Obesidade abdominal entre idosos residentes em instituições de longa permanência Obesidad abdominal en personas mayores residentes en instituciones de larga permanencia |
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*Graduado em Educação Física - UNIME/FACSUL Pós Graduando em Atividade Física Adaptada em Saúde – UGF **Mestre em Saúde Coletiva – UEFS *** Graduadas em Educação Física Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Brasil) |
Felipe Ninck Netto* Saulo Vasconcelos Rocha** Vanessa Miranda Vitório*** Carla Camila Nascimento Gil*** |
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Resumo Este estudo teve como objetivo analisar a prevalência e os fatores associados a obesidade abdominal entre idosos residentes em instituições de longa permanência. Trata-se de um estudo transversal de caráter descritivo, realizado com 16 idosos de uma instituição asilar no município de Jequié-Ba. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foi: um formulário aplicado em forma de entrevista individual contendo informações sociodemográficas, qualidade de vida e uma avaliação antropométrica das circunferências da cintura, do quadril e estatura. A proporção de indivíduos com obesidade abdominal acentuada foi maior entre os indivíduos do sexo feminino, com maiores escores de idade, que vivem com companheiro, com baixa escolaridade, de cor da pele negro-parda e com percepção positiva da qualidade de vida. O conhecimento sobre os fatores associados a obesidade abdominal favorece o melhor direcionamento dos programas de atenção a saúde dos idosos residentes em instituições de longa permanência. Contudo, com base nos achados encontrados faz-se necessário a implementação de ações de combate a obesidade abdominal entre idosos residentes no município. Unitermos: Obesidade abdominal. Risco coronariano. Asilo para idosos.
Abstract Keywords: Abdominal obesity. Coronary risk. Nursing home.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O crescimento da população idosa caracteriza-se como um fenômeno mundial. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE; 2007) destaca que o Brasil não diferenciará da tendência mundial, as suas projeções são alarmantes. As estimativas são de que em 2020, o país será o sexto no número de idosos com uma população de 30 milhões de pessoas nessa faixa etária.
O envelhecimento é um processo natural, progressivo e que ocorre em todos os seres humanos, é definido como a soma de todas as alterações biológicas, psicológicas e sociais que, depois de alcançar a idade adulta e ultrapassar a idade de desempenho máximo, leva a uma redução gradual das capacidades de adaptação e desempenho psicofísico do indivíduo (VILARINHO et al, 2009).
As mudanças no perfil epidemiológico e nutricional dos idosos são conseqüências do envelhecimento populacional. De acordo com a pesquisa das bases de orçamentos familiares (POF), realizada em 2002 – 2003, a prevalência de obesidade entre a população brasileira, mensurada pelo parâmetro do índice de massa corpórea (IMC) aumentou com a idade e atingiu 17,1% na faixa etária de 55 a 64 anos, 14% na categoria de 65 a 74 anos e 10,5% nos idosos com 75 anos e mais (SILVEIRA, 2009).
Os indivíduos durante o processo de envelhecimento tendem a reduzir o percentual de massa magra, a altura, retendo muito líquido apresentando, assim, acréscimo de peso, no percentual de gordura corporal global e na concentração de gordura na região abdominal (PINTANGA et al, 2006).
A obesidade abdominal é determinada pelas medidas de cintura, abdome, quadril, RCEst e RCQ e é uma condição de morbidade que se associa com o aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Neste sentido, a presente investigação tem como objetivo de estimar a prevalência e os fatores associados à obesidade abdominal entre idosos.
Métodos
Estudo de corte transversal realizado no município de Jequié, cidade de Jequié-BA, localizada 365 km de Salvador, capital da Bahia, região nordeste do Brasil, no período de abril a maio de 2010.
Foram utilizados como critério de exclusão dos idosos da amostra: o comprometimento mental que impossibilitava a participação, demência de moderada a grave.
A amostra foi constituída por 16 idosos com 60 anos ou mais, residentes em uma instituição de longa permanência do município de Jequié, BA, selecionada por julgamento.
Para o procedimento de coleta de dos elaborou-se um questionário, aplicado de forma individual, seguida de avaliação antropométrica. Tal instrumento foi constituído pelos seguintes itens: a) aspectos sociodemográficos: idade, escolaridade e estado civil b) Qualidade de vida geral e percepção do estado de saúde (Questões retiradas do Whoqol bref). c) Freqüência de inatividade física (International Physical Activity Questionnaire, IPAQ adaptado para idosos) (BENEDETTI et al, 2006) d) Avaliação da capacidade funcional (Escala de auto-percepção do desempenho nas atividades da vida diária). Além das medidas de obesidade central ou abdominal através das medidas da circunferência da cintura (CC), da circunferência do quadril (CQ) e a medida de estatura. Para este estudo serão utilizadas as informações sociodemográficas, percepção de qualidade de vida e medidas antropométricas.
