresenta maturação precoce, em relação à idade cronológica, principalmente em modalidades esportivas onde a estatura é importante (6).

    As conseqüências deste fato são de que, terminados os efeitos da maturação precoce, estes atletas que tiveram uma certa facilidade em obter alto rendimento, passaram por dificuldades, uma vez que estas diferenças foram atenuadas com o decorrer do tempo (5).

    Médicos, fisioterapeutas e especialistas em desenvolvimento da criança desaprovam competições para crianças, apesar de reconhecerem o valor do esporte, porque a especialização infantil, no que concerne à competição precoce, pode causar danos, pois as demandas podem ser tão intensas que levariam a um efeito adverso ao crescimento e desenvolvimento, ou podem causar traumas em alguma parte do corpo, em função de repetições excessivas de um mesmo movimento (7).

Figura 1. Esquema da periodização do treinamento a longo prazo (sem especialização precoce)

Efeitos do treinamento de voleibol no desenvolvimento de jovens atletas

    A iniciação esportiva é definida como o período em que a criança inicia o aprendizado, de uma ou mais praticas esportivas de forma sistematizada e especifica, com objetivo principal de promover o desenvolvimento motor integral do individuo não implicando assim dentro do programa de treinamento competições regulares, respeitando as características e peculiaridades de seu estagio de crescimento e desenvolvimento evitando assim torná-la um mini-adulto (8).

    No entanto o entendimento do termo iniciação esportiva deve esta muito claro uma vez que o mesmo pode ser confundido com a especialização precoce isso porque a linha pedagógica que divide essas duas abordagens metodológicas distintas é extremamente tênue, sendo a primeira importante desde a mais tenra idade e a segunda, no mínimo, duvidosa quanto à sua eficiência (8).

    Incorporar o esporte ou a atividade física no cotidiano de sua vida é um processo que está diretamente relacionado à iniciação esportiva, uma vez que é esse primeiro contato com o esporte que irá gerar na criança uma experiência positiva ou negativa dependendo da forma, que o esporte e apresentado e vivenciado por esse individuo em formação. O papel da família nesse processo é tão ou mais relevante que o papel do professor, uma vez que as pressões psicológicas infringidas as crianças na iniciação esportiva quando esse processo é voltado exclusivamente à obtenção de resultados pode gerar traumas que levaram o individuo a um abandono prematuro da pratica esportiva (9).

    O recente desempenho competitivo do voleibol brasileiro tanto na esfera nacional, quanto internacionalmente, apresenta um incontestável paradoxo com relação ao processo de iniciação esportiva na modalidade encontrado na maioria das equipes de base que atuam no país, principalmente se comparado aos processos utilizados nos países de primeiro mundo na iniciação esportiva do voleibol (2).

    Esse paradoxo torna-se evidente principalmente diante do aspecto de identificação e seleção de jovens talentos esportivos, uma vez que essa é uma tarefa razoavelmente complexa, devido aos inúmeros aspectos envolvidos no processo tais como: psicológicos, sociais, cognitivos, constitucionais e ambientais, sendo estes fatores que influenciam direta e indiretamente no processo de seleção de talentos esportivos.

    O esporte na infância é um fenômeno muito complexo, que não pode ser reduzido a um pensamento simplista, como a tradicional seleção esportiva e a tradicional eleição de um modelo ideal de atleta (8). Porém são varias as características que são possíveis de serem detectadas na busca de talentos esportivos no voleibol, como: altura elevada, velocidade de reação, explosão muscular, entre outras, são características essenciais para se obter sucesso no voleibol Brasileiro de alto nível. Muitas dessas características que são almejadas na busca de jovens talentos esportivos, que são altamente dependentes da herança genética do individuo que será avaliado, contudo durante a iniciação esportiva onde a criança deverá estabelecer seus primeiros contatos com a modalidade os profissionais envolvidos devem se atentar para alguns fatores relacionados ao crescimento e desenvolvimento da criança a fim de evitar erros equivocados na seleção desse talento esportivo (2).

    Os indivíduos de biótipo longilíneo, cujos membros superiores e inferiores possuem um comprimento mais amplo com relação ao comprimento do tronco, se associado a uma estatura elevada, esse individuo poderá obter uma melhor performance dentro da modalidade de voleibol, sobrepondo-se assim, aos outros indivíduos que não são dotados desse biótipo ideal, dessa forma adquirindo uma vantagem bastante relevante no processo de seleção esportiva (2).

