Prevalência de obesidade abdominal e excesso de peso corporal em participantes de um programa de ginástica laboral. Uma análise transversal Predominancia de obesidad abdominal y exceso de peso corporal en los participantes de un programa de gimnasia laboral. Um análisis transversal |
|||
* Graduandos do Curso de Educação Física ** Graduado em Educação Física *** Docente do Curso de Educação Física e Estatística ****Docente do Departamento de Matemática, Estatística e Computação UNESP, Presidente Prudente (Brasil) |
Mery Caroliny de Jesus Ribeiro* Amadeu Cavichiolli Prado* Karina Thamires Magnezi* Natália Cristina de Campos* Miguel Luis Pereira* Patrícia Andujas Carlos* Robson Chacon Castoldi** Olga Cristina de Mello Malheiro*** Vilma Mayumi Tachibana**** |
|
|
Resumo O descaso com a prática de atividade física em decorrência do aumento da carga de trabalho resultou em níveis crescentes de sobrepeso e obesidade na população de todo o mundo. Em decorrência disso, a ginástica laboral (GL) surgiu no ambiente de trabalho como uma forma de amenizar este agrave. Dessa maneira, o objetivo do presente estudo foi analisar o índice de adiposidade abdominal e estado nutricional, de funcionários da Diretoria de Serviços, tendo como base a idade e sexo. A amostra foi composta por 42 funcionários; ambos os sexos, sendo 11 mulheres e 31 homens, com idades entre 36 e 69 anos; engajados ou não nas aulas de GL do Programa Saúde Integral do Trabalhador da FCT-UNESP de Presidente Prudente que realizam serviços de limpeza dos prédios e jardins da Unidade. A obtenção das medidas antropométricas seguiu as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) – peso (kg), altura (cm) e CC (cm). Para a determinação do estado nutricional, foi utilizada a equação (Massa Corpórea/Estatura²). Para a determinação dos valores percentuais e distribuição amostral, usou-se a análise de frequência. Para tal, os indivíduos foram classificados de acordo com a idade e sexo, observados de acordo a composição corporal. Na análise estatística de dados utilizou-se o Software SPSS 10.0. Os resultados mostraram que, de um modo geral, a população pesquisada apresentou um preocupante índice de Obesidade Abdominal (OAB) e altos valores de IMC, em ambos os sexos. Verificou-se ainda, que a presença dessa grande quantidade de tecido adiposo na região abdominal estava presente em mais da metade da amostra. Desta forma, concluí-se que, a amostra analisada demonstra eminentes fatores de risco para o surgimento de doenças e que a GL deverá ser utilizada como instrumento na tentativa de reverter esta situação. Unitermos: Ginástica Laboral. Obesidade abdominal. Estado nutricional. IMC. Atividade física.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Atualmente, o trabalho ocupa a maior parte do dia do trabalhador. Preocupados em ganhar dinheiro para garantir o bem estar da família, eles não têm mais tempo para o lazer e a prática de atividades físicas que poderiam lhes trazer benefícios. Isto é um fato preocupante, pois, essa falta de tempo, poderá acarretar no aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial, diabetes, câncer, estresse e doenças osteomusculares.
Ao longo dos anos, ocorreram grandes mudanças na sociedade. Devido ao desenvolvimento tecnológico que trouxe consigo a comodidade, os movimentos humanos ficaram cada vez mais reduzidos, como um rápido toque nos botões do controle remoto, a subida e descida na escada rolante, a utilização dos elevadores entre outras facilidades, tudo é resolvido rapidamente, sem muito esforço.
Estas mudanças também aconteceram no ambiente de trabalho, onde os esforços naturalmente pesados, antes utilizados, começaram a ser deixados de lado, dando lugar a máquinas e atividades mais simples e repetitivas levando a comportamentos sedentários e a aquisição de doenças precocemente. Luchese (2007) observa que um fator importante que traz resultados positivos para a qualidade de vida é a adoção de hábitos saudáveis, pois se percebe que o sedentarismo é um dos principais fatores de risco que pode levar a ocorrência de doenças responsáveis pelo “absenteísmo”.
Na tentativa de minimizar a ocorrência de doenças resultantes do trabalho excessivo, existe a Ginástica Laboral (GL), utilizada há muito tempo, adaptada de acordo com as necessidades dos diversos ambientes de trabalho. Segundo Zilli (2002); Moraes; Delbin (2005), a GL consiste basicamente na realização de atividade físicas específicas, praticadas no ambiente de trabalho e direcionadas à musculatura mais requisitada durante as tarefas; preparando o organismo para o trabalho físico, promovendo a manutenção e normalização do tônus muscular e também compensando e relaxando qualquer esforço repetitivo.
