Motivação do profissional da Educação Física escolar na cidade de Paranavaí, Estado do Paraná, Brasil Motivación del profesional de la Educación Física escolar en la ciudad de Paranavaí, Estado de Paraná, Brasil |
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*Coordenador do Projeto de Pesquisa em Pedagogia do Exercício e Esporte – UFPR (Brasil) |
Prof. Mariana Rubellita Drd. Gislaine Cristina Vagetti Agnaldo Souza Santos Dr. Valdomiro de Oliveira* |
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Resumo O objetivo deste estudo foi determinar os vários aspectos influenciadores da motivação educacional do profissional de Educação Física, podendo então focalizar o problema e o porquê da situação, utilizando uma metodologia de caráter descritivo, pois está voltada a descrição de um fenômeno ou situação, mediante a um embasamento teórico sobre o assunto. Foi utilizado como instrumento de medida um questionário semi-estruturado, com questões que são interpretadas para analisar apenas cinco itens satisfatórios do entrevistado. Com isso, para a obtenção da pesquisa desejada a população e amostra foram compostas de professores de Educação Física da cidade de Paranavaí, formados há mais de 5 anos, com um total de dez participantes de ambos os sexos. O local de pesquisa foi colégios estaduais e particulares da cidade de Paranavaí dentro do Ensino Fundamental e Médio. Pode-se concluir que a Educação Física escolar da cidade de Paranavaí possui uma grande falta de motivação por parte dos professores, baseada nas insatisfações detectadas pelo estudo, porém são necessidades que podem ser supridas e resolvidas pelo caráter pedagógico, com exceção ao salário que não faz parte da competência do município. Unitermos: Educação Física. Motivação. Professores. Insatisfações.
Abstract Keywords: Physical Education. Motivation. Teachers. Dissatisfactions.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O ser humano, para qualquer ação, necessita de estímulos denominados motivos, ou seja, ele age diante de uma situação de motivação. A motivação deve existir até mesmo para realizar, com qualidade, tarefas básicas diária como comer e beber, além, das necessidades de estima que poderia citar a beleza da estética. As emoções também influenciam a motivação, como aborda Murray (1967, p.80): “as emoções são poderosas reações que exercem efeitos motivadores sobre o comportamento”.
No entanto, é nítido também que um profissional recém-formado possui um maior grau de motivação e uma bagagem de assuntos novos e interessantes. Dessa forma, Shigunov & Shigunov Neto (2000) seguem uma escala de adaptação do profissional à profissão e que, após 5 a 7 anos de atividade profissional, o professor passa a se encontrar num estágio de decadência motivacional. Por isso, vale analisar o grau de motivação do professor graduado há mais de cinco anos.
Diante deste fato, encontra-se a problemática: “como está a motivação dos profissionais de Educação Física escolar, graduados há mais de cinco anos, da cidade de Paranavaí?”. A partir daí, vale verificar o quanto este fato contribui para o caminho eficaz da Educação Física.
Motivação e a Educação Física
Como em todos os aspectos citados anteriormente, a motivação é um dos elementos centrais na relação ensino-aprendizagem e, na Educação Física, não é apenas importante, mas sim fundamental, por exigir um grau de excitabilidade, tanto do aluno quanto do professor, um pouco mais elevado em relação às demais disciplinas. Isso porque, segundo Chicati (2000, p.97) “os conteúdos necessitam de maior motivação e nem sempre os alunos se encontram prontos para algum tipo de atividade física”.
Além disso, a ausência de conteúdos novos e de novas experiências corporais faz com que o aluno se afaste das aulas de Educação Física. Mesmo porque, muitos professores ainda buscam o “atleta” e competição, esquecendo do conceito teórico e do “educar”. Machado (1997, p. 170) afirma que a “Educação Física escolar não é meramente esportiva; seu objetivo é fornecer ao indivíduo possibilidade de adquirir controle e condição física que o eduquem fisicamente”. Estes fatos não são inéditos nem ocultos dentro da disciplina e é a partir desse ponto que a Educação Física tem o efeito contrário, em termo de motivação, daquele adquirido no início da educação escolar. Shigunov e Shigunov Neto (2001) explicam através de uma análise, um maior interesse dos alunos pela prática nos primeiros anos de escola, o que denominaríamos de Ensino Fundamental. E esta perspectiva vem diminuindo com o passar dos anos, talvez pela “mesmice” das aulas.
Neste sentido, cabe ao profissional de Educação Física renovar conteúdos e, o que afirma Batista (1981, p.10) “mostrar aspectos interessantes para o aumento das resistências orgânicas e conseqüentemente a melhoria da saúde, a utilidade para o aproveitamento do lazer ativo e manutenção dos níveis de aptidão física”.
Material e métodos
A pesquisa se caracteriza como uma abordagem e análise de uma pesquisa descritiva, Best (1972) apud Marconi e Lakatos (1982, p.19) define como uma pesquisa que “delineia o que é através dos aspectos de descrição, registro, análise e interpretação de fatos atuais, objetivando o seu funcionamento no presente”. Entende-se que através da discussão de resultados comparados ao subsidio teórico e associado à realidade, será possível responder algumas falhas da Educação Física.
