efdeportes.com

Potenciação pós ativação: conceitos básicos

Potenciación post activación: conceptos básicos

 

Mestrandos em Treino de Alto Rendimento

Faculdade de Motricidade Humana

(Brasil)

Daniel Bemfato Dezan*

Flávio Montes**

db_dezan@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Potenciação Pós Ativação (PPA) refere-se ao aumento do torque de uma contração muscular após uma atividade condicionante. Existem evidências que o uso de exercícios de força, como atividade condicionante, pode manifestar a PPA. Os mecanismos responsáveis pela PPA são de origens fisiológicas e neurais, sendo que as características individuais dos sujeitos, sexo, pratica de treino, idade, tipos de fibras, influenciam a PPA. Com isso, essa revisão tem como objetivo verificar os principais mecanismos responsáveis pela PPA e os tipos de atividades condicionantes que poderiam desencadear os efeitos da PPA.

          Unitermos: Potenciação pós ativação. Força. Desempenho.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    É claramente aceito que uma atividade condicionante prévia pode afetar o rendimento neuromuscular posteriormente (Chiu et. al., 2003; Kilduff et. al., 2007; Bevan et. al., 2010; Chatzopoulos et. al., 2007; Morana & Perrey, 2009; Rixon et. al., 2007; Requena et. al., 2010). O efeito de uma atividade condicionante prévia mais estudada é a fadiga (Morana & Perrey, 2009; Rassier & Herzog, 2001; Rassier & MacIntosh, 2002). Contudo, uma ativação condicionante prévia pode também acarretar um incremento na capacidade de rendimento, efeito conhecido como Potenciação Pós – Ativação (PPA) (Rassier & Macintosh, 2002). Esse efeito de potenciação é definido por Baudry & Duchateau (2007) como o aumento do torque de uma contração muscular causado por uma contração condicionante.

    Na literatura atual são descritos alguns tipos de potenciação de acordo com a característica da atividade condicionante. A potenciação pode ser induzida por impulsos elétricos de alta freqüência (Abbate et. al., 2000) e impulsos elétricos de baixa frequência (Boschetti, 2002). A PPA pode ser induzida também por contrações tetânicas voluntárias (MacIntosh & Willis, 2000; Baudry & Duchateau, 2007; Batista et. al.., 2007; Boschetti, 2002), no entanto há indícios também de que ações musculares que envolvam o CAE sejam igualmente capazes de desencadear os efeitos de potenciação da força rápida (Batista et, al., 2003). Na FIGURA 1 pode – se observar o efeito de potenciação (Batista et, al., 2003):

Figura 1. Um exemplo de Potenciação Pós Tetânica. Primeiro, uma contração é provocada em um músculo que estava em repouso 

por algum tempo (i). Então uma contração condicionante, como uma contração tetânica provocada eletricamente ou um contração voluntaria máxima é realizada (ii).

 Uma contração provocada após a condicionante mostra o aumento da força e a redução do seu tempo de duração, fenômeno típico da potenciação pós - tetânica (iii).

Mecanismos fisiológicos e potenciação

    O principal mecanismo fisiológico responsável como causador da potenciação é a fosforilação da miosina regulatória de cadeia leve (FMCL) (Batista et. al. 2010; Baudry & Duchateau, 2007; Baudry et. al., 2005; O´Leary et. al., 1997; Morana & Perrey, 2009). Segundo Rassier & MacIntosh (2000), a FMCL altera a conformação das pontes cruzadas, colocando as cabeças globulares numa posição mais próxima dos filamentos de actina. Essa aproximação aumenta a probabilidade de interação entre as proteínas contráteis, o que implica numa maior quantidade de conexões entre os filamentos, e conseqüentemente, num maior desenvolvimento de tensão (Batista et. al., 2010).

    A FMCL é mediada pela enzima quinase da miosina regulatória de cadeia leve e a desfosforilação da miosina regulatória de cadeia leve se deve a ação da fosfatase da miosina regulatória de cadeia leve (Batista et. al., 2010). Segundo o autor a ativação da quinase da miosina regulatória de cadeia leve é feita pelo complexo cálcio/calmodulina, que, por sua vez, é formado quando o cálcio é liberado pelo retículo sarcoplasmático, assim aumentos na atividade da quinase ou diminuições na atividade da fosfatase modulam a FMCL. Hamada et. al. (2000) defende a idéia que uma ação condicionante prévia pode acarretar uma maior liberação do cálcio pelo retículo sarcoplasmático, assim aumentando sua concentração no sarcoplasma. Esse aumento na concentração de cálcio no sarcoplasma leva a uma maior taxa de formação das pontes cruzadas devido a um aumento da sensibilidade das proteínas contráteis ao cálcio, conseqüentemente aumentando a força da contração muscular e a taxa de desenvolvimento de força (Metzer et. al., 1989).

