Efeito agudo do alongamento passivo e na rapidez do chute de taekwondo dollio chagui Efecto agudo del estiramiento pasivo y en la velocidad de la técnica de taekwondo dollio chagui Cumulative effect of three different warm-up routines on dollio chagui taekwondo kick performance |
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*Mestre em Treino para Alto Rendimento pela Faculdade de Motricidade Humana (FMH-UTL), Portugal **Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) ***Doutor em Sport Wissenschaft pela Universitaet Konstanz, Alemanha Professor da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia |
Pedro Vieira Sarmet Moreira* Bruno Gonzaga Teodoro** Sílvio Soares dos Santos*** (Brasil) |
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Resumo Objetivo: verificar a influência alongamento passivo da musculatura antagonista do chute de Tae Kown Do (TKD) Dollio Chagui na rapidez linear do mesmo. Métodos: Participaram da pesquisa 5 Atletas (idade 21,4 ±2,07 anos; massa corporal 76,74 ± 8,13 Kg e estatura 1,78 ± 0,06 m) treinados em TKD a pelo menos 3 anos, participantes do calendário competitivo da Federação de TKD de Minas Gerais (FTEMG). Foram utilizadas duas plataformas de contacto em conjunto com um alvo acolchoado, adaptados para aferir a rapidez do chute, após 3 rotinas cumulativas: aquecimento geral (AG); cinco exercícios de alongamento da musculatura antagonista ao chute (AA) e aquecimento específico (AE). Resultados: Não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) na rapidez do chute após o AG, AA e o AE. Conclusão: nem o alongamento passivo nem o aquecimento específico influenciaram de maneira aguda a rapidez linear do chute Dollio Chagui. Palavras Chaves: Tae Kwon Do. Dollio Chagui. Rapidez linear. Alongamento passivo.
Abstract Aim: To verify the passive stretching influence on Dollio Chagui Tae Kown Do (TKD) kicking speed. Methods: Participate in this study 5 Tae Kown Do Athletes (age 21,4 ±2,07 years; body mass 76,74 ± 8,13 Kg and height 1,78 ± 0,06 m) with at least 3 years TKD practice, competitors of the Minas Gerais Taekwondo Federation (FTEMG). For the kicking linear speed measure was used two contact platform with a target adapted for this end, after three cumulative routines: a general warm-up (GW), five passive stretching exercises of antagonist muscles of the kick (SA) and specific warm-up (SW). Results: We did not observed any statistic difference (p < 0.05) on kick speed after GW, SA and SW. Conclusion: nor the passive stretching neither the specific warm up, had no acute influence on Dollio Chagui kicking linear speed. Keywords: Tae Kwon Do. Dollio Chagui. Linear speed. Passive stretching.
Comitê de ética Todos os participantes estavam cientes e de acordo com o termo de consentimento livre e esclarecido, onde todo o procedimento do estudo foi relatado. Todos os procedimentos atenderam às Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde).
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Taekwondo (TKD) é uma arte marcial coreana em que aproximadamente 98% dos pontos marcados em um combate são derivados de chutes. O golpe mais utilizado no TKD é o chute semicircular1, este pode ser realizado na altura do abdômen recebendo o nome de Bandal Chagui (chute semicircular baixo) ou, na altura do rosto do adversário (Figura 1b) recebendo assim o nome de Dollio Chagui (chute semicircular alto), sendo que o último possui grande importância por valer o triplo de pontos em relação ao primeiro pela regra atual.
Para a realização de movimentos rápidos, tais como o chute Dollio Chagui, é necessária a participação de rotinas ótimas de aquecimento para que altos níveis de produção de força explosiva sejam atingidas3.
No TKD, as rotinas de aquecimento geralmente são constituídas por exercícios contendo ao menos uma das características a seguir: força, velocidade, flexibilidade, endurance muscular e resistência cardiovascular. Hipoteticamente, o objetivo desta prática é reduzir a ocorrência de lesões e aumentar a performance através do aumento da temperatura corporal e velocidade da resposta neuromuscular4, além de promover as adaptações cardiovasculares agudas necessárias para o aumento do consumo de oxigênio5. Em concordância com a última afirmação, um estudo com ballet6 demonstrou que uma rotina de aquecimento com alongamento, causou a diminuição da contribuição relativa do metabolismo anaeróbico para 30 segundos de movimentos vigorosos, que demandam grande amplitude de movimento (assim como no chute semi circular). De acordo com os autores, esta modificação pareceu ser mais relacionada ao aumento da utilização de fontes aeróbias que devido à alguma depleção dos fosfatos de alta energia, decorrentes do aquecimento.
