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Motivação em praticantes de atividades de aventura

La motivación en practicantes de actividades de aventura

The motivation in adventure outdoor activities

 

*Graduado em Educação Física

**Professora Dra. do Departamento de Educação Física

Universidade Estadual de Maringá. Grupo Pró-Esporte (CNPq/UEM)

(Brasil)

Guilherme Moraes Balbim*

Lenamar Fiorese Vieira**

guimoraes.ef@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          As atividades de aventura são modalidades dotadas de um forte sentido de risco e incerteza, e para que essa prática seja possível é necessário algum tipo de motivação. O estudo teve como objetivo analisar o nível motivacional de praticantes de atividades de aventura de ambiente terrestre e aéreo da região noroeste do estado do Paraná. O estudo caracterizou-se como descritivo-diagnóstico e teve uma amostra de 49 praticantes de atividades de aventura, sendo 29 de ambiente terrestre e 20 de ambiente aéreo. Como instrumento utilizou-se a Escala de Motivação para o Esporte validada para a língua portuguesa por Serpa, Alves e Barreiros (2004). Para análise da normalidade dos dados foi usado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e na estatística inferencial foram utilizados o Teste t independente, o Teste de Mann-Whitney e Anova one-way. Os resultados apontaram que os praticantes apresentaram um nível motivacional essencialmente intrínseco, com as maiores medianas da motivação intrínseca para atingir objetivos (5,50), para experiências estimulantes (6,25) e para conhecer (6,00) e apresentaram diferença significativa quando comparadas com os três tipos de motivação extrínseca. Conclui-se que a prática de atividades de aventura é caracterizada pela busca do prazer e sensações estimulantes, sentimentos estes inerentes ao comprometimento do praticante consigo mesmo.

          Unitermos: Atividades de aventura. Motivação. Prazer.

 

Abstract

          The adventure activities are modalities endowed with arrangements for a strong sense of risk and uncertainty, and that such practice is possible is need some type of motivation. The study aimed to analysis the motivational level of practitioners of adventure activities in land and air environment of the northwestern state of Parana. The study was characterized as a descriptive diagnosis and had a sample of 49 practitioners of adventure activities, with 29 of terrestrial environment and 20 of air environment. The instrument used were the Motivation Scale for Sport validated to portuguese by Serpa, Alves and Barreiros (2004). To analyze the normality of data was used the test for normality Kolmogorov-Smirnov and for inferential statistics were used independent t test, the Mann-Whitney and one-way ANOVA. The results showed that the practitioners had an essentially intrinsic motivational level, with the highest median of intrinsic motivation to accomplish goals (5.50), for stimulating experiences (6.25) and get to know (6.00) and showed a significant difference when compared with the three types of extrinsic motivation. It was concluded that the practice of adventure activities is characterized by the pursuit of pleasure and stimulating sensations, these feelings inherent commitment of the practitioner himself.

          Keywords: Adventure activities. Motivation. Pleasure.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente é possível constatar crescentes manifestações lúdico-desportivas vinculadas à idéia de aventura, em que o praticante reconhece a participação do meio na composição da atividade (ZIMMERMANN, 2006), ou seja, observa-se um crescimento na procura por atividades de aventura, principalmente em contato com a natureza. Entretanto, no contexto atual é comum observar a inclusão dessas práticas cada vez mais no imaginário urbano, especialmente pela sua difusão em peças publicitárias e o consumo de um estilo de vida aventureiro (BRUHNS, 2003; COSTA, 2000; SPINK, 2010).

    Nesse sentido as atividades de aventura vão ao encontro das necessidades do indivíduo de experienciar emoções fortes e espírito rebelde, no qual o corpo não representa um meio, mas um fim si mesmo, sendo o destino final das sensações e emoções vivenciadas nas atividades (BETRÁN, 1995).

    Entende-se que as atividades de aventura são modalidades dotadas de um forte sentido de risco e incerteza, e embora hoje se tenha uma forte conotação urbana, o seu sentido foi produzido originalmente em interface com práticas em ambientes naturais. Um diferencial das atividades de aventura de ambiente terrestre, aéreo e aquático em relação aos esportes convencionais, é a busca e valorização do imprevisível em seus objetivos (DIAS, 2007).

