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Comparação da performance entre uma equipe feminina de 

handebol com e outra sem treinamento físico periodizado 

durante uma temporada competitiva

Comparación de la performance entre un equipo femenino de balonmano con 

otro sin entrenamiento físico periodizado durante una temporada competitiva

 

*Laboratório de Bioquímica do exercício (LABEX)

Departamento de Bioquímica, Instituto de Biologia

UNICAMP, Campinas, SP

**Grupo de Estudos de Handebol (GEHAND)

Faculdade de Educação Física, UNICAMP, Campinas

***Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos (FAESO)

Ourinhos, SP

(Brasil)

Eduarda Faria Abrahão Machado*

Clodoaldo José Dechechi* ** ***

Bernardo Neme Ide*

Charles Ricardo Lopes*

Mário Ferreira Sarraipa*

Heloísa Helena Baldy dos Reis**

Denise Vaz de Macedo*

cdechechi@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Dentre os fatores que interferem em uma boa performance em desportos intermitentes, as capacidades físicas estão na base de uma pirâmide hipotética, pois dão suporte para os desempenhos técnicos e decisões estratégico-táticas. O pico da performance atlética depende de como são planejados intensidade e volume de treinamento com períodos de repouso entre as sessões dos treinos. Esse planejamento consiste na periodização do treinamento. Porém, nem todas as equipes utilizam-se desse importante recurso dentro da área de treinamento. O objetivo desse estudo foi comparar e analisar o comportamento dos resultados obtidos em testes de performance, específicos para o handebol, aplicados em duas equipes de handebol feminino, uma com treinamento físico periodizado (ECP) e a outra sem (ESP), em 2 momentos: 1ª coleta (começo da temporada 2005) e 2ª coleta (final da temporada 2005). As variáveis antropométricas analisadas foram estatura (cm), massa corporal total (kg) e percentual de massa gorda (%). Os testes de performance aplicados foram: teste de salto horizontal triplo alternado (ST), arremesso de medicine ball de 1kg (MB1) e 3kg (MB3). Testes de performance são ferramentas que podem fornecer subsídios importantes para o preparador físico para a adequação e progressão do treinamento periodizado sendo uma forma indireta de se analisar as capacidades físicas de um atleta. As equipes estudadas não apresentaram diferenças significativas nas variáveis antropométricas em nenhuma das coletas. Já nos testes de performance, na comparação inter-grupos, a ECP apresentou melhores resultados comparada a ESP em todos os testes aplicados e com diferenças significativas (P<0,05). Esses dados sugerem que a periodização do treinamento físico é importante para o melhor desenvolvimento das capacidades físicas de atletas de handebol e, mesmo não ocorrendo uma melhora desses resultados durante uma temporada, a periodização mostrou-se importante para, ao menos, manter esses ganhos obtidos por periodizações anteriores.

          Unitermos: Periodização. Capacidades físicas. Antropometria.

 

          Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação com Humanos, FOP – Unicamp (044/2004).

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O handebol é considerado uma modalidade de característica intermitente, com um perfil de atividades muito variado em relação à intensidade de esforço empregada, que oscila entre momentos de esforços máximos ou muito próximos do máximo e períodos de média ou baixa intensidade (1,2,3). A introdução de novas regras ao jogo, como penalizar a falta de efetividade no ataque (jogo passivo) e proibir que os jogadores mantenham a bola em seu poder por mais de 3s, resultou em uma maior freqüência de ataques e ações rápidas. Isso diminuiu o tempo de recuperação entre cada ação, sendo 25 s de atividade para 15 s de pausa. Há com isso a necessidade de se desenvolver altos níveis de força em curto espaço de tempo (4,5,6). Observou-se também que ocorrem aproximadamente 300 arrancadas e alterações de direção de movimento durante o jogo (3). Além disso, os jogadores têm de estar em condições de intervir na partida por muitas vezes, realizando ações rápidas evitando a diminuição da eficácia.

