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Um relato de experiência do trabalho com projetos 

sobre saúde, meio ambiente e qualidade de vida na escola

Un relato de experiencia de trabajo con proyectos sobre salud, medio ambiente y calidad de vida en la escuela

 

*Mestrando em Educação Agrícola – PPGEA/UFRRJ

Professor de Educação Física formado na UFRRJ

Especialista em Educação Psicomotora UERJ

Licenciando em Pedagogia na UERJ

**Mestre em Educação pela UNIG e em Ciências Sociais:

Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, pela UFRRJ

Professora de Ciências Biológicas, formada na Gama Filho

Licencianda em História pela UNIRIO.

***Mestranda em Geografia pela PUC, Rio

Professora de Geografia formada na PUC, Rio

Especialista em Políticas Territoriais no Estado do Rio de Janeiro - UERJ

****Professor de Educação Física pela UFRRJ

Pós graduando em Gênero e Sexualidade pela UERJ

*****Graduando em Medicina pela UNIGRANRIO

Jeimis Nogueira de Castro*

jeimis@yahoo.com.br

Mônica Silva Barbosa Mello**

msbmello@ig.com.br

Gisele Cardoso de Almeida Machado***

gikacardoso@yahoo.com.br

Cláudio Oliveira da Gama****

claudiodagama@hotmail.com

Gláucio Oliveira da Gama*****

glaucio_gama@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho teve como objetivo desenvolver, de forma transdisciplinar, conteúdos relacionados à saúde, meio ambiente e qualidade de vida entre diferentes áreas do conhecimento. As disciplinas envolvidas foram: Geografia, Educação Física, Biologia e Língua Portuguesa. Cada uma desenvolveu seu trabalho de forma a utilizar, também, alguns conteúdos das disciplinas não engajadas diretamente no projeto, visando a estimular a autonomia dos estudantes, ao interesse pelo estudo e à busca do conhecimento; incentivando a pesquisa e o senso crítico dos estudantes. Este trabalho foi desenvolvido em um colégio público, localizado no Estado do Rio de Janeiro, no Município de Nova Iguaçu. Ele foi fundamentado nos estudos de Fernando Hernández, através de uma metodologia de “trabalho por projetos”. Tal metodologia concebe a educação como uma maneira de envolver os estudantes, educadores e os recursos disponíveis para promover uma interação entre todos os envolvidos. Este trabalho foi desenvolvido em etapas, durante as quais os estudantes receberam informações sobre os temas, levantaram questões-problemas sobre os mesmos, e escolheram um assunto específico para pesquisar. No momento da culminância do projeto, os estudantes apresentaram o resultado de suas pesquisas para a comunidade local, trocando informações com todos os envolvidos no projeto e com a comunidade.

          Unitermos: Trabalho por projetos. Transdisciplinaridade. Autonomia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A ideia de desenvolver um projeto transdisciplinar sobre saúde, meio ambiente e qualidade de vida se deu ao fato de a escola em que foi realizado este projeto, ser localizada num bairro afastado do centro, sendo carente de recursos estruturais básicos, como esgoto, água, moradia, com pessoas de baixo poder aquisitivo. Dessa maneira, a saúde, o meio ambiente e a qualidade de vida acabam ficando para segundo plano. Essa mesma escola fica em frente a um rio o qual se encontra em péssimas condições, com pessoas jogando lixos e esgotos no mesmo, com empresas despejando substâncias químicas, não havendo muitas preocupações quanto à recuperação e/ou conversação do desse rio.

    Por tudo isso, os educadores e educandos perceberam a necessidade de trabalhar na escola com esses assuntos, de forma a aprofundá-los durante as aulas, para em seguida, devolvê-los para a comunidade, buscando um maior esclarecimento, informação e conscientização das pessoas que moram ao redor da escola.

