Trabalhador: valorização da segurança e a integridade da saúde física e mental Valorización de la seguridad y la integridad de la salud física y mental del trabajador |
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Faculdade de Educação Física Departamento de Ciências do Esporte Universidade Estadual de Campinas Cidade Universitária Zeferino Vaz |
Profa. Dra. Mariângela Gagliardi Caro Salve (Brasil) |
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Resumo Este artigo aponta os motivos e os fatores de riscos que tem causado as doenças e os acidentes no trabalho. São sugeridas as medidas de controle como: a importância da qualidade de vida no trabalho (QVT), programas de promoção a saúde do trabalhador, como a adoção da pratica da atividade física, reestruturação do ambiente e adaptações de equipamentos de trabalho. São medidas, que aplicadas conjuntamente, são fundamentais para a integridade física e mental do trabalhador. Unitermos: Trabalhador. Fatores de risco. Medidas de controle.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
A partir da segunda metade da década de 50 e no transcorrer dos anos 60 observa-se mudança de um perfil essencialmente rural da sociedade brasileira para um predominantemente urbano, devido a industrialização do país, levando ao desenvolvimento acelerado de pólos industriais e a instalação da indústria automobilística. Na década de 70, aceleram-se a instalação da indústria de bens de capital e os investimentos em infra-estrutura de transporte, comunicação e energia, bem como, foram implantadas indústrias de alta tecnologia, como: bélica, aeronáutica, informática e a nuclear.
Assim, os novos fatores sistêmicos que surgiram nesta época foram e ainda são responsáveis pelo aumento de acidentes de trabalho, tais como: a) mudanças nas técnicas de produção e organização social de trabalho, b) dificuldade de adaptação cultural do indivíduo migrante da atividade rural para atividade industrial, tendo que enfrentar um novo espaço de trabalho com tecnologias desconhecidas, transporte e moradias diferentes de sua origem. C) modificação brusca na rotina de horário de trabalho, devido escalas de turno e interrupções para treinamentos e d) outros tantos fatores lesivos como aumento de ruído, alimentação inadequada, falta de opção de lazer, poluição ambiental, estresse por violência urbana, etc. (1)
Assim, na tentativa de fazer a máquina humana ser tão eficiente quanto às máquinas industriais o homem foi e é submetido a condições supra-humanas de rendimento, gerando males e doença, tais como: os acidentes, as doenças do trabalho e os novos estilos de vida(1).
2. Acidentes e doenças do trabalho
Devido aos fatores, sejam elas, histórico, organizacional, estilo de vida, os trabalhadores estão adoecendo e acidentando. Observa-se que há doenças profissionais, aquelas que apresentam relação nítida com o trabalho, sendo a categoria do tipo II, inerentes aos indivíduos que desenvolvem alguma atividade produtiva, que é a causa inequívoca da doença e as doenças relacionadas ao trabalho, que são aquelas que não existem pressuposto da inerência, sendo o trabalho assumido como co-fator na etiologia da doença chamada de categoria tipo III(1,2).
A associação das inovações tecnológicas, do processo de produção com a incorporação sistemática da tecnologia, com os novos métodos gerenciais gerou uma intensificação do trabalho, resultando num aumento do ritmo, das responsabilidades e da complexidade das tarefas, que se traduziram em: envelhecimento prematuro, aumento do adoecimento e morte por doenças cardiovasculares e outras doenças crônico-degenerativas, especialmente as osteomusculares (Dort) relacionadas ao trabalho conhecidas também como lesões por esforços repetitivos (LER) , além de um conjunto de sintomas na esfera psíquica (2).
Pode-se dizer que as doenças profissionais podem ser totalmente evitadas, como vem ocorrendo em países desenvolvidos que zelam pela integridade física e psíquica de seus empregados.
3. Fatores do adoecimento do trabalhador
Uma questão importante da sociedade moderna tem sido a redução do gasto calórico com a diminuição da demanda energética no cotidiano do trabalhador gerando sobrepeso e obesidade, conseqüentemente fadiga precoce e limitação de movimento. A fadiga gera sintomas como: irritabilidade com comportamento anti-social e intransigência.
Neste contexto encontra-se a hipertensão arterial onde são apontados os seguintes fatores de riscos: obesidade, tabagismo, álcool, sedentarismo e fator psicológico como o estresse. Nas taxas mais altas de hipertensão estão os indivíduos das camadas superiores do setor secundários e terciários enquanto as mais baixas ocorrem nas camadas sociais inferiores dos mesmos setores de assalariados, autônomos e biscateiros de médio ou baixo grau de educação(2).