Os primeiros registros da prática de GL são de 1925, na Polônia, onde os operários se exercitavam com uma pausa, adaptada a cada ocupação particular. Alguns anos depois esta ginástica foi introduzida no Japão, Holanda e na Rússia. No início da década de 60, ela começou a ser praticada na Alemanha, Suécia e Bélgica. Os Estados Unidos adotaram a Ginástica Laboral em 1968 (POLITO; BERGAMASCHI, 2004).
No Brasil, a GL foi introduzida por executivos nipônicos da Ishikawajima Estaleiros, uma empresa de construção naval no Rio de Janeiro em 1969. Os diretores e operários se dividiam em grupos de vinte a trinta pessoas e praticavam oito minutos de ginástica laboral preparatória, voltada para exercícios da coluna vertebral, do abdômen e do aparelho respiratório onde essas tarefas eram as primeiras do dia a ser realizada de forma obrigatória e remunerada. (MENDES; LEITE, 2008, p 02).
No decorrer do tempo, a GL vem sendo estudada em um caráter mais “holístico”; de forma que, os resultados podem comprovar que os benefícios obtidos não são apenas físicos, como também psicológicos e sociais, tais como: diminuição de inflamações e traumas, prevenção de acidentes, reforço da auto-estima, promoção da integração social, transparecer a preocupação da empresa com seus funcionários. Enfatizando a intervenção da GL no aspecto físico, pode-se citar uma das doenças crônicas não-transmissíveis e com um índice preocupante atualmente: a obesidade abdominal ou obesidade andróide (OAB).
Caracterizada pelo aumento de tecido adiposo na região do abdome, a OAB é considerada um fator de risco para diversas morbidades (doenças cardiovasculares, diabetes, dislipidemias e síndrome metabólica); representando risco diferenciado quando comparada com outras formas de distribuição de gordura corporal. Estudos consistentes apontam a circunferência da cintura (CC) como melhor medida antropométrica correlacionada à quantidade de tecido adiposo em tal região (OLINTO et al., 2006).
A partir dessa constatação, o objetivo do presente estudo foi analisar o índice de adiposidade abdominal e estado nutricional de funcionários da Diretoria de Serviços da FCT-UNESP, tendo como base a idade e o sexo.
Metodologia
Amostra
A amostra foi composta por 42 funcionários; ambos os sexos, sendo 11 mulheres e 31 homens, com idades entre 36 e 69 anos; pertencentes à Diretoria de Serviços, que realizam serviços de limpeza dos prédios e jardins da unidade, engajados ou não nas aulas de GL do Programa Saúde Integral do Trabalhador da FCT-UNESP de Presidente Prudente.
Coleta de dados
A coleta das medidas antropométricas seguiu as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) – peso (kg), altura (cm) e CC (cm). Os valores da circunferência de cintura (CC) foram mensurados com uma fita métrica flexível diretamente sobre a pele na região mais estreita entre o tórax e o quadril ou, em caso de não haver ponto mais estreito, no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca.
Obesidade abdominal
A obesidade abdominal foi aqui identificada de acordo com os padrões de CC estabelecidos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Valores inferiores a 80 e 94 cm, em mulheres e homens, respectivamente, foram considerados como OAB adequada.
Estado nutricional
Para a determinação do estado nutricional, foi utilizada a equação (Massa Corpórea/Estatura²). A partir dos valores encontrados, os indivíduos foram classificados de acordo com as recomendações da OMS. Para isso, foram considerados os valores < 25 kg/m² para eutróficos, ≥ 25 kg/m² para sobrepeso e > 30 kg/m² para obesidade.
Os dados foram coletados e analisados de forma minuciosa por alunos e colaboradores preparados especificamente para este estudo.
Análise estatística
Para a determinação dos valores percentuais e distribuição amostral, foi utilizada a análise de frequência. Para tal, os indivíduos foram classificados de acordo com a idade e sexo e a seguir observados de acordo a composição corporal. Para isso foi utilizado o Software SPSS 10.0.
Resultados
Observa-se que a idade média analisada na presente amostra foi 49 anos. Em relação ao estado nutricional, 69,76% dos indivíduos da amostra apresentaram sobrepeso ou obesidade, sendo que no grupo masculino foram observados maiores valores percentuais de excesso de peso do que no grupo feminino (75 vs. 45% respectivamente) [Tabela 1].
