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Vida, escola e Educação Física

Vida, escuela y Educación Física

 

*Acadêmica do oitavo período de Educação Física

da Universidade Estadual de Goiás, ESEFFEGO

**Professora de Licenciatura Plena em Educação Física

(Brasil)

Pollyana de Vilela*

Suzianne Morais**

polly_university@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Em nossa sociedade, a cada dia que passa percebemos o quanto nossas ações e interpretações de sociedade vêm se modificando de forma que nada mais nos assusta. A falta de privacidade, de valorização e respeito a princípios éticos e sociais, a nossa dependência frente aos meios de comunicação e tecnologia tem nos tornado seres moldáveis e sem opinião própria, na qual nosso futuro e as conseqüências de nossas ações se tornam impossíveis de se imaginar. Alem disso, nossa participação na construção de uma sociedade futura cada vez mais esvaziada de seres democráticos e cidadãos é plena se analisarmos as atuações que as instituições medicas, escolares e entre outras tornam os futuros cidadãos perdidos quanto a capacidade de transformar a realidade.

          Unitermos: Educação. Disciplina. Educação Física. Sociedade.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Ao analisarmos nossas ações e comportamentos frente a um ambiente moderno e tecnológico, no qual se encontra tão presente e difundido em nossa sociedade, muitas vezes acabamos por não refletir na dependência a qual estamos dela e de seus instrumentos que de forma classificatória e objetiva nos transforma em seres vazios de intervenção e pensamentos próprios.

    A cada dia que passa, vivemos numa sociedade marcada pelos avanços tecnológicos principalmente da nanotecnologia, que pode ser observada através dos meios de comunicação, que estão mais eficientes e com grande capacidade de armazenamento.

    Avanços estes criados para atender as necessidades do mercado, sendo perceptíveis em diversos ambientes e instituições como na escola que podem servir como instrumentos e meios que auxiliam, quando bem usados, na formação humana. Entretanto, deve-se tomar cuidado com as novas tecnologias, pois promovem o que Adorno chama de “um tipo de semiformação”, ou seja, ao mesmo tempo em que transmite a informação, promove conhecimentos e opiniões sobre a mesma de forma estática e tida como única verdade, evitando que se pense sobre a mesma a partir de suas opiniões e experiências.

    E nessa troca de relações com um mundo mais tecnológico, rápido e objetivo, o ser humano ao buscar de forma desenfreada sua integração em uma nova sociedade, acaba transformando a sua, em que nem chega a perceber que o individual supera o coletivo, a competitividade, o egoísmo, a ganância por pertencer a um status maior, onde não somente os fatores pessoais serão modificados, mas toda nossa estrutura social, pois ao trocarmos o homem moderno pela tecnologia moderna, utilizamos da tecnologia para conviver com as pessoas. Assim, as relações humanas se tornaram comerciais, e com isso viramos sujeitos egoístas na qual pensamos e nos comportamos de acordo com nossos desejos e prioridades (Martins, 2008).

    Ou seja, nos tornamos seres esvaziados de ética1 onde de acordo com Saviani (2008), se refere a princípios e normas que ao serem estudadas por algumas ciências são capazes de “distinguir” e trazer para o coletivo a noção de certo e errado. No entanto, no mundo atual já não há nada que possa publicamente ser julgado como o que seria correto ou não, tudo se torna válido, a partir de um poder maior que de forma privada, julgam por todos nós, num processo de individualização, que não vem somente pela esfera política, ou pela economia, Mas sim da necessidade humana que se desenvolve antes mesmo do nascimento, em que ao nascer, já nos tornamos participante desse mundo tecnológico e competitivo e são estas as atuações esperadas.

    Podemos considerar que, ao observar o aspecto físico e biológico, até mesmo o campo da medicina se ampliou num processo que de forma quase autoritária consegue interferir e ditar nossas ações e interpretações de cultura e acima de tudo humana. Assim, Gondra (2001), em seu texto afirma sobre o discurso da medicina enquanto formação acadêmica:

    Passando então a chamar para si a responsabilidade, autoridade e legitimidade para dispor sobre os corpos, a saúde, a doença, a morte e a vida, recobrindo também a preocupação dos mesmos com relações entre a medicina e sociedade [...]. Ao demonstrar tais preocupações, esses homens tinham e expressavam o objetivo de tornar especializado o domínio da medicina, desautorizando e desqualificando outros discursos e outras práticas, de modo a se projetarem nos diferentes estratos da sociedade como autoridades portadoras de um conhecimento suficiente e necessário para regular tanto a vida do indivíduo como a ordem social (2001, p.31)

    Em que seu papel pode se tornar tão relevante à medida que, segundo Luz, “a medicina toma uma postura normativa na qual não somente distribui conselhos de vida equilibrada, mas rege as relações físicas e morais do indivíduo e da sociedade em que vive” (apud Gondra, 2001, p. 42).