    Para que o indivíduo busque tais atividades que suscitam risco e incerteza é necessário algum tipo de motivação, que para Magill (1984, p.241) pode ser definida como “as causas que afetam o início, a manutenção e a intensidade do comportamento”. Para o mesmo autor a motivação está relacionada a impulsos internos ou intenções que levam o indivíduo a comportar-se de determinada forma. E mesmo que fatores externos possam influenciar as intenções internas, a ação é em última análise causada por alguma força interna.

    Nesse sentido Weinberg e Gould (2001) definem a motivação como sendo a direção e a intensidade do esforço. A direção refere-se a um indivíduo buscar, aproximar ou ser atraído a certas situações, enquanto a intensidade refere-se ao esforço que uma pessoa investe em uma determinada situação. Para estes autores existem três visões típicas da motivação: visão centrada no participante, visão centrada na situação e a visão interacional entre indivíduo e situação.

    Nesta perspectiva podemos perceber que o tipo de fator interno (centrado na pessoa) ou externo (centrado na situação) influencia na força do estado motivacional. Desta forma a motivação intrínseca se evidencia como um importante componente para a realização da atividade. Isso acontece devido à motivação ser a força impulsionadora para realizar a atividade, e não por um propósito ou objetivo biológico aparente (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005).

    Face ao exposto, o presente estudo teve por objetivo analisar o nível motivacional de praticantes de atividades de aventura de ambiente terrestre e aéreo da região noroeste do estado do Paraná.

Métodos e materiais

    O estudo caracterizou-se como descritivo-diagnóstico, já que teve como objetivo primordial a descrição das características de determinadas populações ou fenômenos.

    A amostra do estudo foi composta por 49 praticantes, sendo 15 de escalada, 14 de skate downhill, 16 de pára-quedismo e 4 de balonismo da região noroeste do estado do Paraná, totalizando 29 praticantes de ambiente terrestre e 20 de ambiente aéreo. A amostra foi composta por 6 praticantes do gênero feminino e 43 do gênero masculino. A média de idade foi de 31 anos (±8,75). Como critério para seleção dos sujeitos destacamos: ter idade igual ou superior a 18 anos e no mínimo 6 meses de prática.

    Como instrumento utilizou-se a Escala de Motivação para o Esporte (SMS – Sport Motivation Scale) (BRIÈRE et. al, 1995) validada para a língua portuguesa por Serpa, Alves e Barreiros (2004). A escala consiste em 28 questões, divididas em 7 subescalas avaliadas em uma escala Lickert de 7 pontos. A Escala apresenta sete categorias: amotivação, motivação extrínseca de regulação externa, motivação extrínseca de introjeção, motivação extrínseca de identificação, motivação intrínseca para atingir objetivos, motivação intrínseca para experiências estimulantes e motivação intrínseca para conhecer.

    A análise estatística dos dados foi realizada por meio das estatísticas descritiva (frequências, medidas de tendência central e de dispersão) e inferencial (Teste t independente para comparação dos dados normais, o Teste de Mann-Whitney e Anova one-way para comparação dos dados não normais). Para análise da normalidade dos dados foi usado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov.

Resultados e discussão

    A Tabela 1 apresenta o nível motivacional dos praticantes de atividades de aventura dos ambientes terrestre e aéreo.

Tabela 1. Comparação do nível motivacional dos praticantes de atividades de aventura de ambiente terrestre e aéreo

    Nota-se (Tabela 1) que tanto no ambiente terrestre como no ambiente aéreo os praticantes apresentam um nível motivacional essencialmente intrínseco, já que os três tipos de motivação intrínseca apresentaram as maiores medianas.

    Dessa forma, os praticantes de atividades de aventura realizam as práticas corporais de aventura por prazer. Segundo Deci e Ryan (1985) a motivação intrínseca se refere ao processo de desenvolver uma atividade pelo prazer que a mesma proporciona, isto é, desenvolver uma atividade pela recompensa inerente a essa mesma atividade. Além disso, este tipo de motivação configura-se como uma tendência natural para buscar novidades, desafios, e para obter e exercitar as próprias capacidades (MASSARELLA; WINTERSTEIN, 2005). Estas características vão ao encontro de algumas características das práticas corporais de aventura citadas por Marinho (2001), Tahara, Filho e Schwartz (2006), Dias (2007) e Pimentel e Saito (2010), como a busca por novas sensações, desafios e experiências.

