Perfil laboratorial de pessoas com deficiência que praticam natação Parámetros de laboratorio de personas con discapacidad de practican natación Laboratory profile of people with disabilites who pratice swimming |
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*Acadêmica do Curso de Farmácia **Docente do Curso de Nutrição ***Docente do Curso de Farmácia Centro Universitário Metodista do IPA (Brasil) |
Bruna dos Santos* Ana Paula Trussardi Fayh** Marcello Mascarenhas*** |
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Resumo A prática de atividade física possibilita prevenção de doenças, auxiliando na reabilitação e na interação social de pessoas com deficiência, assim melhora as funções motoras, a capacidade física e psicológica. A natação é a modalidade esportiva mais adequada para incluir os deficientes no esporte, pois facilita a execução dos movimentos, contribui para o desenvolvimento da coordenação, diminui os espasmos e promove o relaxamento muscular. O objetivo do estudo foi traçar o perfil lipídico dos atletas com deficiência e realizar análises de outros parâmetros. Este estudo foi realizado com 15 pessoas com deficiência visual e por amputação, de ambos os sexos, com idade média de 45,25±11,53anos, que treinam duas vezes por semana natação e condicionamento físico. O exercício atua modificando o perfil lipídico, podendo assim prevenir as doenças ateroscleróticas. Para análise do perfil lipídico foram realizadas as análises de colesterol total, HDL-colesterol, LDL - colesterol e triglicerídeos. Foram realizadas as análises de proteínas totais, albumina e globulina, a fim de caracterizar o estado nutricional, e análise de proteína c-reativa para avaliar o estado inflamatório. O presente estudo verificou que os indivíduos com deficiência visual apresentaram valores normais de colesterol total 137,31±37,83mg/dL (p=0,042), triglicerídeos 126,58±45,84mg/dL (p=0,397), HDL-colesterol 30,53±26,35mg/dL (p=0,783) e LDL - colesterol 71,45±63,28mg/dL (p= 0,044). O grupo dos deficientes amputados apresentou valores de colesterol total 183,80±46,76mg/dL (p=0,042) e triglicerídeos 102,68±57,37mg/dL (p=0,397) sendo estes normais, e valores de HDL-colesterol 35,80±18,70mg/dL (p=0,783) e LDL - colesterol 127,20±25,80mg/dL (p=0,044), estatisticamente significativos.Os dois grupos apresentaram valores normais de proteínas totais, albumina e globulina. As pessoas com deficiência que praticam exercício físico devem realizar um acompanhamento através de exames para auxiliar no rendimento e na qualidade de vida. Unitermos: Marcadores laboratoriais. Pessoas com deficiência. Exercício.
Abstract The physical activity possible prevention of disease, assisting in the rehabilitation and social interaction of people with a disability and improves motor functions, the physical and psychological capacity. Swimming is the sport most appropriate to include disabled people in sport, because it facilitates the execution of movements, contributes to the development of coordination, reduces spasms and promotes relaxation. The objective of the study was to determine the lipid profile of athletes with disabilities and for analysis of other parameters. This study was conducted with 15 visually impaired and amputees of both genders, with a mean age of 45.25 ± 11.53 years, who train twice a week, swimming and fitness. Exercise works by modifying the lipid profile, and thus prevent atherosclerotic diseases. To analyze the lipid profile were carried out the analysis of total cholesterol, HDL-cholesterol, LDL - cholesterol and triglycerides. Performed were total protein, albumin and globulin in order to characterize the nutritional status, and analysis of c-reactive protein to evaluate the inflammatory state. This study found that individuals with visual impairment had normal values of total cholesterol 137.31 ± 37.83 mg / dL (p = 0.042), triglycerides 126.58 ± 45.84 mg / dL (p = 0.397), HDL-cholesterol 30.53 ± 26.35 mg / dL (p = 0.783) and LDL - cholesterol 71.45 ± 63.28 mg / dL (p = 0.044). The group of disabled amputees showed values of total cholesterol 183.80 ± 46.76 mg / dL (p = 0.042) and triglycerides 102.68 ± 57.37 mg / dL (p = 0.397) and these normal, and HDL-cholesterol 35.80 ± 18.70 mg / dL (p = 0.783) and LDL - cholesterol 127.20 ± 25.80 mg / dL (p = 0.044), statistically costly.Such two groups showed normal values of total protein, albumin and globulin. Disabled people who exercise should conduct a follow-up with tests to assist in the yield and quality of life. Keywords: Laboratory marker. Exercise. Disabled persons.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As pessoas que apresentam alguma deficiência representam cerca de 14% da população Brasileira, apesar de existirem leis que protegem e garantem seus direitos, poucas são as pesquisas que visam à saúde destas pessoas. Para proporcionar a inclusão e auxiliar no tratamento das pessoas com deficiência, surgiu o esporte adaptado, que desde a II Guerra Mundial vem crescendo e auxiliando estes indivíduos a ultrapassar as barreiras físicas e sociais, a sair do sedentarismo e melhorar sua qualidade de vida (FRASSON, STRIJKER, 2003; SOUSA, 2004; BERNARDES et al., 2009).