    No handebol todos os comportamentos específicos, especialmente as ações determinantes do jogo, necessitam de altos níveis de potência (1,2) e velocidade (7), pois tanto permitem a movimentação quanto garantem a aceleração necessária (2). Foi demonstrado que a performance de equipes de handebol masculino com níveis mais altos, tanto em testes de força máxima como de potência, é melhor em relação à equipes com níveis inferiores (8).

    O condicionamento físico adequado dá suporte aos desempenhos técnicos e decisões estratégico-táticas (9,10). Para isso é importante que haja uma sistematização do treinamento (periodização), buscando o desenvolvimento progressivo das habilidades e capacidades físicas de forma lógica e organizada, levando em consideração as características específicas da modalidade, da equipe e de cada atleta. O pico da performance atlética depende de como foram planejados intensidade e volume de treino, e os períodos de repouso entre as sessões dos treinos (11,12). Porém, nem todas as equipes utilizam-se desse recurso dentro da área de treinamento (12).

    A quantificação de variáveis antropométricas (6,13,14,15), fisiológicas, bioquímicas e os testes de performance (14,16,17,18,19) servem para diversos fins como selecionar jovens atletas, distinguir os diferentes níveis competitivos e avaliar e controlar as cargas de treinamento (20,21,22). A obtenção de perfis de atletas baseados nessas variáveis é de grande utilidade para toda a comissão técnica, para analisar a eficácia do programa de treinamento empregado, bem como para prevenção e reabilitação de lesões (23,24).

    O objetivo desse trabalho foi analisar o comportamento dos resultados obtidos em testes e re-testes de performance, específicos para o handebol, aplicados em duas equipes de handebol feminino, uma com treinamento físico periodizado e a outra sem periodização do treinamento físico, no começo e no final da temporada 2005. A comparação dos dados de atletas de mesma modalidade podem contribuir para a definição de um perfil de atletas de handebol de determinada categoria, tendo em vista que a literatura é ainda muito carente desses estudos para o handebol, principalmente para atletas do sexo feminino (8).

Métodos

Sujeitos

    Os sujeitos participantes desse estudo foram 19 atletas de handebol, sexo feminino, de nível regional, sendo 12 atletas (18,0 ± 1,5 anos) de uma equipe de handebol que realiza um treinamento físico periodizado (ECP) e 7 atletas (20,4 ± 2,1 anos) de uma equipe sem treinamento físico periodizado (ESP). Todas assinaram um termo de consentimento após tomarem conhecimento dos objetivos da pesquisa. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação com Humanos, FOP – Unicamp (044/2004).

Abordagem experimental

    As coletas de dados foram realizadas em dois momentos: a) durante a primeira semana de treinamento e, b) durante a última semana de treinamento. As mensurações antropométricas foram realizadas anteriormente à aplicação dos testes de performance nos 2 momentos. Os testes de performance foram aplicados, após um aquecimento de 15 min, na seguinte ordem: arremesso de Medicine Ball de 3kg (MB3), salto horizontal triplo alternado (ST) e arremesso de Medicine Ball de 1 kg (MB1). Foi adotado intervalo de 5 minutos entre cada teste.

Análises antropométricas

    Utilizou-se o compasso de dobras cutâneas “Cescorf” para a mensuração das dobras cutâneas. Foi utilizado um método indireto para quantificação da porcentagem de massa magra e gorda, o protocolo de Guedes (1994), o qual utiliza, para indivíduos do sexo feminino, a medida das dobras subescapular, suprailíaca e coxa. A mensuração da estatura (cm) e da massa corporal total (kg) foi feita em balança mecânica da marca Filizola com precisão de 100 g (26). Para ambas as medidas o avaliado ficou na posição anatômica, de costas para a balança, com o peso distribuído igualmente sobre ambos os pés, trajando o mínimo de roupas possível.

Testes de performance

Salto horizontal triplo alternado (ST)

    Utilizado para avaliar a potencia de membros inferiores (27).

    Metodologia: Consiste numa medição de salto a partir de um local pré-determinado com três passadas consecutivas com a máxima extensão percorrida possível. É mensurada a distância total do salto com uma trena. Para facilitar a identificação do ponto de contato do calçado da atleta com o chão, utilizou-se giz na ponta do calçado das atletas. Foram realizadas três tentativas de saltos, com intervalo aproximado de 3 minutos entre cada uma, sendo considerado o melhor resultado de cada série de tentativa para cada atleta.

