A imagem corporal em jovens escolares do ensino médio na Educação Física La imagen corporal de jóvenes estudiantes de escuela media en Educación Física |
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Licenciatura em Educação Física Estácio Campus Europan, FAAC (Brasil) |
Claudia Bianchi | Daniela Seraphini Maiara Pimentel | Priscila Pereira Regiane Soares |
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Resumo O presente estudo é um ensaio na área de educação física e psicologia social que visa discutir tópicos relacionados à imagem corporal de adolescentes entre 16 e 18 anos de escolas públicas da região de Cotia. Este trabalho foi desenvolvido em duas partes, levantamento bibliográfico acerca dos temas: Imagem Corporal, Esquema corporal e pesquisa de campo, colhendo dados sobre o objetivo de estudo, para tanto foi elaborado uma questionário para futura análise. A principio o estudo visa observar e relatar as impressões ou conceitos que os jovens têm de seus esquemas e imagens corporal, e após a vivência de atividades corporais nas aulas de educação física quais foram as diferenças desta percepção antes e após tais intervenções. Partimos do pressuposto que a interpretação que os adolescentes têm sobre o corpo tem sido motivado e estimulado pela mídia, bem como a televisão, as revistas e diversas propagandas comerciais que promovem um ideal de beleza que se aproxime dos padrões da atual sociedade. Unitermos: Imagem corporal. Esquema corporal. Juventude. Mídia.
Abstract The present study is a test in the area of physical education and social psychology that aims to discuss topics related to body image of adolescents between 16 and 18 years of public and private schools of the region of Cotia. This work was developed in two parts, bibliographical review about the themes: Body Image, body scheme, etc and field research, harvesting data on the objective of study, for both was elaborated a questionnaire for future analysis. The principle the study aims observe and report the views or concepts which young people have their schemes and images corporal, and after the experience of activities in body physical education classes which have been differences of this perception before and after such interventions. We assume that the interpretation that adolescents have on the body has been motivated and stimulated by the media, as well as the television, magazines and trade various campaigns to promote an ideal beauty close to the standards of the current society. Keywords: Body image. Body scheme. Youth. Media.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Segundo os dados levantados é possível inferir que o olhar que se tem sobre o corpo tem sido um dos principais fatores que influenciam os indivíduos pela procura de atividades físicas e a prática de esportes.
A partir das evidências empíricas constatamos que esta procura também vem aumentando entre os adolescentes, que demonstram certo interesse pela estética corporal, levando-os a adotar mecanismos que façam do corpo um meio de representação e realização pessoal, ligando-os a um comportamento que valorize de forma exacerbada a aparência física.
Este ensaio busca contribuir com a análise sobre as possíveis impressões que os adolescentes têm sobre seus corpos e quais os efeitos que essa visão pode causar em suas vidas cotidiana e escolar, Também compor com outros trabalhos da área sobre imagem corporal, uma possível fonte de informação e conhecimento para futuros professores de educação física.
A partir do entendimento de mídia, ou seja, qual o impacto dos meios de comunicação na reprodução de idéias dos adolescentes terminarem esta idéia.
Ao longo da história o corpo tem sido enxergado de diferentes ângulos, levando um tratamento ideal cuja época se determinava, sendo que, ao decorrer dos anos a corporeidade passou por mudanças e transformações, tendo essa imagem um leque cultural que varia de sociedade para sociedade, de geração para geração.
Junto a essas mudanças vieram também os objetivos, os vínculos que associavam o corpo a uma específica supremacia, como domínio, expressão, beleza, propaganda comercial, entre outros. Assim distinguindo um traço característico com a sociedade presente.
Como relata Oliveira (2008), a dependência do movimento e do ato físico surge desde o inicio da existência do homem. A necessidade do homem de caçar e sobreviver aos obstáculos cotidianos fez com que este mesmo se aperfeiçoasse e fizesse bom uso de sua própria força e resistência.
O homem primata que buscava por moradia, por comida, que lutava contra as manifestações da natureza, deveria desde já aproveitar do seu condicionamento físico para ultrapassar os limites.