A prática da atividade física possibilita uma melhor qualidade de vida, ajudando a prevenir doenças, na reabilitação e na interação social, melhorando as funções motoras, assim como a capacidade física e psicológica (FRASSON; STRIJKER, 2003; ABRANTES et al., 2006).
A natação tem sido de grande importância para o desenvolvimento de pessoas com deficiência visual, sendo que estes necessitam de recursos didáticos diferenciados para participarem das atividades, inicialmente esta modalidade era somente usada para o uso terapêutico, mas nos dias atuais proporciona o encaminhamento para o esporte adaptado (ABRANTES et al., 2006; SOUZA, 2008).
A natação foi introduzida no Brasil em 1897, mas somente em 1914, a modalidade passou a ser controlada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, e em 1984 a Confederação Brasileira de Desporto para Cegos (CBDC) foi fundada, sendo esta responsável pela prática desportiva de rendimento para pessoas com deficiência visual. Na natação paraolímpica, as regras são as mesmas da natação convencional, mas com algumas adaptações. As competições são divididas de acordo com o grau de deficiência de cada nadador, e em categorias masculinas e femininas. A natação esta presente desde a primeira Paraolimpíada em 1960 para todos os tipos de deficiência, mas a primeira competição para atletas com deficiência visual internacional ocorreu em 1970 na França. Sendo este um dos esportes mais apropriados para indivíduos com algum tipo de deficiência, pois a água facilita a execução dos movimentos, além de contribuir para o desenvolvimento da coordenação, diminuição dos espasmos e promoção do relaxamento muscular (TSUTSUMI et al., 2004; ABRANTES et al., 2006; BARRETO et al., 2009).
As pessoas com amputação devem evitar o excesso de peso, uma vez que este deve ser redistribuído devido à falta de um ou mais membros, tendo assim uma maior propensão a desenvolverem problemas ósseos. Também necessitam de um aporte calórico maior, pois gastam mais energia para a execução dos movimentos devido à dificuldade para se locomover (GOMES et al., 2005; BARRETO et al., 2009).
A natação proporciona maior desenvolvimento da coordenação, condicionamento aeróbio, diminui a fadiga, o grau de fraqueza e de complicações e aumenta a força muscular. Quanto à musculatura e ao aparelho locomotor, ocorre uma maior irrigação sanguínea, estímulos para o desenvolvimento da musculatura e melhora da postura corporal. Haverá um fortalecimento da musculatura do coração, e aumento do seu volume, diminuindo a freqüência cardíaca e o esforço cardíaco. Outro benefício causado pela prática de natação é um incremento da absorção de oxigênio, devido ao aumento do ar que entra para os pulmões. Auxilia na prevenção de doenças do trato respiratório e diminui o risco de doenças cardiovasculares e coronarianas em pessoas com deficiência (TSUTSUMI et al., 2004). A força muscular, flexibilidade e resistência cardiovascular normalmente estão reduzidas nas pessoas com deficiência, por isso um condicionamento muscular é importante, pois possibilita um maior índice corporal de massa magra, contribuindo para uma melhor composição corporal, eficiência circulatória e respiratória (ZUCHETTO, 2002).