Tradicionalmente, o aquecimento no TKD é constituído por um rápido período de exercícios aeróbios de baixa intensidade, seguidos de alongamento passivo. Muitos atletas e técnicos acreditam que esse tipo de aquecimento associa-se inversamente com a ocorrência de lesões7. Porém muitos pesquisadores tem demonstrado existir um déficit de força após o alongamento passivo4,7,8, apesar de haver poucas evidências contrárias9,10.
Contudo, não foram encontrados estudos sobre a influência aguda do alongamento na rapidez e ou velocidade de movimento em eventos balísticos à máxima velocidade e que utilizem uma grande amplitude articular como é o caso do movimento analisado. E ainda, não se encontrou estudos que analisem o efeito do alongamento da musculatura antagonista ao movimento testado.
Porém, teoricamente o alongamento dos músculos antagonistas poderia promover inibição do fuso muscular destes grupamentos musculares, podendo assim diminuir a contração involuntária dos mesmos, diminuindo as possíveis desacelerações angulares das articulações controladas por tais músculos, além disso, Smith et al.13 demonstrou que quanto maior a tonicidade muscular, maior a resistência ao estiramento e conseqüentemente menor a velocidade, assim, sabendo que o alongamento diminui o tônus muscular14 o alongamento da musculatura antagonista poderia aumentar a velocidade e a conseqüente rapidez.
Assim o objetivo deste trabalho foi verificar a influência aguda e cumulativa de três tipos de rotinas de aquecimento (aquecimento geral; alongamento passivo da musculatura antagonista; e aquecimento específico) na performance do chute Dollio Chagui, em atletas de TKD participantes do calendário competitivo da Federação de TKD do Estado de Minas Gerais (FTEMG). Nossa hipótese é que o alongamento dos músculos antagonistas influencia de maneira benéfica a rapidez do movimento.
Procedimentos metodológicos
Voluntários
Participaram do teste 5 atletas (idade 21,4 ± 2,07 anos; massa corporal 76,74 ± 8,13 Kg e estatura 1,78 ± 0,06m) de TKD do gênero masculino praticantes desta modalidade à pelo menos 3 anos, participantes do calendário competitivo da FTEMG. Os procedimentos de coleta dos dados atenderam as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde) e todos participantes assinaram o termo de consentimento de livre esclarecimento. Os testes foram realizados no laboratório de biomecânica da Universidade Federal de Uberlândia.
Descrição da técnica
O Dollio Chagui é caracterizado basicamente por uma flexão do quadril da perna de ataque com simultânea flexão de joelho, seguido por rotação medial da coxa do mesmo membro, com subseqüente extensão do joelho; neste momento o atleta fica com os quadris abduzidos2.
Equipamentos utilizados
Com o objetivo de aferir a rapidez do chute “Dollio Chagui”, utilizamos duas plataformas de contato freqüência de amostragem a 1000 Hz, da marca Multi-Sprint®, cuja uma de suas placas foi anexada ao solo (Figura 1a) onde o pé de ataque permaneceu posicionado até o início (saída do pé do solo) do movimento e a outra placa foi anexada ao alvo (aparador de golpes) da marca KIME® que fixou-se a um suporte (Figura 1b) deslocável por uma trilha, que por sua vez era graduada por uma fita métrica de precisão milimétrica, para que o alvo pudesse ser colocado na altura desejada (altura do rosto na posição de luta) de cada atleta.Para mensuração da massa corporal utilizou-se a balança FILIZOLA® e para mensuração da altura utilizou um estadiômetro da marca SECA®.
Figura 1. a. Plataforma de contato fixa ao solo. b. Plataforma de contato fixa à parede
Testes
Para realização dos testes, mediu-se a estatura dos voluntários na base de luta, padronizada pela largura dos ombros multiplicada por 1,3312 e com a flexão de joelhos e quadris utilizada normalmente pela prática do atleta. Essa altura correspondeu à altura do alvo pra mensuração da rapidez de chute.
A distância horizontal entre o centro do alvo (CTA) e o ponto de apoio do pé de ataque (PTA) à plataforma sob o solo foi padronizada de forma que no momento em que o pé toca o alvo, a perna de base (PB) do atleta forme um ângulo de 90º com o solo. Utilizou-se a articulação metatarso-falangeana como PTA.