    Com relação à instituição escolar, nos parece que esta possui como proposta moldar o homem de acordo com a sociedade neoliberal, ela não busca trazer ao homem a capacidade de formar opiniões e de criar anseios, ela simplesmente busca informar o homem de como ele deve atuar na sociedade para conseguir sobreviver nesse meio que aparentemente não lhe da alternativa de intervenção. Com isto, ao ter que educar alunos que, até certo ponto deveriam vir preparados de suas casas (com relação a se comunicar e agir em comunidade de forma democrática), acaba por deixar de fazer política – espaço de debate em público – para se privatizar. Hoje ela somente transmite uma “educação” onde qualquer diferença não choca, não há espaço, tempo e valorização para um desenvolvimento humano e integro.

    A escola, assim como as demais instituições, ao se aliarem as evoluções de mercado e tecnologias, busca muitas vezes formar homens que sejam capazes de criá-los e formá-los, sem, no entanto buscar discutir até que ponto seria o limite, o uso e a valorização de ações baseadas em princípios médicos, tecnológicos e midiáticos

    Com isso, e mais do que necessário que ainda mesmo na escola, e ainda mais no currículo a ser criado pelos professores, se devesse repensar nas atuais conjecturas da sociedade e de que forma poderíamos interferir para uma melhor compreensão e formação ética e de vivência coletiva com o homem/natureza.

O contexto social da escola

    Assim como nas demais instituições sociais, é na escola que podemos observar como está organizada e como está se formando nossa sociedade, já que essa instituição assim como as demais, mesmo ao possuir seus valores éticos, de um modo geral articula-se com toda a sociedade. Esta, ao ser obrigatório durante todo o desenvolvimento de um individuo, possui como caráter primordial auxiliar no desenvolvimento e construção de cidadãos em que para isso, deveriam minimamente conhecer e reconhecer seus ideais, valores sociais e éticos no qual se espelham e vivem nas demais instituições que interferem em seu nível educacional e de conhecimento, para que assim pudesse no âmbito escolar buscar compreender, elaborar e desenvolver um senso crítico de ação e intervenção na realidade na qual vivem.

    O que ocorre de fato é que, em todos os níveis educacionais, entre os problemas encontrados e debatidos nestas instituições se voltam à falta de ética e de limites entre os seus participantes, fator que revela a falta de imposição e autoridade por parte dos que indiretamente deveriam estar no controle dessa educação – que seriam o professores assim como todos os membros pedagógicos e os demais pertencentes da comunidade.

    Para Arendt (1978), essa perca de controle se deve ao fato em que hoje há uma falta de presença no desenvolvimento destes alunos de regras e limites que lhe servisse como meio de hierarquizar, com autoridade – o que não quer dizer tirania e violência – a sociedade que hoje em dia também se encontra sem limites e impossibilidades, onde ao trazer o privado para público, o homem acaba por imaginar e atuar em qualquer área da sociedade como se estivesse em casa, onde nela faz o que quer de modo que não há nenhuma preocupação, respeito e ética com os demais, sem nenhuma forma de reconhecimento e tradicionalismo ao que já foi historicamente construído e organizado para uma possível ordem social.

    “(...) Pertence à própria natureza da condição humana o fato de que cada geração se transforma em um mundo antigo, de tal modo que preparar uma nova geração para um mundo novo só pode significar o desejo de arrancar das mãos do recém-chegado sua própria oportunidade face ao novo.” (ARENDT, 1978, p.226)

    Para o novo conhecer e transformar o seu futuro, este necessitaria de um adulto para lhe apresentar traços do velho com seus respectivos limites, principalmente num mundo publico, e lhe demonstrar que já há uma cultura onde ao abstraí-la este se tornasse capaz de realizar suas escolhas a partir destas, o que se torna assim uma característica de adulto para Arendt. O que ocorre ultimamente é que sem a presença de um adulto que lhe apresente os traços do velho, o educando de hoje conhece do mundo somente o superficial e conceitos esvaziados de um significado histórico social, escolhendo para si atitudes que torna ainda mais uma sociedade esvaziada de princípios e ética, em que o futuro não se torna mais dele, mas sim de um retrocesso histórico que não se encontra passível de transformação.