    Consiste numa medição de salto com três passadas consecutivas, a partir de um local pré-determinado. Foi padronizado que a atleta deveria percorrer a máxima extensão possível nas três passadas. Mensurou-se a distância total do salto com uma trena. Foram realizadas três tentativas de saltos, sendo considerada a média desses como valor de salto para cada atleta. Para facilitar a identificação do ponto de contato do calçado da atleta com o chão, utilizou-se giz na ponta do calçado das atletas.

Arremesso de Medicine Ball de 3 kg e 1 kg (MB1 e MB3)

    O teste de controle de arremesso de medicine ball de 3 kg foi utilizado para verificar o efeito do treinamento sobre a capacidade de força de membros superiores (28, 29). Devido ao aparato ter um peso superior ao de uma bola de handebol feminino (entre seis e sete vezes superior), obriga um maior recrutamento de unidades motoras. Um estudo de VOSSEN et al (2000) encontrou ótima correlação entre o teste de arremesso de medicine ball de 2,7 kg e o teste de 1-RM de supino (r = 0,99), justificando a utilização deste teste para verificação da força muscular de uma forma mais específica para a categoria.

    O teste de arremesso de medicine ball de 1 kg foi utilizado para aferir o efeito do treinamento sobre a capacidade de potência de membros superiores, pois o aparato apresenta tamanho e peso mais próximos aos da bola de handebol, em relação à medicine ball de 3 kg.

    Metodologia: Uma trena era fixada no chão, com o ponto inicial fixado a 86 cm de distância da parede. O teste foi feito com a atleta sentada com a parte posterior da coluna posicionada na parede. Com a bola posicionada na altura do osso esterno, a atleta, arremessa a bola com as duas mãos sem retirar as costas da parede. Foi medida a distância do lançamento da bola entre o ponto inicial até o ponto onde a medicine ball tocou o chão. Foram realizadas três tentativas para cada arremesso, com intervalo aproximado de 2 minutos entre cada uma, sendo considerado o melhor resultado de cada série de tentativa para cada atleta.

Treinamento físico da ECP

    A periodização da preparação física da ECP 2005 foi uma adaptação da teoria de cargas concentradas de força (30), porém nosso foco de discussão nesse estudo não foi o tipo de periodização aplicada e sim sua presença ou não.

    O macrociclo de treinamento compreendeu 38 semanas divididas em três blocos: A, B e C, nos quais foram planejados três momentos de picos de rendimento (melhor performance física das atletas). As sessões de treinos aconteceram três vezes por semana (segundas, quartas e sextas) e tiveram duração de 2 horas cada, sendo trabalhadas as partes física, técnica e tática, em uma mesma sessão de treino.

    Durante o Bloco A, o treinamento técnico-tático precedia ao físico. Nos Blocos B e C essa ordem foi invertida. Em todas as sessões de treinamento foram realizados jogos coletivos.

Bloco A

    Período de maior concentração de intensidade e volume de treinamento físico. Por essa razão, é também chamado de bloco concentrado de força. Foi desenvolvido em três períodos (ou Microetapas).

Microetapa A1

    Caracterizada por exercícios que trabalham a resistência muscular. Constituído por tiros de rampa de 10 e 15 m, arremessos de medicine ball de 1 a 4 kg. O tempo de repouso entre cada sessão de treino no microciclo (no caso o 1 microciclo equivale a 1 semana) foi de 46 horas, contados entre o final do treinamento anterior e o início do subseqüente. Já o intervalo entre a última sessão de um microciclo e a primeira do microciclo subseqüente foi de 118 horas.

