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Envelhecimento e preconceito: uma análise da percepção de 

pessoas de meia-idade e idosos praticantes de atividades físicas

Envejecimiento y prejuicios: un análisis de la percepción de personas 

de mediana edad y personas mayores practicantes de actividades físicas

 

*Graduada em Educacão Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia

**Doutora em Educacão Física pela Unicamp

Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia

(Brasil)

Romila Martins de Moura*

Helena Brandão Viana**

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo avaliar a incidência de atitudes preconceituosas sofridas por pessoas idosas praticantes de atividade física. Foi apresentada a importância da prática de atividade física na velhice e benefícios que esta traz para o indivíduo como um todo, nas suas mais diversas facetas, física, social, psicológica. Também foi abordado a temática do preconceito contra os idosos. Para isso foi realizada uma pesquisa de campo para saber em quais aspectos da vida incidem determinados tipos de preconceito. O questionário aplicado foi o AGEISM SURVEY de 20 perguntas abrangendo perguntas do dia-a-dia, em 63 pessoas de 40 à 80 anos de idade praticantes de atividade física. O resultado apontou que os respondentes sofrem preconceitos em diversas situações do dia-a-dia como, por exemplo, ser ignorado ou não levado seriamente devido a sua idade, entre outras.

          Unitermos: Benefícios. Atividade física. Preconceito. Ageismo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo Santana (2009), Atividade Física (AF) na velhice é de grande importância para a saúde de uma forma em geral. Existe evidências que ao praticar a AF os idosos usufruem vários benefícios, como ter menos enfermidades e conseqüentemente aumento na capacidade para enfrentar o estresse do dia-dia. Sendo assim, houve um aumento significativo nas últimas décadas em relação a pessoas que procuram ter uma qualidade de vida melhor. O objetivo dos idosos em relação à AF está ligado à saúde na sua parte estética e na sua integração social, e esta promove uma melhora significativa no seu bem estar (HAYFLICK, 1997 apud GONÇALVES; DUARTE; SANTOS, 2001).

    Navaro et al (2008), dizem que é de extrema importância enfatizar e incentivar a prática regular de AF, pois além de ajudar na melhora do humor, traz um reforço a auto-estima, devido ao idoso estar vivendo de uma maneira mais saudável buscando cada vez mais uma qualidade de vida melhor. Segundo estudos de Guimarães & Caldas (2006), a AF ajuda a diminuir a utilização de medicamentos e de seus efeitos colaterais.

    O envelhecimento segundo Ramos (1999) apud Borges et al (2008) é caracterizado por um processo progressivo, que todo o ser humano vai passar. Cada pessoa segue em um ritmo diferente dependendo de alguns fatores como o estilo de vida que tem e com a herança genética que possui (MC ARDLE et al, 1998 apud BORGES et al, 2008).

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a participação de pessoas da terceira idade em AF leves e moderadas, isso pode ajudar a retardar os declínios funcionais, sendo que uma vida ativa melhora na saúde mental e ajuda a combater os sintomas de depressão. Existem estudos que mostram que os idosos fisicamente ativos apresentam menor possibilidade de terem doenças mentais do que os não-ativos (BENEDETTI et al, 2008).

    A falta de AF na terceira idade é uma característica para aparecimentos dos sintomas de ansiedade e depressão de acordo com Doyne (1987 apud GODOY, 2002).

    Cossenza e Carvalho (1997 apud GODOY, 2002), incentivam a prática de AF, pois é um dos meios que ajudam os idosos a liberarem tensões, emoções e frustrações acumuladas pelas exigências que a vida moderna traz.

    Segundo Casson et al (2008), existem fatores que influenciam negativamente a prática de AF para os idosos, tais como o gênero, a idade e o Nível Socioeconômico (NSE). Esses fatores se tornam barreiras para a prática de AF. Segundo o autor, idosos de alto NSE relatam não praticar AF por se sentirem cansados, enquanto para os de baixo NSE, a principal barreira é a falta de dinheiro para a realização de atividades orientadas.

    De acordo com Rosa et al (2007), a partir do final dos anos 70, o apoio social vem se desenvolvendo em diversas áreas, tais como investigações das diferenças de certas enfermidades tanto físicas quanto mentais.

    Existem duas dimensões que compõem a estrutura das relações socias, a relação social formal e a informal. A relação social formal é mantida na posição e no papel da sociedade, tendo como exemplo os profissionais da área de saúde, acadêmica, advocacia, entre outros. A relação social informal é composta por todas as pessoas da rede social que podemos citar como exemplo famílias, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, entre outros (ROSA et al, 2007). O autor ainda relata que vários estudos que estão ligados ao apoio social especificamente em idosos, foram fortemente ligados com a mortalidade e com algumas medidas de saúde tais como problemas visuais, com sintomas depressivos, com o aspecto em relação a vida no estado de ânimo e de auto-estima. Com isso, o idoso com renda e nível educacional mais elevado, tem mais contato com o próximo e prestam um serviço melhor, recebendo assim um apoio da rede social, onde pessoas que trabalham em ocupações prestigiadas socialmente recebem um número maior de apoio.

    Para Tonon et al (2007) o idoso é ser humano, portanto é um cidadão, que merece ter direitos sociais, só que a maioria das vezes eles não são vistos dessa forma, por isso existe a necessidade de uma atenção especial na Constituição, fazendo com que essa população tenha seus direitos garantidos. Sem o tratamento devido que os idosos merecem, eles acabam sendo excluídos do mercado de trabalho sendo então considerados sem utilidade por não possuírem força produtiva. No entanto, são substituídos pelos jovens, pois eles garantem força de trabalho e aumento no mercado.

    Por isso há uma necessidade de lutas constantes pelos direitos dos idosos, pois eles precisam de amparo da política social, fazendo com que suas necessidades sejam supridas.

Ageismo ou idadismo

    O termo ageismo, segundo Robert Butler em 1969 (MINICHIELLO; BROWNE; KENDIG, 2000 apud COUTO et al, 2009), foi definido como uma intolerância relacionada com a idade que pode ser alvo de preconceito em relação a crianças e idosos que são grupos mais vulneráveis. Com o envelhecimento da população vem surgindo problemas sociais, tais como a discriminação social que esta ligada através de comportamentos, atitudes e preconceitos presentes nas ações diárias com pessoas idosas (ALVES; NOVO, 2006). As manifestações que existem desse preconceito principalmente na área do sistema de saúde são as situações de maus-tratos tanto físicos quanto psicológico e na parte financeira, como em alguns locais de trabalho (NELSON, 2005 apud COUTO et al, 2009). Características negativas da velhice que são transmitidas socialmente podem enfraquecer a vontade de viver segundo relato de idosos (LEVY; ASHMAN; DROR 2000 apud COUTO et al, 2009). Podem ocorrer também manifestações positivas que estão relacionadas às suas características, tais como sabedoria e sua maturidade, apesar de não ser tão comum, mas que seja possível acontecer.

    Nos dias atuais estudos mostram que o crescimento da população idosa é uma validade no contexto brasileiro e mundial. Esse crescimento estatístico deve-se a fatores de avanço nas pesquisas científicas, acesso aos serviços sócio-sanitários e a cura de algumas doenças. Por isso pode-se dizer que o envelhecimento em países em desenvolvimento aconteceu de forma rápida, já nos países desenvolvidos é diferente, pois o crescimento foi gradual, de modo que despertar interesse dos diversos setores da vida em sociedade (ARAÚJO; FILHO, 2009).

    Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006), nas suas últimas pesquisas a população de idosos atingiu 19,07 milhões de pessoas, 10,2% da população. Foi mostrado também que 30,9 dos idosos estão no mercado de trabalho. E de uma forma geral 44,5% dos idosos moram com os filhos e 13,2% moram sozinhos, importante salientar que este número em porcentagem vem crescendo. Todo esse crescimento pode se dado devido ao crescimento socioeconômico, que permitiu estruturas organizadas para oferecer serviços especializados em saúde e bem-estar aos idosos (Organização Mundial de Saúde, 2005 apud ARAÚJO; FILHO, 2009). Com isso deu oportunidades aos idosos envelhecer com qualidade de vida e com ajuda de profissionais qualificados (KALACHE; KELLER, 2000 apud ARAÚJO; FILHO, 2009).

    Mesmo com todo esse desenvolvimento existem maus tratos, violência e negligência na velhice. Maus tratos e a violência contra a pessoa idosa é um acontecimento antigo, mas existem notificações recentes tanto na realidade brasileira quanto mundial (Action on Elder Abuse, 1995 apud ARAÚJO; FILHO, 2009).

    Segundo Faleiros (2004; 2007), a violência contra pessoas idosas são compreendidas em três grandes dimensões: 1º violência sociopolítica- seria pessoas consideradas delinqüentes e as estruturas econômicas e políticas das desigualdades nas relações exclusão/exploração; 2º violência institucional- relação existente nas Instituições de Longa Permanência para idosos e instituições de serviços privados ou públicos, nas quais nega ou atrasa o acesso, hostiliza o idoso e não respeita sua autonomia; 3º violência intrafamiliar- violência do silêncio, que possui como agressores os familiares (filhos, netos, noras, conjugues, vizinhos, cuidadores). Para o agressor existe falta de responsabilidade e de interesse nos cuidado com as pessoas idosas, irritação com freqüência, hostilidade e alto grau de interesse laboral (GONDIM; COSTA, 2006 apud ARAÚJO; FILHO, 2009).

    A partir dessas informações, foi feita uma pesquisa de campo para podermos analisar em quais aspectos da vida existem preconceito na faixa etária de 40 a 80 anos.

Metodologia

    Este estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, feita com pessoas que praticam atividade física no projeto de hidroginástica da Faculdade Adventista de Hortolândia – SP. A pesquisa foi feita com 63 pessoas na faixa etária de 40 a 80 anos de idade, homens e mulheres. A população entrevistada mora próximo ao bairro onde fica situada a faculdade. Após o término das aulas de hidroginástica, os alunos saíam e preenchiam o questionário, e eles gastaram em média 10 minutos para o preenchimento. A coleta de dados durou 2 semanas e foi realizada no período do dia 20 de setembro a 01 de outubro de 2010. Todos os respondentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O questionário utilizado, o AGEISM SURVEY (2009) tem 20 questões, já foi validado, e tem perguntas sobre situações de preconceito relativas à idade. As perguntas eram objetivas e as respostas eram assinaladas da seguinte forma: 0 = nunca, 1 = uma vez, 2= mais de uma vez. Em seguida os dados foram lançados no Excel e foram feitos gráficos para visualizarmos o número de pessoas que já sofreram determinados tipos de preconceitos. Apresentaremos a seguir os resultados de alguns gráficos que precisam ser destacados devido aos resultados apresentados.

Resultados e análise dos dados

    Serão apresentados os gráficos com os resultados das questões que apresentaram as situações de preconceito com maior frequência. Os resultados desta pesquisa se assemelharam aos estudos de Couto et al. (2009), porém aqui não serão apresentadas essa comparações.

Figura 1. Anedotas relativas à idade

    Embora piadas e anedotas sobre pessoas idosas e suas características sejam muito comuns em várias culturas, não encontramos estudos nacionais ou internacionais que abordem sobre esse tópico. Embora 36 pessoas tenham afirmado nunca passarem pela situação de ouvir uma anedota dessa, certamente elas devem conhecer alguma. Porém 8 pessoas afirmaram ter ouvido pelo menos 1 vez, e 19 pessoas afirmaram ter ouvido mais de uma vez.

Figura 2. Insultado devido a idade

    Os maus-tratos contra idosos foram descritos pela primeira vez em 1975, na Inglaterra, e atualmente tem sido explorado em pesquisas científicas em todo o mundo e no Brasil, mais vigorosamente, nos últimos anos. A agressão verbal e denotativa relativa à idade é uma forma não só de preconceito, mas também de violência contra a pessoa idosa. (WHO, 2010). Nesta pesquisa, 7 respondentes passaram por essa situação pela menos 1 vez e outros 7, mais de uma vez.

Figura 3. Tratado de forma infantilizada

    De acordo com Alves Junior, 2004; Cachione, 2003; D’ávila, 1999; Okuma, 1998 apud Souza & Vendrusculo (2010, p.100) “[…] por falta de preparo, muitos profissionais tendem a perceber e a tratar os idosos como se estes fossem crianças e não tivessem características e demandas próprias”.

    Isso acontece em programas de atividade física dirigidos aos idosos, bem como em outros ambientes sociais. Porém não é o tratamento adequado e geralmente essa atitude não é bem recebida pelo idoso.

Figura 4. Rejeitado afetivamente

    A insatisfação de alguns idosos com relação ao próprio corpo está associada a certas restrições e à diminuição das possibilidades corporais, como também à idéia de que um corpo velho é um corpo feio. Alguns idosos acreditam que seus corpos não são atraentes e não tem mais poder de sedução. Outros fatores também influenciam a confiança do idoso em seu potencial de atrair outra pessoa, e em face da velhice, muitos procuram um mecanismo de compensação, que pode ser financeiro, status social, segurança, tratando a velhice como uma desvantagem natural para os relacionamentos sociais.

Figura 5. Mal tratamento devido à idade

    Palmore (1999, p.109) identificou por parte dos idosos, que há quatro formas básicas de reação ao preconceito relativo à idade, que são:“a aceitação da velhice, a negação desta, a evitação ou a reforma”. Tudo isso e mais a forma como a sociedade trata o idoso, deixa claro para alguns destes, que estão sofrendo discriminação devido a sua idade. Não somente pessoas jovens, mas as vezes o próprio idoso trata com indiferença o outro idoso. Isso tudo gera na pessoa mais velha, um sentimento de insatisfação relativa ao envelhecimento e uma conseqüente influência na auto-estima. Podemos ver, na figura 6, uma outra forma de mal tratamento a pessoas idosas, neste caso específico, em restaurantes.

Figura 6. Mal tratamento em restaurantes

 

Figura 7. Oferta de emprego negada devido à idade

    Segundo Peres (2006, p.69), “[…] o velho representa o trabalhador que já se tornou improdutivo e obsoleto, e que deve dar lugar às novas gerações de trabalhadores, dotadas de conhecimentos atualizados e de uma maior disposição para o trabalho”. O fato do idoso estar mais distante temporalmente falando, do sistema educativo, este passa a ser menos valorizado profissionalmente e consequentemente, socialmente.

Figura 8. Compreensão debilitada devido a idade

    Texeira et al. (2009), trazem em seu estudo a importância do sistema auditivo e a compreensão por parte dos idosos. Em outra questão da escala de Ageismo, a pergunta sobre suposição de surdez na velhice, também apareceu em alguns casos. Muitas pessoas também atribuem a falta de capacidade de compreender bem as coisas, a baixa de escolaridade de muitos idosos, o que é uma realidade Brasileira, mas falta de anos escolares, não significa diminuição da capacidade de compreensão e não justifica o tratamento que muitos idosos recebem, caracterizando portanto essa atitude, como realmente um comportamento de preconceito contra o idoso.

Figura 9. Chamado de “Velho”

    As pessoas com mais de 60 anos, em geral não gostam de ser chamadas de “velhas” e nem ao menos “idosas”, é para esta população, algo extremamente negativo. Em alguns casos, essas pessoas são chamadas de velho, com um tom de voz extremamente negativo. Uma idosa certa vez disse a seguinte frase, num depoimento apresentado no Vídeo UMAS VELHICES, produzido pelo SESC: “Tem gente que quando diz velho, parece que disse lixo”. Neri & Freire (2000), colocam que a troca dos termos “velho” ou “velhice” por melhor idade é um indicativo de preconceito contra a palavra “velho”. É delicada portanto, essa situação de qual tratamento devemos utilizar com os idosos.

Discussão

    Ao analisarmos os gráficos podemos perceber que há um reconhecimento de discriminação e situações de preconceito sofridos entre os participantes da pesquisa. Podemos destacar os tipos de discriminação mais preponderantes, que foram ouvir piadas que fazem troça das pessoas de idade e pessoas que são insultadas por nomes relativos a sua idade de uma forma constrangedora. Havia na escala uma pergunta sobre dificuldade em obter empréstimo devido a idade. Nesta questão houve baixa pontuação, pois no Brasil, há facilidade para que idosos obtenham empréstimos vinculados a sua aposentadoria. Outro resultado apresentado foi o mal tratamento por parte de funcionários de restaurantes que ignoraram pessoas de idade, algo que parece ser incomum hoje em dia, mas que ainda acontece. Houve também respondentes que tiveram oportunidades de emprego negadas devido a sua idade. Os resultados demostraram que pessoas de meia-idade e idosos tem sofrido preconceito de diversas formas.

Considerações finais

    Com o envelhecimento populacional surgem novos problemas sociais, e a discriminação social relativa as pessoas é uma delas (ALVES & NOVO, 2005). A própria Organização Mundial de Saúde, preocupada com isso fez uma pesquisa e elaborou um documento sobre a questão da violência contra a pessoa idosa (WHO, 2010).

    Nesse documento foram elencadas 3 categorias de abuso: a) abuso estrutural e social; b) negligência e abandono; c) desrespeito e atitudes de preconceito relativos a idade. Organização Mundial de Saúde admite que a temática do abuso, tem sido melhor estudada por países desenvolvidos e que em países em desenvolvimento não há estudos sistematizados ou estatísticas sobre a violência contra o idoso.

    Há portanto a necessidade de se estudar mais sobre violência, preconceito e mal tratamento aos idosos para que se possa elaborar estratégias a serem aplicadas para que estes abusos não ocorram mais contra a população idosa.

Referências bibliográficas

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