A avaliação do perfil do risco coronariano foi realizada por meio da relação cintura-quadril (RCQ), utilizando a classificação de Heyward (1996) apud Matsudo (2004) para indivíduos com idade acima da 60 anos. A classificação apresenta duas categorias: apresentam risco e aqueles que não apresentam risco. Sendo os seguintes valores RCQ = 0,99 – 1,03 para homens e 0,84 – 0,90 para mulheres e os indivíduos que não apresentam risco o RCQ apresentam valores inferior aos anteriormente citados (PITANGA et al, 2005).
Como critério de classificação da razão cintura-estatura foram utilizados dois valores de ponte de corte para homens (0,52) e mulheres (0,53) (PITANGA E LESSA et al, 2005).
A circunferência de cintura apresenta os seguintes parâmetros para homens e mulheres respectivamente, 88 cm e 83 cm (PITANGA E LESSA et al, 2004).
Para análise dos dados foram utilizados procedimentos da estatística descritiva (médias, freqüências e porcentagem) por meio do programa SPSS versão 9.0.
Para a digitação dos dados foi utilizado o programa Excel (versão 2007) e na análise estatística dos dados o pacote estatístico SPSS for Windows versão 15.
Esta pesquisa seguiu os princípios éticos presentes na Declaração de Helsinki e na Resolução nº.196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os protocolos de pesquisa foram avaliados e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Parecer nº 031/2010).
Resultados e discussão
As características sociodemográficas estão apresentadas na Tabela 1. Observa-se uma maior proporção de mulheres (62,5%), faixa etária entre 60-79 anos (56,3%), alfabetizados (56,3%), que referem cor da pele negro-parda (75%).
Tabela 1. Características sociodemográficas dos idosos asilares (n= 16). Jequié, Bahia, 2010
As características antropométricas estão apresentadas na tabela 2. Observa-se que uma maioria dos participantes do estudo apresentam elevada prevalência de obesidade central conseqüentemente com maior exposição a risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares, quando analisado os indicadores: circunferência de cintura (66,7%); razão cintura/estatura (66,7%) e na relação cintura/quadril (83,3%).
Resultados similares foram encontrados por Pitanga e Lessa (2004) realizado na cidade de Salvador, capital da Bahia, com 968 adultos da faixa etária de 30 a 74 anos, contudo, o estudo citado não investigou indivíduos com idade igual ou superior a sessenta anos.
Cabrera e Jacob Filho (2000) em levantamento realizado com idosos residentes em Londrina (PR) evidenciaram que as mulheres idosas na faixa etária de 60-79 anos apresentam níveis de obesidade abdominal ou central aumentado.
Contudo, os resultados encontrados pelos autores supracitados divergiram com relação aos resultados das medidas de circunferência de cintura.
Santos cols.(2005) observaram maior proporção de sobrepeso e de inadequação da distribuição de gordura entre as mulheres. A razão cintura quadril (RCQ) e perímetro da cintura as idosas apresentaram aproximadamente o dobro dos escores encontrados entre os homens. Entre os homens, tanto a prevalência de sobrepeso quanto o perímetro da cintura reduziram-se com a idade. Esta redução foi menor para as mulheres, enquanto a RCQ em mulheres aumentou com a idade. Os escores da RCQ para as mulheres chegou a ser três vezes maior que entre os homens na faixa etária de 80 anos e mais.
Tabela 2. Características antropométricas dos idosos asilares (n= 16). Jequié, Bahia, 2010
A distribuição das medidas de circunferência de cintura segundo características sociodemográficas e percepção da qualidade de vida estão apresentadas na tabela 3.
A distribuição das medidas de circunferência de cintura, segundo características sociodemográficas e percepção da qualidade de vida evidenciou uma maior proporção de indivíduos expostos a risco coronariano de acordo com o indicador circunferência de cintura entre os indivíduos que vivem com companheiro (100%), referem cor da pele negra/parda (75%) e com Percepção positiva da Qualidade de Vida (80%).