Microetapa A2

    Neste período foram utilizados exercícios que favorecessem o aumento do recrutamento de Unidades Motoras, como exercícios de arremessos de medicine ball e bolas com utilização de caneleiras nos punhos, e saltos sobre objetos, com sobrecarga, como medicine balls de 3 a 6 kg. A altura dos obstáculos era de 30 cm (bancos suecos e cones deitados), 50 cm e 80 cm (arquibancadas), as medicine balls utilizadas eram de 3 a 5 kg e as caneleiras de 1 e 2 kg. O tempo de repouso entre cada sessão de treinamento no microciclo foi de 46 horas. O intervalo entre a última sessão de treino do microciclo anterior e a primeira sessão do microciclo subseqüente foi de 118 horas.

Microetapa A3

    Caracterizou-se como o período de treinamento voltado ao desenvolvimento da reatividade neuro-muscular, aperfeiçoando os componentes específicos de esforço balístico e a velocidade de movimento e ações motoras. Dessa forma foram aplicados, exclusivamente, exercícios de pliometria de membros inferiores e superiores, utilizando-se para isso medicine ball de 1 a 4 kg e bancos suecos.

Bloco B

    É o início da fase de transferência, onde toda a exigência física desenvolvida no Bloco A, que resultou em queda nos índices das capacidades físicas trabalhadas, vai gerar uma supercompensação. Esta é a chamada transferência positiva (26).

    Este período foi constituído por exercícios de contra-ataque, com movimentações tanto de defesa quanto de ataque. As atletas foram estimuladas a realizar as atividades a todo o momento na maior velocidade possível. As atividades desenvolvidas neste período foram ataque contra defesa com número reduzido de jogadoras, atividades de deslocamentos rápidos (com distância variando entre três e 20 metros) seguidos de recepção de bola e finalização.

    Durante este período, as atividades foram desenvolvidas para se aproximarem ao máximo de uma situação de competição. As atletas realizaram exercícios técnicos (arremessos de postos específicos, atividades de contra-ataque direto e engajado) e táticos (jogadas, por exemplo). Houve jogos amistosos durante algumas sessões de treino.

Bloco C

    Estruturado para o aperfeiçoamento técnico-tático, através do trabalho de exercícios específicos de uma partida, de acordo com as exigências que as atletas encontram nas competições, contando com a transferência positiva advinda da concentração de cargas do Bloco A. Os jogos mais importantes da equipe, e a maioria dos jogos, concentraram-se nesse período.

Treinamento físico da equipe ESP

    O treinamento da equipe ESP 2005 consistiu em um treinamento integrado das partes técnica, tática e física, porém, sem o cuidado de se desenvolver a sistematização (periodização) do treinamento físico. O treinamento consistia em duas sessões semanais, com duração de 2 h e intervalo de 46 h entre cada sessão do microciclo, e de 110 h entre a última sessão de um microciclo e a primeira sessão do microciclo subseqüente. Os jogos mais importantes da equipe, e a maioria dos jogos, aconteceram no mesmo período em que os da ECP, ou seja, no final do ano.

Análise estatística

    Os resultados dos testes foram apresentados na forma de tabelas e gráficos de barras, para a visualização de média e desvio-padrão dos resultados. Para análise estatística dos dados e descrição das probabilidades aplicamos o teste estatístico Mann-Whitney Test sendo que, para a análise intra-equipes foi utilizada a análise de forma unicaudal e inter-equipes a de forma bicaudal. Esse teste realiza a análise de probabilidade de dados não pareados e não paramétricos, levando em consideração que durante o estudo as equipes tiveram mudanças em suas composições. Para todas as análises, utilizaram-se nível de referência de significância p<0, 05, sendo destacados apenas os valores de probabilidades com essa característica.

Resultados

    A Tabela 2 apresenta os valores da média e desvio padrão das variáveis analisadas: percentual de massa gorda (%), massa corporal total (kg) e estatura (cm), realizados pelas duas equipes nos diferentes momentos (1ª e 2ª coleta).

    As medidas antropométricas coletadas nas duas equipes (estatura, massa corporal total e percentual de massa gorda) não apresentaram diferenças significativas inter e intra grupos (p>0,05). Dessa forma, podemos dizer que não houve vantagem morfológica de nenhuma equipe sobre a outra nos testes de performance aplicados.