Outro agravante que além do trabalho sedentário, resultante de uma redução expressiva de sobrecarga, em termo da demanda física global, há em muitas situações o acúmulo de sobrecargas com os movimentos repetitivos, monotonia, trabalho muscular estático, posturas inadequadas em ambiente inapropriado, gerando prejuízos nas estruturas corporais e mentais, como indisposição, sonolência e insatisfação (3).
Pode-se enfatizar que a falta de atividade física é considerada como a causa de inúmeros danos à saúde e tem como conseqüência, direta e indireta, o aparecimento de doenças, tais como obesidade, doença arterial coronariana, ansiedade, depressão e desconfortos músculo-esqueléticos(4).
A postura inadequada, outro fator importante ao analisar a saúde do trabalhador, é uma realidade assumida em diferentes cargos e funções, devido a inapropriação da ergonomia no ambiente e instrumento de trabalho, originando importantes problemas posturais e acidentes (5).
As afecções do aparelho locomotor constituem importante causa de morbidade e incapacidade de adultos neste grupo estão incluídas as dores de coluna (dor lombar, lombalgias, dores nas costas e outros, as osteoartroses, as cervico-branqui-branquilagias, tenossinovites e peritendinites, entre outras (2).
A repetividade de movimento e a fadiga, características do trabalho contemporâneo, tanta física como mental, tem causado absenteísmo, incapacidade temporária ou permanente de trabalho, invalidez e aposentadoria precoce (6).
Outro agravante, é que em certos ramos profissionais, pode-se citar o caso da construção civil, comércio e em bancas de jornal, não existem sanitários e refeitórios nos estabelecimentos o que geram constrangimento e desconforto por parte dos trabalhadores, pois estes têm que recorrer a outros estabelecimentos comerciais, não tendo condições que possam lavar as mãos, escovar os dentes, não tendo recursos mínimos para a higiene pessoal e conforto.
O estresse é um problema enfrentado pelos trabalhadores, em doses excessivas, intensas e prolongadas, trazem problemas psicológicos e físicos. Há situações que levam a falta de controle que podem interferir na vida diária, levando a perda de conhecimento e de relacionamento. Manifestações como insônia, dores corporais, problemas estomacais, irregularidades menstruais, ansiedade, depressões, surgem ou agravam seriamente. O sistema imunológico é o mais afetado nessas situações, por ocorrer a liberação de substância denominada glucocorticóides, que está associado a uma sensível diminuição da capacidade de defesa do sistema imunológico, aumentado riscos de infecções (4).
O excesso de estresse, ainda causa, desatenção, deterioração da memória e o crescimento do índice de erros. No aspecto comportamental o trabalhador pode recorrer ao uso de drogas e de álcool, levando a queda nos níveis de energia, alterações nos padrões de sono podendo levar o indivíduo a tentativa de suicídio (8).
Nessas situações os músculos ficam tensos e contraídos, a respiração torna-se profunda e rápida, aumenta a freqüência cardíaca, há aumento da pressão arterial, do açúcar, das gorduras, ocorre a contração dos vasos sangüíneos, interrupção temporária da digestão, estimulação da glândula tireóide e da secreção salivar e a percepção sensorial torna-se mais aguda. Assim, quando ocorre tensão nervosa no trabalho surgem situações de agressividade, frustração e diversas doenças como: hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, derrames cerebrais, câncer, úlceras e depressão (7).
Os desvios da saúde mental devido a atividade laboral estão psicose: esquizofenia, (psicose maníaco-depressiva, psicose-senil, psicose-orgânica) psicose psiconeuróticos (estado de ansiedade, depressão e o outros) e o estresse contribui significante no peso da morbidade da população em geral(2).
Os fatores como vapores, gazes irritantes (dióxico de nitrogênio, ozone, fosgênio e outros), fumos metálicos (cádmiio, zinco e ferro) e poeiras são os responsáveis pelos surgimentos e agravamento de doenças respiratórias crônicas como a bronquite crônica, efisema pulmonar e a asma que estão relacionadas com o trabalho (2).
Há também casos que os trabalhadores são expostos ao excesso de poluição visual, devido aos cartazes, pôsteres e o próprio material trabalho, bem como, poluição auditiva, devido aos ruídos dos automóveis, ônibus, motocicletas, buzinas, sirenes, televisores, e outras fontes, com diversas amplitudes e freqüências.