A pesquisa foi realizada nas Escolas e Colégios Estaduais e Particulares da cidade de Paranavaí, no Ensino Fundamental e Médio que faz parte de um grande projeto do grupo de pesquisa em Pedagogia da Educação Física e Esporte da UFPR. O público alvo deste trabalho foi os professores de Educação Física graduados há mais de cinco anos da cidade de Paranavaí, com uma amostra de dez indivíduos, de ambos os sexos, desta rede de ensino, com estas particularidades. Como instrumento de medida foi utilizado um questionário semi-estruturado de acordo com a classificação de Maslov, contendo vinte questões referentes à motivação, que analisaram quais são as maiores necessidades e insatisfações do indivíduo.
O estudo tem como característica uma pesquisa cega, pois não é nominal. Os resultados são inversamente proporcionais à satisfação dos resultados, quanto menor a satisfação, maior o número obtido. Além disso, é um procedimento amostral por trabalhar com uma pequena parcela da população, acreditando que esta se faz contribuinte para a obtenção do resultado desejado. Em relação ao questionário aplicado, contribuiu para uma estatística multivariada por ser analisado cinco itens.
Apresentação e discussão de resultados
O questionário aplicado teve como objetivo avaliar as necessidades primordiais dos professores de Educação Física da rede escolar, incluindo Ensino Fundamental e Médio. Estas necessidades ou insatisfações que foram abordadas seguiram a classificação de Maslov, dividindo em fisiológico; segurança; sociais; estima; e auto-realização. Para a obtenção desta classificação a análise das insatisfações está inversamente proporcional ao valor obtido, ou seja, quanto maior o valor, menor a satisfação.
Gráfico I . Pontuação do nível de satisfação fisiológica
Gráfico II. Porcentagem do nível de satisfação fisiológica
A pontuação máxima para cada item é de 20 pontos. Como mostra o gráfico I, esta pontuação foi bastante elevada, tendo a somatória de pontos de 123, caracterizando o maior número de insatisfações. Sendo assim, como mostra o gráfico II, houve uma média de que 61,5% das insatisfações dos entrevistados possuem a necessidade maior voltada para o sentido fisiológico, que no caso escolhido, as escolas, este enfatiza basicamente uma grande insatisfação salarial, impedindo-os de suprirem suas necessidades básicas como comer bem, beber, descansar, e vários outros aspectos particulares relacionados à sobrevivência do ser humano.
Gráfico III. Pontuação do nível de satisfação social
Gráfico IV. Porcentagem do nível de satisfação social
Através da demonstração do gráfico IV, percebe-se que o segundo item com maior insatisfação, foi o social, com a média 36,5% dos votos. A pontuação que cada professor optou para este aspecto teve uma redução comparada ao primeiro, como mostra o gráfico III, com um total de 73 pontos, uma queda de 50 pontos. O social abrange o companheirismo no trabalho, a aceitação dele pelo meio em que vive e principalmente a necessidade da valorização do profissional de Educação Física na escola é o que insatisfaz estes professores.
Estes dois itens são bastante comprometedores para o bom desempenho do professor. Assim, o gráfico V demonstra que realmente a auto-realização destes indivíduos foi afetada em contagem de pontos obtidos na entrevista.
Gráfico V. Pontuação do nível de satisfação de auto-realização
Gráfico VI. Porcentagem do nível de satisfação de auto-realização
Este comprometimento tomou conta de uma média de 34,5% das insatisfações dos professores entrevistados, como mostra o gráfico IV, e com um total de 69 pontos diante das questões obtidas, representadas no gráfico V. A auto-realização é a total produtividade que o professor deve ter dentro da escola, influenciando também a realização pessoal com a profissão. A partir daí, pode-se perceber que se um profissional encontra-se em um nível decadente de produção e interesse pelo trabalho, há também a desmotivação pelo mesmo.
A partir daí, os demais aspectos abordados tiveram pouca decadência, porém contribuem para o desânimo dos professores.
Gráfico VII. Pontuação do nível de satisfação de segurança
Gráfico VIII. Porcentagem do nível de satisfação de segurança
O gráfico VIII demonstra o quarto item analisado relacionando à necessidade de segurança, na qual observa a preocupação ou medo de ser despedido do emprego. Como a maioria dos entrevistados são professores concursados, não houve uma preocupação maior a esse respeito, apenas 33% das insatisfações são voltadas a essa preocupação ou medo de serem despedidos, implicando num valor total de 66 pontos, demonstrado no gráfico VII.
O último aspecto que traz uma necessidade a eles foi a estima. Este, relaciona a auto-estima do professor em relação a profissão, não a assuntos pessoais. Com isso, os entrevistados encontram-se garantidos consigo mesmo e seguros nas suas ações dentro da profissão.