O parâmetro de performance utilizado foi a rapidez, que é uma grandeza escalar, visto que os equipamentos utilizados são capazes de mensurar o tempo de execução da técnica e o deslocamento do pé do solo ao alvo, mas não são capazes de mensurar a distância percorrida pelo pé. Portanto, não se mensurou a velocidade, que demanda a utilização da distância percorrida para seu cálculo.
A rapidez de movimento foi determinada através da divisão do valor do deslocamento linear percorrido pelo pé de ataque desde o PTA até o CTA pelo tempo despendido durante a realização do golpe.
Os testes foram realizados na seguinte seqüência: Aquecimento Geral (Rotina 1), teste 1; Alongamento passivo da musculatura antagonista ao chute (Rotina 2), teste 2; Aquecimento Específico (Rotina 3) e teste 3.
Rotina 1
Dez minutos de aquecimento com a seguinte seqüência:
1) Corrida para frente e para trás numa distância de 5 metros em velocidade natural durante 1min; 2) Idem 1 com aceleração e desaceleração; 3) Flexão de quadril com elevações unilaterais de joelhos flexionados durante 1 min por perna; 4) Idem 3 com velocidade máxima durante 10 segundos cada perna; 5) Ensaio da técnica Dolho Chagui (DC) da perna que executará o golpe (PG) durante o teste em velocidade lenta durante 1 min; 6) Idem 5 com velocidade máxima no aparador e pausa de 15 segundos entre as repetições; 7) Ensaio do equipamento em funcionamento (5 repetições).
Teste 1 (T1)
Cinco repetições com máxima velocidade do DC, com intervalo de 30 segundos entre as repetições.
Rotina 2
Foi padronizado o alongamento dos músculos posteriores da coxa do membro inferior que executou o golpe e os adutores do quadril da perna de base.
A seqüência utilizada foi a seguinte: 1) O atleta sentado manteve a PG estendida sobre o solo enquanto a PB manteve-se flexionada e quadril abduzido de tal forma com o pé da mesma tocasse a parte medial da coxa da PG e o côndilo lateral da PB toque o solo. Além disso houve uma flexão passiva máxima do quadril (alongamento para posterior da coxa e glúteo da PG); 2) Idem 1, porém com o joelho da PB flexionado atrás do quadril com o maléolo e epicôndilo mediais tocando o solo (alongamento para posterior da coxa e glúteo da PG); 3) Abdução máxima do quadril com os joelhos em extensão com o tronco perpendicular ao solo “abertura lateral” (alongamento de adutores); 4) Abertura frontal máxima com PB a frente e, além do pé da PG tocar o solo lateralmente, estando a coxa em rotação medial (alongamento do adutor da PG, com o joelho em extensão e com especificidade do movimento).
Todos os exercícios foram realizados durante um minuto, na máxima amplitude articular subjetivamente alcançada.
Teste 2 (T2)
Idem teste 1.
Rotina 3
Após um minuto da realização do teste 2, iniciou-se o aquecimento específico na seguinte seqüência:
1) 1 min de ensaio da técnica no aparador com velocidade lenta do golpe testado. 2) 1 min de descanso. 3) 2 min de ensaio da técnica no aparador com a maior velocidade possível com intervalo de 15 segundos entre cada chute.
Teste 3 (T3)
Idem teste 1.
Estatística
Após os dados serem submetidos ao teste de normalidade, aplicou-se análise de variância [one-way] para análises entre os testes e ANOVA One-Way para medidas repetidas dentro do mesmo chute de cada voluntário. Os cálculos estatísticos foram realizados no software SPSS versão 18.0, sendo empregado o nível de significância de até 5% [P < 0,05].
Resultados
Não foi identificada diferença estatisticamente significativa (P > 0,05) entre os testes (1, 2 e 3) em cada chute (1, 2, 3, 4 e 5) (Figura 2) no tempo de execução do chute. Como também não se verificou modificação no tempo de chute entre os chutes (1, 2, 3, 4 e 5) em cada teste (1, 2 e 3).
Além disso, não foi observada diferença significativa (P > 0,05) nos valores médios de rapidez linear de chute entre os testes (1, 2 e 3) (Tabela 1). Também não se verificou alteração na rapidez de chute dentre repetições (1, 2, 3, 4 e 5) em cada teste (1, 2 e 3). Como também não se verificou modificação no tempo de chute entre os chutes (1, 2, 3, 4 e 5) em cada teste (1, 2 e 3).