    O projeto foi desenvolvido em uma escola pública da rede estadual do Rio de Janeiro, localizada no município de Nova Iguaçu. Um colégio pequeno, público, também com poucos recursos. Os alunos que frequentam a escola, a maioria é pertencente a uma classe social baixa.

    A organização do mesmo ficou a cargo de alguns professores da área de Educação Física, Geografia, Biologia e Língua Portuguesa. A ideia inicial era fazer com que todas as disciplinas participassem diretamente da organização do projeto, mas não foi possível devido à dificuldade de juntar todos os professores para as reuniões, porque cada professor trabalha num dia e horário diferente. E como muitos professores trabalham em diversas escolas, não tinham tempo para comparecer às reuniões.

    Antes de iniciar o trabalho pretendido, através de uma avaliação diagnóstica, foi possível observar que os educandos andavam um pouco desmotivados com o estudo e não tendo o interesse pela escola. Talvez, isso aconteça porque os conteúdos acabam sendo trabalhados fora da realidade dos estudantes. Muitas vezes, esses conteúdos acabam sendo abordados de maneira estanque, sem existir uma ligação entre as diversas áreas do saber.

    Quanto a isso, Morin (2009) diz que a escola ensina os alunos a isolar os conhecimentos de seu ambiente, a separar as disciplinas ao invés de reconhecer as suas correlações, a dissociar os problemas, ao invés de reuni-los e integrá-los.

    Desta maneira, a escola obriga aos estudantes a reduzir o complexo ao simples, “separando o que está ligado; a decompor, e não a recompor; e a eliminar tudo que causa desordens ou contradições em nosso entendimento” (p. 15).

    Sendo assim, o trabalho em conjunto a cada dia fica mais difícil devido à falta de comunicação interpessoal. Com este projeto, temos a preocupação e a responsabilidade de modificar esta situação.

    Por isso, acreditamos que ele buscou contribuir para despertar nesses estudantes o interesse de voltar à escola, de querer participar do convívio escolar; de saber o que anda acontecendo no mundo e na sociedade em que vivem; o que a população tem feito para contribuir para a degradação do meio ambiente; conhecendo a importância de se ter uma vida saudável; de praticar uma atividade física regular, entre outros assuntos. Tudo isso, baseado numa proposta transdisciplinar, a qual pode ser entendida com o auxílio de Santos (2003) como aquela que:

    (...) considera uma realidade multidimensional, sem que nenhuma dimensão tenha prioridade sobre a outra, com estrutura de múltiplos níveis. Como já se disse, a totalidade não é um amálgama, nem simples soma. Ela resulta de uma articulação dinâmica, integrando também o processo de retroatividade e de recursividade (lógica circular), constituindo uma estrutura aberta que se sucede sempre em outra estrutura devido a incessantes pares binários que se contrapõem, formando novos níveis de realidade, o que impossibilita a elaboração de uma teoria completa, fechada em si mesma, senão temporariamente. Tal estrutura aberta é móbil em graus de complexidade [p. 110].

    A partir dessa proposta, procuramos desenvolver um ensino que priorizasse a autoestima dos educandos, a autonomia, e o mais importante, o seu interesse pela busca do saber. Tudo isso, por meio de um trabalho que contribuísse com a valorização do aprendizado, aumentando a autonomia dos estudantes, tornando o ensino significativo para eles, através da transdisciplinaridade. E o mais importante, transmitindo conhecimentos para a comunidade, encurtando a distância entre a escola, a comunidade e os pais.

    Para trabalhar dessa forma, os educadores precisam utilizar novas metodologias de ensino, as quais possam construir espaços para o desenvolvimento do espírito crítico dos estudantes. Essa nova pedagogia necessita que seja valorizada “a contradição, a dúvida, o questionamento; que se valorizem a diversidade e a divergência; que se interroguem as certezas e as incertezas, despojando os conteúdos de sua forma naturalizada, pronta e imutável” (GASPARIN, 2007, p. 3).