Há muitos anos a prática de esportes por pessoas com deficiência era visto como algo prejudicial e até mesmo impossível, mas através da ação de profissionais de diversas áreas e centros de reabilitação o esporte para pessoas com deficiência tomou grandes proporções tanto a lazer quanto as competições (TUFIK et al., 2002).
Quanto à avaliação clínica das pessoas com deficiência existem algumas limitações, como o tipo de deficiência e o exercício físico praticado, desta maneira são possíveis uma correlação adequada dos benefícios desenvolvidos no indivíduo e dos parâmetros laboratoriais (SANTOS et al, 2001).
O exercício atua de forma significativa no aumento dos níveis de HDL – colesterol (lipoproteínas de alta densidade), na redução do LDL - colesterol (lipoproteínas de baixa densidade) e dos triglicerídeos séricos, sendo esta uma importante ferramenta de intervenção com a finalidade de modificar o perfil lipídico, bem como prevenir as doenças ateroscleróticas (SANTOS, 2006; RAMOS, 2006; GODOY et al., 2007). Os marcadores inflamatórios podem auxiliar na estratificação do risco de eventos coronários, que podem ser alterados também com a prática de exercícios físico (RAMOS, 2006). As análises de proteínas totais, albumina e globulina, são realizadas para avaliar o estado nutricional, de atividade hepática normal e patológica. Alguns fatores podem causar diminuição das proteínas como dieta insuficiente, má absorção protéica, deficiência de albumina, neoplasias entre outras. A determinação isolada de proteínas totais não é precisa para determinar o metabolismo protéico, sendo necessária a dosagem de albumina e da globulina (FERREIRA, 2001; CUPPARI et al., 2004).
Este trabalho teve como objetivo traçar o perfil lipídico, através das determinações de colesterol total, triglicerídeos, HDL - colesterol, e estimar os níveis de LDL- colesterol e bem como utilizar outros marcadores laboratoriais como de proteínas totais, de albumina, globulina e proteína C-reativa de praticantes com deficiência.
Métodos
Amostra
A amostra consistiu de 15 praticantes com deficiência, que foram divididos em dois grupos: o dos deficientes visuais e o dos deficientes amputados. Os grupos são de ambos os sexos, e todos pertencentes ao Programa de Paradesporto do Centro Universitário Metodista do IPA, que treinam há dois anos e duas vezes por semana natação e condicionamento físico, com idades entre 20 e 60 anos.
Procedimento geral
O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Metodista do IPA (número de parecer: 236/2009). Os praticantes de natação e condicionamento físico foram informados dos objetivos e procedimentos do estudo e posteriormente convidados a participar através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Informado (TCLE). Foi facultada, para cada praticante, a possibilidade de desistência de participação das avaliações realizadas, sendo então excluídos da amostra do estudo.
As colheitas de amostras e avaliações laboratoriais dos praticantes com deficiência foram realizadas no Laboratório de Toxicologia/Bioquímica do Centro Universitário Metodista do IPA durante o período de treinamento dos praticantes, nos meses de outubro a novembro de 2009.
Caracterização dos praticantes
Os praticantes responderam a algumas questões sobre idade, tipo de deficiência, tempo de treinamento e modalidade praticada através do auxílio de entrevistador.
Avaliação laboratorial
Todas as colheitas foram realizadas durante o período matutino, com os voluntários em jejum de 12 horas. As amostras de sangue venoso foram devidamente colhidas em tubos e devidamente etiquetadas, processadas e após armazenadas a temperatura de –20ºC, para posterior análise no laboratório. O sangue foi coletado em tubos vacuntaer de 10 mL e centrifugados a 200g por 10 minutos em centrífuga CT 4000 (fabricada por CIENTEC equipamentos para laboratório LTDA, Av. 9 julho,530, Jaraguá-Piracibaca, São Paulo). Foi utilizado o soro para as análises, e em cada uma, foram utilizados kits da BioclinÒ. As dosagens de colesterol total, HDL-colesterol, triglicerídeos foram realizadas por metodologia de Trinder, que se baseia em análise colorimétrica medindo-se o produto final antipirilquinonimina em absorvância a 500nm, e os triglicerídeos em absorvância de 505nm.