De acordo com Aranha (1996), as atenções e acautelamento com o corpo iniciam com uma política de eugenia, uma fórmula de melhoramento do patrimônio genético dos humanos, neste âmbito advertia-se abandonar as crianças deficientes ou frágeis demais e procurar fortalecer as mulheres para gerarem filhos vigorosos, inabaláveis e sadios.
Como nos aponta Aranha, já existia um contexto cultural e educacional que autorizava com que crianças que revelavam algum tipo de anomalia ou deficiência fossem dispensadas pelos pais, fatos estes providos na Grécia Antiga.
Ao que diz Oliveira (2008), as atividades físicas na Grécia tinham um caráter natural, os esportes eram baseados no atletismo, onde os participantes os realizavam nus, neste contexto a ginástica tinha como objetivo desenvolver o corpo nu sob o olhar da arte. Os gregos nesta época demonstravam cuidados profundos com a simetria e a estética física.
A imagem corporal já era uma concepção que fazia parte da vida social dos indivíduos e que tinha um caráter estético e funcional de acordo com que a cultura predominava ou acreditava. Mesmo depois de tantas mudanças, ainda existem em diferentes pontos do mundo em que práticas relacionadas ao corpo demonstram características de uso e valor ideológico.
Segundo Pessoti (1994), a Idade Média é o período da história em que se marcou a decadência de condições de saúde e de vida, pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência eram mal vistas pela população, chegando a serem ridicularizadas e sofrerem aversão em reuniões e eventos das comunidades mais abastadas.
Como relata Freitas (1999) a época medieval é caracterizada pela perseguição da carne pecadora, as doenças que atingiam o corpo eram consideradas conseqüências dos pecados cometidos ao longo da vida. Existia um confronto idealista entre o bem e o mal, milagre e pecado, o desejo e o castigo.
Como aborda Freitas, a Igreja obtinha um poder sobre a sociedade, as doutrinas religiosas repulsavam aqueles que adoravam o corpo com exacerbada vaidade, as sensações e o prazer deveriam ser reprimidas.
Ao que diz Freitas (1999) o século XIX inseriu explicitamente os cuidados com o corpo infantil, desde o nascimento a criança passou a ser alvo de uma vigilância de olhares dos pais, pelas autoridades da medicina e o Estado.
Na infância a criança já era educada e ensinada a como andar, como falar, a comer corretamente, como sentar-se, como expressar-se por meio da postura do seu corpo.
Para Freitas (1999) o Renascimento marcou o progresso da ciência, tornando o homem o centro das atenções, ao qual sua curiosidade intelectual e reflexiva permitia o interesse por novas descobertas, sobretudo pela apreciação da arte e o culto ao corpo através de dietas e exercícios.
Segundo Gonçalves (1994), o pensamento renascentista fez com que o trabalho físico recuperasse o valor e a dignidade, a libertação do homem de compreender o meio social e de dominar e modificar a natureza, incluindo a corporeidade.
Segundo Freitas (1999) o desenvolvimento do capitalismo fez com que o corpo fosse enxergado como um produto, nele se submetia o dever de cumprir regras e normalidades impostas pela elite industrial.
De acordo com Freitas (1999) apud Castellani (1988), o nascimento da indústria nacional, sob a força da ditadura, regeu o ideal de corpos disciplinados e submissos ao trabalho das fábricas.
Este rótulo que fora encarregado aos indivíduos era considerado uma forma importante de incorporar o típico homem corpóreo, forte e eficaz. Os trabalhadores tiveram que resistir mais as cargas horárias e suportar uma sobrecarga de trabalho ou teriam que mostrar um desenvolvimento intelectual para manipular máquinas.
Vendo que o corpo na história tem levado um tratamento de controle, a pesquisa se aprimora em compreender se estes conceitos ainda estão sendo reproduzidos na Educação Física e sociedade. Estudar as diferentes interpretações sobre imagem corporal existentes entre os adolescentes, o que eles pensam sobre si mesmos, como eles vêem seus corpos, que “tipos físicos” gostariam de ter ou qual eles mais admiram, qual a intervenção da mídia nas visões sobre o corpo por eles estabelecidas.