    No teste de arremesso de medicine ball de 3 kg (MB3), a ECP apresentou, na 1ª coleta, média de 3,00 m e na 2ª coleta 3,03m, sem apresentar diferenças significativas. Já a ESP apresentou, na 1ª coleta, média de 2,26 m e na 2ª coleta 2,53 m, com diferença significativa na 2ª coleta em relação à 1ª (p < 0,05). Nas comparações inter-grupos, houve diferença significativa (p<0,05) da equipe ECP para a ESP em ambos momentos.

    A Figura 1 apresenta a comparação dos resultados do teste de Arremesso de medicine ball de 3 kg (m) nos dois diferentes momentos.

Figura 1: Valores dos testes de arremesso de medicine ball de 3 kg

* Diferença significativa (p<0,05) intra grupo.

# Diferença significativa (p<0,05) inter grupo.

    No teste Salto Triplo Horizontal Alternado (ST), a ECP apresentou, na 1ª coleta, média de 5,57 m e na 2ª coleta 5,62 m, sem diferença significativa. Já a ESP apresentou, na 1ª coleta, média de 4,93 m e na 2ª coleta 5,02 m, também sem diferença significativa. Nas comparações inter-grupos, houve diferença significativa (p<0,05) da equipe ECP para a ESP em ambos momentos.

    A Figura 2 apresenta a comparação dos resultados do teste Salto Triplo Horizontal Alternado (m) nos dois diferentes momentos.

Figura 2: Valores dos testes de Salto Triplo Horizontal Alternado

# Diferença significativa (p<0,05) inter grupo.

    Já para o teste de arremesso de medicine ball de 1 kg (MB1), a ECP apresentou, na 1ª coleta, média de 4,78 m e na 2ª coleta 4,96m, sem diferença significativa. Já a ESP apresentou, na 1ª coleta, média de 3,44 m e na 2ª coleta 4,33 m (p < 0,05). Nas comparações inter-grupos, houve diferença significativa (p<0,05) da equipe ECP para a ESP em ambos momentos.

    A Figura 3 apresenta a comparação dos resultados do teste de Arremesso de medicine ball de 1 kg (m) nos dois diferentes momentos.

Figura 3: Valores dos testes de arremesso de medicine ball de 1 kg

* Diferença significativa (p<0,05) intra grupo.

# Diferença significativa (p<0,05) inter grupo.

Discussão

    Este estudo buscou identificar, através de duas equipes com o mesmo nível competitivo, o efeito de um treinamento periodizado sobre a performance das equipes. As duas equipes disputam torneios de mesmo nível. A equipe ESP era constituída por jogadores que, em sua maioria, de universitárias recém ingressantes. O torneio do primeiro semestre durou três meses, com sete partidas disputadas enquanto o do segundo semestre durou apenas uma semana. Já a equipe ECP, era formada por jovens que também disputaram dois torneios na temporada, sendo um com duração anual e outro com duração de uma semana. Além disso, realizavam treinamento físico sistematizado há pelo menos seis meses.

    Com relação à composição corporal, houve um aumento na massa corporal total, com uma diminuição da massa gorda das atletas da ECP. Existem estudos mostrando diferenças na composição corporal de atletas, de acordo com o tipo de esporte praticado, sendo que os atletas de handebol e basquetebol apresentaram um percentual de massa gorda maior que os atletas de futebol e voleibol. Ainda, os atletas de handebol se mostraram com maior massa corporal total em relação aos das outras modalidades (18, 32). Atletas especialistas em eventos com arremessos são mais altos e mais pesados que atletas que não arremessam (32). Porém para uma melhor discussão sobre a composição corporal dessas atletas um maior detalhamento e um acompanhamento nutricional auxiliariam na análise dos resultados.

