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Influência da ordem dos exercícios físicos 

entre ganho de força e equilíbrio em mulheres adultas

Influencia de la paridad de los ejercicios físicos para ganar fuerza y equilibrio en mujeres adultas

 

*Acadêmica do curso de Bacharelado em Educação Física

**Mestrando em Educação Física da ESEF/UFPel

***Professora ESEF/UPFel

Escola Superior de Educação Física

(Brasil)

Lourenço dos Santos Del Ponte*

Anderson Leandro Peres Campos**

Prof. Dr Adriana Schuller Cavalli***

Prof. Dr Mariângela da Rosa Afonso***

ldelponte@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A falta de força e de equilíbrio compromete a qualidade de vida dos idosos, pois em indivíduos com 60 anos ou mais é observada uma redução de força máxima muscular entre 30 e 40%, podendo acarretar a perda da funcionalidade, devido por exemplo, ao número de quedas. Sendo assim o objetivo desse estudo é verificar se ocorrerá ganho de força e de equilíbrio em idosas praticantes de treinamento concorrente em um período de 10 semanas. Fizeram parte da amostra final 18 mulheres, com idade acima de 50 anos. Separadas aleatoriamente em dois grupos, aeróbico primeiro (A1) e musculação primeiro (M1). O grupo A1 realizou 30min de exercício aeróbio e logo em seguida uma série de musculação, e M1 realizou o treino na ordem invertida. Foram feitas avaliações antropométricas para caracterização da amostra e testes de flexibilidade, força e equilíbrio estático. A media de idade da amostra foi para o grupo A1: 60,5 (dp ± 7,8) e M 1: 59,8 (dp ± 4,9) e altura 1,62 ( dp ± 0,04) e 1,61( dp ± 0,06) respectivamente, IMC A1: 27,7 (dp ± 4,6) e M1: 28,8(dp ± 8,3) o único resultado estatisticamente significativo foi o aumento no nível de força lombar e de membros inferiores do pré para o pós teste no grupo M1. Com base nos resultados podemos concluir que o treinamento concorrente foi suficiente para aumentar significativamente o nível de força lombar e de membros inferiores de mulheres acima de 50 anos que praticaram o treino de musculação antes do aeróbico, e que a ordem inversa dos exercícios não provocou nenhuma alteração significativa, observamos também que não houve nenhum aumento de força em relação ao coeficiente de equilíbrio.

          Unitermos: Treinamento concorrente. Envelhecimento. Exercício físico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Com o passar do tempo, o organismo sofre um processo natural de envelhecimento, havendo modificações funcionais e estruturais que geram diminuição da vitalidade, sendo mais prevalentes as alterações sensoriais, doenças ósseas, cardiovasculares e diabetes (RUWER L.S. et al., 2005).

    Gerontologistas definem o envelhecimento, como a redução da capacidade de sobreviver, sendo um processo dinâmico e progressivo no qual há modificações tanto morfológicas quanto funcionais bioquímicas e psicológicas, que determina perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte (CARVALHO, 2000).

    Segundo Figliolino (2009) o envelhecimento compromete a habilidade do sistema nervoso central (SNC) em processar sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal, ocasionando vertigem e/ou tontura e desequilíbrio.

    O desequilíbrio é um dos fatores que comprometem e limitam a vida dos idosos, pois em 80% dos casos não pode ser atribuído a uma causa específica, mas sim ao um comprometimento do sistema como um todo. Cabe ao organismo humano responder às variações do centro de gravidade, quer de forma voluntária ou involuntária, sobretudo de forma eficaz pela ação dos sistemas visual, vestibular e somato-sensorial. Se os sistemas são acometidos então etapas do mecanismo de controle postural são suprimidas, diminuindo sua capacidade compensatória e levando a um aumento da instabilidade, por conseguinte, ocorrendo o desequilíbrio e o aumento do risco de quedas (ROMERO C.A. et al., 2001).

    Condições aliadas ao envelhecimento como a redução da massa óssea, a perda de massa muscular e o déficit de equilíbrio, são considerados como fatores de risco para possíveis quedas e fraturas (ACSM 1995). Aproximadamente 30% dos indivíduos com mais de 65 anos de idade caem ao menos uma vez por ano, estas quedas ocorrem em parte, em função das limitações fisiológicas de equilíbrio, força, visão e tempo de reação. (GUIMARÃES 2005).

