efdeportes.com

Avaliação de medidas antropométricas e pressão arterial 

de soldados de uma organização militar de Campo Grande, MS

Evaluación de la medidas antropométricas y de presión arterial de soldados de una organización militar de Campo Grande, MS

 

*Profissional de Educação Física

Instituto de Ensino Superior da Funlec – IESF

**Docente do Instituto de Ensino Superior da Funlec – IESF

Escola de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul – ESP/SES/MS

(Brasil)

Eryson Oliveira Leite*

Fernanda Thill Maciel*

Joel Saraiva Ferreira**

falecomjoel@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar as medidas antropométricas e a pressão arterial de soldados incorporados na Companhia de Comando Militar do Oeste no ano de 2009, na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Para tanto, foram escolhidos aleatoriamente 30 soldados do sexo masculino na faixa etária de 19 a 20 anos, dos quais aferiu-se, em dois momentos distintos, dados antropométricos (índice de massa corporal - IMC e relação cintura-quadril - RCQ) e a pressão arterial. A primeira avaliação ocorreu no mês de março e a segunda avaliação foi realizada no mês de setembro, sendo que neste intervalo de tempo (seis meses), os soldados foram submetidos à prática regular de exercícios físicos, conforme a rotina militar. As médias dos resultados obtidos em ambas as avaliações foram consideradas adequadas para os índices relacionados à antropometria e para a pressão arterial. Esses resultados sugerem que os militares apresentam condições adequadas quanto à prevenção de doenças cardiovasculares, pois os índices antropométricos e a pressão arterial mantiveram-se controlados com o programa de exercício físico militar, sugerindo que esta prática é benéfica à saúde e que estes indivíduos apresentam uma proteção contra o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, principalmente pelo favorecimento da melhora da distribuição anatômica da gordura corporal, dificultando a maior concentração de gordura na região central do corpo.

          Unitermos: Pressão arterial. Antropometria. Militares. Exercício físico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Estudos epidemiológicos têm mostrado que indivíduos com maior aptidão física possuem menor risco de apresentar doenças e agravos não transmissíveis e menor taxa de mortalidade por todas as causas, evidenciando a relação entre aptidão física e benefícios à saúde (OLIVEIRA, 2007).

    O reconhecimento relativamente recente da natureza benéfica do exercício sobre a saúde e o bem estar pode, à primeira vista, ser considerado como uma evidência da incapacidade das pesquisas até então realizadas em estabelecer relações entre o exercício e a saúde. Desde os anos de 1880 havia evidências mostrando o efeito protetor da atividade física regular sobre a morte prematura, em conseqüência de doenças cardíacas e de acidente vascular cerebral (AVC) (ROBERGS e ROBERTS, 2002).

    Durante muitos anos, acreditou-se que a inatividade física estivesse associada apenas às cardiopatias e não foi lhe creditada muita atenção como preocupação da saúde pública. A preocupação sobre um fator de risco está relacionada de forma causal com uma doença cardiovascular e tem um significado especial no que concerne à atividade física. (POWERS e HOWLEY, 2000).

    Existe, por um lado, a preocupação com saúde e com qualidade de vida, em que a saúde é um dos componentes da qualidade de vida. Em geral, os fatores considerados ao avaliar a qualidade de vida são: o estado de saúde, a longevidade, a satisfação no trabalho, o lazer, o salário, as relações familiares, o ambiente onde vive e, principalmente, o estilo de vida. (NAHAS 2001 apud TORRENS, 2003).

    Ao longo dos últimos anos, tem havido interesse crescente pelo estudo de hábitos de vida relacionados à saúde. Isso é justificável na medida em que mudanças ligadas ao hábito de vida, particularmente em relação à dieta, hábito de fumar e prática de atividades físicas estão associadas ao declínio nas taxas de incidência e mortalidade por doenças crônicas não-transmissíveis, principais causa de mortalidade nos países desenvolvidos e nas grandes cidades brasileiras (LUEPKER, 1993; LOLIO, 1990 apud OLIVEIRA, 2000).