A princípio o estudo visou observar e relatar as impressões ou conceitos que os jovens do município de Cotia têm de seus esquemas e imagens corporais e sua relação com a mídia televisiva, e após a vivência de atividades corporais nas aulas de educação física quais foram as diferenças desta percepção após tais intervenções.
A pesquisa foi realizada através de análises e aprofundamentos baseados em livros que tratam a imagem corporal em jovens escolares dentro da disciplina de Educação Física, utilizando de recursos como questionário e observações elaborados pelo grupo de estudo. Análise coletiva dos padrões de comportamentos dos alunos referente à imagem corporal durante as aulas exercitadas e nas relações sociais fora delas.
Utilizamos como métodos do estudo um questionário contendo imagens de corpos em suas diferentes estéticas e perguntas referentes à temática. Dentre as questões que o grupo nomeou estão: (1) Conforme as ilustrações, com qual dessas imagens corporais você mais se identifica? (2) Quais dessas pessoas em sua opinião teriam mais facilidade pela prática de exercícios ou atividades propostas pelo professor? Por quê? (3) Você gosta e pratica as aulas de Educação Física? Por quê? (4) Você acredita que se tivesse um corpo parecido com o da fotografia, ajudaria ou não no seu rendimento esportivo? Por quê?
Participaram da metodologia alunos do 1°, 2° e 3° grau do Ensino Médio, entre 16 a 18 anos, no total de 60 alunos, cuja escola reside na região de Cotia, sendo ela: Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Dep. Conceição da Costa Neves, localizada no bairro Jardim Nomura.
As imagens entregues junto aos questionários foram classificadas da seguinte forma: (1) Fisiculturistas, (2) Obesas, (3) Magras, (4) Saudáveis, pessoas com estética considerada padrão pela sociedade e evidentes na mídia, (5) Normais, físicos considerados comuns.
Os alunos que responderam ao questionário não foram obrigados a expor a identificação, sendo que, não havia nenhum parentesco com os integrantes do grupo de estudo.
Imagem corporal e mídia
Ao discutirmos as idéias concebidas pelos jovens sobre o corpo, é necessário anteriormente buscar compreender os conceitos de imagem corporal, uma vez que o termo proporciona diferentes definições ao quais são importantes explorá-los.
Segundo Freitas (1999), a maior contribuição teórica na definição de imagem corporal vem de Paul Schilder, que relata a temática como uma construção dos sentidos, especialmente os visuais, táteis e sinestésicos. Considera que a imagem corporal também designa como esquema corporal e, ainda, modelo postural do corpo.
Freitas (1999) ao citar Schilder discute que a imagem corporal pode alcançar termos que vão além do caráter fisiológico e anatômico, implica como significados e valores condizentes a vida social e emocional dos indivíduos.
Ainda em Freitas (1999) ao referi-se a Barral afirma que imagem corporal é a conscientização da existência de um corpo, que está emaranhado numa cultura, cujo caráter se baseia em expressar e representar, de se comunicar com o mundo e todos aqueles que nele vivem.
Como nos aborda Freitas, a imagem que o individuo tem de si próprio, a maneira como ele o interpreta, e até mesmo ao comparar este corpo com outros e adquirir um grau de satisfação ou insatisfação, se aproxima e comporta os conceitos sobre imagem corporal.
Segundo Fischer (1970) apud Freitas (1999) após um profundo estudo com mulheres norte-americanas, foi possível perceber que a grande maioria não está feliz com a aparência física, inclusive com o tamanho dos seios, desejando assim, possuir seios maiores.
Isto reflete os valores de uma sociedade que considera que mulheres que carregam tais características físicas são mais atraentes e desejáveis.
Como nos relata Rodrigues (1987) apud Freitas (1999), a imagem corporal remete ao olhar e a consciência que o individuo tem do seu corpo ligado ao nível afetivo.
Neste ponto vemos que a forma como se enxerga o próprio corpo está impregnado a uma vivência, significações, valores e até mesmo a história pessoal.