    Sendo assim, podemos dizer que falta de força e de equilíbrio pode comprometer a qualidade de vida dos idosos, pois segundo Pereira (2006) em indivíduos com 60 anos ou mais ocorre uma redução de força máxima muscular entre 30 e 40%, o que corresponde a uma perda na força de cerca de 6% por década.

    Estudos com indivíduos idosos têm demonstrado que a pratica continuada de exercícios físicos pode auxiliar na manutenção e melhoria do equilíbrio. Lord & Castell (1994) em seus estudos observaram melhora do equilíbrio em idosos após 10 semanas de prática de exercícios físicos regulares compreendendo atividades de alta intensidade como musculação. De acordo com Topp (1993) foi observado uma tendência para melhora do equilíbrio nos idosos submetidos a um treinamento de força durante 12 semanas. Segundo Mann (2009) a combinação de treinamento resistido (musculação), alongamento e coordenação é apontada como uma das mais eficientes para a redução das instabilidades posturais e consequentemente a diminuição do risco de quedas, através de um trabalho contínuo de 20 sessões.

    De acordo com o exposto a cima torna importante verificar se idosas praticantes de treinamento concorrente apresentam ganho de força e de equilíbrio e se há relação entre os possíveis ganhos destas capacidades físicas em um período de 10 semanas. Para tanto estes são os objetivos do presente estudo.

Metodologia

    O estudo foi realizado nas dependências da Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Os indivíduos incluídos no estudo foram do sexo feminino e com idade a cima de 50 anos dispostas a realizar a modalidade musculação e trabalho aeróbico voluntariamente; mulheres sem práticas sistemáticas de exercícios com pesos a mais de três meses; sujeitos que não apresentaram problemas músculo esqueléticos, patologias associadas aos problemas cardíacos, de equilíbrio e/ou vestibulares que impossibilitassem a prática das modalidades propostas, condição que foi comprovada por apresentação de atestado médico. Todos os sujeitos da amostra assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação no estudo.

    As aulas foram ministradas no período da tarde iniciando às 14h e finalizando às 16h30min, com um intervalo entre as aulas de no mínimo 48 horas. As sessões foram sempre acompanhadas por estagiários do curso de bacharelado em Educação Física supervisionados por um Professor da ESEF. Efetivou-se 40 mulheres separadas aleatoriamente em dois grupos, aeróbico primeiro (A1) e musculação primeiro (M1). O grupo A1 realizou 30min de exercício aeróbio e logo em seguida uma série de musculação com oito exercícios (supino sentado, puxada por trás, extensão de joelho, flexão de joelho, rosca bíceps, rosca tríceps, flexão plantar, e abdominais), e M1 realizou o treino na ordem invertida.

    Para um melhor entendimento dos participantes quanto à ordem de realização dos exercícios foi adotado um sistema de fichas com cores diferentes para cada grupo, onde ficha branca era o grupo M1 e, ficha rosa grupo A1.

    No início da pesquisa todos os componentes da amostra foram convidados a se deslocarem até o LEPEMA (Laboratório de Extensão e Pesquisa em Medidas e Avaliação) da ESEF/UfPel onde realizaram testes de força lombar, manual e de membros inferiores em dinamômetro (marca Baseline) com precisão de 10 Kilogramas-força. Cada voluntário realizou três tentativas (3 minutos de intervalo entre cada uma delas) assumindo-se a melhor marca alcançada como valor final. Foram também mensuradas as variáveis antropométricas: estatura (em centímetros, obtida pela utilização de um estadiômetro), massa corporal (em quilogramas, utilizando uma balança do tipo plataforma - marca Fillizola), calculado o Índice de Massa Corporal (IMC, em Kg/m2) de cada participante e ainda o somatório de 7 dobras cutâneas ( TR, BI, SE, SI, AB, CO, PE) para caracterização da amostra.