Para a dosagem de albumina foi empregada o método de colorimétrica, utilizando a metodologia de verde de bromocresol e realizada a leitura na absorvância de 620 nm. As proteínas totais foram dosadas através da metodologia colorimétrica de biureto, com absorvância de 545nm. Para a dosagem de proteína C-reativa foi utilizado o método de aglutinação do látex.
Para todas as análises foram utilizados amostras em triplicatas e para garantia da qualidade dos reagentes e do processo foram utilizados soro controle normal e patológico, todas as leituras foram realizadas no espectrofotômetro T 80 UV/VIS Spectrometer.
Avaliação estatística
Os dados foram organizados em um banco de dados no Excel 2003. A análise descritiva foi feita pela apresentação dos resultados em freqüências, média e desvio padrão. O teste estatístico utilizado para identificação da homogeneidade dos grupos (deficientes visuais e amputados) foi o teste Kolmogorov Smimov Z, e teste Mann Whitney U para comparação dos grupos de deficientes visuais e amputados.. As análises foram realizadas com auxílio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 13.0. Um p<0,05 foi considerado significante.
Resultados
Caracterização da amostra
Os indivíduos (15) apresentavam idade média de 45,25±11,53 anos. Quanto ao treinamento esportivo, todos praticavam natação e condicionamento físico em média há dois anos. As características demográficas dos praticantes com deficiência como idade, sexo e tipo de deficiência são apresentadas na Tabela 1. Oito dos praticantes participantes apresentavam deficiência visual e sete apresentavam amputações. Quanto ao sexo a amostragem teve a seguinte distribuição, nove do sexo masculino e seis do sexo feminino.
Tabela 1. Características demográficas dos voluntários
Idade: média ± desvio padrão (anos)
M: sexo masculino; F: sexo feminino; expresso pelo número
V: deficiência visual; A: amputação; expresso em %
Avaliação laboratorial
Os resultados da avaliação laboratorial dos praticantes com deficiência estão expressos na Tabela 2 e 3. Os grupos dos deficientes visuais e dos amputados apresentaram os valores de colesterol total e triglicerídeos desejáveis, quando comparados os grupos, os amputados obtiveram valores mais elevados de colesterol total, e quando comparados em relação aos triglicerídeos apresentaram valores menores que os deficientes visuais. O LDL-colesterol foi estimado pela fórmula de Friedwald. Os praticantes com amputações apresentam valores de HDL-colesterol diminuídos e LDL-colesterol aumentado. Os praticantes com deficiência visual apresentaram valores baixos de HDL-colesterol e desejáveis de LDL-colesterol. Quando comparados os deficientes amputados apresentaram valores de LDL- colesterol elevados.Os valores da relação colesterol total / HDL- colesterol para os deficientes visuais foi de 2,8 e para os amputados de 3,9.Os valores da relação HDL- colesterol / LDL-colesterol para deficientes visuais foi de 1,69 e para amputados foi 2,5.
Tabela 2. Perfil Laboratorial Lipídico do Grupo de Voluntários com Deficiência
Parâmetros: média ± desvio padrão; * p<0,05.
Os dois grupos apresentaram valores normais para albumina, proteínas totais e para a globulina Tabela 3. Apenas um dos praticantes com amputação apresentou resultado positivo para o teste de proteína C-reativa (p > 0,758).