    “Quanto mais completamente a sociedade moderna rejeita a distinção entre aquilo que é particular e aquilo que é público, entre o que somente pode vicejar encobertamente e aquilo que precisa ser exibido a todos à plena luz do mundo público, ou seja, quanto mais ela introduz entre o privado e o público uma esfera social na qual o privado é transformado em público e vice-versa, mais difíceis torna as coisas para suas crianças, que pedem, por natureza, a segurança do ocultamento para que não haja distúrbios em seu amadurecimento”. (ARENDT, 1978, p. 238)

    Portanto, este pedido de segurança se apresenta pela falta de disciplina, característica esta que é capaz de não somente chamar atenção de seus responsáveis na instituição familiar e escolar; onde estes assim como outros órgãos que buscam seu controle e harmonia social muitas vezes buscam uma solução rápida, prática sem nem menos analisar todas as causas e raízes desse comportamento.

    Entre uma das soluções apresentadas por muitos, até mesmo no ambiente escolar, se vem por uma imposição dada a eles sobre seu comportamento, onde ao invés de se trabalhar a disciplina, a inter-relação social e questões éticas de respeito ao próximo e ao seu ambiente, há a constante aplicação de métodos e técnicas que apontam resultados científicos e quantitativos sem considerar o homem ou um grupo social diferente de cada ser, formando assim sujeitos cada vez mais apáticos e sem possibilidades de conhecimento e intervenção na sociedade de forma mais critica e humana.

    Foucault ao ser citado por Rato (2007) afirma que o processo de disciplinamento serve muitas vezes para tornar o sujeito mais útil aos mecanismos econômicos e políticos. Ou seja, através de instrumentos de poder, o individuo é condicionado a se comportar de diversas maneiras e principalmente é ensinado a ter um autocontrole de si.

    Desse modo as relações de poder de tipo disciplinares são exercidas de modo a estabelecer vinculações contínuas, precisas, minuciosas e automáticas entre cada individuo e o emprego de suas forças, não agindo apenas de modos repressivos, mas principalmente, de modos produtivos, incitando posturas, desempenhos, ao mesmo tempo que diminuindo resistências (RATTO, 2007. p.117).

    Portanto, a disciplina constrói padrões de comportamento ético e moral único podendo muitas vezes criar sujeitos dóceis e sem autonomia para pensar e atuar em sociedade.

    Assim, na escola esse recurso metodológico de disciplinar os alunos, ocorre de maneira que se baseia não somente em conceituações já existentes, mas de forma que se espera destas ações que estes tornem dóceis e maleáveis as mudanças ocorridas e proporcionadas pelo meio sem sua intervenção.

    Toda essa docilidade não ocorre somente para os alunos, mas também entre todos os integrantes da instituição educacional, que também ao fazerem parte de uma hierarquia social, se esperam que a partir destes comportamentos e aplicações possa não haver uma fuga de todo o processo de formação de sujeitos não críticos, havendo caso necessário para reafirmar estas condições momentos e formas de avaliação e punição.

    Segundo Araújo (2009), os procedimentos de disciplina servem tanto para ajustar o aluno, quanto para seus operadores pedagógicos, de forma que está submetido a relações de qualificações, posições classificatórias com outros, fazendo com que este perca suas individualidades e subjetividades.

    Se não há subjetividade livre, autônoma, não haverá também pessoas educadas, criativas, que é justamente o que a escola deveria proporcionar. Sem criatividade, não é possível recusar o sujeito preso ao saber e ao poder de disciplinas que normalizam; sem indagar o que queremos para nós, não é possível criar novos estilos de vida, pautados por atos éticos de liberdade e autonomia (ARAÚJO, 2009. p.34).

    Essa maneira de capacitação e disciplinamento de indivíduos está presente não somente em seu discurso escolar, mas também pode ser encontrada muitas vezes ainda em sua estrutura, tradicionalidade (de hierarquia entre professor-aluno, da posição e espaço da sala, cadeiras, etc.) e até na sua forma de avaliação, que se baseia em analisar o grau de capacitação do aluno.