    Tivemos como um dos objetivos do projeto, despertar nos educandos o prazer em ir à escola, e ao mesmo tempo, dar condições para que eles aprendam a buscar o conhecimento, porque não adianta trazer o conhecimento pronto e acabado, se o educando não está preparado para recebê-lo.

    Sendo assim, trabalhamos com atividades, nas quais os estudantes aprenderam a conviver e pesquisar em grupo, trocando conhecimentos uns com os outros, aprendendo também a respeitar as dificuldades e o tempo de aprendizado de cada pessoa. Convivendo sempre em um ambiente em que as pessoas não são iguais, não se manifestam e nem se movimentam da mesma maneira.

    Segundo Laplantine (1998), mesmo nas sociedades que são bem diferentes umas das outras, as pessoas acabam tendo algumas semelhanças também, uma delas é a capacidade de se diferenciarem umas das outras, de se expressarem de formas as mais variadas possíveis, e sem, com isso, perderem a condição de seres humanos.

    E dessa forma, os estudantes puderam lidar com a diversidade cultural, através do princípio de alteridade, juntamente com a compreensão humana. Sobre esse assunto, Morin (2000), diz que educar para compreender um ao outro, não se deve ser ensinado como se ensina uma disciplina específica, ele diz que ensinar a compreensão humana é diferente. Para Morin, ensinar a compreensão humana é uma missão fundamental da nossa educação, porque através dela é que se ensina a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade.

    Para que os educandos pudessem ter condições de ir ao encontro dos conhecimentos de forma autônoma, o nosso projeto trabalhou essa questão com atividades, as quais foram dadas liberdade para eles construírem suas próprias obras.

    Com base em Rogers (1972), buscou-se um ensino de qualidade, como aquele que facilita a mudança e a aprendizagem, sendo o estudante aquele que se educa aprendendo a aprender. Sendo aquele o qual conseguiu compreender como se adaptar e mudar, que conseguiu entender que nenhum conhecimento é seguro, que nenhum processo de busca de conhecimento oferece uma base segura.

    Por isso que Morin (2001, p.86), diz que o processo de ensino-aprendizagem é: “a navegação em um oceano de incerteza, entre arquipélagos de certeza”.

Metodologia

    Este trabalho buscou uma fundamentação na Metodologia de Projetos de Fernando Hernández (1998) e Hernández e Ventura (1998), que é baseada na problematização.

    Nesta perspectiva, o aluno deve ser envolvido no problema, ele tem que investigar, registrar dados, formular hipóteses, tomar decisões, resolver o problema, tornando-se sujeito de seu próprio conhecimento. O professor deixa de ser o único responsável pela aprendizagem do aluno e torna-se um pesquisador, o orientador do interesse de seus alunos. Levanta questões e assim, torna-se um parceiro na procura de soluções dos problemas, gerencia todo o processo de desenvolvimento do projeto, coordena os conhecimentos específicos de sua área de formação com as necessidades dos alunos de construir conhecimentos específicos.

    De acordo com Hernández e Ventura (1998), a função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação; à relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, e à transformação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio.

    Sendo assim, Hernández e Ventura (1998) destacam os seguintes aspectos como os mais relevantes em um projeto:

  1. A escolha do tema a partir das experiências anteriores dos alunos. Esse tema pode fazer parte do “currículo oficial”, de uma experiência comum, de um fato da atualidade, de um problema proposto pelo professor. Ressalte-se que não existem temas que não possam ser abordados por meio de projetos;

  2. A atividade do professor, após estabelecido o tema e levantadas as hipóteses a respeito dele, deverá ser de especificar o fio condutor que fará com que o projeto ultrapasse a aquisição de informações e se torne instrumento para a construção de novos conhecimentos. Ele deve destacar os conteúdos conceituais e procedimentais possíveis de serem desenvolvidos, indicar fontes de informação, criar um clima de envolvimento e interesse do grupo e planejar etapas do projeto;