São exatamente estas visões que as pessoas venham a ter sobre o corpo, que muitas vezes as leva a recorrer mecanismos eficientes que promovem um ideal de belo, homens e mulheres viciados em atividades físicas, dietas rígidas, grande investimento em produtos de beleza e salões, sempre procurando melhorar a imagem para suprir necessidades particulares.
É perceptível que o pensar sobre o corpo faz com que os indivíduos valorizem determinados comportamentos, neste contexto a questão a ser discutida é a apropriação da mídia sobre a corporeidade.
Para Freitas (1999) a mídia promove a idéia de que se o indivíduo optar por utilizar produtos por eles propagados, os resultados desejados serão mais eficazes. Mas o que se observa é a padronização do corpo, tornando-o moldável pelas atividades físicas, pelas cirurgias plásticas e pelo mercado.
Vende-se o refrigerante, o chocolate, entre outros alimentos calóricos e a academia de ginástica, vende-se o suplemento alimentar e o atleta expõe um corpo definido e malhado.
Segundo aborda Castro (2003) a busca pela beleza, pela perfeição corporal, está cada vez mais evidente na sociedade, refletindo os ideais explorados pela mídia.
Como cita Bento, os meios de comunicação lentamente vão penetrando na consciência do indivíduo, proporcionando informações idealistas de estética e beleza, e aquele que tem acesso à mídia sem perceber vai se aprimorando dessas propagandas com mínima reflexão, mas indo em busca somente de resultados rápidos e espontâneos.
Ao que diz Darido (2005) a mídia introduz ao corpo a fragmentação, tem-se a divulgação das famosas “bombas” e aparelhos de ginásticas que prometem o melhor rendimento e resultados milagrosos, expondo um corpo saudável, atlético, belos e fortes.
Como nos aborda Darido, ao invés de nos preocuparmos em melhorar nosso corpo de maneira integral, enxergando-o como um todo, nos apegamos a uma única parte dele que queremos visivelmente modificar e vamos em busca de ambientes artificiais, como as academias e clubes que acreditamos poder realizar as mudanças desejadas.
Os efeitos causais do culto ao corpo
O culto ao corpo em décadas anteriores a voga não se traduziu em uma maciça discussão e estudos, as mudanças ocorreram principalmente após o avanço dos meios de comunicação, tais como a mídia televisiva, impressa, outdoors, entre muitos outros mecanismos tecnológicos.
Para Santos (2007) o surgimento dos aparelhos tecnológicos profetizou ilustrações de mulheres cada vez mais “turbinadas” e homens com intensa simetria muscular.
Como aborda Santos, os meios de comunicação ampliaram e intensificaram a idéia de um indivíduo venerado pela sua condição física mediante a sociedade.
Devido à procura de realização pessoal e obtenção de corpos “belos”, os indivíduos passaram a dar um prestígio à imagem de si mesmo e, conseqüentemente, ganharam também algumas divergências que foram prejudiciais à saúde, tanto no aspecto psicológico, quanto no fisiológico.
De acordo com Santos (2007) as mulheres desejam cada vez mais alcançarem um ideal de beleza estética, e assim, adotaram hábitos como dietas rígidas, freqüência diária em academias de ginástica, grandes investimentos em cirurgias plásticas.
Esta vontade não é apenas idolatrada pelo sexo feminino. Vemos homens também muito interessados em ter corpos “esculturais”, alguns chegando a utilizar anabolizantes que prometem resultados rápidos de crescimento de massa muscular.
Para Santos (2007) esta procura dos homens pela simetria muscular tem sido uma das principais causas do distúrbio conhecido por Disformia Muscular.
Como relata Santos, a Disformia Muscular é uma síndrome da imagem corporal relacionada com a musculatura e o tamanho do corpo, ou seja, os homens possuem um considerável desenvolvimento da hipertrofia muscular, mas ainda assim, sentem-se magros e fracos.
Os indivíduos que possuem essa imagem de si próprio passam a fazer um exagerado uso de esteróides, se alimentam com uma quantidade elevada de proteínas, além de passarem longas horas nas academias e realizarem treinos intensos.