    Para delineamento das atividades realizadas em cada sessão as idosas participaram dos seguintes testes: a) Musculação: Testes de força submáxima por repetição foi realizado com as idosas nos aparelhos de musculação utilizados no estudo para montagem das séries, onde os sujeitos realizaram entre 8 e 10 repetições completas. Caso o movimento tivesse sido facilmente realizado ou o indivíduo não conseguisse terminar o número de repetições o teste era interrompido e realizado novamente, podendo ser realizado no máximo três vezes no mesmo dia com intervalo mínimo de 5 min, caso isso não ocorresse o teste era transferido e uma nova data era marcada; b) Aeróbica: Para prescrição da atividade aeróbia foi utilizada a Escala de Esforço Percebido de Borg durante os 30 min da execução da tarefa em bicicleta estacionária.

    Para mensuração do equilíbrio, foi utilizado o teste de apoio unipodal com os olhos fechados, de acordo com protocolo sugerido por Gustafson (2000) O tempo de permanência em apoio unipodal era mensurado utilizando-se um cronômetro digital com resolução de 0,01 s. O teste consistiu de três etapas: aquecimento geral, aquecimento específico e o teste propriamente dito. No aquecimento geral, foi realizada uma sessão de cinco minutos de movimentação global da musculatura. Para o aquecimento específico uma tentativa de permanência máxima em apoio unipodal para cada pé, com os olhos abertos. Já o teste de apoio unipodal consistiu em permanecer o maior tempo possível na posição ortostática, com as mãos nos quadris, em apoio unipodal e com os olhos fechados. O tempo de permanência máximo estipulado para cada tentativa foi de 30 segundos. Cada voluntária tomou a posição inicial com os olhos abertos, fixando a visão no ponto colocado a um metro de distância à sua frente, ao nível dos olhos. Então, os olhos eram fechados e o cronômetro disparado.

    Cada tentativa foi encerrada quando a voluntária abriu os olhos ou retornou ao apoio bipodal, anotando-se o tempo de permanência na posição solicitada. Realizou-se três tentativas para cada apoio (direito e esquerdo), anotando-se a melhor das três tentativas. O escore para equilíbrio resultou da média aritmética entre as duas medidas válidas (à direita e à esquerda) para cada indivíduo. O intervalo de repouso entre as tentativas foi de 60 segundos. Um avaliador auxiliar permaneceu próximo de cada participante para evitar possíveis quedas.

    Após a bateria de testes foram iniciadas as atividades do programa propriamente ditas, onde as aulas tiveram uma hora e dez minutos de duração: aquecimento inicial de 5 minutos, uma hora foi dividida igualmente entre a parte aeróbica e musculação e 5 minutos finais foram destinados para volta à calma. A atividade aeróbica foi realizada com intensidade baseada na escala de Borg (entre 13 e 15) e a musculação com cargas equivalentes a 70% do teste de carga. Um segundo teste foi realizado na 5º semana de treinamento para manutenção desta carga, exceto nas séries de exercícios abdominais (3 séries de 30). As atividades foram realizadas em duplas, de maneira que um realizava o exercício e o outro descansava.

    A pesquisa teve duração de 10 semanas com três sessões semanais, ficando estabelecido um limite máximo de três faltas para permanência no programa - essa medida foi tomada para minimizar os vieses na pesquisa. Ao término das 10 semanas de estudo os indivíduos foram chamados mais uma vez ao LEPEMA (Laboratório de Extensão e Pesquisa em Medidas e Avaliação) da ESEF/UfPel, para a realização dos mesmos testes realizados no início do programa (pré-testes) para a averiguação dos possíveis ganhos (pós-teste).

Resultados

    A media de idade da amostra foi para o grupo A1: 60,5 (dp ± 7,8) e M 1: 59,8 (dp ± 4,9) e altura 1,62 ( dp ± 0,04) e 1,61( dp ± 0,06), respectivamente.

    Os dados referentes a variáveis antropométricas são apresentados conforme tabela 1.

Tabela 1. Variáveis antropométricas em média e desvio padrão respectivamente

    A amostra analisada apresenta-se com sobrepeso, com valores de IMC acima do recomendado para a idade que é de 18,5 a 25 Kg/m² segundo Garrow, (1985).

    E quanto ao somatório de dobras podemos notar que apesar do grupo M1 ser mais pesado do que o grupo A1 o somatório das dobras cutâneas foi menor nesse grupo, mas mesmo assim não teve diferença significativa quando comparado com o grupo A1.

Tabela 2: valores dos pré e pós-testes físicos realizados.