  3. A atividade dos alunos, após a escolha do projeto, é a elaboração de um roteiro inicial de investigação da classe; busca de informações que complementem e ampliem aquelas apresentadas inicialmente na proposta; tratamento dessas informações, uma vez que elas possibilitam visões da realidade, síntese, estabelecimento de relações e novos questionamentos; realização da avaliação de todo o processo interno e externo de elaboração do projeto;

  4. Na busca das fontes de informação, parte-se do pressuposto de que o aprender é um ato comunicativo. O educador assumirá, então, o papel de facilitador desse processo, na medida em que, partindo de sua capacidade, transformará as referências informativas em materiais de aprendizagem, com uma intenção crítica e reflexiva. A autonomia dos alunos é favorecida, mais do que pela busca das fontes de informação, pelo diálogo estabelecido entre professor e aluno para estabelecer comparações, inferências e relações, o que ajuda a dar sentido à aprendizagem que se pretende com os projetos.

    Dessa maneira, acreditamos que ao se trabalhar com projetos, é possível desenvolver competências, propor tarefas complexas e desafios que estimulem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e completá-los. A experiência com projetos na escola se mostrou eficiente no desenvolvimento das inteligências múltiplas, no trabalho com os conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais, além de permitir que o conhecimento fosse tratado como uma “rede de significados” que, contrapondo o olhar cartesiano, possui múltiplos ou nenhum centro, o que depende do interesse dos professores e alunos sobre o tema em estudo.

    Ao abordar o trabalho com projetos na construção do conhecimento escolar, valorizou-se uma prática pedagógica que estimulou a iniciativa dos alunos através da pesquisa, desenvolveu-se o respeito às diferenças pela necessidade do trabalho em equipe, incentivou-se o saber ouvir e se expressar, o falar em público e o pensamento crítico e autônomo.

O desenvolvimento do projeto

    O projeto foi desenvolvido num período de três meses, no ano de 2009. E aconteceu da seguinte maneira:

1ª Semana

    O projeto foi apresentado à direção, aos professores, alunos e todos os funcionários, mostrando qual era o objetivo do mesmo, como ele iria ser desenvolvido e qual era a sua importância.

2ª Semana

    Foi a fase da sensibilização, de acordo com Santos (2008), essa é uma etapa de grande importância, pois é a partir dela que se busca a adesão dos professores e alunos ao projeto. Nessa fase é necessário desenvolver a argumentação do motivo e da importância de se trabalhar com um tema transversal. A autora diz que o tema gerador precisa ser significativo para a comunidade e para a escola, que faça sentido para os mesmos.

    Para desenvolver a sensibilização, utilizamos alguns filmes para motivar os docentes e discentes, almejando a conscientização dos estudantes sobre a importância da escola e do estudo para a vida deles. Trabalhando também a questão da autoestima pela valorização de cada pessoa e do que essa pessoa pode produzir.

3ª Semana

    Escolha com os alunos do tema que seria trabalhado no projeto, após discussões, foi decido que o tema gerador seria baseado em saúde, meio ambiente e qualidade de vida.

4ª Semana

    Aulas expositivas sobre assuntos relacionados aos temas do projeto: saúde, meio ambiente e qualidade de vida.

5ª Semana

    Levantamento de temas pelos estudantes para a seleção dos assuntos os quais seriam trabalhados durante o projeto. Divisão dos grupos e seleção dos temas de cada grupo.

6ª e 7ª Semanas

    Início da pesquisa de cada grupo, os educandos levaram tudo que conseguiram pesquisar. Junto com os educadores, todos ajudaram a selecionar os conteúdos mais significativos que foram pesquisados para serem utilizados nas próximas etapas da pesquisa de cada grupo.

8ª e 9ª Semanas

    Confecção dos cartazes para a exposição, baseada em toda a pesquisa realizada pelos estudantes. Utilizando os materiais pedagógicos oferecidos pelos educadores e os livros da biblioteca da escola.