Segundo Santos (2007) as alterações de comportamentos relacionados à imagem corporal iniciam-se na adolescência e isto ocorre variavelmente por conta da emancipação de informações que estes adolescentes recebem ao longo do cotidiano.
Santos (2007) também aborda sobre a Síndrome de Adonis, que denomina como uma síndrome que atinge principalmente indivíduos que praticam qualquer atividade física e se preocupam exacerbadamente com o corpo.
Como demonstra Santos, os indivíduos contaminados por essa síndrome costumam a valorizar defeitos corporais imaginários e mínimos, ou seja, o indivíduo possui uma imagem distorcida de si mesmo, estas pessoas se tornam dependentes e fanáticas pelas atividades físicas, geralmente não se preocupam com eventuais conseqüências ou contra-indicações.
Estas doenças citadas demonstram bem as características de uma sociedade contemporânea, uma sociedade competitiva, consumista, onde ganhar e estar sempre em evidência é o mais importante.
As pessoas que sofrem com estas doenças nunca estão satisfeitas com seus corpos, os anoréxicos nunca se acham suficientemente magros, e os vigorexicos nunca se vêem suficientemente musculosos. .
Santos (2007) também nos aponta a Bulimia, que torna o individuo escravo de sua rotina diária alimentar, tendo ocasiões em que se come exageradamente e depois de saciada a fome vem o sentimento de culpa pelo não controle.
Como nos aponta Santos, esses indivíduos que têm Bulimia são influenciados pela emoção e falta de controle na vontade de comer, elas mesmas provocam o vomito com o intuito de perder gorduras e ficam longo tempo nas academias, chegando a malhar de duas a três horas.
O papel do professor de Educação Física
Neste contexto a iniciativa parte do principio de discutir como o professor de Educação Física pode intervir no processo de aprendizagem dos alunos com relação aos temas da corporeidade.
Segundo Oliveira (2008), o professor de Educação Física durante uma grande jornada passou a ter a função de educar os alunos em sua forma física, perdeu-se a importância de ver o homem com integridade.
Vemos que esse modelo educacional em alguns campos escolares ainda prevalece, os debates e exploração de assuntos interligados a corporeidade ainda é ausente no planejamento das aulas de Educação Física.
Como cita Oliveira (2008), o modo disciplinador de tratar o corpo e lidar com as funções deste mesmo, é uma das causas de muitas pessoas detestarem as atividades físicas ou sentirem-se incapazes de realizar algumas habilidades motoras.
Mas este mesmo tratamento dado ao corpo por muitos professores de Educação Física permite que muitos adolescentes nos dias atuais vão em busca de academias de musculação e ginástica, a procura de um corpo que se encaixe nos padrões de estética estipulado pelos diferentes segmentos da sociedade.
Como aborda Oliveira (2008), o fanatismo cientifico abomina o estudo da humanidade em sua forma afetiva, ao qual se apreciam atitudes, idéias e comportamentos humanos, se opõe apenas em analisar o homem exterior, esquecendo-se do homem interior.
De acordo com Oliveira (2008), as aulas de Educação Física são responsáveis por desenvolver as capacidades físicas, quando se deseja alcançar uma resistência aeróbica, o professor logo pede para que os alunos corram em volta da quadra e eles farão do modo como o professor auxilia, sem ao menos compreender o significado desta proposta.
Como explicita Oliveira, este método está tão impregnado nos indivíduos que se pedirmos para que eles façam uma corrida, logo eles formarão um círculo, como foi feito durante anos nas atividades propostas em Educação Física.
Segundo Oliveira (2008), as escolas e os meios de comunicação trabalham como fábricas, criando indivíduos “adaptados” à sociedade. As pessoas são formadas ou deformadas para exibir uma imagem dependente e submissa, os alunos saem da escola com ideologias construídas e reconstruídas.
Segundo Oliveira (2008) o envolvimento da Educação Física com o individuo e com a sociedade segue uma linha educacional de extrapolar o “jogar futebol”.
Como mostra Oliveira, o professor não pode se prender apenas ao saber fazer, o domínio da técnica é indispensável, mas não é unicamente a finalidade da Educação Física.