Tabela 3. Perfil laboratorial do grupo de voluntários com deficiência
Parâmetros: média ± desvio padrão
Discussão
As pessoas com deficiência modificam os seus hábitos, tornando-se sedentários, o que pode trazer muitos problemas, como maior prevalência a aterosclerose, e a obesidade. A maioria das pessoas com deficiência que iniciam uma atividade física apresenta depressão e distúrbios do sono (MELLO, 2009). Os deficientes visuais e amputados que participaram deste estudo praticam natação duas vezes por semana a dois anos, visando obter os benefícios proporcionados pelo exercício.
A prática desportiva por pessoas com deficiência vem desde a Grécia antiga, mas somente após a Segunda Guerra Mundial que esta teve um incremento em questões de reabilitação, com os objetivos de prevenir distúrbios secundários e reabilitar estas pessoas socialmente, fisicamente e psiquicamente (ZUCHETTO, 2002).
No Brasil, são poucos que têm a oportunidade de conhecer e optar pelo esporte na escola, mas as pessoas com deficiência têm como opções as associações e sociedades especializadas. Muitos centros de reabilitação usam o esporte para auxiliar no tratamento dessas pessoas, sendo assim o esporte um meio para a inclusão na sociedade (GABBAI, 2000).
Os principais objetivos do desenvolvimento do esporte adaptado são oferecer um atendimento especializado as pessoas com deficiência, visando inseri-las na sociedade como capazes, e também, melhorar a qualidade de vida facilitando sua independência e autonomia (FREITAS, 2002; MOREIRA, 2004).
A qualidade de vida tem sido relacionada diretamente com a prática de exercícios, já a inatividade física leva a redução da mobilidade, aumento de peso corporal e diminui a disposição. Quando se trata de pessoas com deficiência a atividade física é de grande importância, sempre levando em conta a capacidade da pessoa, suas necessidades e principalmente suas limitações, pois só assim conseguirão obter os benefícios proporcionados (ZUCHETTO, 2002).
O esporte adaptado ajuda a reestruturar a imagem corporal e a imagem que a sociedade tem dessas pessoas, a reforçar sua auto-estima, a diminuir os níveis de estresse, ansiedade e da depressão, a melhorar o humor, melhorar o funcionamento orgânico geral e disposição física. Observa-se também que os exercícios ajudam a diminuir a incidência de doenças cardiovasculares e obesidade, portanto os praticantes de esporte com deficiência têm melhor qualidade de vida que os sedentários (MOREIRA 2004; MELLO, 2009).
A prática de esportes deve ser adequada a cada pessoa com deficiência bem como os exames pré e pós-participação. Estes atletas têm algumas diferenças quanto à avaliação clínica, por ser importante o tipo de deficiência e a modalidade praticada. Os exames médicos são muito importantes, não só para uma manutenção do estado de saúde dos praticantes, mas também para melhorar o seu desempenho e rendimento no treinamento (TUFIK, 2002; GONÇALVES, 2007). Cada praticante participante de nossa amostragem pratica a modalidade de natação por ser adequada ao seu tipo de deficiência, mas não realizaram exames pré-participação, por isso este estudo esta avaliando estes praticantes quanto ao seu perfil lipídico e outros parâmetros, para obter um acompanhamento adequado da saúde e possível rendimento destes praticantes.
Nos indivíduos com deficiência física, as indesejáveis alterações bioquímicas e metabólicas se estabelecem com a inatividade física, ocasionando o acúmulo de tecido adiposo e redução da massa muscular. Estas alterações levam a obesidade, dislipidemia, diabetes, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares (NEIVA, 2008).
Quando o exercício físico é praticado regularmente produz modificações benéficas no metabolismo lipídico e lipoproteico. Ocorre um aumento dos níveis de HDL-colesterol e uma diminuição do colesterol total, LDL-colesterol e triglicerídeos, devido ao aumento da atividade da enzima lípase lipoproteica, se o exercício for associado à dieta pode-se obter um resultado ainda melhor. O perfil lipídico é desfavorecido por vários fatores, como o sedentarismo, a obesidade, o tabagismo e outros. Com a prática de exercícios podemos tratar e prevenir algumas doenças cardiovasculares, ateroscleróticas, diminuir a circunferência abdominal, a glicemia sanguínea, reduzir a ansiedade, o estresse e a depressão (GODOY, 2007; NEIVA, 2008; MELLO, 2009).