10ª Semana

    Construção do material para a divulgação do projeto. Participando dessa produção todos os estudantes juntamente com os educadores envolvidos no projeto.

11ª Semana

    Caminhada pela comunidade da escola, explicando para os moradores o que seria o projeto, os assuntos que iriam ser trabalhados, os temas envolvidos e principalmente, convidando-os para o dia do projeto.

12ª Semana

    Caminhada com os estudantes pelas margens do rio em frente à escola. O objetivo da caminhada foi o de investigar a poluição e conscientizar as pessoas que moram às suas margens sobre a poluição, o lixo que é jogado nele, e como todos podem contribuir para melhorá-lo com pequenas mudanças de comportamento.

13ª Semana - A culminância do projeto.

    Este projeto foi desenvolvido por turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental e também com turmas do ensino médio.

    As turmas foram distribuídas pela afinidade dos temas. Através das pesquisas, os estudantes construíram seus cartazes nas salas de aula, tendo três grupos em cada sala no dia da culminância.

    Teve uma apresentação de teatro de fantoches pela manhã no pátio da escola com uma turma do sexto ano do ensino fundamental (sobre uma reflexão de como será o mundo daqui a alguns anos caso a sociedade não comece a (re)pensar em preservar o meio ambiente), juntamente com a de judô e capoeira (estimulando à prática de atividade física).

    Outras turmas do sexto e sétimo ano do ensino fundamental, ficaram responsáveis pela explicação sobre como preparar materiais de limpeza caseiros que não causam grandes agressões ao meio ambiente, e foram distribuídas pequenas amostras desses produtos caseiros para os visitantes.

    Neste dia, os visitantes também puderam verificar o seu peso ideal, o índice de massa corporal, aferir a frequência cardíaca, conhecer um pouco mais sobre a obesidade, anorexia, bulimia, suplementos alimentares e sobre a importância da prática regular de atividades físicas.

    Quem foi ao colégio no dia do projeto, também pode conhecer um pouco sobre como os focos de endemias são desenvolvidos com pequenas ações da população e como podem ser diminuídos também com pequenas ações do dia a dia. Foi abordado o funcionamento do coração, problemas que ele pode ter e como se pode fazer a prevenção desses problemas. Houve exposições sobre colesterol, perímetro abdominal, estresse, diabetes, hábitos alimentares, pressão arterial e aspectos posturais.

    A questão do uso de drogas, álcool e anabolizantes também foi abordada pelos estudantes no trabalho, juntamente com as possíveis causas e consequências do seu uso.

    Acreditamos que este trabalho foi de grande importância para a escola, os educadores, estudantes e funcionários, porque além de ter sido um trabalho de construção do conhecimento por todos, também foi um trabalho de conscientização de toda a comunidade.

Resultados e discussões

    Acreditamos que este trabalho contribuiu muito para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes. Através deste projeto, os educandos puderam aprender que eles são plenamente responsáveis pelas escolhas que fazem e pelas consequências também.

    Durante a execução do mesmo, todos trabalharam com o princípio da liberdade, o qual acabou se tornando a principal característica deste projeto. Dessa maneira, todos puderam perceber que se somos livres para escolher, somos também responsáveis tanto pelo que escolhemos quanto pelas consequências dessa escolha. De acordo com Gallo (1995), isso faz com que cada indivíduo seja responsável não apenas por si mesmo, mas também por toda a humanidade. Visto que os atos que executamos se refletem em todos os homens, em maior ou menor grau, e pelo mundo, já que essa ação, além de se dar em meio a outros homens, dá-se também, necessariamente, no mundo.

    Portanto, se o mundo é assim, se vivemos num mundo que está cada vez mais poluído, isso se deve as escolhas que todos nós fazemos, a determinados atos que escolhemos ou deixamos de escolher. Se vivemos numa determinada sociedade, concordemos ou não com ela, somos plenamente responsáveis por ela, pois a sociedade é sustentada, ou não, unicamente por nossas próprias ações.

