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Qualidade de vida na terceira idade: um olhar sobre a dança

Calidad de vida en las personas de la tercera edad: una mirada sobre el baile

 

* Professor do Instituto Federal do Mato Grosso, Campus Cáceres

Mestrando em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Cruzeiro do Sul

**Professora de Educação Física

(Brasil)

Roberval Pizano*

Graciela Aparecida Neves**

Taciana Aparecida Pizano Sartori**

robervalpizano@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Esta pesquisa tem por objetivo verificar a contribuição da dança na promoção da qualidade de vida dos idosos, buscando compreender qual a sua influência, importância e contribuição na qualidade de vida na terceira idade. A prática de atividade física regular traz muitos benefícios para a saúde, contribuindo com maior longevidade e com melhor qualidade de vida. A dança é uma atividade física que pode ser indicada para os idosos, pois tem grande aceitação e traz muitos benefícios nos aspectos físicos, psíquicos e sociais. Optando por uma abordagem qualitativa, a coleta de dados foi realizada por meio de entrevista utilizando um questionário semi-estruturado e escala para avaliação do bem- estar subjetivo indicado pela satisfação global com a vida. A amostra foi constituída de 28 sujeitos com faixa etária entre 60 a 83 anos, freqüentadores com mais de seis meses e ativamente da dança no Projeto Conviver CRASII (Centro de Referência da Assistência Social), de Cáceres-MT. Com relação às mudanças que ocorreram em suas vidas após o início da dança, 36% citaram que são mais felizes, 54% disseram que a dança contribui com a melhoria da saúde. A pontuação na escala de satisfação com a vida indicou que 75% dos participantes consideram ter a melhor vida. A dança contribui para percepção de felicidade dos idosos e contribui para melhoria da qualidade de vida, auxilia e contribui na promoção da saúde, melhorando a auto-estima e as relações sociais..

          Unitermos: Dança. Atividade física. Idoso.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O processo de envelhecimento populacional constitui uma grande preocupação na sociedade contemporânea, pois nem sempre esse processo vem acompanhado de qualidade de vida. Todavia, muito tem se estudado sobre a importância da atividade física regular no processo de busca pela qualidade de vida na terceira idade (TODARO, 2001; LEAL e HASS, 2006). Entre os benefícios da atividade física, podemos destacar: melhor resistência orgânica geral, aumento da circulação sanguínea, aumento da flexibilidade, manutenção e aumento da densidade óssea, aumento da força muscular, auxilio no controle de diabetes, da hipertensão, doenças cardíacas, alguns tipos de câncer, diminuição da depressão, controle do estresse, entre outros, desta forma contribuindo para promoção da saúde e manutenção da capacidade funcional dos idosos, pois melhora a velocidade ao andar, melhora o equilíbrio (MATSUDO et al, 2001). Porém, nem sempre o exercício físico sistematizado é encarado como atividade prazerosa, o que afasta muitos indivíduos de sua prática.

    Como alternativa, a dança pode ser considerada uma importante prática de atividade física, pelos seus benefícios não somente fisiológicos e motores, mas também por proporcionar melhora na autoestima, nos relacionamentos sociais, nos aspectos psicológicos, afetivos, na manutenção da autonomia e confiança do idoso.

    O fato de idosos descreverem as melhoras que sentem após iniciar um programa de atividade física nem sempre poderem ser medidas através de exames laboratoriais ou físicos, nos traz a subjetividade como um dado importante que deve ser considerado e medido.

    Desta forma, esse estudo tem como objetivo verificar a contribuição da dança na promoção da qualidade de vida dos idosos e analisar qual é o significado da dança na vida destes indivíduos.

Metodologia

    Neste estudo buscou-se evidenciar o caráter mais subjetivo, pois é através da percepção dos idosos que iremos alcançar os objetivos propostos.

    A coleta de dados foi realizada, por meio de entrevista utilizando um questionário semi-estruturado com perguntas fechadas e abertas, uma escala para avaliação do bem-estar subjetivo indicado pela satisfação global com a vida. Este instrumento abordou dez pontos onde a pior vida foi representada pela pontuação 1 e a melhor vida foi representada pela pontuação 10, dentre os quais os indivíduos assinalaram aquele que representou a sua satisfação global com a vida no momento. Este questionário foi uma adaptação do instrumento proposto por Cantrill, em 1967, realizada por Neri (1998).

    Os idosos foram convidados a participar da pesquisa e após explicação e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, iniciou a entrevista utilizando-se do questionário como roteiro. Foi observada a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde- Ministério da Saúde, que dispõe sobre pesquisas que envolvem seres humanos.

    As entrevistas foram realizadas no Projeto Conviver no CRAS II (Centro de Referencia da Assistência Social), que atende uma vez por semana idosos de diversos bairros da cidade de Cáceres-MT. Em um salão, ao lado do salão de baile, os idosos responderam as perguntas com duração variando de 25 a 40 minutos por indivíduo. No local permaneceram apenas o entrevistador e o entrevistado e todas as entrevistas foram efetuadas pelo mesmo pesquisador que buscou manter o caráter de informalidade e naturalidade para evitar constrangimento por parte dos entrevistados.

    A amostra foi constituída de 28 indivíduos, sendo 10 do sexo masculino e 18 do sexo feminino, com faixa etária entre 60 a 83 anos, participantes assiduamente há mais de seis meses das atividades de dança.

    Após a realização das entrevistas, as informações coletadas foram tabuladas pela frequência das respostas, e posteriormente analisadas e discutidas.

