Hipertrofia ventricular esquerda em atletas de fisiculturismo amadores do Paraná: relato de caso Hipertrofia ventricular izquierda em fisicoculturistas aficionados de Paraná: relato de caso |
|||
Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte, CEPEE Departamento de Educação Física Universidade Federal Paraná (Brasil) |
Ragami Chaves Alves Hassan Mohamed Elsangedy Kleverton Krinski Sergio Gregorio |
|
|
Resumo Introdução: O presente estudo de caso com fisiculturistas foi realizado em função da escassez de informações com relação a atletas que na utilizam esteróides anabolizantes e se os mesmos são capazes de sofrer adaptações crônicas após a um longo período exposto ao treinamento de força. Objetivo: Assim o presente estudo teve como objetivo acompanhar a rotina de preparação de dois atletas de fisiculturismo para o Campeonato Estadual, o qual não fazia uso de esteróides anabolizantes; realizando um ecocardio transtorácico em dois períodos distintos, antes da competição e apos a mesma. Segundo objetivo, o principal, verificar se possíveis alterações bem como hipertrofia ventricular esquerda ocorreria nas condições e períodos supracitados. Metodologia: A rotina de treinamento dos atletas foi relatada pelos respectivos e foram submetidos a exames de urina para verificar se o uso de esteróides estava sendo feito. Foi realizado exames de ecocardio transtorácico em dois períodos, iniciando três meses anteriores ao campeonato e repetindo os exames três dias antes do mesmo. Resultados: Os resultados apresentados nas tabelas 1 e 2 estavam de acordo com os referenciais médicos salutares. Conclusão: Concluindo-se que mesmo os atletas encontrando-se de acordo com padrões referenciais salutares, deve-se deixar claro a importância da prescrição de exercícios aeróbios para esportes que preconizam somente o treinamento de força e hipertrofia muscular. Unitermos: Fisiculturismo. Cardiovascular hipertrofia. Treinamento.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
1. Introdução
A hipertrofia cardíaca do atleta altamente treinado foi reconhecida há mais de um século por, sendo um dos achados mais freqüentes em atletas (POLITO, FARINATTI, 2003). O treinamento intenso e prolongado dos atletas induz adaptações cardiovasculares que permitem ao coração do atleta desempenho físico excepcional (WILLMORE, COSTILL, 2001). Entretanto essas adaptações incluem alterações funcionais e anatômicas que podem exceder os referenciais salutares (Urhausen et al., 2004).
No caso do fisiculturismo é comum encontrar tal hipertrofia do ventrículo esquerdo, esta oriunda do treinamento de força, o qual priorizam para atingirem a composição corporal almejada na modalidade (moura, Alves, 2003). Alem disso, a grande parte destes atletas utiliza-se de esteróides anabolizantes agravando a situação de hipertrofia do ventrículo esquerdo (Dickerman, Schaller, McConathy, 1998).
Contudo, encontra-se uma escassez de informações com relação a atletas que não utilizam esteróides anabolizantes e se os mesmos são capazes de sofrer adaptações agudas após a um longo período exposto ao treinamento de força.
Desta maneira, o presente estudo teve como objetivo acompanhar a rotina de preparação de um atleta de fisiculturismo para o Campeonato Estadual, o qual não fazia uso esteróides anabolizantes; realizando um ecocardio transtorácico em dois períodos distintos, antes da competição e apos a mesma. O estudo teve um segundo objetivo, o principal, verificar se possíveis alterações bem como hipertrofia ventricular esquerda ocorreria nas condições e períodos supracitados.
2. Materiais e métodos
Amostra
Os protocolos da pesquisa foram realizados com atletas de Fisiculturismo (n=2), amadores, do sexo masculino com a faixa etária entre 20 a 30 anos, e que participaram do Campeonato Paranaense de 2007. Foi respeitada a Resolução 196/96 do CONEP e aprovada sob o parecer do CEP da Faculdade Dom Bosco nº. 0006.0.301.000-07. A participação destes atletas foi realizada mediante a autorização por consentimento informado.
O critério de inclusão foi: estar fora do período competitivo, ou seja, estar iniciando sua preparação para o campeonato. E os de exclusão: nunca ter competido e ter menos de quatro anos de treinamento específico para o esporte.
Procedimentos
A sua rotina era constituída por treinos realizados em um período somente, sempre na parte da tarde, onde realizavam trabalho de hipertrofia. Uma sessão de treinamento tinha um tempo de duração de 1 hora exatamente, não sendo trabalhada a parte aeróbia, cardiovascular. Desta forma o treino era constituído entre 3 séries de 8 a 10 repetições com uma intensidade de 65 a 75% de 1 RM, por 1 minuto de descanso, não tendo muita variação dos exercícios. O treinamento era composto por 4 a 5 exercícios, por grupo muscular, sendo três deles básicos (livres) como por exemplo: supino, agachamento, remada curvada, desenvolvimento de ombro (com barra), tríceps com barras entre outros e o restante com máquinas. Uma vez montada esta rotina de treinamento pelos próprios atletas, foi seguida a mesma até dois dias antes do o final do estudo, tanto para membros inferiores como superiores.