    Batista et. al. (2010) mencionam que o aumento da concentração do cálcio no sarcoplasma além de provocar uma maior liberação de sítios de actina para a conexão das pontes cruzadas de miosina, também aumenta a formação do complexo cálcio/calmodulina, que, em seqüência aumentaria a ativação da quinase da miosina regulatória de cadeia leve e, indiretamente, a FMCL. Numerosos estudos mostram uma forte correlação entre o nível de FMCL e a potenciação causada por contrações prévias (Klug et. al., 1982; Hamada et. al. 2000; Brown & Loeb, 1998; MacIntosh et. al., 1993).

Tipos de fibras e potenciação

    A magnitude da manifestação da potenciação é afetada pelas características dos músculos estimulados (Krarup, 1977). Nesse sentido Hamada et. al. (2000) propõem que o tipo de fibras afeta a magnitude da potenciação, onde as fibras do tipo II o efeito de potenciação é maior do que nas fibras tipo I. Neste estudo foi verificado que a estimulação dos extensores do joelho com uma contração isométrica voluntária máxima de dez segundos resultou em uma maior potenciação nos sujeitos com maior porcentagem de fibras tipo II. Entretanto no estudo de Morana e Perrey (2009) teve o objetivo de medir o efeito da potenciação pós – ativação em dois grupos com história de treino diferentes, atletas treinados em força e potência e atletas de endurance. Os autores concluíram que o efeito de potenciação se manifestou nos dois tipos de atletas, ou seja, a potenciação pode se manifestar em atletas com maior porcentagem de fibras tipo I.

    O maior efeito de potenciação nas fibras tipo II é explicado por esse tipo de fibra ser mais suscetível a fosforilação da miosina, devido ao fato que nas fibras rápidas de ratos a atividade da enzima quinase ser três vezes maior o que explicaria sua maior taxa de fosforilação (Grange et. al. 1998).

    No estudo de Houston & Grange (1991) citado por Morana & Perrey (2009), verificou que o treinamento de resistência pode aumentar a potenciação, por que as adaptações ocorridas com este tipo de treinamento podem aumentar o conteúdo de miosina de cadeia leve rápida em fibras tipo I, aumentando a capacidade de fosforilação da miosina regulatória de cadeia leve neste tipo de fibra.

Reflexo H e potenciação

    A estimulação dos receptores cutâneos induzidos por estímulos elétricos pode alterar o número de unidades motoras que são ativadas voluntariamente o que tem sido verificado com recurso à medição do reflexo H (Trimble & Enoka, 1991). O reflexo H é utilizado na avaliação da excitabilidade da via reflexa e consiste em aplicar um choque elétrico em um nervo periférico misto (Palmieri et. al., 2004; Folland et. al., 2008). Através do registro eletromiográfico a resposta do sistema neuromuscular ao reflexo H é obtida, quanto maior é a amplitude das ondas H obtidas através da eletromiografia maior também é o número de UMs recrutadas, devido ao um maior nível de excitabilidade do pool de motoneurônios (Palmieri et. al., 2004).

    Através de estimulações elétricas de receptores cutâneos se induz aferências excitatórias nas UMs de contração rápida e aferências inibitórias as UMs de contração lenta (Garnett & Stephens, 1981; Trimble & Enoka, 1991).

Gênero

    A ausência de diferenças significativas na capacidade de potenciação entre homens e mulheres se deve ao fato que ambos possam, de alguma maneira, ter vantagem em relação ao outro, onde as mulheres se beneficiariam em ter uma maior resistência à fadiga no qual, os efeitos de potenciação sobressairiam sobre os efeitos da fadiga (Aníbal Bustos, 2001). Mulheres apresentam uma menor diferença na proporção entre fibras do tipo I e do tipo II quando comparados aos homens (Hostler et. al., 2001), além disso, as fibras do Tipo I tendem a serem maiores em mulheres (Staron et. al., 2000), o que poderia explicar uma maior resistência a fadiga em mulheres.

    Por outro lado em homens, as fibras Tipo II são maiores (Staron et. al., 2000), e os estudos mostram que existem um maior efeito de potenciação nas fibras Tipo II (Hamada et. al., 2000; Grange et. al., 1998).

