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A relevância do treinamento em espaço reduzido 

para o desenvolvimento da técnica no jogador de futebol

La relevancia del entrenamiento en espacio reducido para el desarrollo de la técnica en el jugador de fútbol

 

Treinador Profissional de Futebol

Professor do Sindicato dos Treinadores do Estado do RS, STPEREGS

Coordenador do Departamento de Atividade Física e Saúde

do Centro Integrado de Saúde CISA

Mestre em Ciências Aplicadas a Atividade Física e Esporte

pela Universidade de Córdoba, Espanha

Cyro Garcia Soares Leães

cyro@cyroleaes.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo de revisão tem o objetivo de verificar a relevância da metodologia de Treinamento em Espaço Reduzido no futebol para o desenvolvimento da capacidade técnica individual do futebolista, segundo autores especializados. A repetição sistemática de ações técnicas desencadeadas pelas atividades da metodologia de treinamento proposta faz com que o jogador de futebol esteja em contato com a bola por repetidos e não padronizados momentos. Isto desenvolve no futebolista a capacidade de assimilação do conhecimento sensório motor e se traduz em uma melhora da técnica aplicada. Pode-se concluir que as atividades do treinamento em espaço reduzido ajudam a desenvolver a técnica individual do jogador de futebol.

          Unitermos: Futebol. Treinamento. Espaço reduzido. Técnica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol, desde a sua criação, sempre foi um esporte adorado por todos e praticado por multidões no mundo inteiro. Sem distinções raciais, religiosas ou sociais, o futebol encanta a humanidade com sua forma toda particular de jogo. O contínuo processo de evolução do futebol nas suas mais diversas ramificações –esquemas táticos, preparação física, regras do jogo– acarretou em diversas mudanças estruturais que fizeram com que o método de treinamento utilizado fosse alterado. Dessa forma, inúmeros sistemas táticos foram criados, cada um com suas devidas variações, assim como diferentes formas de treinamento físico. Sendo assim, o futebol passou a ser um jogo extremamente disputado e exigente nos aspectos físico, tático e criativo, e as equipes passaram a depender cada vez mais da inteligência de seus jogadores. Para tanto, se tornou necessário que os mesmos sejam capazes de tomar decisões rápidas –e certas– durante o período de jogo. Tal autonomia, porém, pode e deve ser estimulada durante o treinamento, através de atividades relacionadas com o jogo propriamente dito e que façam com que o jogador seja obrigado a pensar ao mesmo tempo em que exerce suas respectivas funções dentro do jogo. Para atingir esse objetivo, o uso de atividades em espaço reduzido para equipes de futebol se mostra como uma nova perspectiva metodológica que, paralelamente ao objetivo específico do treinamento –passe, condução, chute, etc.– desenvolve a criatividade nos jogadores, que, como vimos, é fator fundamental no atual futebol moderno. É dentro deste contexto que se justifica este estudo teórico, no intuito de analisar a relevância do Treinamento em Espaço Reduzido para o desenvolvimento da técnica, segundo autores especializados.

Aspectos que influenciam a performance no futebol

    O sucesso do futebolista dentro do campo de jogo não depende única e exclusivamente de sua técnica, tampouco de sua condição física. Existem diversos fatores que influenciam na performance, que é determinada pelo complemento interdependente de várias habilidades, capacidades, técnicas e qualidades.

    Basicamente, o desenvolvimento das qualidades físicas, técnicas, táticas e psíquicas representam a preparação atlética no futebol, eqüipotentes, sendo difícil identificar um elemento mais importante e representativo. Todos, de uma forma geral, podem contribuir decisivamente para a vitória, tanto individualmente quanto coletivamente (Venzon, 1998; p.14).

Capacidades coordenativas

    As capacidades coordenativas são responsáveis pela aprendizagem técnica eficaz, pela descoberta de novos gestos motores e pela habilidade adaptativa de movimentos (Carravetta, 2001; p. 85). A coordenação e a técnica específica do futebol são fatores que, além de diferenciar jogadores, influenciam na sua performance. Ao futebolista não basta ter suas capacidades físicas bem aguçadas se não lhe for desenvolvida a capacidade técnica propriamente dita do futebol. Todos os fundamentos do futebol são capacidades técnicas que possibilitam ao jogador manejar a bola de acordo com as necessidades específicas do jogo. Domínio, condução, passe e chute são os fundamentos básicos do futebol, devendo ser considerados dentro do planejamento de treinamentos. Para tanto, a coordenação é indispensável.

Coordenação

    A coordenação compreende a interação do sistema nervoso central com a musculatura esquelética, dentro de uma seqüência objetiva de movimentos.

    Pode ser classificada em:

    A coordenação é necessária para que se tenha controle sobre situações que requerem reações rápidas, além de propiciar reserva energética e alto aproveitamento motor. Além disso, tem fundamental importância na prevenção de lesões, evitando colisões, tombos, etc. (Weineck, 1999; p. 515).

Domínio

    O domínio é a recepção correta de bola. É através deste fundamento que o futebolista mantém a bola sob seu domínio, possibilitando, assim, o desenvolvimento de outros caracteres fundamentais do jogo. O tempo de domínio da bola se correlaciona positivamente com as chances de vitória.

    O primeiro toque na bola é fator determinante para os jogadores que fazem uma leitura antecipada da jogada, podendo ser transformado no passo inicial de ações ofensivas ou defensivas (Luxbacher, 2003; p. 24). Desse modo, o domínio é um dos aspectos técnicos a serem estimulados e considerados no treinamento.