A Tabela 1 mostra ainda, a distribuição da OAB, segundo os níveis CC para ambos os sexos. As mulheres apresentaram uma prevalência inferior de obesidade abdominal quando comparadas aos homens, em relação aos níveis “Normal e I”, sendo que mais de 50% delas foram classificadas com OAB nível II (CCnII). Para os homens, a situação é menos grave, mesmo assim, com índices elevados: mais da metade necessitava de algum tipo de intervenção – CCnI ou CCnII.
Tabela 1. Níveis de obesidade abdominal a partir da circunferência da cintura, de acordo com o sexo (n = 42)
Pode-se perceber que 100% dos homens com 60 anos ou mais apresentaram quantidade normal de tecido adiposo na região abdominal. Verificou-se também que, nesse grupo, a prevalência de OAB foi nula. Porém, nos indivíduos dos grupos das demais faixas etárias houve prevalência de sobrepeso e obesidade, assim como de OAB níveis I e II (Tabela 2).
Tabela 2. Classificação por Faixa Etária e Índice de Massa Corporal (IMC) de acordo com os níveis
de intervenção para circunferência da cintura e faixa etária da população masculina (n=31)
No caso das mulheres, ao contrário dos homens, as maiores prevalências de OAB ocorreram em quem possui 60 anos ou mais. Em relação ao IMC, foi ainda mais acentuado, pois 100% das mulheres com idade até 49 anos apresentaram eutrofia (Tabela 3).
Tabela 3. Classificação por Idade e Índice de Massa Corporal (IMC) e faixa etária de acordo com
os níveis de intervenção para circunferência da cintura da população feminina (n=11)
Discussão
Esta pesquisa descreve a distribuição de OAB e estado nutricional dos funcionários da Diretoria de Serviços envolvidos no programa Saúde Integral do Trabalhador da FCT-UNESP.
Foram encontrados valores preocupantes para esta população, em relação ao excesso de peso, pois aproximadamente 60% dos indivíduos analisados neste estudo apresentam sobrepeso ou obesidade. Tal achado mostra valores percentuais mais altos do que os já realizados na literatura.
Na cidade de Presidente Prudente - Brasil, foi encontrado um valor superior a 40% de excesso de peso (DOS SANTOS et al., 2009). Segundo Oliveira et al., (2009), em um estudo realizado a cidade de Salvador – Brasil, foi encontrado prevalência de sobrepeso de 25,8% e obesidade de 12,8%.
Já está bem documentada na literatura a relação entre o aumento de peso e o surgimento de doenças. Um estudo de revisão utilizou 57 publicações que descreviam o excesso de peso como causa de doenças e identificou que altos valores de IMC foram responsáveis por 900.000 casos de morte (PSC, 2009).
Em relação a OAB, foi constatado que 54,5% das mulheres apresentavam Nível II (≥ 88cm), versus 25,8% no grupo masculino. Foi verificado ainda que, neste último, 45,2% foram considerados como nível normal (< 94cm).
Estudos demonstram que a presença acentuada de gordura corporal que gera maiores riscos para o desencadeamento de doenças, são aquelas que se localizam principalmente na região torácica, próxima as vísceras (MATIAS, 2008). Neste caso, o grupo feminino pode aparentar maiores riscos de desenvolverem alguma patologia em função do excesso de gordura corporal.
Tais fatores como, excesso de peso e obesidade abdominal, podem desencadear doenças como infarto do miocárdio, derrame cerebral, arteriosclerose, hipertensão arterial, diabetes tipo II. (WHO, 2003). Dessa maneira, a diminuição do peso corporal, bem como o aumento do nível de atividade física são imprescindíveis para a melhora da qualidade de vida desta população.
Foi observado também que, o grupo masculino apresentou menor ocorrência de OAB nas idades entre 50-59 anos (50% normal). Já no grupo feminino, todas as faixas etárias apresentaram OAB, sendo maior a ocorrência em indivíduos com idade acima de 60 anos (83,3% CCnII).
O acúmulo de gordura corporal, em faixas etárias mais avançadas, pode ser atribuído ao estilo de vida. A falta de cuidados com a saúde, juntamente com maus hábitos alimentares e sedentarismo, são desencadeadores de obesidade. No envelhecimento há também, o processo denominado sarcopenia (perda de massa magra). Tais alterações provocadas no decorrer da idade geram desordens no “balanço” entre massa corporal magra e massa corporal gorda (LOVEJOY, 2008; MARZETTI et al., 2009).