Já alguns trabalhos mencionam a influência do barulho excessivo, de vibrações localizadas e de corpo inteiro como também exposição excessiva de calor.
Ocorrem situações em que os trabalhadores são expostos aos agentes químicos, insalubres, as radiações UVA e UVB e aos ambientes com temperaturas inapropriadas, causando queimaduras solares, envelhecimento cutâneo, herpes, câncer, desconfortos, exaustão, fadiga de calor, desidratação e choque térmico (2).
4. Medidas de controle
Especificamente o enfoque sobre a promoção da saúde e do bem estar no local de trabalho intensificou-se a partir dos anos 80 com iniciativas às melhorias das situações e a ampliação de benefícios através de assistências à saúde, ergometria e a prevenção de acidentes (1).
Já no século XX várias pesquisas foram desenvolvidas para atender a satisfação do indivíduo no trabalho. Tais estudos tiveram como foco principal a questão do comportamento humano, a motivação para a obtenção de metas organizacionais e o enfoque da qualidade de vida do trabalhador (2).
Diante desse enfoque são desenvolvidas ações que visam à saúde do trabalhador por multiprofissionais às vítimas de doenças ocupacionais, de doenças relacionadas ao trabalho e de acidentes de trabalho. Inclui-se nessas ações diagnóstico, identificação, tratamento, recuperação e reabilitação, bem como a vigilância de ambientes de trabalho e prevenção de riscos.
Costuma-se utilizar o termo Qualidade de vida no trabalho (QVT) que é uma terminologia que tem sido largamente difundida nos últimos anos, inclusive no Brasil (8).
As interpretações de QVT vão desde o enfoque clínico de ausência de doenças no âmbito pessoal até as exigências de recursos, objetos e procedimentos de natureza gerencial e estratégias gerenciais.
As promoções de saúde em locais de trabalho compreendem todas as medidas conjuntas assumidas por empregadores, empregados e pela sociedade para melhorar a saúde e o bem estar de pessoas no trabalho. As ações envolvem comportamentos individuais e condições de trabalho (9). Portanto, trata-se de um trabalho multidisciplinar.
Segundo Cinborra e Lanzra (10) existem varias definições sobre qualidade de vida no trabalho ora está associada às características intrínsecas das tecnologias ora aos elementos econômicos como salários, investimentos, abonos ou ainda ligada aos fatores físico e mental ou a segurança. A qualidade de vida no trabalho é determinada por fatores psicológicos como o grau de criatividade, flexibilidade dos trabalhadores ou por fatores organizacionais e políticos como a quantidade de controle pessoal sobre o posto de trabalho ou a quantidade de poder que os trabalhadores podem exercitar a partir de seu posto de trabalho.
Dos elementos que explicam a definição e a concretização da qualidade de vida no trabalho é o controle da autonomia e o poder dos trabalhadores sobre o processo do produtivo, envolvendo os aspectos da saúde, segurança e as relações com a organização no trabalho. Espera-se que as condições, ambientes e organização do processo de trabalho devem respeitar a individualidade do trabalhador (9).
Refere-se como medidas de promoção à saúde a combinação de educação em saúde e programas com intervenções a fim de promover mudanças de comportamentos e adaptações para melhorar ou proteger a saúde. As iniciativas de bem estar e qualidade de vida apresenta uma abordagem mais holística voltadas ao bem estar físico, mental e social (11).
Portanto, as iniciativas que estão relacionadas aos serviços de medicina preventiva aos funcionários e dependentes, são compostas por ações com intervenções primárias e secundárias para dar suporte à melhoria da saúde (11).
Walton(12) propõe oito categorias conceituais incluindo os critérios de QVT, são eles: compensação justa e adequada, condições do ambiente de trabalho, uso e desenvolvimento de capacidades, oportunidades de crescimento e segurança, integração social na organização, constitucionalismo, relação do trabalho no espaço total de vida e a relevância social do trabalho na vida.
As ações englobam programas educativos e palestras abordando questões como: alimentação saudável, os malefícios de uma vida sedentária, ingestão adequada de água, alimentação saudável, refeições equilibradas, considerando a situação de trabalho/ esforço despendido, posturas apropriadas, instruções de técnicas sobre o uso de técnicas apropriadas para evitar lesões como levantamento de cargas pesadas.