    Para Alves (2005), as doenças cardiovasculares (DCV) continuam a representar a principal causa de morbimortalidade nos países ricos, apesar de ser observado um decréscimo de suas taxas nas últimas décadas. No Brasil, as DCV respondem por 33% das causas de morte e representam os maiores gastos. Dentre os fatores de risco conhecidos para as DCV, vários deles vêm apresentando declínio nos países ricos, como o fumo, a hipertensão arterial sistêmica, o diabetes e os níveis de lipídeos circulantes. Entretanto, a obesidade e o sedentarismo vêm demonstrando uma curva ascendente.

    Especificamente no caso da hipertensão arterial (HA), padrões de consumo e de comportamento são os principais fatores de risco para esta doença. Destacam-se o consumo excessivo de calorias e bebida alcoólicas, a inatividade física, a baixa ingestão de potássio e o elevado consumo de sódio que permaneceu polêmico por muito tempo e que foi considerado um importante aspecto nas estratégias preventivas relacionadas a modificações no estilo de vida no último relatório do Joint National Committee. O tabagismo, componente do estilo de vida, não é o fator de risco para a hipertensão, porém é o fator de prognóstico, ou seja, agrava a hipertensão e está entre o mais importante componente do elenco de fatores de risco para outras doenças, mesmo cardiovascular, como as isquêmicas do coração e as cerebrovasculares (LESSA, 1998).

    Nas últimas décadas têm-se ressaltado a importância da aquisição e da manutenção de hábitos saudáveis direcionados à melhoria da qualidade de vida e da saúde. A prática regular de atividades físicas, alimentação adequada, suficiente horas de sono, uso controlado de bebidas alcoólicas, ausência de tabaco, momentos de lazer, controle emocional e do estresse são hábitos mais estreitamente associados à qualidade de vida e à saúde. O comprometimento com a qualidade de vida pode predispor ao aparecimento e ao desenvolvimento de disfunções crônico-degenerativas (GUEDES e GRONDIM, 2002).

    Fatores de risco que não as dislipidemias e que merecem menção são a hipertensão arterial, o diabetes e o sedentarismo. A hipertensão arterial é, especialmente, considerada fator de risco clássico para eventos cardíacos e vasculares, pois diretamente na parede das artérias, podem produzir lesões. Daí a importância do tratamento anti-hipertensivo na redução da morbidade e mortalidade cardiovascular (BORGES, VIANA e REZENDE, 2003; PESSUDO e CARVALHO, 1998).

    Os fatores de risco à doença coronariana foram divididos em primário, ou principais, e secundários, ou contribuintes. Primário significa que este fator aumenta o risco de doença coronariana, e o secundário que um determinado fator aumenta o risco de doença coronariana somente se já houver um dos fatores primários presente ou a sua importância não foi determinada precisamente. Os fatores de risco primário e secundário podem ser observados no Quadro 1.

Quadro 1. Fatores primários e secundários para doença coronariana

Fatores Primários

Fatores Secundários

Não podem ser modificados

Podem ser modificados

 

 

Obesidade

Estresse

Diabetes

 

Hereditariedade

Sexo masculino

Idade avançada

Tabagismo

Colesterol sérico elevado

Hipertensão arterial

Inatividade física

Fonte: Adpatado de Powers e Howley (2000)

    Em relação aos fatores de risco idade, hereditariedade, raça e sexo, pouco ou nada pode ser feito, pois a hipertensão tem um forte componente familiar e afeta mais intensamente os homens (situação invertida após a menopausa, quando as mulheres apresentam as maiores prevalências), as pessoas negras e idosas (ACHUTTI e ACHUTTI, 1997 apud CABRAL et al., 2003).

    Muitos aspectos estão envolvidos na associação entre obesidade e hipertensão arterial, dando a estes pacientes características especiais. Os mecanismos hemodinâmicos resultantes em elevação nos níveis pressóricos apresentam um perfil de interação, tanto dos fatores individuais da obesidade como fatores relacionados à hipertensão arterial essencial. A obesidade, exclusivamente, parece já alterar o ciclo circadiano normal da pressão arterial, estimando-se que até 70% dos obesos hipertensos não apresentam o decréscimo fisiológico da pressão sistólica e diastólica durante o sono (BORGES, VIANA e REZENDE, 2003).