Figura 2. Comparação entre as médias de tempo (s) de cada chute nos testes 1, 2 e 3.
Tabela 1. Comparação entre as médias de rapidez (m s-1) de cada chute nos testes 1, 2 e 3:
Discussão
Nossa hipótese inicial baseia-se no princípio que o alongamento dos músculos antagonistas poderia promover inibição do fuso muscular destes grupamentos musculares, podendo assim diminuir a contração involuntária dos mesmos, diminuindo as possíveis desacelerações angulares das articulações controladas por tais músculos, além disso, Smith et al.13 demonstrou que quanto maior a tonicidade muscular, maior a resistência ao estiramento e conseqüentemente menor a velocidade, assim, sabendo que o alongamento diminui o tônus muscular14 o alongamento da musculatura antagonista poderia aumentar a velocidade e a conseqüente rapidez, porém os resultados do nosso estudo sugerem que o alongamento passivo dos músculos antagonistas não é uma estratégia que promove ganho ou perda de velocidade de forma aguda.
Na literatura pesquisada, não se encontrou estudos que analisam os efeitos do alongamento estático da musculatura antagonista à performance motora.
Existem alguns trabalhos que relacionam a execução de alongamentos com o aumento da força, potência, agilidade e velocidade. Kubo et al.9 afirmam que quando o músculo ativado é alongado antes do encurtamento sua performance é aumentada na fase isotônica concêntrica. Existe também um estudo feito por Yamaguchi et al.10 em que há aumento da potência de extensão das pernas após alongamento dinâmico.
Por outro lado, a maioria dos estudos apontam um efeito negativo do alongamento estático. Em uma pesquisa realizada em crianças (11.3 ± 0.7 anos) que praticaram 5 minutos de alongamento estático, houve perda significativa do desempenho em saltos verticais e corridas curtas15. Em um estudo de Knudson et al.16 com 20 adultos jovens, 55% dos voluntários que realizaram alongamentos antes dos exercícios diminuíram suas velocidades verticais no salto com contra movimento (CMJ), embora ao se analisar os resultados médios de todos os 20 elementos da amostra, o alongamento não causou diferença significativa no desempenho. Existe também um estudo em que todos os grupos que fizeram alongamento obtiveram diminuição significativa do desempenho de exercícios de alta potência e curta duração8. Tem-se ainda outra pesquisa onde o alongamento influenciou negativamente força explosiva e a performance de saltos17 e por fim Vetter et al.4 verificaram que o alongamento estático diminui a perfomance de saltos verticais, mas não influi na velocidade de sprint de 30 metros. Porém nenhum destes estudos analisou o efeito do alongamento nos músculos antagonistas ao movimento a ser analisado.
Em relação ao tempo da execução do chute, o valor médio encontrado foi 0,270s, diferindo do estudo de Tang et al.18 que apresenta média de chutes de 0,650s. Esses valores diferem porque Tang aferiu, através de análise cinemática 3D, o tempo de execução total do chute, ou seja, até que os pés cheguem ao solo novamente, ao contrário de nosso estudo em que a mensuração do tempo finalizou no momento em que o pé do atleta atingiu o alvo. Porém o estudo de Herman et al.19 com atletas da seleção alemã de Taekwondo, também por meio de análise cinemática, encontrou valores semelhantes (0.278±0.025 ms) ao atual, pois o tempo de chute considerado era interrompido no momento de impacto com o alvo, e o momento considerado como sendo o inicial de saída do pé utilizado foi aquele em que o tornozelo tivesse movido mais que 1 cm.
Uma limitação do nosso estudo foi que não foi possível mensurar a velocidade do chute, e sim a rapidez deste movimento, o que naturalmente está implicado na possibilidade de subestimação dos valores conseguidos quando comparado à velocidade média calculada pela divisão do valor integral da curva de velocidade pelo tempo total de sua execução.
Conclusão
Através deste estudo concluímos que o alongamento passivo de máxima amplitude articular da musculatura antagonista não influi de maneira aguda na velocidade do chute Dollio Chagui. Sugerimos a execução de novos estudos que analisem o efeito do alongamento da musculatura antagonista na performance motora de movimentos que exijam grande amplitude articular para confirmar os nosso achados.
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