    Em relação à motivação intrínseca observada nos praticantes de atividades de aventura, Massarella (2008) destaca que esse estilo motivacional refere-se ao envolvimento em determinada atividade por sua própria causa, por ser interessante, envolvente e geradora de satisfação. Frente a isto, Bakker et. al (1993) salientam que a conduta intrínseca possui a importante característica de mesmo após o objetivo ter sido alcançado ainda existir a necessidade de sentimentos de competência, ou seja, não determina uma saciedade, ainda existem objetivos a serem alcançados. Além disso, existe também a necessidade de autorealização, de dominar o próprio ambiente, o que é muito importante no contexto das atividades de aventura.

    Pode-se destacar (Tabela 1) também a diferença significativa na motivação intrínseca para experiências estimulantes entre o ambiente terrestre e aéreo (p=0,003). Essa diferença se refere a maior busca por parte dos praticantes do ambiente aéreo por experiências estimulantes que causem excitação, prazer e divertimento. A maior busca por estas sensações pode estar relacionada ao fato do ato de voar ser algo que é sonhado pelo ser humano desde nossos ancestrais (PIMENTEL, 2005).

    A Tabela 2 apresenta a comparação dos 7 tipos de motivação de acordo com o ambiente da aventura.

Tabela 2. Comparação das medianas dos tipos de motivação das atividades de aventura de ambiente terrestre e aéreo

    Nota-se (Tabela 2) que os três tipos de motivação intrínseca apresentaram diferença significativa quando comparados com as motivações extrínsecas tanto no ambiente terrestre como no aéreo.

    Segundo Kobal (1996, p.57) motivação intrínseca “está mais frequentemente ligada à autonomia, isso leva a maior interesse, menos tensão e pressão, melhor aprendizagem, estados emocionais positivos, auto-estima elevada, maior autoconfiança, efeito terapêutico mais constante, melhor saúde física e psicológica”. Indo ao encontro destas características da motivação intrínseca, as atividades de aventura, além da emoção e das sensações causadas por sua prática. Marinho (2001) evidencia que “durante situações de aventura o corpo passa a ser um campo informacional, concebido como receptor e emissor de informação e não como um mero instrumento de ação ou coação”(p.89). Assim, percebe-se que as atividades de aventura fornecem aos praticantes a oportunidade de sentir algo diferente das atividades do dia-a-dia que em sua maioria levam o corpo a ser um instrumento da ação que está sendo realizada. Ao aliar a motivação intrínseca com tais características das atividades de aventura, os praticantes podem permanecer na prática de atividades que suscitam risco por mais tempo.

    Complementando, para Vallerand (2001, p. 263), motivação intrínseca “é um comportamento comprometido consigo mesmo, com o prazer e satisfação derivados da participação”. Envolve fazer uma atividade por si mesma, por seu interesse inerente e pelos sentimentos e pensamentos espontâneos conseqüentes.

    Relacionando-se com isto, é importante ressaltar que a busca pela prática do esporte de risco e aventura é movida pelo desejo de experimentar o novo, superar limites pessoais, buscar autoconhecimento e estreitar a relação homem-natureza (MARTIN et. al, 2008). Assim, a busca por sensações fortes por meio da exposição a situações extremas caracterizadas pelo medo e pela excitação, deixa de ser uma situação da qual se deve fugir e torna-se uma situação desejada pelo indivíduo, um objeto de desejo destinado a oferecer um sentido especial à existência (SPINK, ARAGAKI, ALVES, 2005).

Considerações finais

    Tendo em vista os objetivos do estudo, pode-se concluir que os praticantes de atividades de aventura dos ambientes terrestre e aéreo demonstraram prevalência nos níveis de motivação intrínseca (atingir objetivos, experiências estimulantes e conhecer). Dessa forma, os praticantes buscam as atividades de aventura visando o prazer e satisfação, sem intenções de receber recompensas externas.

    Nos praticantes do ambiente aéreo evidenciou-se a procura por experiências estimulantes é maior que entre os de ambiente terrestre. Isto resulta em maior busca por experiências excitantes que levem ao prazer e satisfação, o que pode ser influenciado pelo fato destas atividades serem realizadas em grandes altitudes e aproximar o indivíduo de um de seus velhos sonhos, voar.

    Assim, conclui-se que a prática de atividades de aventura é caracterizada pela busca do prazer e sensações estimulantes, sentimentos estes inerentes ao comprometimento do praticante consigo mesmo. Demonstrando que a superação de limites e o desejo de experimentar o novo com sensações fortes parece ser uma característica motivacional destes praticantes.

Referências

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