    Para além da disciplina, existem mecanismos que de fato estão relacionados somente para manter o individuo sempre de acordo com os padrões desejados, ou seja, disciplinado.

    As disciplinas, constituem, fabricam os indivíduos a partir de condições e possibilidades propostas pela modernidade. A produção se dá por técnicas que se articulam com o desempenho de certas funções e instrumentos interligados que circulam nas relações sociais (RARRO, 2007. p,118).

    Vigiar e punir são algumas da maneiras de se buscar um controle e manutenção da disciplina, em que permitem que os corpos sejam controlados (autocontrole), tornando-se maleáveis e quando não estiverem fora dos padrões desejados, são punidos. É um rígido controle das ações que permeia toda a escola e consequentemente o processo pedagógico.

    [...] Circulação, vigilância, enquadramento e registro servem à perfeição para o aprendizado, a correção, a adaptação. A qualificação e a norma se obtém pelos castigos e sansões, punem-se a desatenção, a ausência, o não cumprimento de tarefas, a desordem. Tudo o que foge a norma deve ser corrigido e punido (ARAÚJO. 2009. p.33).

    Todo esse processo nos permite analisar também algumas relações como a discriminação e humilhação, que estão na maioria das vezes associadas à maneira de se punir e avaliar o aluno de forma que o coloque em seu lugar, como se fosse uma maneira de corrigi-los para garantir um bem estar comum.

    Assim como o trabalho de Alencar e Taille (2007) discute, a humilhação atualmente se tornou tão presente em nossa sociedade, que o simples fato de identificá-la se tornou confusa, pois além de suas variadas maneiras de execução, esta ao ser utilizado como metodologia de correção se tornou algo comum e muitas vezes abafada pela própria vitima por tamanha inferioridade, vergonha do acontecido e ate mesmo falta de percepção de que esta sendo tratado de tal forma pelo fato desta ser presenciada tantas vezes na sociedade que se torna natural.

    A própria ao considerar a humilhação como uma falta de respeito e de identificação de que somos seres com valores e características próprias, destrói o auto-respeito que prejudica não somente o individuo, mas também suas futuras relações com os demais, em que não se pode esperar de um individuo comportamentos que não são aplicáveis para ele – criando assim uma sociedade cada vez mais desfragmentada e sem o respeito e integridade com o próximo.

    Com isso, a escola corre o risco de perder seu papel educacional, na formação de indivíduos críticos e ativos na sociedade.

    É de fundamental importância repensar as ações e atuações que a escola, seu processo pedagógico e a atuação dos professores vêm colaborando na formação desta sociedade, de forma que os tais métodos de disciplinamento, sejam revistos e construídos de forma que possam de fato contribuir com a educação dos alunos e não somente torná-los dóceis e auto controlados, que se possa realmente auxiliar estes seres para um aprendizado completo em todos os sentidos.

A Educação Física e suas relações de poder

    Dentre todas as disciplinas e áreas escolares que possuem esse papel de formação desfragmentada, a Educação Física se apresenta como uma das disciplinas que mais apresenta esse controle do corpo, que ao invés de discutir as relações existentes entre o que ocorre na mídia e na realidade, por exemplo, somente executa fundamentos, conhecimentos e comportamentos técnicos.

    A partir do físico (pois muitas vezes a educação física não e vista como uma disciplina capaz de interpretar e discutir teorização – formar conhecimentos) há quem a utilize como forma de avaliar seus alunos quanto somente a sua capacidade funcional, como se por ela se baseasse toda a sua relação e espaço na sociedade, em que por ela também se consegue a capacidade de excluir e muitas vezes humilhar quem muitas vezes não teve acesso ou um bom desenvolvimento ao nível exigido e dito como correto pelo professor, podendo gerar assim sentimentos de vergonha e discriminação que refletirão em todo o ambiente social; podendo ser este um dos possíveis motivos pelo qual a Educação Física não é bem vista em algumas escolas e muitos menos uma disciplina e atividade prazerosa para alguns alunos,

    Outro aspecto da Educação Física observado na escola, é o fato de ser uma das disciplinas escolares vista como técnicas de fabricação de indivíduos “dóceis e úteis” (RATTO, 2007. apud FOUCAULT, 1997). Mesmo com novas abordagens criticas, parece que a Educação Física ainda se remete a exercer o mesmo papel de disciplinamento, o que pode significar a perda de autonomia e consequentemente de valorização social.