#P = 0,003 ; *p = 0,03

    Quanto à flexibilidade no pré teste, o grupo A¹ se classifica como muito bom e o grupo M¹ excelente (Wells, 1952) e no pós teste o grupo A1 teve uma pequena suba superando o grupo M1, porem cabe ressaltar que não houve diferença estatisticamente significativa nos pré e pós-testes entre estes grupos.

    As variáveis de força analisadas quando comparadas com valores proposto por Delgado (2004), classificaram-se entre fraco e médio, mas também sem nenhuma diferença estatisticamente significativa entre elas no pré-teste. Mas quando comparadas no pós-teste tivemos um aumento de força lombar e de membros inferiores significante no grupo M1, fazendo elevar o índice de força lombar e de membros inferiores de fraco para médio.

    Não obtivemos nenhuma variação significativa na variável equilíbrio tanto no pré-teste quanto no pós em nenhum dos grupos avaliados, podendo observar uma tendência a aumento do coeficiente de equilíbrio no grupo que realizou trabalho de força primeiro.

Discussão

    Apesar de 40 inscritas no inicio do projeto o número final de participantes ficou em 18, oito pertencentes ao grupo A¹ e dez pertencentes ao grupo M¹. Uma causa do grande número de perda de amostra foi o excesso de faltas obtidas durante o projeto que levou a eliminação do estudo. Faltas essas acarretadas pelo mal tempo nessa época do ano que segundo Reichert (2007) é uma das barreiras á pratica de atividade física.

    Outro tópico passível de discussão é o alto IMC encontrado na amostra em questão 27,7 ± 4,6 para o grupo A1 e 28,8 ± 8,3 para M1 classificando 100% da amostra com sobre peso segundo (GARROW 1985). Fato esse que pode ter sido causado por diversos fatores como sedentarismo e ingestão nutricional inadequada, por exemplo, já que pedimos para que todas permanecessem com sua dieta normal para evitar qualquer tipo de viés. Mas que segundo Cervi (2005) até que novos estudos sejam desenvolvidos, sugere-se a utilização da proposta de Lipschitz (1994) (baixo peso - IMC<22kg/m2, eutrofia - IMC entre 22 e 27kg/m2 e sobrepeso - IMC>27kg/m2), que leva em consideração as modificações na composição corporal que ocorrem com o envelhecimento e o alto grau de correlação encontrado por diversos autores na literatura com a maior índice de mortalidade em idosos com IMC inferior a 22. Fazendo com que nossa amostra se encontre mais próxima das faixas de normalidade porem ainda na classificação de sobrepeso para a idade. No entanto, é importante que esses valores bem como de outras medidas antropométricas, como da circunferência da cintura, sejam validados nas diferentes populações e grupos étnicos.

    Apenas o grupo M1 teve um ganho força significativo, o que segundo Lemos (2008) é normal já que em seu estudo ele relata que 20 minutos de exercício aeróbico antes do treino de musculação é suficiente para redução aguda de força em idosas fisicamente ativas.

    Segundo Matsudo 2001 o idoso não tem alterações no equilíbrio quando seu coeficiente do teste de equilíbrio para o protocolo proposto fica entre 21 e 30 segundos, sendo assim a amostra esta bem abaixo do considerado normal. Apesar do ganho de força no grupo M1 não se obteve qualquer alteração significativa de equilíbrio em nenhum dos grupos o que pode ter ocorrido pelo fato de utilizarmos um protocolo de teste de equilíbrio estático, talvez a utilização de um protocolo dinâmico, assim como o treino aeróbico e de musculação, possa ser mais específico e acarretar em resultados melhores.

Conclusão

    Com base nos resultados podemos concluir que o treinamento concorrente foi suficiente para aumentar significativamente o nível de força lombar e de membros inferiores de mulheres acima de 50 anos que praticaram o treino de musculação antes do aeróbico, e que a ordem inversa dos exercícios não provocou nenhuma alteração significativa, observamos também que não houve nenhuma relação do aumento de força com o coeficiente de equilíbrio.

    Através da tentativa de fazer uma discussão sobre os dados encontrados verificamos a urgência de se desenvolver referências para dados antropométricos de composição corporal e capacidades físicas e motoras como força e equilíbrio para idosos, analisando adequação dos pontos de corte para essa faixa etária, especialmente no Brasil, onde os dados ainda são escassos.

Referências bibliográficas

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