    A prevalência de obesidade tem aumentado em todo o mundo e vem se tornado o maior problema de saúde na sociedade moderna na maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Quando comparados aos indivíduos com peso normal, aqueles com sobrepeso possuem maior risco de desenvolver diabetes mellitus (DM), dislipidemia e hipertensão arterial (HAS), condições que favorecem o desenvolvimento de doença cardiovascular (CARNEIRO et al., 2003).

    A obesidade constitui um fator de risco independente para doenças coronarianas; entretanto, segundo o estudo de Framingham, a obesidade é o principal fator determinante da chamada síndrome metabólica, que tem como características principais, além do aumento na pressão arterial, a intolerância à glicose e as dislipidemias. Estas, quando se apresentam correlacionadas, aumentam o fator de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Os autores desse estudo relataram que o tecido subcutâneo abdominal também tem forte associação com insulino-resistência, assim como o tecido adiposo abdominal, sugerindo que, independentemente da localização do tecido, a resistência à ação de insulina estará presente na obesidade (BORGES, VIANA e REZENDE, 2003).

    Diversos índices antropométricos têm sido propostos para determinar a associação entre excesso de peso e fatores de risco cardiovasculares. A medida da cintura, um dado de fácil e rápida obtenção, associa-se tanto com o índice de massa corporal (IMC) como com a razão cintura- quadril (RCQ), sendo capaz de detectar indivíduos com excesso de peso e outros fatores de risco cardiovascular com alta precisão. A medida da cintura também está relacionada com gordura intra-abdominal e já foi sugerido com o índice antropométrico capaz de prever o risco cardiovascular (GUS et al., 1998).

    Segundo Martins (2003) cálculo do IMC representa um procedimento extremamente prático para avaliar a questão do sobrepeso de sujeitos não atletas. Basta obter o registro do peso corporal e da estatura que já é possível desenvolver algumas conclusões gerais sobre a questão da obesidade.

    Este índice é obtido pela divisão do peso corporal total em quilogramas pela estatura elevada ao quadrado expressa em metros, ou seja: IMC = Peso ÷ Altura2. É um método antropométrico, facilmente calculado, de procedimento rápido, simples e de baixo custo, que se correlaciona bem com a gordura corporal e algumas incidências de doenças (CEDDIA, 1998 apud AMER et al., 2001).

    Segundo Borges, Viana e Rezende (2003) adiposidade abdominal é definida como a massa de gordura localizada na região abdominal, que pode ser subcutânea ou intra-abdominal. Essa gordura é denominada gordura visceral ou andróide. A obesidade visceral é causada por diversos fatores, entre os quais se destacam idade, genética, alterações na ação da lipoproteína lípase e dos hormônios (cortisol esteróide sexual).

    Vários métodos têm sido utilizados para verificar à deposição dessa gordura, como, por exemplo, a tomografia computadorizada e a mensuração da circunferência da cintura e quadril. Quando a circunferência abdominal for ≥ 94 cm nos homens e ≥ 80 cm em mulheres é identificado como um indicador de risco, sendo que valores ≥ 102 cm nos homens e ≥ 88 cm em mulheres identificam alto risco de hipertensão, dislipidemia, diabetes mellitus e doença cardiovascular. Para avaliar a distribuição de gordura corpórea, estudos epidemiológicos utilizam, desde a década de 70, a relação cintura-quadril (RCQ), obtidos pela divisão dos perímetros da cintura (cm) e do quadril (cm) (MACHADO e SICHIERI, 2002).