    Além da Educação Física, outra área que merece ser discutida como atuante primordial no controle de ações e comportamentos sociais, a instituição medica também vem atuando como disciplinadora, ao diagnosticar incapacidades e distúrbios em indivíduos que muitas vezes acabam por incorporar comportamentos que nem eram seus, mas que ao serem esperados pelo o meio para lhe classificar, logo se busca uma medicação correta quando até estes comportamentos surgem.

    “A medicina, com seu discurso científico, acolhido como insuspeito, neutro, é o árbitro para a normalização do comportamento, das condutas, dos desejos” (ARAÚJO, 2009, p. 30). Assim, pode se pensar no poder que a medicina exerce sobre a sociedade em todo o processo histórico, e que continua exercer como forma de verdade absoluta, e que muitas vezes acaba por administrar várias funções sociais, assim como interfere na organização e na pratica da educação, do relacionamento familiar, social e etc.

    Assim, as influências da medicina na construção de um corpo saudável e moldável refletem nas aulas de educação física, capazes de adestrar, disciplinar e moldar o comportamento, mas que perdem sua identidade enquanto formadora de sujeitos críticos e ativos.

O processo de avaliação e sua finalidade na escola

    Quanto à avaliação, sabemos que esta ainda hoje possui plena importância acerca do processo de ensino-aprendizagem escolar, aonde assim como a escola em geral, vêm também sofrendo conseqüências de uma sociedade sem direção e conceitos a seguir, deixando mais uma vez a sociedade sem rumo, consciência e sabedoria de seus limites e possibilidades.

    A avaliação desde muito tempo se baseava em quantificar o conhecimento do aluno, onde muitas vezes através de provas e exercícios escritos e algumas vezes orais se analisava a absorção que o aluno tinha feito sobre as matérias discutidas naquele período.

    Hoje em dia, não se mudou muita coisa, pois, o professor através de avaliações que agora são constantes e muitas vezes nem percebida pelo aluno (devido a perca de racionalização e sistematização dela), se refere ao seu rendimento quanto à absorção de conteúdo e de seu comportamento em sala de aula, se afastando mais ainda de um objetivo que seria de avaliar não somente o aluno, mas, a escola e o próprio como um todo em seu aprendizado, e não em somente sua execução e em seu comportamento que ao invés de compreendê-lo ou analisá-lo como especifico seu se espera que esteja de acordo com as opiniões do avaliador.

    Assim, junto ás praticas classificatórias, objetivas, que medem a aprendizagem e o ensino, a professora vai usando conhecimentos adquiridos no fazer, no contato com o outro, por aproximação, saberes que podem ser compartilhados pela experiência, mas não sistematicamente ensinados. (ESTEBAN, 2003, p.23)

    Essa questão que se refere ao papel do professor seria em caráter de conteúdos, metodologias e objetivos buscados por este, que juntos são necessários como norteadores para a aplicação de avaliações tanto do aluno, como do professor para a turma.

    Estes fatores muitas vezes vêm se apresentando de forma muito simplificada e em alguns momentos sem parâmetros já que, ao invés de se preocupar em auxiliar a escola na análise e formação de um conhecimento que esteja presente em sua realidade, estes se baseiam em lhe apresentar de forma técnica o que seria necessário para sua sobrevivência nessa sociedade tão competitiva e produtiva, que em grande parte se referem a comportamentos e técnicas, trazendo assim como conteúdos e metodologias fundamentos e reflexões baseadas em um senso comum pertencentes à mini-sociedade ali presente, Souza (s/data).

    Portanto, é possível observar mais uma vez a problemática que abrange a perda de funcionalidade do professor em sala de aula que, ao abdicar de forma consciente ou não de sua responsabilidade profissional e social, vem deixando lugar para que a psicologia e a pedagogia se apresentem capazes de julgar e classificar o aluno de modo que o exclua dos demais onde em conjunto com a medicina, esta logo encontra soluções para manter a ordem e o disciplinamento do aluno para o bem-estar da turma, assumindo o papel de cuidadores dessas crianças que lá se comportam e são tratadas como são em suas casas, sem dada importância de vê-los como um ser que deve interagir e ser capaz de ter sua participação na realidade nas variadas instituições, na qual cada uma possui suas regras e funcionalidades.