Aqueles adolescentes que vão à procura de academias, que desejam ter corpos bonitos e bem apreciados pelos outros, pouco conhecem sobre a imagem corporal, pouco se sabe até que ponto o professor discutiu com seus alunos sobre a imagem que se tem de si próprio, a fim de propor conhecimentos profundos para que estes jovens tenham consciência de como o corpo sofreu mutações, de como o corpo tem sido escravo de preconceitos ocultos.
De acordo com Oliveira (2008) a Educação Física é Educação. É por meio dela que o homem se reconhece como mediador de si mesmo e da emancipação de uma sociedade humanista, em que ser o melhor não é primordial.
Ao que relata Darido (2005), o tratamento ao corpo deve se aprimorar de uma visão ampla de que o mesmo é autônomo, mas que também depende dos outros. Isto significa que o aluno é um corpo e não apenas tem um corpo, e que este mesmo está exposto ao meio social.
É de suma importância que os alunos saibam sentir seus corpos, conhecê-los com amplitude e não somente ver o corpo de forma fragmentada.
Resultados da pesquisa
O questionário era aberto com 5 questões e foi respondido por 30 meninos e 30 meninas de escola pública da região de Cotia.
Os alunos que participaram da pesquisa tinham a faixa etária de 16 a 18 anos, cursando o 1º, 2° e 3º grau do Ensino Médio.
Foi ilustrada na pesquisa de campo imagens de corpos, dentre eles, atrizes e atores que aparecem constantemente na televisão e na mídia impressa.
Também foi explorado fotos de pessoas comuns que não fazem parte do contexto televisivo, ou seja, que os adolescente não conhecem ou ouviram falar.
Conforme a exposição de idéias de alguns alunos entrevistados, notamos que o ícone de beleza explorado pelos meios de comunicação reflete parte da influência pela adoração dos jovens pelos corpos considerados “belos”, devido o grau de popularidade dos artistas e do investimento grandioso de propagandas que impõem fórmulas e soluções para melhorar a estética do indivíduo, utilizando como objeto de exemplo os artistas.
Porém, o que se pôde perceber é que as fotos que ilustravam os corpos de indivíduos famosos não foram prioridade dos adolescentes, neste caso não é a imagem do artista que interfere diretamente na ideologia dos adolescentes, mas sim as amostras, novidades e descobertas de melhoramento corporal que proporcionam significado na vida destes cidadãos.
Como sustenta Bento apud Castro (2003, p. 108) a mídia é um suporte consistente responsável pela incorporação do culto ao corpo e que admite um caráter materialista de comportamentos.
Ao analisarmos as questões respondidas pelos alunos, nos deparamos com algumas semelhanças que consideramos importantes para melhor compreendermos o entendimento e o conceito destes alunos com relação à imagem corporal.
Dentre as questões elaboradas para os alunos, partimos do ideal sobre qual corpo o adolescente mais se identifica e por quê. As respostas mais evidentes foram:
“Me identifico com as pessoas normais, porque não me acho nem gorda nem magra”.
“Pessoas normais, porque não sou obesa e muito menos anoréxica, tenho uma beleza na medida em que posso”.
“Com a pessoa normal, pois não tenho o corpo cujo qual gostaria de ter”.
“Me identifico com a pessoa do corpo normal, acho que as pessoas muito musculosas não são legais, já as pessoas gordas mostram que não tem uma boa saúde”.
Diante das repostas dos alunos, foi possível verificar que existe uma forte ligação entre a imagem do corpo e a saúde. Para eles os indivíduos que demonstram uma imagem corporal semelhante aos padrões físicos que a mídia impõe são pessoas consideravelmente saudáveis.
Num segundo momento, pontuamos aos alunos que ele nos respondesse de acordo com o que acreditam, quais pessoas das fotos teriam maior facilidade pela prática de exercícios ou atividades propostas pelo professor.
As respostas que surgiram com hegemonia foram as seguintes:
“O fisiculturista, porque ele se exercita muito e tem muita habilidade e resistência”.