    A obesidade está claramente associada a riscos maiores do ponto de vista clínico e para a saúde. No entanto, o local onde a gordura é armazenada está também relacionado à mortalidade de modo geral e com um risco elevado para doença cardiovascular. De modo geral, as mulheres tendem armazenar gordura na parte inferior do corpo, ao redor do quadril e das coxas (obesidade ginóide), enquanto os homens tendem a armazená-la na parte superior do corpo, na região abdominal (obesidade andróide). Comparando-se os dois tipos de obesidade, o andróide está associada a um risco maior para o desenvolvimento de diabetes, hipertensão e doença cardíaca (ROBERGS e ROBERTS, 2002).

    Estudos recentes apontam que a distribuição da gordura no corpo apresenta uma estreita relação com complicações metabólicas e funcionais, demonstrando ser um fator tão importante quanto à quantidade total de gordura corporal em termos de saúde (ROCHA, 2008). Segundo GUEDES (1998) apud AMER et al.( 2001) é relevante saber onde estão localizados os depósitos de gordura, pois a distribuição tem demonstrado ser tão importante quanto à quantidade.

    Para tentar amenizar estas patologias que estão ocorrendo em nosso dia a dia, os soldados ao incorporarem no exército passam por treinamento Físico Militar (TFM) diariamente realizado de segunda-feira à quinta-feira, o qual tem sua base no Manual de Treinamento Físico Militar (TREINAMENTO FÍSICO MILITAR, 2002) e seu enfoque sobre a saúde atende de melhor forma aos interesses do militar relacionando-se com o bem estar. É fundamental entender o TFM como instrumento promotor da saúde antes de um instrumento de adestramento militar contribuindo para a manutenção da saúde do militar. Os fundamentos do treinamento físico militar são orientados pelos mesmos princípios científicos do moderno treinamento desportivo, a individualidade biológica, adaptação, sobrecarga, continuidade, interdependência volume e intensidade, especificidade e variabilidade.

    Um treinamento físico regular bem orientado provoca diversas adaptações no funcionamento do organismo humano, essas adaptações trazem benefícios para a saúde e propiciam condições para a eficiência no desempenho profissional sendo elas no sistema cardiopulmonar, neuromuscular e composição corporal.

    Considerando as condições expostas anteriormente, realizou- se esta pesquisa, a qual teve como objetivo avaliar as medidas antropométricas e a pressão arterial de soldados incorporados na Companhia de Comando Militar do Oeste no ano de 2009.

Materiais e métodos

    Para a realização deste estudo, foram avaliados 30 soldados de 19 a 20 anos de idade do sexo masculino incorporados no ano de 2009 na Companhia de Comando Militar do Oeste de Campo Grande-MS. Apesar de a incorporação ocorrer na cidade de Campo Grande, alguns soldados são oriundos de outras cidades do estado de Mato Grosso do Sul.

    A coleta de dados foi realizada duas vezes em cada indivíduo com a aplicação dos seguintes testes:

  • Índice de Massa Corporal (IMC), que utilizou as medidas de estatura e peso corporal;

  • Relação Cintura-Quadril (RCQ), que utilizou as medidas de circunferência da cintura e circunferência do quadril.

  • Aferição da pressão arterial;

    A primeira coleta dos dados foi realizada no mês de março, logo na incorporação dos soldados e no mês de setembro do mesmo ano foi feita a coleta final, totalizando 6 meses de intervalo. Neste período os soldados foram submetidos ao programa de treinamento físico militar, o qual é pré-estabelecido para o ano todo. O treinamento tem uma seqüência única, iniciando com alongamento em torno de 10 a 15 minutos, dependendo do dia, pois quando tem ginástica básica o alongamento é de 10 minutos e a ginástica 30 minutos, sendo que essa ginástica segue uma seqüência de exercícios físicos como abdominais, flexão de braços, agachamento, polichinelos e sugado, após tem uma corrida contínua de 45 a 50 minutos, realizadas com canções entoadas pelos soldados.