Gráfico IX. Pontuação do nível de satisfação de estima
Como mostra o gráfico IX, a pontuação geral foi de 50 pontos, tendo uma pocentagem de 25%, relatado no gráfico X, globalizando uma pequena, mas considerável insatisfação neste aspecto, o que não causaria muitos efeitos em relação à motivação do profissional.
Gráfico X. Porcentagem do nível de satisfação de estima
As variantes entre o segundo, terceiro, quarto e quinto colocados são pequenas mostrando que a grande insatisfação é em relação ao salário, pois não muda muito entre uma escola e outra, mesmo sendo particular, diferente dos demais itens que se diferem entre uma escola e outra.
Esta foi uma análise geral, uma média de todos, não quer dizer que um professor especifico tem 61,5% de insatisfação fisiológica, cada um possui um valor especifico que foi calculado e em seguida obteve-se a média de todos os valores.
Dentro destes resultados percebe-se que as necessidades estão, de certa forma, equilibrada e segundo alguns depoimentos relatados durante a entrevista, a respeito de reais necessidades de cada um, pode ser entendido que muitos se sentem desmotivados por motivos específicos, ou seja, uns afirmam que a falta de reconhecimento é o que mais afeta, outros precisam de mais tempo de descanso, ou então o salário. Mas todos os fatores analisados são desencadeantes para uma desmotivação, não há como isolar um aspecto e afirmar que aquele é o foco do problema e sim, uni-los e mostrar que a carência no ensino escolar tem mais de um problema. Shigunov e Shigunov Neto (2001) afirmam que o salário, as condições físicas e política da escola, o tempo de descanso para lazer, devem ser considerados, revistos e melhorados, para que o professor possa desempenhar o real papel de educador que a sociedade espera.
Dessa forma, pode-se dizer que os baixos salários estão afetando diretamente os professores de Educação Física escolar da cidade de Paranavaí, em relação à motivação no trabalho e que os demais itens como social, auto-realização, segurança e estima agem indiretamente neste aspecto, porém não os excluindo da causa da desmotivação. Todos estas características analisadas contribuem, e bastante, para que o profissional não se entusiasme com seu trabalho, deixando que a qualidade do mesmo regrida e aconteça a total descrença e descaso da sociedade e dele mesmo para com a profissão, contribuindo com que a Educação Física se encontre e permaneça com estas qualidades negativas atribuídas atualmente.
Considerações finais
Com um embasamento teórico, este trabalho indicou alguns conceitos de motivação, relacionando-os em vários aspectos, além de comparar a importância da mesma ligada à educação escolar em geral e em especial dentro da Educação Física; dos professores da disciplina e dos profissionais em geral.
Estas teorias puderam também de mostrar o que deveria estar acontecendo com o professor de Educação Física escolar perante a uma situação idealista de trabalho, com a motivação certa, na qual deveriam ser criativos e bem dispostos para enfrentar a falta de materiais didáticos e físicos, os baixos salários e as raras oportunidades de buscar conhecimentos novos ou cursos, sem que interfira no entusiasmo deste, nas aulas. Porém, pôde ser visto também que esta é uma realidade bastante distinta, pois os professores de Educação Física entram na profissão com esta disposição, mas mudam e pioram com o passar do tempo por perceberem que é uma tarefa bastante complicada e sem resultados positivos, fugindo da dependência destes profissionais.
Com isso, o questionário aplicado comprovou que há a grande insatisfação com os baixos salários. Através disso, pode-se dizer que a grande falha da motivação dos professores de Educação Física escolar é primordialmente a carência na remuneração. No entanto, este aspecto não age isoladamente, pois todos os fatores contribuem para que o profissional se desmotive com a profissão, como por exemplo, o item social, que atinge desde o não reconhecimento da profissão pela sociedade, até a convivência com a falta de companheirismo dentro do trabalho, afeta a vontade do profissional em atuar com total produtividade, pois seu trabalho não terá uma percussão desejada. Ou então, se o professor possui uma descrença em seu trabalho, uma baixa na auto-estima, ele não se entusiasmará pela função, ocasionando também a falta de motivação.
Sendo assim, a Educação Física escolar da cidade de Paranavaí possui uma falha motivacional dos professores baseada nas insatisfações detectadas, porém são necessidades que podem ser supridas e resolvidas, com exceção ao salário que não faz parte da competência do município.
Com base nestes resultados, pode-se concluir que a interferência direta e indireta dos fatores analisados está afetando efetivamente a motivação dos professores de Educação Física em questão e que, a grande queda na credibilidade da profissão pode estar proporcional ao grau de entusiasmo que este professor se dispõe ao ministrar suas aulas, o que não se encontra num rendimento ideal e esperado. Assim, acredita-se que com o desenvolvimento da criatividade e a melhora nas condições de trabalho, estes profissionais poderão estar desenvolvendo um trabalho melhor e com maior rendimento, basta identificar qual é o ponto principal da insatisfação individual e a medida do possível buscar a mudança.
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