OLINTO (2004) em levantamento realizado com população na faixa etária de 20 a 69 anos residentes da zona urbana da cidade de Pelotas (RS) identificou que as mulheres apresentaram uma prevalência superior de obesidade abdominal quando comparadas aos homens, principalmente entre as mulheres casadas/união estável e viúvas, corroborando os resultados do presente estudo.
Tabela 3. Distribuição das medidas de circunferência de cintura segundo características
sociodemográficas e percepção da qualidade de vida em idosos asilares (n= 16). Jequié, Bahia, 2010
A tabela 4 apresenta a distribuição da relação cintura-quadril segundo características sociodemográficas e percepção da qualidade de vida.
Foi verificada a distribuição da relação cintura/quadril segundo características sociodemográficas e percepção da qualidade de vida. Maior proporção de indivíduos expostos a risco coronariano de acordo com o indicador da relação cintura/quadril são indivíduos do sexo feminino (100%), com mais de 80 anos de idade (100%), com companheiro (100%), não alfabetizados (100%), referem cor da pele branca (100%) e que apresentam percepção positiva de qualidade de vida (100%).
Os achados do presente estudo são semelhantes ao Martins e Marinho (2003) com relação aos resultados da distribuição da obesidade central ou abdominal (avaliada por meio do indicador relação cintura-quadril) e sua maior prevalência entre as mulheres e com relação à elevação desse indicador com o avançar da idade.
Gonçalves e colaboradores (2008) detectaram que a CC e RCQ aumentaram com o envelhecimento, entretanto a circunferência de quadril não apresentou um aumento com o passar da idade.
Tabela 4. Distribuição da relação cintura-quadril segundo características sociodemográficas
e percepção da qualidade de vida em idosos asilares (n= 16). Jequié, Bahia, 2010.
Com relação à tabela 5 que apresenta a distribuição das medidas da razão cintura-estatura segundo características sociodemográficas e percepção da qualidade de vida. Identificou-se que a maior proporção de indivíduos expostos a risco coronariano de acordo com o indicador razão cintura/estatura são os indivíduos apresentam faixa etária de 80 ou mais (100%), com companheiro (100%), não alfabetizados (100%), referem cor da pele negro-parda (87,5%) e que apresentam percepção positiva de qualidade de vida (100%).
A razão cintura-estatura é um indicador pouco utilizado entre os pesquisadores e os estudos que utilizam esse indicador de obesidade abdominal ainda são escassos. Contudo no presente estudo a prevalência de obesidade abdominal e sua distribuição segundo as características investigadas não diferiram muito entre os três indicadores utilizados (RCQ, CC e RCest).
No entanto, Almeida et.al.(2009) destaca que a variedade de indicadores antropométricos para estimar a obesidade contribui para que a escolha de um deles seja baseada em critérios que levem em consideração fatores como população estudada, sexo, idade e, principalmente, as evidências baseadas em pesquisas populacionais ou intervenções clínicas. Além, é claro, da disponibilidade e viabilidade de instrumentos para aferição das medidas necessárias.
Este estudo apresentou limitação para avaliação temporal do fenômeno observado, pois foi realizado estudo de corte transversal produzindo instantâneos da situação de saúde, não podendo assim avaliar adequadamente a causalidade entre eventos. Outra limitação importante é o viés de sobrevivência: apenas indivíduos que apresentaram o efeito investigado no momento da pesquisa são analisados.
Tabela 5. Distribuição das medidas da razão cintura-estatura segundo características
sociodemográficas e percepção da qualidade de vida em idosos asilares (n= 16). Jequié, Bahia, 2010.
Conclusão
A população do estudo apresenta uma elevada prevalência de obesidade abdominal segundo os três indicadores utilizados (RCQ, CC, RCest). A proporção de indivíduos com obesidade abdominal acentuada foi maior entre os indivíduos do sexo feminino, com maiores escores de idade, que vivem com companheiro, com baixa escolaridade, de cor da pele negro-parda e com percepção positiva da qualidade de vida.
Na literatura não foram encontrados estudos semelhantes ao presente levantamento, o que dificultou a comparação dos achados encontrados.
Sugere-se a realização de outros estudos semelhantes, que envolvam uma população maior de idosos e que não se restrinja a idosos residentes em instituições de longa permanência, para que tenham o domínio das evidências sobre a prevalência de obesidade entre idosos e parâmetros mais adequados para utilização dos indicadores antropométricos de obesidade abdominal entre essa população.
Contudo, com base nos achados encontrados faz-se necessário a implementação de ações de combate a obesidade abdominal entre idosos residentes no município. E essas políticas devem incluir nas suas ações, programas de atividades físicas e educação alimentar.
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