O presente estudo verificou que os indivíduos com deficiência visual apresentaram valores normais de colesterol total, triglicerídeos, LDL-colesterol e valores diminuídos de HDL-colesterol. Supõe-se que os valores normais podem ter sido alterados ou mantidos devido ao exercício. Os valores diminuídos de HDL-colesterol podem estar relacionados à genética.
O grupo dos deficientes amputados apresentou valores de colesterol total e triglicerídeos normais, e valores de HDL-colesterol diminuído e LDL - colesterol elevado.
A diminuição da mobilidade e o estresse psicológico que acompanham a amputação de membros são fatores de risco aterogênicos em amputados que apresentam alterações no perfil lipídico (GOMES, 2005). Supõe-se que o HDL-colesterol esta diminuído por serem amputados. A relação colesterol total/ HDL- colesterol pode ser um bom marcador para as dislipidemias, sendo que os valores desta relação estando acima de 5 associada a triglicerídeos acima de 200mg/dL. Os dois grupos apresentam valores desejáveis, portanto supõe-se que não apresentam indicadores para dislipidemia. A relação HDL-colesterol /LDL- colesterol apresentou valores desejáveis (< 3,5) para os dois grupos, supondo que estes não apresentam fator de risco de cardiopatias ou de acidentes vasculares cerebrais, pois esta relação é um bom indicador para estes parâmetros.
O perfil inflamatório pode sofrer modificações positivas com a prática de exercícios físicos sugerindo um efeito antiinflamatório, e a proteína C-reativa é um dos marcadores infamatórios, que vem sendo utilizada para a estratificação de eventos coronários (SANTOS et al., 2003;HENRIQUE, 2006; RAMOS, 2006). Para os dois grupos analisados, uma pessoa com deficiência amputado apresentou resultado positivo para proteína C-reativa.
Para a avaliação do outros parâmetros foram utilizadas as dosagens de albumina, proteínas totais e estimativa de globulina. Os grupos dos deficientes visuais e dos amputados apresentaram valores normais de proteínas totais, albumina e globulina, supõe-se que os praticantes apresentam um estado nutricional adequado, sugerindo reserva protéica adequada.
As pessoas com deficiência que praticam atividades esportivas sentem-se mais saudáveis, possuem uma melhor imagem corporal e aumentam sua auto-estima. Todos esses benefícios refletem no psicológico, na vida afetiva e social, assim podem enfrentar os momentos críticos, obter o controle e serem mais otimistas (MELLO, 2009).
O exercício físico traz inúmeros benefícios para as pessoas com deficiência, mas estes devem ser monitorados através de exames para ocorrer um acompanhamento e melhora no rendimento e na qualidade de vida. O presente estudo verificou que o perfil lipídico de deficientes visuais apresenta-se mais favorável do que os amputados, pois estes têm valores mais elevados em alguns parâmetros. As não alterações benéficas no perfil lipídico como o aumento de HDL-colesterol e diminuição de LDL-colesterol significativos, esperados quando se tem a prática de esportes, pode ter se dado devido a serem praticantes há pouco tempo, e por não terem muitos treinos por semana.Quanto aos resultados serem mais favoráveis para os praticantes deficientes visuais, supõe-se que pode ser devido ao fato dos amputados apresentarem sobrecarga nos membros intactos, devido a provável excesso de peso e gordura corporal.
Os praticantes apresentaram um estado nutricional adequado e em geral sem indicadores de inflamação, o que supõe que o exercício atua de forma benéfica, modificando os marcadores inflamatórios e contribuindo para melhorar o estado nutricional. A escassez de estudos referentes às pessoas com deficiência que praticam esporte ressalta a importância de estimar um perfil lipídico e avaliação de outros parâmetros para auxiliá-los na obtenção de melhores rendimentos e na prevenção e descoberta de possíveis doenças.
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