    A avaliação não pretende controlar e classificar o rendimento do aluno ou aluna, tampouco pode ser, direta ou indiretamente, usada para controlar e classificar o rendimento da professora. A avaliação pretende promover uma reflexão que participe da experiência de ensinar com e de aprender com, tecida coletivamente na sala de aula, na sala de professores, no pátio, no refeitório, no banheiro, nos corredores, no portão, na biblioteca, nos tantos outros lugares por onde transitam os sujeitos que se encontram na escola para realizarem, juntos, um trabalho que visa à ampliação, permanente dos conhecimentos. (ESTEBAN, 2003, p. 35)

    E para que de fato esta avaliação citada por Esteban se concretizasse, esta ao analisar a discussão de Freitas (s/ data), propõe algumas considerações acerca de possibilidades para por em prática uma avaliação mais inclusiva e formadora, onde houvesse diálogo e interação entre alunos com o professor e a escola num todo, que o erro não cause motivo de vergonha ou a necessidade de se aplicar uma punição, que quando preciso exista a intervenção de outros atos pedagógicos presentes na escola e que se registre não somente os objetivos e metas alcançadas, mas que também se coloque os problemas e conflitos surgidos para uma futura análise e busca de melhorias desta.

Considerações finais

    Para que se possa proporcionar as futuras gerações espaço e autonomia de atuação e formação da sociedade no qual irão viver, é mais do que preciso observar, analisar e demonstrar a estes a realidade do qual vivem no sentido de que estes possam escolher e repensar sobre o que estão vivendo, como atuarão e de que forma poderiam transformar essa sociedade que a cada dia que passa parece se perder quanto a princípios de coletividade, respeito e integração social.

    Para que se possa transformar a sociedade futura, é preciso conhecer e obter auxílio quanto a pratica de refletir e desenvolver suas próprias opiniões e vontades para agir no mundo; e para tal feito, são nas instituições sociais, políticas, culturais e principalmente na escola que estes deveriam conviver com essas relações de teoria e pratica de ideal e real e de possíveis manifestações e incentivos de mudança da atitude e ação, onde todos os seres adultos, os professores, coordenadores e toda a comunidade que cerca a vida desses futuros cidadãos deveriam se sentir na responsabilidade de levá-los a uma vida mais cidadã e autônoma.

    Assim, pensar também na escola e métodos de avaliação compatíveis com as necessidades do indivíduo em detrimento dos aspectos econômicos se faz necessário repensar o modelo escolar, reestruturar e reorganizar os métodos e meios de trabalho, de forma que instrumentos como o disciplinamento, autocontrole, avaliação e punição, sejam repensados na prática e de fato se tornem eficientes na construção de sujeitos pensantes e não somente reprodutores.

Nota

  1. SOUZA (s/d) diz que, ética e moral, pela própria etimologia, diz respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.

Referencias

  • ALENCAR, H. M de; LA TAILLE, Yves de. Humilhação: o desrespeito no rebaixamento moral. Universidade federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2007.

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  • CARUSO, Marcelo; DUSSEL, Inês. A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de ensinar. 1ª edição. Editora Moderna. São Paulo. SP. 2003.

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  • LOPES, Jose de Sousa M.; TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro. A escola vai ao cinema. Autentica. 2ª ed. Belo Horizonte. MG. 2003.

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  • MACHADO, Nilson Jose. Educação: projetos e valores. Escrituras. 3ª ed. São Paulo. SP. 2002

  • MARTINS, Jose de Souza. A sociabilidade do homem simples. Contexto. 2ª ed. São Paulo. SP. 2008

  • POIETHOS – 1 Simpósio Nacional Sobre Política, Ética e Educação.. A investigação sobre ética e política na dinâmica da pesquisa em educação no Brasil e sua importância para a formação do educador. Grupo PAIDEIA. Campinas. SP. 2008.

  • RATTO, Ana L. S. Livros de Ocorrência. São Paulo: Cortez, 2007.

  • SOUZA, Fernando Trajano Mendes de. O que é Ética? Disponível em http://pessoal.educacional.com.br/up/1580001/198212/PAG.htm. Acessado em 11 de dezembro de 2009. 17:35horas.

  • SOUZA, Warley, C. de. Formação de Professores: esvaziamento de uma prática ou uma prática esvaziada.

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