Neste contexto, torna-se a empresa responsável em oferecer chapéu, capacetes, sapatos, luva e para os que trabalham em céu aberto o uso de roupas claras, bem como de uniformes adequados, permitindo sempre ventilação natural e o equilíbrio térmico corporal. Nos ambientes de trabalho são necessários a existência de bebedouros, baixos níveis de ruído, iluminação e ventilação apropriada.
Recomenda-se o planejamento ou replanejamento do ambiente de trabalho, do espaço, da mobília ajustável ao funcionário, de acordo com as tarefas e as medidas antropométricas do funcionário. Adaptações dos equipamentos e ferramentas. São medidas para reduzir os níveis de desconforto físico, fadiga, promover posições de maior vantagem biomecânica para os segmentos corporais e aumentar o desempenho e a produtividade (13).
Acompanhamentos e exames médicos são importantes, principalmente, para os funcionários da construção civil e os que trabalham com chumbo em fábricas de baterias.
As pausas durante o expediente do trabalho são fundamentais, estas podem ser passivas como tomar um cafezinho, fazer relaxamento ou ativas, como a prática da atividade física (5).
A implantação de programa de atividade física é um dos recursos fundamentais que facilita a integração entre os funcionários, redução do absenteísmo, de custos médicos, de acidentes de trabalho, de danos industriais, de estresse, bem como o aumento da proteção psicossomática, da satisfação, da motivação, prevenção de traumas acumulativos e outros.
Os programas de promoção à Saúde no local do trabalho integram um processo de gestão voltado à obtenção de melhores resultados financeira. A avaliação dos investimentos com o desenvolvimento de programas e mudanças de comportamento dos funcionários de uma determinada empresa ainda é um desafio nos dias atuais (13).
Pode-se concluir que diante dos vários fatores de riscos aos trabalhadores, existem medidas que devem ser adotadas pelas empresas que visam a saúde e qualidade de vida do trabalhador. É importante pensar que o trabalhador não é uma máquina ou uma ferramenta, mas é um ser humano que necessita de cuidados, carinho e atenção. Muitos precisam receber informações e instruções da melhor maneira de se cuidar e de trabalhar. Também é importante que a empresa avalie o ambiente e os instrumentos de trabalho. Enfim, são medidas fundamentais para o sucesso da empresa e do trabalhador.
Referências
Wusch Filho, V. Variações e tendências na morbi-mortalidade dos trabalhadores. In: Velhos e Novos Males da Saúde no Brasil (C. A. Monteiro, org.), pp. 289-330, São Paulo: Hucitec/Nupens, 1995.
Mendes R. O impacto dos efeitos da ocupação sobre a saúde os trabalhadores. Rev. Saúde públ., S. Paulo, v.22, n.4, p.311-26,1988.
Dias, E.C. A organização da atenção à saúde do trabalhador. In: Ferreira Filho, M. (Org.). Saúde no trabalho. São Paulo: Rocca, 2000.
Nahas, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001.
Salve, M.G.C. Efeitos da atividade física no sistema locomotor e nos hábitos de vida. [Tese de doutorado-Programa de Pós-Graduação em Ciências do Desporto]. Campinas, Universidade Estadual de Campinas, 2004.
Mendes, R Dias EC. Da Medicina do trabalho a saúde do trabalhador. Rev. Saúde Publi., São Paulo, v.25, n.3, p.341-9, 1998.
Fontana, D. Estresse. São Paulo: Saraiva, 1991.
Limonge-França AC, Arellano EB.Qualidade de vida no Trabalho. In: Fleury MTL. As pessoas na organização. São Paulo editora Gente, 2006.
Lacaz FA de C., Qualidade de vida no trabalho e doença. Saúde & Saúde Coletiva, n. 5, v.1, p. 151-161, 2000.
Ciborra C & Lanzara GF (orgs.). Progettazione delle Tecnologie e Qualita del Lavoro. Franco Angeli Editore, Milão. 330 pp. 1985
Silva TTR. Considerações sobre os aspectos relacionados a promoção a saúde e bem estar no local do trabalho nos últimos 20 anos. In Vilarta, R Gutierrz GL, Monteiro ML. Qualidade de vida: evolução dos conceitos no Século XXI. Campinas: Ipês, 2010, p.179-185.
Walton RE Quality of working life: What is it. Slow Management Review, v.02, n. 1,p. 11-21, 1973.
Salve, MGC; Theodoro PFR. Saúde do trabalhador: a relação entre ergonomia, atividade física e qualidade de vida. Salusvita, Bauru, v. 23, n. 1, p. 137-146, 2004.
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