Deixando claro que os atletas nos últimos dois dias antecedentes ao evento estavam em uma situação de depleção de carboidrato treinando todos os grupos musculares em um dia. Foram realizadas 2 séries de 15 a 20 repetições por grupamento muscular com pequenos intervalos entre as séries ± 30 segundos com uma intensidade de 20% de 1 RM, em uma duração de 1 hora de treino.
No estágio final faltando um dia para a competição os atletas passaram 24 horas sem a ingestão de liquido nenhum, só retornando a normalidade após o termino da competição. Dentro do contexto descrito acima os atletas realizaram um teste de clinico ecocardiograma transtorácico este examinando o coração em três dimensões. O teste foi realizado em dois períodos, o primeiro três meses antes da competição e o outro três dias antes da mesma.
Os atletas foram submetidos a exames de urina (“dopping”) no mesmo período supracitado, afim de obter maior fidedignidade dos dados apresentados no presente estudo.
3. Resultados
As características cardiovasculares dos sujeitos 1 e 2 são demonstradas na tabela 1, apresentando a dimensão da diástole. Os sujeitos 1 e 2 encontraram-se em normalidade de acordo com os referencias médicos, apresentando um acréscimo de (sujeito 1) 6,6% e 16,3% (sujeito 2) do período pré para o pós-competitivo.
Tabela 1
A tabela 2 apresenta características cardiovasculares dos sujeito1 e 2 demonstrando a massa do ventrículo esquerdo. Os sujeitos 1 e 2 encontraram-se em normalidade de acordo com os referencias médicos, apresentando um acréscimo de (sujeito 1) 2,5% e um decréscimo de (sujeito 2) 4% do período pré para o pós-competitivo.
Tabela 2
4. Discussão
O treinamento de força provoca adaptações fisiológicas crônicas ou agudas nos seus praticantes, estes processos ocorrem principalmente quando os esportes praticados objetivam o alto rendimento (MIRANDA et al. 2005).
As respostas agudas são alterações cardiovasculares sofrida durante uma ou várias séries de exercício e crônicas, alterações ao longo do tempo (MCARDLE, 2003). Em alguns esportes, a hipertrofia ventricular esquerda bem como, no atletismo, torna-se um parâmetro norteador no processo da periodização do treinamento. Alem disso possibilita noções importantes sobre o condicionamento físico e condição cardiovascular dos atletas. (KOMI 1992 & FLECK, KRAEMER et al. 2006).
Entretanto, no caso do fisiculturismo a hipertrofia ventricular esquerda nem sempre esta associada a uma adaptação fisiológica benéfica do esporte.
Segundo Lane et al., (2006) os atletas de fisiculturismo demonstraram uma diminuição na reatividade vascular independente de uso de esteróides anabolizantes podendo resultar na hipertrofia do músculo liso (vascular), com rigidez aumentada. Urhausen e colaboradores, (2004) apresentou em seu estudo, que atletas de fisiculturismo apos vários anos de interrupção do uso de esteróides anabolizantes ainda apresentam uma ligeira hipertrofia ventricular esquerda concêntrica em comparação a atletas livres do uso.
No presente estudo os sujeitos 1 e 2 apresentaram diâmetro da diástole do ventrículo esquerdo no período pré-competitivo, no entanto estavam de acordo com os parâmetros salutares (tabela 1). As suas pressões arteriais e freqüências cardíacas também se mantiveram dentro dos parâmetros normais (tabela 2). Com relação ao período de três dias antecedentes a competição (pós-teste) o sujeito 1 apresentou um aumento na massa ventricular esquerda (VE), entretanto o sujeito 2 apresentou uma diminuição (tabela 2).
Porem os dados evidenciados constatam somente normalidade, uma eficiência cardiovascular muito grande na relação duplo produto e debito cardíaco, esta na situação de repouso. Estas adaptações fisiológicas são comumente encontradas em esportes bem como atletismo e natação entretanto seguidas de um aumento no septo intraventricular diastólico proporcional (PILOTO, FARINATTI 2003). Contudo estudos demonstram que atletas de fisiculturismo não possuem uma pratica de exercícios aeróbios constante, desta maneira ocorrendo somente a hipertrofia ventricular esquerda (VE). A partir deste contexto o atleta poderá desenvolver uma patologia e não uma adaptação fisiológica saudável oriunda do esporte, aumentando a massa ventricular de uma maneira excessiva. Segundo estudos de Willmore e Costill, (2001) a hipertrofia ventricular deve ser analisada com cuidado, pois 1 mm de alteração na espessura do ventrículo esquerdo pode representar um aumento significativo de 15% na massa ventricular esquerda. Posteriormente dados evidenciados na pesquisa de Ghorayeb (2005) demonstram que maratonistas possuem uma massa ventricular de 126 g/m2, diferindo dos corredores de 100 m onde não ocorrem maior capacidade de bombeamento, somente aumento na espessura ventricular esquerda. Assim devido a semelhança dos atletas de potencia com os fisiculturistas pode-se dizer que a hipertrofia ventricular excessiva para esta população posteriormente poderia tornar-se uma patologia. Este contexto é pressuposto devido ao grande aumento de massa muscular que estes atletas tem que obter para conseguirem o sucesso na modalidade. Partindo desta perspectiva, os dados apresentados do sujeito 1 (tabela) seu aumento poderia estar relacionado com o treinamento intenso e a diminuição do sujeito 2 possivelmente relacionado com o decréscimo de massa corporal (tabela).