    Sendo assim, cabe a nós transformarmos o mundo em que vivemos. Tendo consciência de que a escola não existe à parte da sociedade, ela é uma continuação dela. E nessas circunstâncias, a escola pode ser uma poderosa ferramenta de transformação ou reprodução das desigualdades, cabe a nós a missão de transformar a escola num lugar de igualdade de direitos, de respeito à diversidade, de liberdade, e do mais importante, de socialização dos saberes sistematizados.

Obstáculos estruturais, conceituais/atitudinais

    Durante o desenvolvimento do projeto percebemos que o grande problema que enfrentamos quanto à participação dos professores foi a questão da carga horária. Isso, pelo fato dos professores não serem de dedicação exclusiva, a maioria trabalhava em várias escolas e não tinha tempo suficiente para se dedicar à escola e ao projeto.

    Outro problema que dificulta o desenvolvimento dos trabalhos transdisciplinares é forma como os currículos são organizados, porque eles são rígidos, o que não permite que os professores consigam trabalhar em conjunto.

    Apesar desses problemas, esse trabalho foi de grande relevância para estimular essa forma transdisciplinar de se trabalhar na escola. Esperamos que outros trabalhos sejam desenvolvidos depois deste.

Considerações finais

    Temos a convicção de que a função da escola é desenvolver a personalidade e as potencialidades dos educandos, fornecendo condições para um autoconhecimento de suas potencialidades e limitações. Sendo assim, a escola pode dar condições para eles interpretarem a realidade social em que vivem, socializando valores nobres como: justiça, tolerância à diversidade cultural, pluralidade, liberdade, fraternidade e igualdade de oportunidades.

    Por tudo isso, temos como objetivo final, contribuir para formação dos nossos educandos como um todo, através dos domínios cognitivos, afetivos e psicomotores; tornando-os pessoas autônomas e desenvolvidas, corroborando com o que dizem Lapierre e Aucouturier (1994) sobre uma pessoa desenvolvida, sendo aquela que pode ser acolhida e está aberta para acolher outra pessoa.

    Essa pessoa deve ser capaz de sentir prazer em dar e receber, em descobrir e conhecer. Dessa mesma maneira, ela pode se tornar uma pessoa feliz de viver, que afirma seus desejos sem medo, dúvidas, nem culpa. Nesse contexto, favorecer um desenvolvimento harmonioso do estudante é, antes de tudo, dar a ele a possibilidade de existir, de se tornar uma pessoa única, e oferecer ao mesmo, condições as mais favoráveis para que ele possa se comunicar, expressar-se, criar e pensar.

Bibliografia

  • BARBOSA, Cláudio Luís de Alvarenga. Educação Física e Filosofia: a relação necessária. Petrópolis: Vozes, 2005.

  • ______. Educação Física e didática: um diálogo possível e necessário. Petrópolis: Vozes, 2010.

  • GALLO, Silvio. Educação anarquista: um paradigma para hoje. Piracicaba-SP: Editora da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), 1995.

  • GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 4ª ed. Campinas: Autores Associados, 2007.

  • GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3º ed. São Paulo: Atlas, 1996. 159p.

  • HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

  • HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

  • LAPIERRE, André e AUCOUTURIER, Bernard. A Simbologia do Movimento: psicomotricidade e educação. 2ª ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1986.

  • LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo, Brasiliense, 1998.

  • NAHAS, Markus V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3. ed. Londrina: Midiograf, 2003.

  • MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.

  • ______. A Cabeça Bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 7. ed. (trad. Eloá Jacobina). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

  • ROGERS, Carl R. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros de Minas Gerais, 1972.

  • SANTOS, Akiko. Didática sob a ótica do pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2003.

  • ______. Conceitos e práticas transdisciplinares na educação. 1ª ed. Rio de Janeiro, Seropédica: Imprensa Universitária/UFRRJ, 2008.

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