Atividades condicionantes

    A indução da potenciação com estimulação involuntária, consiste em aplicar uma corrente elétrica de alta frequência, com duração entre cinco e dez segundos (Batista et. al. 2010). A estimulação involuntária pode ser aplicada no nervo motor ou diretamente no músculo (Grange et. al. 1998, MacIntosh & Willis, 2000). Segundo Abbate et. al. (2000) para se produzir uma contração de tetânica a corrente elétrica tem que ser de alta voltagem. A estimulação de alta frequência de um neurónio pré – sináptico leva ao aumento da quantidade de neurotransmissor na fenda sináptica, esse aumento permanece por alguns minutos, o que facilita a despolarização das células pós – sinápticas nas ativações subsequentes (Batista et. al. 2010).

    Outra forma de induzir a potenciação é através de contrações voluntárias (MacIntosh & Willis, 2000, Batista et. al., 2007, Baudry & Duchateau, 2007). Alguns estudos conseguiram induzir a potenciação com contrações isométricas (Hamada et. al. 2000; French et. al., 2003) e outros obtiveram sucesso com contrações dinâmicas (Chiu & Salem , 2003; Batista et. al., 2007).

    Na Tabela 1 é apresentado as principais diferenças fisiológicas entre a contração muscular voluntária e a induzida eletricamente no músculo quadríceps femoral:

Contrações Voluntárias

Induzidas Eletricamente

Recrutamento através do princípio do tamanho (Fibras tipo I antes das Tipos II)

Recrutamento preferencial das fibras tipo II

Despolarização assincrônica

Despolarização sincrônica

Taxas de disparos baixos e intermitentes

Taxas de disparos altas e constantes

Tabela 1. Diferenças fisiológicas entre a contração voluntária e a induzida eletricamente (Delitto & Snyder-Mackler, 1990)

Avaliação da potenciação

    Da mesma forma que a potenciação tem várias maneiras de ser estimuladas, existem também várias maneiras de ser avaliada. Nos estudos em que a potenciação é induzida por contrações involuntárias, costuma – se avaliar a potenciação comparando o desempenho antes e após a atividade condicionante, por meio, a resposta de um estímulo elétrico isolado, conhecido com “twitch” (Batista et. al., 2010). Quando a potenciação é estimulada de maneira involuntária, ela pode ser avaliada por meio, da combinação de eletromiografia e/ou um dinamômetro. São mensuradas várias variáveis, como taxa de desenvolvimento de força, torque muscular, pico de força e tempo de meio relaxamento (O´Leary et. al., 1997; Ebben et. al., 2000). Contudo no estudo (Miyamoto et. al., 2010) usaram a eletromiografia para avaliar o desenvolvimento de torque, no movimento de flexão plantar na máquina isocinética, onde a potenciação foi induzida por contrações voluntárias.

    Estudos como o de Jo et. al. (2010) avaliaram o tempo de duração da recuperação, após o estímulo condicionante que era feito por contrações voluntárias, por meio do teste de wingate. No estudo de Farup & Soresen (2010) investigaram o efeito da potenciação na parte superior do copo, induzido por meio de contrações voluntárias máximas, onde os sujeitos foram avaliados na máquina Smith, a avaliação da potenciação foi feita por uma plataforma de força adaptada no na máquina Smith, onde foi mesurada a taxa de desenvolvimento de força isométrica e a potência máxima, não tendo sido encontradas diferenças significativas. Segundo os autores para se obter a potenciação na parte superior do corpo não se justifica usar resistências máximas. Especula – se que o nível de ativação se comporta de maneira diferente na parte superior do corpo em relação à parte inferior (Farup & Soresen, 2010). Em relação a isso Baker (2003) utilizou um conjunto de seis repetições com 65% de 1RM e encontrou um aumento de 4,5% na potência média. Refira-se que os autores para mensurar a potência média realizaram o arremesso de barra no supino usando a máquina Smith adaptado por um Plyometric Power Systen.

    Devido o grande interesse em se aplicar a potenciação para o aumento do desempenho esportivo uma série de estudos começou a ser realizadas na qual a potenciação é avaliada por meio de tarefas complexas. Os exercícios mais utilizados para esse fim são os SVs, SJ e CMJ, e os saltos horizontais (SH) (Chiu et. al., 2003; Batista et. al., 2003; Kosh et. al., 2003) e o arremesso na barra de supino (Hrysomallis & Kidgell, 2001). O interesse em se avaliar a potência utilizando esses tipos de exercícios se deve ao fato que esses tipos de exercícios estão relacionados com o desempenho em um grande número de modalidades desportivas.

    Vários estudos mostram que atividades dependentes da manifestação de força rápida, como sprints, projecções de judo, testes de wingate e saltos (Bevan et. al., 2010; Miarka et. al., 2010; Jo et. al., 2010; Esformes et.al, 2010) podem se potencializar quando precedidos por exercícios de força.