    A avaliação do peso corporal foi obtida com uma balança mecânica com precisão de 100g, com o avaliado de costas para o avaliador no centro da balança, com afastamento das pernas na largura dos ombros, braços estendidos naturalmente ao lado do corpo. Para a estatura, o avaliado estava descalço com os calcanhares unidos próximos a base da toeza, com precisão em centímetros, tronco ereto, a cabeça em um plano paralelo ao solo, realizando-se a medida desde a plataforma da balança até o vertéx da cabeça. Com os resultados obtidos na mensuração do peso corporal e da estatura, procedeu-se o cálculo do IMC, também conhecido como índice de Quetelet, conforme recomendado por Petroski (2003), utilizando a seguinte equação: IMC = Massa Corporal (kg) ÷ (estatura)2. Para a avaliação do IMC utilizou-se os critérios de referência da Organização Mundial da Saúde (2004).

    Para as medidas de circunferências (em centímetros), utilizou-se uma fita métrica antropométrica não elástica, com precisão em milímetro. Os pontos anatômicos mensurados foram: cintura, no ponto de menor circunferência entre as últimas costelas e a crista ilíaca, com o avaliado na posição ortostática e de quadril, no ponto maior circunferência da região glútea. As medidas foram avaliadas no mesmo dia da coleta de peso e altura dos soldados pesquisados. Para a identificação da Relação Cintura Quadril, utilizou- se as medidas dessas duas circunferências, conforme descrito por Costa (2001), na seguinte equação: RCQ = circunferência da cintura ÷ circunferência de quadril.

    A mensuração da pressão arterial seguiu as recomendações relatadas na V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (DBHA, 2006), de acordo com os procedimentos:

  • O avaliado permaneceu sentado por cerca de cinco minutos em ambiente calmo, com pouco barulho e temperatura agradável;

  • Certificou-se que o avaliado não estava com a bexiga cheia, não tivesse praticado exercício físico, nem ingerido bebidas ou alimentos que pudessem induzir o aumento da pressão arterial.

  • Durante a medida da pressão arterial o avaliado manteve-se sentado, sem cruzar as pernas, deixando o braço apoiado sobre a mesa ao seu lado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo levemente fletido.

    Foram realizadas duas medições consecutivas no membro superior direito do avaliado e anotou-se o segundo valor obtido. A aferição foi realizada por uma enfermeira que utilizou técnica auscultatória com uso de estetoscópio sobre a artéria braquial e esfigmomanômetro, da marca Premium®.

Apresentação e discussão dos resultados

    Os dados obtidos neste estudo são apresentados a seguir, sendo que na Tabela 1 estão expressos os valores referentes ao peso corporal, estatura e índice de massa corporal (IMC); na Tabela 2 são apresentados os valores da medida da cintura, da medida do quadril e da relação cintura-quadril (RCQ); na Tabela 3 são descritos os valores referentes às medidas de pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica.

    Em todas as tabelas, a apresentação dos dados é feita comparando-se a avaliação inicial e a avaliação final. Também são feitas comparações entre a avaliação inicial e a avaliação final da classificação do IMC (Figura 1), classificação da RCQ e da pressão arterial. Todas as tabelas são compostas de média, desvio padrão (DP), valores mínimo e máximo de cada variável apresentada.

Tabela 1. Dados descritivos do peso corporal, estatura e índice de massa corporal (IMC) de soldados de uma organização militar de Campo Grande-MS (n = 30)

Variável

Avaliação

Média ± DP*

Mínimo

Máximo

Peso corporal (kg)

Inicial

56,5 ± 5

43

64

Final

60,8 ± 5,8

47

71

 

Estatura (m)

Inicial

1,7 ± 0,1

1,6

1,8

Final

1,7 ± 0,1

1,6

1,8

 

Índice de massa corporal (kg/m2)

Inicial

19,4 ± 1,3

16,2

21,7

Final

20,9 ± 1,4

17,7

24,0

*DP = Desvio Padrão

    Quando se analisa o valor médio do IMC percebe-se que o mesmo apresentou um pequeno aumento, ao comparar a avaliação inicial (19,4 kg/m2) e a avaliação final (20,9 kg/m2). Sabendo que o IMC avalia a proporcionalidade de duas variáveis (estatura e massa corporal total) e que uma delas (estatura) não variou durante o programa, nota-se que apenas o peso corporal teve um pequeno aumento nos valores médios do grupo avaliado. Mesmo assim, o valor médio do IMC manteve-se num nível considerado normal.