Condução e drible

    Condução caracteriza o ato de progredir com a bola pelos espaços do campo Esse controle é essencial ao futebolista, e para ser aperfeiçoado, necessita de uma prática sistemática (Glória, 1972; p. 27). É através dela que o jogador está em condições de passar, finalizar, manter a posse de bola ou concluir ao gol adversário.

    Como conseqüência da condução, o drible é uma ação igualmente individual e de grande importância no jogo. É a forma de expressão particular do jogador, traduzindo sua habilidade em mover a bola e mantê-la próxima aos pés, sob pressão adversária (Laufer/Kater, 2001; p. 8).

    Por se tratar de uma ação jogador-dependente, não existem linhas de execução para o drible. Dessa forma, o futebolista deve ser submetido a situações que estimulem o controle da bola e o uso de sua criatividade durante o treinamento.

Passe e chute

    O passe é elo de ligação entre os componentes de uma equipe. Ao efetuar um passe o jogador transfere a bola para seu companheiro, permitindo, assim, que sua equipe mantenha a posse da mesma. Por se tratar da única forma técnica de conexão entre o individual e o coletivo, o passe é o movimento mais importante a ser executado.

    A técnica do passe é semelhante à do chute, sendo diferenciadas apenas pelo objetivo e força aplicados ao movimento. É através do chute que se obtém a máxima do futebol, o gol. O chute é o finalizador das construções ofensivas coletivas, sendo imprescindível para a conquista da vitória.

Treinamento em espaço reduzido

    O treinamento em espaço reduzido é uma nova alternativa metodológica para o treinamento de equipes de futebol. Compreende a transferência de componentes do jogo - sejam eles tático, técnico e psicológico – para atividades coletivas em um pequeno pedaço do campo. É uma proposta que busca potencializar os principais determinantes da performance do futebolista - criatividade e autonomia -, decorrente da inter-relação entre componentes estruturais do jogo (capacidades coordenativas) e os estímulos que influenciam na performance do jogador (capacidades psicológicas).

    Este conceito de treinamento considera o jogador como um ser cognoscitivo, sendo seu desenvolvimento um processo de relação integrada entre técnica e organização coletiva da equipe. Valoriza-se a dimensão cognitiva como fator imprescindível para o rendimento satisfatório competitivo no jogo e sua própria compreensão (Carravetta, 2001; p. 37, 39).

Respostas no desenvolvimento das capacidades coordenativas (técnica)

    As capacidades coordenativas dizem respeito à técnica do jogador. As estatísticas mostram que, em um jogo de futebol disputado em um campo com dimensões oficiais e com duração de 90 minutos, o jogador executa, em média, 50 ações táticas individuais. Tais ações compreendem passe, domínio, condução de bola, desarme, corridas sem bola, etc. Assim, a participação ativa do jogador é manifestada com intervalos passivos de, em média, 1,8 minuto (Godik, 1996; p. 35). A freqüência de participação do futebolista também varia de acordo com o tamanho do campo. Quanto maiores as dimensões, menor será a contribuição ativa do jogador.

    Nas atividades propostas pelo Treinamento em Espaço Reduzido, o índice de participação ativa do jogador aumenta, em função da proximidade com a jogada e do constante envolvimento técnico-tático (Michels). A alternativa de treinamento em um espaço reduzido de campo, além de fazer com que o jogador tenha mais contato com a bola em um período de tempo muito menor, também proporciona aos futebolistas a prática reforçada das movimentações e fundamentos básicos do futebol. Sendo assim, a execução repetitiva e freqüente de diferentes gestos motores contribui para o seu desenvolvimento técnico, ampliando seu repertório motor e respeitando aos princípios da teoria da prática reforçada (Dorin, 1978; p. 156). De acordo com a teoria da prática reforçada (Dorin, 1978; p. 156), este alto índice de participação caracteriza a repetição no treinamento, fator indispensável para o desenvolvimento em potencial das capacidades do atleta.

    À medida que aumenta sua participação, o futebolista evolui tecnicamente, conseqüente a maior exposição a situações de chute, passe, drible, domínio e condução, manifestadas de diferentes formas e em diferentes momentos do treinamento. Segundo Michels, essa alternância de estímulos desencadeia o desenvolvimento da coordenação do jogador, fundamental para a execução rápida e satisfatória dos fundamentos básicos do futebol.

    A alto índice de contato com a bola induz o jogador às tomadas de decisão. Com efeito, a proporção de erros é maior, e o jogador se encontra obrigado a buscar soluções e métodos alternativos para o acerto. Dessa forma, paralelamente ao seu desenvolvimento técnico, o futebolista desenvolve sua capacidade de raciocínio e exercita sua capacidade de autonomia.

    A repetição sistemática contribui para o processo de aprendizagem. Dessa forma, ao ser submetido constantemente a atividades que promovam uma sucessiva repetição de movimentos não-padronizados e específicos do futebol, o futebolista estará, simultaneamente, condicionando-se ao dinamismo do jogo (relação entre as ações envolvidas no futebol e sua velocidade de execução) e desenvolvendo-se tecnicamente.

Conclusão

    Conclui-se, então, que o Treinamento em Espaço Reduzido contribui para o desenvolvimento das capacidades coordenativas (técnica), pois abastece o jogador com a demanda diversificada de estímulos não-padronizados que caracterizam a repetição necessária para o aprendizado. Com efeito, o futebolista evolui tecnicamente e, através do jogo, tende a melhorar sua percepção e sua capacidade de reconhecer situações, buscando soluções acertadas e analisando fatos presentes e até mesmo prevendo fatos futuros. Isto faz com que o Treinamento em Espaço Reduzido seja uma metodologia eficaz para o desenvolvimento técnico do jogador e sua evolução dentro de desporto.

Referencias bibliograficas

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