    A recente projeção do esporte competitivo de alto nível no Brasil em especifico o voleibol vem aumentado e difundindo-se cada vez mais na sociedade, promovendo dessa forma um aumento exponencial na procura por essa pratica esportiva, principalmente por crianças e jovem, que cada vez mais cedo iniciam a prática esportiva vislumbrando através do esporte a obtenção de status e projeção social (9). Esse fator social torna-se um problema, no momento que profissionais vinculados à área do esporte de formação pressionados ou não por fatores externos ou internos tais como: conquista pessoal (através do acumulo de títulos em competições), pressão psicológica (através dos pais e familiares da criança inserida na atividade esportiva que visão resultados de curto prazo) ou desconhecimento cientifico dos efeitos do treinamento físico em crianças e adolescentes, aplicam programas de treinamento voltados a especialização de uma única modalidade esportiva para que o indivíduo apresente um desempenho completivo mais elevado, causando a criança um prejuízo que a mesma ira carregar no futuro.

    No processo de desenvolvimento físico e psicológico da criança, o esporte tem um papel de proporcionar a esse individuo em formação um aprimoramento integral de suas habilidades motoras e capacidades físicas e também uma auto estima positiva, possibilitando a esse indivíduo em formação uma boa qualidade de vida. Para tanto a iniciação esportiva dessa criança em um ou mais esportes deve excluir ações demagógicas que buscam resultados imediatos e apresentam como objetivo central a vitória na busca de títulos ou prêmios. (9).

Tabela 1. Comparação entre a especialização precoce e o desenvolvimento multilateral

Conclusão

    A especialização esportiva precoce vem sendo cada vez mais usada por professores em clubes e escolas. Isso reflete a busca de treinadores e de instituições por mais status na sociedade e uma melhor afirmação de seus nomes. Isso por sua vez reflete a necessidade de auto-afirmação do sistema capitalista vigente.

    Há quem diga que essa metodologia pode ser eficaz para descobrir novos talentos esportivos, no entanto, os danos são maiores que os benefícios. Quantos atletas talentosos e famosos temos hoje? Se nos preocupássemos em desenvolver as crianças longe de um contexto imediatista, certamente teríamos um número maior de atletas e de "talentos".

    Devemos ensinar esporte para as crianças para que estas possam construir autonomia, adquirir segurança, integrar-se socialmente, para que ela possa incorporar uma cultura de lazer com o esporte e que possa usá-lo na sua vida e se tornar uma pessoa mais saudável.

    Ensinar esporte às crianças é muito mais do que apenas repetir treinamentos de pessoas adultas, é contribuir para sua formação integral: suas habilidades motoras, desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social.

    Penso que o ensino superior brasileiro passa por um momento inusitado, aumenta cada vez mais o número de instituições de ensino. No entanto, a formação de novos profissionais não se afirma na qualidade. Não podemos justificar apenas nesse ponto o despreparo de muitos professores. Nesse ponto a questão é pedagógica.

    Temos que estudar cada vez mais para sabermos que muitas coisas que fazemos estão erradas e para que possamos mudá-las. Mesmo assim é preocupante saber que alguns professores sabem disso e, no entanto, preferem se render ao sistema. Nesse ponto a questão é ética.

    Precisamos decidir-nos se seremos professores, na real essência da palavra, agentes transformadores de uma sociedade, ou se seremos apenas meros reprodutores de práticas ultrapassadas e prejudiciais.

Referências bibliográficas

  1. KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.

  2. BOJIKIAN, J. C. M. Vôlei vs. Vôlei. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, n. 1, v.1, p. 117-124, 2002.

  3. BOMPA, T. O. Treinando Atletas de Desporto Coletivo. São Paulo: Phorte, 2003.

  4. GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças, Adolescentes e Adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2003.

  5. DARIDO, S. C.; FARINHA, F. K. Especialização precoce na natação e seus efeitos na idade adulta. Motriz, v. 1, n. 1, p. 59-70, junho/1995.

  6. MALINA, R. M. Anatomical and Physiological concepts. Champaign, Human Kinectics, 1978.

  7. BAILEY, D. A. Physiological considerations. Champaign, Human Kinectics Publishers, 1978.

  8. RAMOS, A. M., NEVES, R. L. R. A Iniciação Esportiva e a Especialização Precoce à Luz da Teoria da Complexidade – Notas Introdutórias. Pensar a Prática. Goiás: v.11, n.1, p. 1-8, 2008.

  9. LEITE, W. S. S. Da Alienação à Estupidez. Especialização Precoce os Danos Causados à Criança. Livro de Memórias do III Congresso Científico Norte-nordeste – CONAF.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 153 | Buenos Aires, Febrero de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados