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Controle direto do treinamento de tênis 

em atletas da categoria infanto-juvenil

Control directo del entrenamiento de tenis en jugadores de la categoría infanto-juvenil

 

Laboratório de Avaliação da Carga

CENESP – UFMG

(Brasil)

Jacielle Carolina Ferreira | Janderson Hércules Ferreira Tolentino

André Fernandes da Silveira Alves | Bruno Mezêncio Leal Resende

João Gustavo de Oliveira Claudino | João Batista Soldati Junior

Leszek Antoni Szmuchrowski

andrefsalves@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          FERREIRA e SZMUCHROWSKI (2008) propõem que a carga de treinamento pode ser controlada e monitorada através de três níveis diferentes: controle direto, controle operacional e controle periódico. Em cada um destes níveis de monitoramento e controle da carga, a Frequência Cardíaca (FC) é uma das variáveis mais utilizadas em todo o mundo. O monitoramento direto da FC durante sessões de treinamento tem demonstrado ser importante e essencial para o controle da intensidade dos exercícios. Ainda hoje há poucos relatos sobre a intensidade de atividades específicas de treinamento de tênis. Infelizmente, em várias modalidades esportivas o controle direto do treino ainda não é muito utilizado, apesar de sua importância reconhecida. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi aplicar o monitoramento direto no tênis, através do monitoramento da intensidade de atividades específicas de treinamento utilizando a FC. Para isso foi monitorada a intensidade de exercícios técnicos e mini-torneios através da FC. Foram executadas um total de 10 atividades, divididas entre os 3 dias de coletas. Três das dez atividades realizadas atingiram, em vários momentos, uma FC máxima acima do limiar anaeróbio. O conhecimento deste tipo de característica é de fundamental importância para o controle da carga de treinamento.

          Unitermos: Monitoramento. Controle direto. Freqüência cardíaca. Tênis.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Sistematizar e controlar a carga de treinamento, bem como os períodos de recuperação, levando-se em consideração os objetivos específicos e as características básicas de cada atleta são algumas das tarefas mais importantes para os profissionais do treinamento esportivo.

    FERREIRA; SZMUCHROWSKI (2008) propõem que a carga de treinamento pode ser controlada e monitorada através de três níveis diferentes: controle direto, controle operacional e controle periódico. O controle direto permite o acompanhamento e registro real das cargas as quais o atleta é submetido. O controle operacional é o processo de monitoramento das adaptações agudas ao estado de fadiga-recuperação. No controle periódico, verificam-se os efeitos crônicos do treinamento.

    Em cada um destes níveis de monitoramento e controle da carga, a Frequência Cardíaca (FC) é uma das variáveis mais utilizadas em todo o mundo. Com o desenvolvimento do sistema de monitoramento wireless da FC, a mesma se tornou o método mais comumente usado para verificar a intensidade de um exercício (ACHTEN; JEUKENDRUP, 2005).

    O monitoramento direto da FC durante sessões de treinamento tem demonstrado ser importante e essencial para o controle da intensidade dos exercícios. De acordo com ALVES (2006), a queda no desempenho da FC em uma sessão de treinamento obviamente confirma e explica um desempenho atlético diminuído. Ainda segundo esse mesmo autor, a FC tem sido utilizada como um marcador fisiológico do estado de overtraining. COELHO et al. (2008) afirma que a medida de FC é usada como um método válido e prático para se estimar a demanda fisiológica durante diversas atividades, confirmando a importância e aplicabilidade do controle direto do treinamento através deste parâmetro.

    Entretanto, apesar da praticidade de mensuração da FC, as respostas agudas dela ao exercício dependem de diversos fatores como a posição corporal, a volemia, as condições ambientais (temperatura, altitude), a variabilidade diária da FC, fatores fisiológicos (punção cardiovascular, estado da hidratação) e o estado clínico (WILMORE; COSTILL, 1994; ACHTEN; JEUKENDRUP, 2003). Exercícios dinâmicos de longa duração parecem ter maior influência sobre os valores de FC comparado aos exercícios de força ou aos estáticos (FLETCHER, 1995).

    Alguns estudos já fizeram o monitoramento direto de alguns tipos de treinamento utilizando a FC. No futebol, COELHO et al. (2008) identificou e comparou a intensidade de esforço (IE) de duas sessões de treinamento (coletivo e campo reduzido) com a IE de jogos de uma competição oficial de futebol através do registro da FC de atletas juvenis. A IE registrada nos jogos de competição oficial foi maior em comparação com a IE registrada durante o treinamento coletivo e não foi diferente com relação a IE registrada durante o treinamento em campo reduzido. Os resultados sugeriram que o treinamento em campo reduzido pode ser utilizado como um estímulo específico de treinamento aeróbico para o futebol.

    Em outros esportes, como o tênis, o controle direto é menos comum. Segundo KONIG et al. (2001), o tênis de campo apresenta um caráter intermitente de esforço. STURM (1982) classifica-o como um esporte de movimentos acíclicos, e independente do nível técnico dos jogadores, as vias aeróbia e anaeróbia de metabolismo energético são bastante exigidas. A contribuição das três vias de fornecimento de energia se apresenta com predominância distinta durante as várias fases do jogo, que duram de uma a três horas (GROPPEL; ROETERT, 1992).

    KONIG et al. (2001) constataram que o consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) alcança 55 ml/kg/min na mulher e 65 ml/kg/min nos jogadores de tênis profissional. Após o monitoramento da FC encontrou-se uma variação entre 140 – 160 bpm, durante as competições profissionais, indicando uma intensidade total de 60% – 70% do VO2 máximo. Segundo KONIG et al. (2001), durante uma partida de tênis a freqüência poderá exceder a 190 bpm. Estes períodos intensos e elevados são relativamente curtos. O bom condicionamento físico assegura a recuperação entre os pontos e não mostram variações distintas com a duração da partida.

    Ainda hoje há poucos relatos sobre a intensidade de atividades específicas de treinamento de tênis. Infelizmente, o controle direto do treino ainda não é muito utilizado em várias modalidades esportivas, apesar de sua importância reconhecida. O objetivo deste estudo é aplicar o controle direto no tênis, através do monitoramento da FC de atividades técnico-táticas.

Metodologia

    Oito atletas de Tênis, federados a nível estadual e nacional, participantes de 4 horas de treinos diários cinco vezes por semana, sendo cinco do gênero masculino e três do gênero feminino, idade de 15 ± 1,51 anos, massa corporal de 53,86 ± 14,80 quilogramas e altura de 164,49 ± 13,70 centímetros, participaram voluntariamente do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os pais também assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido específico para os pais.

Procedimentos experimentais

    No primeiro dia os voluntários foram esclarecidos sobre o objetivo do estudo e instruídos sobre os procedimentos dos testes. Após esclarecimentos, eles realizaram um teste Conconi (Polar Accurex Plus) em esteira ergométrica (Movement), para identificação do ponto de deflexão da FC (FClim) e da FC máxima do exercício (FCmax).

    Nos segundo, terceiro e quarto dias consecutivos, os atletas participaram normalmente das sessões de treinamento, mas com o uso da cinta de monitoramento da FC (Polar Team System) durante os treinos em quadra. As cintas eram colocadas nos atletas assim que chegavam para o treinamento. As cintas emitem um sinal sonoro avisando o início do monitoramento da FC e, desta forma, era anotada a hora exata de início de coleta de dados de cada atleta.

    Todos os atletas monitorados realizaram atividades no mesmo horário, e com o mesmo tempo de estímulos e pausas. Para isso foram orientados a iniciaram e terminarem cada uma das atividades no momento exato da ordem do seu treinador. Foram anotados todos os tempos de cada atividade e das pausas, além do horário de início de cada uma delas.

Primeiro dia de monitoramento da sessão de treinamento

    Inicialmente os atletas realizaram cinco minutos de aquecimento em quadra. Logo após, foi feita uma pausa para dividir os grupos e explicar as atividades. Os atletas foram divididos em três grupos de três atletas cada. Cada grupo realizava uma atividade específica de acordo com a quadra em que se encontrava. Após o término de cada atividade, descansavam por 5 minutos em média e trocavam de quadra. Foram realizados exercícios denominados técnicos: ênfase na trajetória realizada pela raquete na execução do movimento de rebater a bola de acordo com o local da quadra em que o atleta se encontra (Figura 1). As atividades foram realizadas com três atletas por quadra.

    Atividade 1 (A1) - Técnicos de área 3 (defensiva).Trajetória da raquete: de baixo para cima, para que a raquete toque a parte inferior da bola. Duração: 15 minutos, sendo:

  • 5 minutos: Swing volley (o atleta golpeia a bola arremessada pelo treinador antes que ela caia no chão);

  • 5 minutos: drill de 6 bolas (o treinador lança 6 bolas sucessivas com a raquete que deverão ser golpeadas pelo atleta);

  • 5 minutos: controle (troca de bolas com adversário com o intuito de rebater o maior número de bolas possíveis).

  • Intervalo: 6 minutos

    Atividade 2 (A2) - Técnicos de área 2 (neutra). Trajetória da raquete: de traz para frente, para que o contato da raquete com a bola aconteça na parte média da bola. Duração: 15 minutos, sendo:

  • 5 minutos: Swing volley (o atleta golpeia a bola arremessada pelo treinador antes que ela caia no chão);

  • 5 minutos: drill de 8 bolas (o treinador lança 8 bolas sucessivas com a raquete que deverão ser golpeadas pelo alteta);

  • 5 minutos: controle (troca de bolas com adversário com o intuito de rebater o maior número de bolas possíveis).

  • Intervalo: 6 minutos

    Atividade 3 (A3) - Técnicos de área 1 (ofensiva). Trajetória da raquete: de cima para baixo e com muita velocidade no momento do contado com a bola, com o contato da raquete acontecendo na parte superior da bola. Duração: 15 minutos, sendo:

  • 5 minutos: Swing volley (o atleta golpeia a bola arremessada pelo treinador antes que ela caia no chão);

  • 5 minutos: drill de 10 bolas (o treinador lança 10 bolas sucessivas com a raquete que deverão ser golpeadas pelo alteta);

  • 5 minutos: controle (troca de bolas com adversário com o intuito de rebater o maior número de bolas possíveis).

Figura 1: Áreas ofensiva (1), neutra(2) e defensiva(3), de acordo com sua respectiva localização em uma quadra de tênis.

Segundo dia de monitoramento da sessão de treinamento

    Cinco minutos de aquecimento em quadra;

    Pausa para dividir os grupos e explicar as atividades;

    Atividade 1 (A4): ênfase no controle da intensidade do golpe (4 atletas por quadra). Troca de bolas com o colega com intensidades variadas. Duração total da atividade de 30 minutos.

  • 20 minutos iniciais de exercício de controle, com quatro atletas na quadra, sendo 2 de cada lado, realizando as atividades simultaneamente.

  • 10 minutos de disputa com a intensidade determinada pelo treinador. Dois atletas disputando um ponto enquanto os outros dois esperam.

    Atividade 2 (A5): ênfase na estratégia de jogo (3 atletas por quadra). Dois exercícios de controle de bola de 15 minutos cada. Duração total da atividade de 30 minutos.

  • 15 minutos: um atleta sozinho de um lado da quadra rebate bolas para os outros dois atletas do outro lado da quadra, intercalando uma bola para cada um durante 5 minutos. Após 5 minutos, o atleta que está sozinho troca de lado e se junta ao outro.

  • 15 minutos: um atleta sozinho de um lado da quadra rebate bolas para os outros dois atletas do outro lado da quadra, intercalando 3 bolas seguidas para um atleta e uma bola para o outro, e assim sucessivamente durante 5 minutos. Após 5 minutos, o atleta que está sozinho troca de lado e se junta ao outro.

    Atividade 3 (A6): ênfase na tática de jogo (4 atletas por quadra). Dois exercícios de controle de bola de 15 minutos cada. Duração total da atividade de 30 minutos.

  • 15 minutos: troca de bolas de acordo com a angulação da bola do adversário em relação à quadra.

    • Bola muito angulada: devolver na cruzada.

    • Bola com pouco ângulo: devolver na cruzada ou na paralela.

  • 15 minutos: troca de bolas na paralela de acordo com a profundidade da bola do adversário:

    • Bola rebatida na área 3: deve passar ± 1 metro acima da altura da rede.

    • Bola rebatida na área 1 e 2: deve passar rente a rede.

Terceiro dia de monitoramento da sessão de treinamento

    Cinco minutos de aquecimento em quadra;

    Pausa para dividir os grupos e explicar as atividades;

    Atividade 1 (A7): Saque com alvo e devolução (4 atletas por quadra).

  • Dois atletas sacam por 10 minutos, sendo 5 minutos do lado de vantagem e 5 minutos do lado de iguais, em alvos predeterminados, enquanto os outros dois tentam devolver as bolas. Após 10 minutos trocam-se os sacadores com os devolvedores. Duração total: 20 minutos.

    Atividade 2: Disputa de pontos por tempo (4 atletas por quadra). A atividade é comumente chamada “Torneio simples-dupla”, consistiu de 3 jogos de 10 minutos cada, com intervalo de aproximadamente 4 minutos entre os jogos. Duração total: 30 minutos, sem considerar o tempo de intervalo.

  • Chama-se simples-dupla, pois os jogos são disputados no formato 1 contra 1. Enquanto uns dos jogadores da dupla estiver jogando o outro deve aguardar a conclusão do ponto para entrar. Cada jogador da dupla pode jogar no máximo dois pontos consecutivos. Se ele ganhar o ponto da primeira disputa ele joga mais um, se perder a disputa ele sai e entra seu companheiro de dupla, e assim sucessivamente até que se complete o tempo predeterminado. Cada torneio foi chamado A8, A9 e A10, sendo que cada um tinha a duração de 10 minutos.

Análise de dados

    Uma análise descritiva foi realizada, onde foram apresentados os valores de média e desvio padrão da frequência cardíaca máxima e média de cada atividade em valores absolutos, relativos à FClim e à FCmax. Foi verificada a normalidade da distribuição dos dados através do teste de Kolmogorov-Smirnov. Posteriormente foi realizado o teste ANOVA one way com teste de post-hoc de Holm Sidak. O nível de significância adotado de p< 0,05. O pacote estatístico utilizado foi o SigmaStat versão 3.5.

Resultados

Discussão e conclusão

    É importante que o treinador conheça o que ocorre durante a realização de determinada atividade em termos metabólicos para que a mesma possa ser descrita, definindo assim o seu perfil metabólico e as sobrecargas que serão utilizadas em função da periodização e da especificidade da modalidade (KISS, 2003). Sendo assim, o controle direto é um recurso que pode ser utilizado para o conhecimento das características de atividades utilizadas nas sessões de treinamento.

    Não é um costume realizar esse tipo de monitoramento no tênis. Com a realização deste monitoramento durante o presente estudo, alguns aspectos importantes das sessões de treinamento destes atletas puderam ser observados. Por exemplo, as atividades A4, A5 e A6 atingiram, em vários momentos, uma FC máxima acima do limiar anaeróbio e todas as diferenças encontradas no presente estudo estão relacionadas a uma dessas três atividades. Muitos aspectos de uma sessão de treinamento realizada nessas condições (acima do limiar anaeróbico) são bem diferentes em relação a atividades realizadas abaixo desse limiar, pois cada tipo de treinamento irá determinar uma demanda fisiológica específica (COELHO et al., 2008).

    Limiar Anaeróbico é uma intensidade de exercício, que representa uma zona, na qual o metabolismo anaeróbico aumenta sua participação de modo a causar um aumento na produção de lactato além da capacidade de remoção deste (Astrand et al, 2006; McArdle et al, 2003). Determinados tipos de atividades realizadas em altas intensidades, necessitando rapidamente de grande quantidade de energia, utilizam-se do fornecimento de energia anaeróbico, pois o metabolismo aeróbico não consegue suportar uma demanda tão grande em um curto espaço de tempo. A ação que ocorre acima deste limiar anaeróbico durante um determinado tempo, pode gerar acúmulo de ácido lático, sendo este um dos principais causadores de fadiga muscular. É importante portanto, o treinador ter conhecimento desses dados para planejar, justificar e problematizar o treinamento que ele aplica em seus atletas. Por exemplo, em uma situação onde se objetiva treinar a técnica, atividades acima ou abaixo do limiar podem ou não serem utilizadas. Não seria recomendado treinar acima do limiar anaeróbico quando o objetivo fosse aperfeiçoar o gesto técnico, pois devido à grande exigência da atividade, o atleta pode entrar em estado de fadiga, prejudicando a execução perfeita da técnica durante o treino, o que pode acarretar em uma assimilação errônea do gesto técnico correto. Mas ele pode sim ser utilizado em uma sessão de treinamento que ocorra acima do limiar anaeróbico, caso o treinador vise preparar o seu atleta a utilizar a técnica da forma mais correta possível quando estiver fadigado. Tais planejamentos só podem ser feitos por um treinador quando o mesmo conhece a intensidade da sessão de treinamento em questão.

    Com os resultados do presente estudo, confirmamos a utilidade do controle direto na modalidade tênis, através do monitoramento da FC. Através dos resultados sugerimos também a utilização da FC como método de controle dos treinamentos na modalidade em questão, o que pode ser expandido para outras modalidades, pois este é de fácil aplicabilidade e não causa prejuízos às sessões de treinamento, não incomodando ou prejudicando a execução de quaisquer que sejam as atividades realizadas. Outros recursos podem e devem ser investigados para que os treinadores tenham opções de escolha sobre qual método de monitoramento adotar para exercer o controle direto em determinada atividade e/ou modalidade.

Referências

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