    Contudo os testes de SVs são os principais testes para se avaliar a potência muscular nos membros inferiores (Brow & Weir, 2003), e nos estudos de potenciação os SVs vêem sendo largamente usados (McCann & Fanagan, 2010; Till & Cooke, 2009; Requena et. al., 2010; Webber et. al., 2008).

    No estudo de MacCann & Sean (2010) foi verificado uma melhora na altura do CMJ, em 8 homens e 8 mulheres, de 5, 7% após os avaliados realizarem uma série de 5 repetições máximas de agachamento.

    Kendal et. al. (2007) realizaram um estudo onde foi verificado a influência do tipo de contração (dinâmico vs. isométricos) no desempenho do CMJ, para isso, avaliou 30 jovens (15 homens e 15 mulheres) onde foram separados em dois grupos 20 com experiência em treinamento de força e 10 sem experiência no treinamento de força. Os resultados mostram que o protocolo que usou a contração isométrica (1 série de 3 segundos de contração máxima) foi melhor para potencializar o salto que o protocolo que usou a contração dinâmica (1 série de 3 repetições com 90% da carga máxima), os homens tiveram um desempenho significativamente maior que as mulheres e os sujeitos com experiência tiveram um desempenho melhor que os sujeitos sem experiência.

    No estudo Chiu et. al. (2003) comparam o efeito de potenciação em atletas de diferentes modalidades e indivíduos classificados com fisicamente ativos, o tratamento experimental consistia em 1 repetição de agachamento com 90% da carga máxima. Segundo os autores o desempenho no SV foi potencializado nos atletas, mas não sofreu qualquer alteração nos fisicamente ativos. Esses resultados vão de acordo com os resultados de Webber et. al. (2008) que relataram um aumento na força de reação do solo no salto vertical após 5 repetições com 85% da carga máxima.

    French et. al. (2003) observaram uma melhora no desempenho da altura no SV em atletas treinados em esporte de potência após a realização de 3 séries de 3 contrações voluntárias isométrica máximas de 3 segundos.

    Se por um lado os estudos citados acima mostram uma melhora do desempenho nos SVs, quando usados exercícios de força antes da realização dos saltos, alguns estudos questionam essa prática.

    Jones & Lee (2003) não relataram melhora no CMJ após 5 repetições de agachamento com 85% de 1 RM, em homens experientes em treinamento de resistência e TP, contudo não houve redução do desempenho sugerindo que a execução do exercícios de força de alta intensidade não foi prejudicial no desempenho do CMJ.

    No estudo de Jensen & Ebben (2003) a realização de 1 série de 5 RM no agachamento não provocou alterações na altura do CMJ avaliado após quatro minutos após o exercícios de força, em atletas treinados em desportos de características anaeróbias (vôlei; wrestling; salto em altura; salto em distância; arremesso de disco e martelo).

    Batista et. al. (2003) avaliaram o efeito de, 4 séries de 5 saltos em profundidade em uma altura de 40 cm e 3 contrações voluntárias isométricas máximas de 5 segundos de duração no leg press, na altura do CMJ, em sujeitos fisicamente ativos. Segundo a conclusão dos autores nenhum dos dois tipos de exercícios forma capazes de melhor o desempenho na altura do CMJ, na amostra estudada. Os relatos de Hamada et. al. (2000) sugerem que a falta de experiência em treinamento da amostra estudada é uma possível explicação para o desempenho não melhorado dos SVs.

    Scott & Docherty (2004) não verificaram melhoras na altura e na distância dos SV e SH respectivamente em sujeitos com pelos menos 1 ano de treino de força, com experiência no exercício agachamento, após a realização 1 série de 5 RM no agachamento.

    Koch et. al. (2003) não verificaram diferenças no desempenho do SH 15 minutos após a realização de uma 1 série com 3RM com cargas de 50%, 75% e 85% da carga máxima, entre atletas (velocista e saltadores) universitários e indivíduos não treinados.

Conclusão

    Muitas são as alternativas metodológicas que são propostas nos últimos anos para o desenvolvimento da potenciação da força rápida com o intuito de melhorar ações técnicas desportivas.

    Como se vê o uso de exercícios de força como estratégia para aumentar o desempenho ainda não está muito claro. Vários fatores parecem influenciar na potenciação, como estado de treinamento dos indivíduos, caráter dos exercícios, intensidade dos exercícios, tipo de estímulo e tempo de recuperação entre os exercícios e a atividade principal. Contudo deve – se programar corretamente o momento da realização dos exercícios de força no aquecimento, para que os efeitos de potenciação não sejam substituídos pelos efeitos da fadiga.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires, Enero de 2011
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