    De acordo com os resultados dos testes de performance, a equipe ECP apresentou melhora ainda que os mesmos não tenham sido estatisticamente significativos. Outros estudos também encontraram uma baixa variação em performance para força e potência, em equipes de esportes coletivos (8, 37, 38, 39, 40, 32), tanto para atletas de nível universitário quanto para atletas de elite. Em atletas de elite, essa pequena melhora de performance pode ser explicada pelo entendimento de que os atletas podem estar muito próximos ao seu máximo condicionamento. Porém, entendendo que as atletas da equipe ECP não se encontram em um nível de elite do rendimento esportivo e corroborando com outro estudo, com atletas de handebol de categorias menores onde se encontrou uma cinética semelhante à do presente estudo (8), verificamos que um aumento significativo da performance da equipe poderia ter sido encontrado com a aplicação de uma maior sobrecarga de treinamento e/ou outro tipo de periodização.

    A equipe ESP apresentou melhora significativa em força e potência de membros superiores, sem apresentar essa melhora para membros inferiores. Esses resultados se corroboram a outros estudos que apontam esse fenômeno pela existência de diferenças no condicionamento inicial de membros inferiores e superiores (43), e no padrão de quantidade e/ou de intensidade nos esforços diários empregados pelos diferentes membros (41, 39, 8). Essa diferença de performance entre membros superiores e inferiores foi encontrada em estudos com pubescentes (39), e atletas de handebol adolescentes (43). Isso também poderia explicar o fato da equipe ESP ter apresentado ganhos em força (12%) e potência (26%), de membros superiores.

    Com os dados obtidos pudemos mostrar que a ECP apresentou melhores resultados em todos os testes de performance aplicados em relação a ESP. A periodização da equipe ECP objetivou a melhora das capacidades físicas das atletas, apesar de tê-las apenas mantido, como verificado através da análise dos resultados dos testes de performance. É necessário a revisão da sistematização do treinamento, de modo a aplicar atividades mais específicas que consigam modular melhoras significativas nos índices de performance da equipe (8).

    A análise e comparação dos resultados obtidos pelas equipes ECP e ESP sugerem que uma periodização do treinamento físico é importante para o desenvolvimento das capacidades físicas das atletas de handebol, já que a ECP apresentou melhores resultados que a equipe ESP, em todos os testes de performance. Através dos resultados obtidos pela equipe ECP sugeriu-se também ao preparador físico uma análise das periodizações já aplicadas nessa equipe com intuito de observar qual tipo de periodização aplicada conseguiu os melhores resultados para essas atletas e o porquê disso. A modificação nas periodizações e a experimentação de novas periodizações físicas dão aos preparadores físicos subsídios para que os mesmos consigam buscar uma melhoras significativas na performance de suas atletas para a próxima temporada, e não apenas mantê-la.

    Esse trabalho mostrou também a importância da avaliação de atletas através de testes e re-testes de performance, já que esses testes fornecem subsídios importantes para a adequação e progressão do treinamento periodizado da forma mais individualizada possível. Outros testes que analisam indiretamente outras capacidades físicas também seriam importantes e completariam ainda mais a caracterização física das atletas e, conseqüentemente, da equipe.

Aplicação prática

    Os testes de performance utilizados são de fácil aplicação, utilizam pouco tempo e são de baixo custo. A utilização de medicine ball tem sido uma excelente ferramenta para desenvolver e avaliar a transferência do ganho de força e potência de membros superiores obtido por um treinamento (31,32,33). Dessa forma, podem ser aplicados pelos técnicos e preparadores físicos de qualquer equipe para que os mesmos possam avaliar a eficácia de seus treinamentos e o desenvolvimento, indireto, das capacidades físicas de suas atletas, além de, com os resultados obtidos, poderem re-quantificar as cargas de treinamento. A literatura é carente de estudos que tracem um perfil da atleta de handebol feminino atual. Os dados desse estudo podem servir também como valores de referência para técnicos e preparadores físicos para que, após a aplicação desses testes, os mesmos possam comparar suas atletas com outras de mesma modalidade e categoria, e analisar o nível das capacidades físicas de suas atletas.

Agradecimentos

    Agradecemos à participação das duas equipes, atletas e comissão técnica, desse estudo: Associação Campineira de Handebol (ACH) e equipe feminina de handebol da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Ao CNPq e CAPES pelo apoio financeiro.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires, Enero de 2011
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