Resultados

    Nos meses de setembro e outubro de 2009, 28 idosos foram entrevistados e conforme a tabela 1 foi constatado a prevalência da participação de mulheres. Com relação a faixa etária, houve o prevalência dos entrevistados que se encontram com idade entre 60 a 69 anos (64%) (tabela 1). Com relação ao estado civil, houve maior número de viúvos com 43%, seguidos pelos divorciados com 25%.

Tabela 1. Descreve o sexo, idade e estado civil dos participantes da pesquisa, no Projeto Conviver. - Município de Cáceres, MT / 2009

    Quanto ao tempo que participam do Projeto (figura 1), a maioria dos entrevistados participa há bem mais de três anos (85%).

Figura 1. Descreve o tempo que os idosos participam dos encontros do Projeto Conviver. Município de Cáceres, MT / 2009

    A respeito do motivo que levaram os idosos a participarem da atividade da dança (figura 2), 33% dos participantes responderam que buscavam para diversão, seguida por 24% que responderam por motivo de saúde.

Figura 2. Descreve o motivo dos idosos participarem do Projeto Conviver. Município de Cáceres, MT, 2009

    A figura 3 mostra que 75% dos participantes estão satisfeitos com sua própria vida, assinalando o número 10. A grande maioria considera, de uma forma geral, que tem uma boa vida, sendo que a grande maioria (75%) considera total satisfação.

Escala Satisfação global com a vida

Figura 3. Escala para avaliação do bem-estar subjetivo indicado pela satisfação global com a vida. Município de Cáceres, MT, 2009

Discussão

    A predominância da participação de mulheres no projeto pode ser explicada por haver maior número de mulheres idosas em nossa população. De acordo com dados do IBGE (2002) as mulheres vivem mais, sendo a diferença entre homens e mulheres em 1991 de 7 anos e 2 meses. Já em 2000, a diferença foi de sete anos e 9 meses. Outra hipótese a ser considerada, é que as mulheres se preocupam mais com a saúde do que os homens, por isso buscam participar de projetos e festividades que possam contribuir com sua qualidade de vida. A predominância de viúvos na maioria dos idosos (79%) é uma realidade da maioria dos grupos de convivência, servindo como refúgio para esses idosos que participam desses grupos para afastar a solidão e ocupar o tempo livre.

    Com relação a assiduidade, 86% participam há mais de 3 anos, e constata-se o grande interesse e vontade que os idosos demonstram em participar da dança, pois ali é um espaço que eles reconhecem como deles. De acordo com Todaro (2001, p.84), a participação dos idosos nesses grupos leva a construção de um envelhecer saudável, pois, após começarem a participar de algum grupo, ocorrem mudanças positivas na vida dessas pessoas.

    Sobre o motivo de participação nas atividades da dança, as respostas indicam predominância no processo de socialização, sejam elas na busca por atividades de lazer coletivo ou pelas amizades, totalizando juntas 53% das respostas. A socialização é muito importante nessa fase, pois muitos moram ou ficam sozinhos e o sentimento de solidão e de inutilidade aflige a vida dos idosos. Caldas (1998, p.28), “revela que os idosos têm necessidade de participar das atividades de lazer para não se sentirem sozinhos”. Outro resultado interessante do estudo se trata da busca por melhoras na saúde (24%), que expressa que ¼ dos indivíduos entendem a dança como uma atividade física que traz contribuições para o viver saudável na terceira idade. Outros 21% dos participantes relataram que o motivo foi que sempre gostaram de dançar desde jovens , sendo que muitos destes tiveram que interromper essa atividade pelas responsabilidades com o lar e o trabalho, podendo retomar novamente essa prática na terceira idade, pois essa atividade sempre lhes causou grande alegria e prazer em realizar.

    [...] tem muita importância, quando eu to aqui dançando eu nem lembro que tenho casa [...] (depoimento de participante de 65 anos)

    Com relação a escala de satisfação, de forma geral, os idosos foram questionados a respeito da vida em seus vários aspectos e um dado interessante é que nenhum dos participantes assinalou abaixo do pontuação cinco ou disse que considerava ter a pior vida, fato que reafirma que eles estão felizes com a vida que têm. De acordo com Diener (2000), “a satisfação com a vida é um dos indicadores de bem-estar, geralmente definido como se tendo uma boa vida e sendo feliz.” O bem-estar subjetivo abrange a avaliação, cognitiva ou afetiva, que o indivíduo faz sobre a sua vida de uma forma ampla. Tais condições, podemos constatar em algumas falas:

    [...] aqui eu me distraio muito, é um divertimento muito grande, eu gosto muito [...] ( idoso – 71 anos)

    [...] é tudo pra mim [...] (idoso – 80 anos)

    Sendo assim podemos constatar que a dança é uma atividade física que proporciona prazer e felicidade para seus praticantes, contribuindo como um importante instrumento para combate ao sedentarismo e promoção da qualidade de vida, principalmente para indivíduos idosos.

Referências bibliográficas

  • CALDAS CP. A saúde do idoso: a arte de cuidar. Rio de Janeiro: EdUERJ; 1998.p.28.

  • CANTRIL H. The pattern of human concerns. New Burnswick: Rutgers University Press. 1967

  • DIENER E. "Subjective well-being:the science of happiness and a proposal for a national index". American Psychologist. 2000;55(1):34-43.

  • IBGE. Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil 2000/IBGE. Rio de Janeiro: Departamento de População e Indicadores Sociais, 2002.

  • LEAL IF, HAAS AN. O significado da dança na terceira idade. In: Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano.2006:64-71.

  • MATSUDO, SMM. Envelhecimento e Atividade Física. Londrina: Midiograf; 2001.

  • NERI, A. L. "Escala para avaliação de satisfação na vida referenciada a domínios". Manuscrito não publicado. Universidade Estadual de Campinas, 1998.

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