    Resultado semelhante foi encontrado por Dregval e Vaicaitiene (2006) quando analisaram 197 soldados recrutas na faixa etária de 19 a 25 anos do exercito de Lituânia, onde a altura dos soldadosdid not change, however, their weight increased in average by 5.5±4.5 kg (p<0.01). não se alterou, no entanto, o peso aumentou em média 5,5 ± 4,5 kg. Já em relação ao IMC médio, observa-se que os resultados obtidos neste estudo foram menores, mesmo quando observamos a avaliação inicial (19,4 ± 1,3 kg/m2) e a final (20,9 ± 1,4 kg/m2), do que o encontrado por Knapik et al.(2006) ao analisar 1.174 soldados do exército americano (25,2 ± 3,9 kg/m2).

    Alguns indivíduos apresentaram valor médio de IMC considerado baixo peso, o que pode ser observado no valor mínimo obtido no estudo (16,2 kg/m2), conforme classificação da OMS (2004). Isso indica que alguns indivíduos, ao entrarem no quartel possuíam baixo peso.

Tabela 2. Dados descritivos da medida da cintura, do quadril e da relação cintura-quadril (RCQ) de soldados de uma organização militar de Campo Grande-MS (n = 30)

Variável

Avaliação

Média ± DP*

Mínimo

Máximo

Medida da cintura (cm)

Inicial

71,2 ± 3,0

65,0

79,0

Final

73,6 ± 3,0

66,0

79,0

 

Medida do quadril (cm)

Inicial

87,3 ± 3,9

79,0

100,0

Final

89,7 ± 4,1

80,0

97,0

 

Relação cintura-quadril (cm)

Inicial

0,8 ± 0,0

0,7

0,9

Final

0,8 ± 0,0

0,8

0,9

*DP = Desvio Padrão

    No presente estudo, os valores médios da cintura e da RCQ são avaliados como saudáveis e com menos riscos para o desenvolvimento de doenças crônicas. Em contrapartida, em um estudo realizado por Frutuoso (2008), quando analisou 15 militares de ambos os sexos com média de idade igual a 43 anos de idade, identificou que 80% dos pesquisados correm o risco de desenvolver problemas cardiovasculares, ainda observou-se que eles não praticavam nenhuma atividade física.

Tabela 3. Dados descritivos da medida da pressão arterial sistólica e da pressão arterial diastólica de soldados de uma organização militar de Campo Grande-MS (n = 30)

Variável

Avaliação

Média ± DP*

Mínimo

Máximo

Pressão arterial sistólica (mmHg)

Inicial

11,2 ± 1,0

9,0

14,0

Final

11,0 ± 0,9

9,0

12,0

 

Pressão arterial diastólica (mmHg)

Inicial

7,5 ± 0,7

6,0

9,0

Final

7,3 ± 0,7

6,0

8,0

*DP = Desvio Padrão

    Em relação aos valores médios de pressão arterial da população estudada, ambas as avaliações (inicial e final) indicaram valores considerados normais e que não comprometem a saúde dos militares, diferentemente do que foi encontrado por Neves (2008) quando analisou 426 militares na faixa etária entre 27 e 37 anos oriundos de todas as regiões do Brasil, o qual encontrou uma prevalência de 5,63% de hipertensão sistêmica. Quando observamos estudos correspondentes com a faixa etária, Mantovan et al. (2007) avaliou 196 jovens integrantes do serviço militar de Maringá, com idade média de 18,32 anos e encontrou uma prevalência de hipertensão arterial de 6,1% e pressão na faixa limítrofe 7,65%.

    Estudos demonstram que o condicionamento físico por meio de exercício é benéfico para a redução da pressão arterial, podendo reduzir a pressão sistólica (de 5 mmHg a 15 mmHg) e a pressão diastólica (de 5 mmHg a 10 mmHg) em repouso, e mais ainda durante o exercício físico (BRONSTEIN, 1996). No caso dos militares, os exercícios físicos, que estão incorporados ao cotidiano dessa profissão, podem estar agindo como fator protetor ao desenvolvimento da hipertensão (NEVES, 2008).