A prática de exercícios físicos no decorrer da idade pode assegurar melhor condição de vida em indivíduos fisicamente ativos. Segundo Nahas (2003), indivíduos que se mantêm ativos durante o envelhecimento, tornam-se mais independentes e podem viver melhor. Dessa maneira, as atividades da GL propostas no presente projeto, podem contribuir para a melhora da atual situação destes indivíduos.
Sendo assim, o presente estudo contribui com a literatura ao identificar excesso de peso nos indivíduos participantes do programa Saúde Integral do Trabalhador, onde a partir desses achados, novas medidas podem ser tomadas a fim de reverter este quadro.
O estudo se limitou a fazer uma análise transversal nos participantes do projeto. Novas análises no decorrer das atividades deverão ser feitas, para que se possa analisar os benefícios causados pela GL nestes integrantes.
Conclusão
Pode-se concluir que, de um modo geral, a população pesquisada apresentou um preocupante índice de OAB e excesso de peso, pois em mais da metade da amostra foi identificada a presença de grande quantidade de tecido adiposo na região abdominal, assim como altos valores de IMC, o que acarreta eminentes fatores de risco.
Dada a magnitude do problema, é consenso que a prevenção e mudanças de hábitos podem contribuir para a reversão do atual quadro nutricional desta população. Sabendo-se que a GL proporciona inúmeros benefícios a seus praticantes, sugere-se que ela seja utilizada como Fator de Prevenção nos níveis de intervenção primária e secundária de promoção à saúde no combate à OAB, sobrepeso e a obesidade; pois isso ocasionaria resultados positivos tanto na saúde física, como em outros aspectos da vida social.
Agradecimentos
Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX).
Referências bibliográficas
DOS SANTOS, J. A. G.; CASTOLDI, R. C.; DOS SANTOS, V. R.; FERNANDES, R.; FREITAS JR I. F. . Composição Corporal e Objetivos com a Prática de Atividade Física de Frequentadores de Áreas Públicas de Lazer da Cidade de Presidente Prudente. Coleção Pesquisa em Educação Física, v. 08, p. 109-116, 2009.
LOVEJOY, J. C. et al. Increased visceral fat and decreased energy expenditure during the menopausal transition. Internacional Journal of Obesity, Londres. 2008.
LUCHESE, C. Ginástica laboral: Intervenção exclusiva do profissional de Educação Física. CONFEF, Revista E.F. Nº 23 - Março de 2007 29/04/2010.
Marzetti, E. et al. Sarcopenia of aging: Underlying cellular mechanisms and protection by calorie restriction. Bio Factors, v. 35, n. 1, p. 28-35.
MATIAS, W. B. Nível de atividade física e composição corporal referenciada no IMC de universitários da UESB-Jequié/BA. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v. 13, n. 124, 2008. http://www.efdeportes.com/efd124/nivel-de-atividade-fisica-e-composicao-corporal-referenciada-no-imc.htm
MENDES, R. A.; LEITE, N. Ginástica Laboral: princípios e aplicações práticas. 2ª ed. Editora Manole. Barueri, SP – Brasil. 2008.
MORAES, C.; DELBIN, M. A. Por que implantar um programa de ginástica laboral na empresa? Revista de Administração, Espírito Santo do Pinhal, v.5, n.9, p. 7-9, jan./dez. 2005.
NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3ª ed. Ed. Midiograf. Londrina, PR – Brasil. 2003.
OLINTO, M. T. A. Níveis de intervenção para obesidade abdominal: prevalência e fatores associados. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(6):1207-1215, jun, 200.
OLIVEIRA L. P. M.; ASSIS A. M. O.; MONTEIRO DA SILVA M. C.; SANTANA M L P; SANTOS N S; PINHEIRO, S. M. C.; BARRETO, M. L.; SOUZA, C O. Fatores associados a excesso de peso e concentração de gordura abdominal em adultos na cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Cad. Saúde Pública, v.25, n. 3, 2009.
POLITO, E. Ginástica Laboral. Revista EF, CONFEF. Agosto de 2004.
Prospective Studies Collaboration. Body-mass index and cause-specific mortality in 900 000 adults: collaborative analyses of 57 prospective studies. 2009. The Lancet, Volume 373, Issue 9669, Pages 1083 - 1096, 28 March 2009.
WHO/FAO. World Health Organization/Food and Agriculture Organization. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Geneva: World Health Organization; (Technical Report Series, 916), 2003.
ZILLI, C. M. Manual de Cinesioterapia/Ginástica Laboral: uma tarefa interdisciplinar com ação multiprofissional. São Paulo: LOVISE, 2002. Disponível em: http://www.cenpre.com.br/ginastica-laboral/. Acesso em: 08/07/2010.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires,
Enero de 2011 |