“Fisiculturistas, pois mostram resultados de anos de treino, demonstrando a aptidão a exercícios físicos”.
“Acho que o homem musculoso, pois já está acostumado a praticar atividade física”.
“A pessoa “fortona” pelo seu preparo físico”.
Neste aspecto percebemos que os adolescentes associam a estética do corpo com o alto rendimento, os atletas de fisiculturismo, por exemplo, só conseguiram chegar a esse nível devido aos treinos intensos e disciplina, ao contrário, dificilmente alcançariam tal simetria diferenciada.
Pela análise das respostas dos alunos constatamos que um ser musculoso e forte é altamente capaz de realizar qualquer tipo de tarefa ou exercício físico.
Para Freitas (1999) as determinações dadas ao corpo, que historicamente estão inveteradas na vida dos humanos, radicalizam o processo de reprodução capitalista altamente valorizado pelos consumidores.
O homem forte, ágil, musculoso e belo tende a chamar mais atenção, vende muito mais, são mais procurados, enquanto os corpos “feios”, obesos, anoréxicos não correspondem aos desejos da sociedade produtiva, estes corpos não dão lucro.
Outra questão que consideramos importante que os alunos respondessem é referente às práticas de Educação Física, ou seja, se eles participam ou não das aulas e por quê.
Grande parte dos alunos respondeu que:
“Gosto e participo porque é uma matéria que nos ajuda a saber e conhecer sobre o corpo”.
“Gosto e participo porque através dela posso aprender hábitos saudáveis para serem usados ao longo da vida”.
“Sim, eu gosto e pratico porque me ajuda a manter a boa forma, e uma boa saúde”.
“Gosto porque me ajuda no meu rendimento físico”.
“Sim, eu gosto porque me fazer sentir bem e faz com que eu me exercite para manter meu corpo bem”.
Estas respostas mostram um discurso da educação física voltada a promoção da saúde, pois muitos praticam as aulas já pensando nos benefícios que elas podem proporcionar, eles estão em busca de aperfeiçoamento físico, saúde que está diretamente ligado ao corpo.
Segundo Oliveira (2008) é exatamente esse reducionismo dado ao professor de Educação Física que fortalece o rótulo de “educador físico”, este professor é responsável por educar biologicamente e fisicamente, é este professor que tem o papel de responder às expectativas da anatomia e biomecânica, deixando a importância do trabalho integral, em que se dispõe a educação do ser como um todo.
Tiveram aqueles que mesmo participando das aulas, também mostravam certo desinteresse pela disciplina, devido à discriminação que sofrem durante a prática, alguns alunos responderam que:
“Gosto, mas não participo. Pois meus amigos ficam “zuando” com quem não sabe jogar”.
“Não gosto muito, porque alguns colegas ficam rindo por eu ser gordinha”.
“Não gosto, mas participo porque o professor manda”.
Aptidão física, discriminação
Enfim, propusemos aos alunos que respondessem de acordo com suas idéias, se caso obtivessem o corpo igual a alguma pessoa da imagem, se isso ajudaria ou não nas práticas esportivas.
A maioria dos adolescentes respondeu que:
“Sim, quanto mais saudável e forte melhor para a pratica esportiva”.
“Sim, se eu tivesse o corpo como o da pessoa normal eu conseguiria correr e andar com mais facilidade”.
“Se eu tivesse o corpo mais malhado, como o da fotografia, suponho que isso ajudaria na prática de alguns exercícios, principalmente os que necessitam de força física”.
Mais uma vez identificamos a dialética entre estética corporal, saúde, e desempenho físico, que juntos podem proporcionar maior rendimento, sendo assim, pessoas que não obtêm os mesmos parâmetros corporais teriam obstáculos e dificuldades pela execução de determinados movimentos e atividades físicas.
Considerações finais
Por meio da análise interpretativa dos dados, identificamos que além da distorção de imagem pelos adolescentes, existe também a distorção de identidade da Educação Física Escolar.
Há uma considerável dificuldade na compreensão pelos jovens sobre os significados da disciplina e o papel do docente no processo pedagógico.