Figura 1. Comparação ente os dados da avaliação inicial e da avaliação final, referentes à classificação do índice 

de massa corporal (IMC) de soldados de uma organização militar de Campo Grande-MS (n = 30)

    Alguns indivíduos tiveram um aumento no seu IMC comparado à primeira com a segunda coleta. Isso pode ter ocorrido pelo aumento da prática de exercício físico militar, pois Dâmaso (2003) descreve que a prática de exercício físico é eficiente na prevenção do ganho de peso ou na sua recuperação, contribuindo para a melhora da composição corporal.

    Contudo, o grupo estudado ainda apresentou valor de IMC considerado baixo peso na avaliação final. Isso pode ser pelo aumento do gasto energético realizado pela atividade física e com pouca ingestão alimentar pode ocasionar a perda de peso. Assim, o presente resultado não ocasiona risco para os militares, pois com a redução da massa corporal diminui os fatores de risco de doença cardiovascular, assim como a redução de gordura abdominal melhora o perfil lipídico e reduz a pressão arterial (SOUZA-E-SÁ JUNIOR et al., 2007).

Conclusão

    Os resultados apresentados neste estudo indicam que a prática de atividades físicas pode favorecer, também, a melhor disposição quanto à distribuição anatômica da gordura corporal, impedindo que haja maior concentração de gordura nas regiões centrais do corpo.

    Os índices antropométricos e a pressão arterial mantiveram-se controlados com o programa de exercício físico militar, indicando que esta prática é benéfica à saúde e que estes indivíduos apresentam uma proteção contra o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis.

Referências

  • ALVES, J. G. B; MONTENEGRO, F. M. U; OLIVEIRA, F. A; ALVES, R.V. Prática de esporte durante a adolescência e atividade física de lazer na vida adulta. Revista Brasileira Medicina do Esporte, Niterói, v.11, n.5, p.291-294, 2005.

  • AMER. N. M; SANCHES. D; MORAES. S. M. F. Índice de massa corporal e razão cintura/ quadril de praticantes de atividades aeróbica moderada. Revista da Educação Física –UEM, Maringá, v.12, n.2, p.97-103, 2.Sem, 2001.

  • BORGES, M.A; VIANA, F.P; REZENDE, A.D. in: Damaso, A obesidade: São Paulo: Medsi, 2003.

  • BRONSTEIN. M. D. Exercício físico e obesidade. Revista Sociedade de Cardiologia Estado de São Paulo, v.6, n.1, p.111-115, jan./fev. 1996.

  • CABRAL, P.C; MELO, A.M.C. A; AMADO, T.C. F; SANTOS, R.M.A.B. Avaliação antropométrica e dietética de hipertensos atendidos em ambulatório de um hospital universitário. Revista de Nutrição, Campinas, v.16, n.1, jan./ mar. 2003.

  • CARNEIRO, G; FARIA. A. N, FERNANDO FILHO, F.R; GUIMARÃES, A; LERÁRIO, D; FERREIRA, S.R.G; ZANELLA, M.T. Influência da distribuição da gordura sobre a prevalência de hipertensão arterial e outros fatores de risco cardiovascular em indivíduos obesos. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 49, n. 3, jul./set. 2003.

  • COSTA, R.F. Composição Corporal: teoria e prática da avaliação. São Paulo: Manole, 2001.

  • DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. Sociedade Brasileira de Cardiologia. São Paulo, 2006.

  • DÂMASO. A. Obesidade. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

  • DREGVAL. L.; VAICAITIENE R. Anthropometrical data and physical fitness of Lithuanian soldiers according to the sociodemographic characteristics. Medicina (Kaunas). 2006; 42(1): 57-63

  • FRUTUOSO. H. Análise dos riscos coronarianos através do RCQ em Policiais Militares da cidade de Matipó - MG. Caratinga, 2008. Dissertação de Pós Graduação – Centro Universitário de Caratinga – UNEC.