Embora ambos tiveram decréscimos na massa corporal, todavia deve-se resguardar o fato da individualidade biológica ser uma variável interveniente determinante e de grande influência. (GUYTON e HALL, 1998 & GHORAYEB 2005).
Contudo os estudos transversais nos relatam somente os inúmeros benefícios trazidos pelo treinamento contra resistido e com o enfoque de redução dos sintomas patológicos crônicos para populações não atletas (PILOTO, FARINATTI 2003). Porém diante dessa perspectiva, novas variáveis devem ser exploradas pelo fato de alguns estudos científicos demonstrarem controvérsia sobre a ação benéfica do treinamento de força (O’CONNOR et al, 1999; ROLTSCH et al., 2001). Pois a sua eficácia como grande preventivo já foi evidenciada, mas não sabe até a onde vai à salubridade deste treinamento correlação a atletas de alto rendimento.
Conclui-se que mesmo os atletas encontrando-se de acordo com padrões referenciais salutares, deve-se deixar claro a importância da prescrição de exercícios aeróbios para esportes que preconizam somente o treinamento de força e hipertrofia muscular.
Referências bibliográficas
Dickerman R. D., Schaller F., McConathy W. J. Left ventricular wall thickening does occur in elite power athletes with or without anabolic steroid Use. Journal of Cardiology, 1998 Oct; 90 (2):145-8.
FLECK J. M., KRAEMER J. W. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. 3º ed. Porto Alegre: Artemed, 2006.
GHORAYEB N. et. al. Hipertrofia Ventricular Esquerda do Atleta: Resposta Fisiológica Adaptativa do Coração. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. V. 85, nº. 3, São Paulo, 2005.
GUYTON & HALL. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças. 6º ed Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
KOMI P. V. Strenght and Power in the Sport. The Encyclopaedia of Sports medicine, E.U.A, Oxford Blackwell Scientific Publications, 1992.
Lane H. A., Grace F., Smith J. C., Morris K., Cockcroft J., Scanlon M. F., Davies J. S. Impaired vasoreactivity in bodybuilders using androgenic anabolic steroids. Europe Journal Clinic Invest., 2006 Jul;36(7):483-8.
MAIOR A. S., ALVES A. A contribuição dos fatores neurais em fases iniciais do treinamento de força: uma revisão bibliográfica. Motriz, v. 9, nº 3, Rio Claro, 2003.
MCARDLE W. D., KATCH F. I., KATCH V. L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição, Desempenho Humano. 5º ed Rio de Janeiro: Guanabara, 2003.
MIRANDA H. et al. Análise da Freqüência cardíaca, pressão arterial, duplo produto em diferentes posições corporais nos exercícios resistidos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 11, nº5, 2005.
O`CONNOR P. J., BRYANT C. X., VELTRI J. P., GEBHARDT S. M. State anxiety and ambulatory blood pressure following resistance exercise in females. Med Sci Sports Exerc, 1999 25:516-521.
PILOTO D. M., FARINATTI T. V. P. Respostas de frequência cardíaca, pressão arterial e duplo- -produto ao exercício contra-resistência: uma revisão da literatura. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2003, vol. 3, no 1 79–91.
PILOTO D. M., SIMÃO R., NÓBREGA C.L.A., FARINATTI T.V. P. Pressão arterial, freqüência cardíaca e duplo produto em séries sucessivas do exercício de força com diferentes intervalos de recuperação. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 4, nº3, 2004.
ROLTSCH MH, MENDEZ T, WILUND KR, HAGBERG JM. Acute resistive exercise does not affect ambulatory blood pressure in young men and women. Med Sci Sports Exerc, 2001 33:881-6.
Urhausen A., Albers T., Kindermann W. Are the cardiac effects of anabolic steroid abuse in strength athletes reversible? Journal Heart, 2004 May: 90 (5): 496-501.
WILLMORE H. J., COSTILL L. D. Fisiologia do Esporte e Exercício. 1º ed São Paulo: Manoele, 2001.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires,
Enero de 2011 |