O que se pode perceber é que os alunos participantes da pesquisa não conseguem definir quais as funções exatas da Educação Física, ou seja, para que serve a disciplina, quais os princípios, porque se ensinar Educação Física.
Os alunos entrevistados mostraram que a Educação Física Escolar esteve durante muito tempo restrito aos fatores corporais, como se os conteúdos explorados tivessem o intuito unicamente de (re) construir ou melhorar habilidades motoras e capacidades físicas.
Ainda ocorre a formulação errada entre Educação Física Escolar, Educação Física e atividade física, os jovens demonstraram a confiança na Educação Física como suporte para contemplar os benefícios de auto-eficácia, rendimento esportivo e estético.
Consideramos que a ausência de discussões e abertura de debate nas aulas em relação a temas de corpo, hábitos saudáveis, imagem e culto ao corpo tem sido uma das grandes causas pelo olhar distorcido dos jovens sobre si mesmos.
As escolas visitadas não exercitaram durante o período do estudo, temáticas que trouxessem a reflexão sobre corporeidade e os comportamentos da sociedade contemporânea sobre imagem e estética.
Vimos que alguns adolescentes em determinadas questões tiveram preferência pelos corpos normais, ou seja, indivíduos que nem gordas e nem magras.
Porém, num outro momento, na questão em que se perguntam quais desses corpos ajudariam no desempenho nas aulas de Educação Física, muitos alunos responderam os corpos saudáveis, ilustrados pelos famosos da mídia.
Esta confusão de escolha e identificação de deveres reflete uma série de erros causados na própria aula de Educação Física.
A intenção não é reduzir os princípios da Educação Física Escolar, mas problematizar e tentar solucionar possíveis problemas ocorrentes no processo pedagógico, que muitas vezes, limita determinados conhecimentos que são importantes para a aprendizagem completa dos alunos, dentre eles o conhecimento do corpo e os efeitos que este conhecimento pode proporcionar ao longo da vida destes indivíduos.
Sendo assim, se faz necessário um trabalho junto aos sujeitos envolvidos no processo pedagógico, neste caso professor e aluno, uma discussão ampla sobre imagem corporal, padrões culturais, mídia, sem as quais os discursos equivocados reforçarão um projeto de educação física escolar descolado da realidade social dos alunos, cujas questões culturais que seriam mais proeminentes e essenciais ficam em segundo plano.
Este trabalho espera que possa contribuir para a ampliação da discussão sobre o papel da educação física escolar e do professor no processo de formação dos alunos, bem como compor com outros trabalhos da área acerca do tema um referencial para novas análises, discussões e aprofundamentos da Educação Física.
Bibliografia
Aranha, M.L. de A. História da Educação, SP: Moderna, 1996. Pessoti, I. A loucura e as épocas, RJ, Ed. 34, 1994.
Bento, Clovis Claudino; Gonçalves Junior, Luiz. O corpo na mídia e a educação física escolar: a percepção dos alunos da quarta série do ensino fundamental acerca das capas da revista Época. In: 4º Congresso Científico Latino-Americano de Educação Física / 2º Congresso Latinoamericano de Motricidade Humana: Educação Física, Cultura e Sociedade: Contribuições Teóricas e Intervenções da Educação Física no Cotidiano da Sociedade Brasileira, 2006, Piracicaba. Anais... Piracicaba: UNIMEP/FACIS, 2006. v. 1. (CD-ROM).
Castro, Ana Lúcia de. Culto ao corpo e sociedade: Mídia, estilo de vida e cultura de consumo. São Paulo: Annableme, 2003.
Darido, S.C. Andrade Rangel, I.C. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, Educação Física no Ensino Superior.
Freitas, G.G. O esquema corporal, a imagem corporal, a consciência corporal e a corporeidade, Ed. Unijuí, 1999 - Coleção Educação Física.
Oliveira, V.M. O que é Educação Física? SP, Brasiliense, 2008 - Coleção Primeiros Passos, 79.
Santos, A.M. O mundo anabólico: Análise do uso de esteróides no esporte, Ed. Manole, Barueri, SP, 2007.
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