  • GUEDES, D.P; GRONDIM, L. M.V. Percepção de hábitos saudáveis por adolescentes: associação com indicadores alimentares prática de atividade física e controle de peso corporal. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.1, p. 23-45, set. 2002.

  • GUS, M; MOREIRA, L. B, PIMENTEL, M; GLEISENER, A.L.M ; MORAES, R.S; FUCHS, F.D.Associação entre diferentes indicadores de obesidade e prevalência de hipertensão arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 70, n. 2, p. 111-114, fev. 1998.

  • INSTITUTO DE PESQUISA DA CAPACITAÇÃO FÍSICA DO EXÉRCITO, C 20-20 Manual de Campanha, Treinamento Física Militar, 3ª Edição, 2002.

  • LESSA, I. O Adulto Brasileiro e as Doença da Modernidade: epidemiologia das doenças crônicas não- transmissíveis. São Paulo: Editora Hucitec, 1998.

  • LOLIO, C. A. Epidemiologia da hipertensão arterial. Revista Saúde Pública, São Paulo, v.24, n.5, Out. 1990.

  • KNAPIK J .J; SHARP M .A; DARAKJY S; JONES S. B; HAURET K.G; JONES B.H. Temporal changes in the physical fitness of US Army recruits. Sports Med. 2006; 36(7): 613-34.

  • MANTOVAN, H.F; VIER, B.P, KAETSU; E.Y, MARTINS, A.P.I. Fatores associados à hipertensão arterial em jovens integrantes do Tiro de Guerra de Maringá. Ciência, Cuidado e Saúde, Maringá, v.6, Supl. 2, p. 370-376, 2007.

  • MARTINS, J. C. B. Avaliação e prescrição de atividade física: guia prático. 5º Ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

  • MACHADO. P. A. N; SICHIERI. R. Relação cintura- quadril e fatores de dieta em adultos. Revista Saúde Pública, v.2, n. 36, p. 198-204, 2002.

  • NEVES, E.B. Prevalência de sobrepeso e obesidade em militares do exército brasileiro: associação com a hipertensão arterial. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n.13 Supl. 5, p.1661-1668, 2008.

  • OLIVEIRA, C. C. M. Atividade física de lazer e suas associações com variáveis demográficas e outros hábitos relacionado à saúde em funcionários de banco estatal. Rio de Janeiro, 2000. Dissertação de Mestrado. Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz.

  • OLIVEIRA, E.A.M. Antropometria, estado nutricional e aptidão física em Militares da ativa do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação de Mestrado – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – Fundação Oswaldo Cruz.

  • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE- OMS. Obesidade: Prevenindo e controlando a epidemia global. São Paulo: Phorte, 2004.

  • PETROSKI, E.L. Antropometria: técnicas e padronizações. 2ª Ed. Porto Alegre: Editora Pallotti, 2003.

  • POWERS, S. K; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício. 3º Ed. São Paulo: Manole, 2000.

  • ROBERGS, R.A; ROBERTS, S.O. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte Editora, 2002.

  • ROCHA, A. P.A.S. Relação entre a prática de atividade física regular e a composição corporal. Rio de Janeiro, 2008. Dissertação de Pós Graduação – Escola de Saúde do Exercito.

  • SOUZA-E-SÁ JUNIOR, J. M.; MONTEIRO-GOMES, M. A.; ALCARAZ, C. C. A.; SOUZA, J. C. M.; SOUZA, S. H.; SILVA, C. T. F.; FORTES, M. S. R.; MARITNEZ, E. C. Relação de medidas antropométricas e fatores de risco cardiovascular. Revista de Educação Física, Rio de Janeiro, n.136, p.38-46, 2007.

  • TORRENS, L. G. S; SANTOS, M. G. Atuação do profissional de educação física em parques. Revista Brasileira de Ciência & Movimento, Brasília, v.11, n.1, p.41-44, jan. 2003.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 152 | Buenos Aires, Enero de 2011
© 1997-2011 Derechos reservados