Prevalência de lesões no joelho em atletas amadores de futsal Prevalencia de lesiones en la rodilla en jugadores aficionados de futsal Prevalence of knee injuries in amateur players futsal |
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*Especialistas em Treinamento Desportivo pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia (ESEFFEGO) **Doutora em Ciências Biológicas pela UFMG Professora Adjunta da Universidade Estadual de Goiás (UEG) |
Ederson Barbosa Nascimento* Max Vinícius Batista Rodrigues* Lílian Fernanda Pacheco** (Brasil) |
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Resumo O presente estudo teve como objetivo analisar a incidência de lesões no joelho em atletas amadores de futsal, visando estabelecer a prevalência de lesões nestes jogadores. Esta pesquisa foi direcionada para participantes da 29ª Copa SESC de futsal do estado de Goiás/Brasil, devido ao fato de se caracterizarem como jogadores amadores deste esporte. Após aceitarem participar da pesquisa e assinarem o TCLE, os jogadores foram entrevistados antes do início dos jogos do campeonato. A grande maioria dos participantes é jovem com idade entre 20 e 25 anos, praticante de futsal há mais de 10 anos, com IMC dentro da faixa de normalidade e vêem o futsal como uma atividade de caráter recreativo. Dos atletas participantes dessa pesquisa, 85,71% praticam aquecimento e alongamento antes das partidas e 87,14% nunca sofreram lesão no joelho. Tais características deste grupo favoreceram a baixa prevalência de lesões no joelho (12,86%) mesmo sendo os indivíduos caracterizados como amadores e, portanto, sem o preparo físico e técnico específicos de atletas profissionais. Unitermos: Jogadores amadores. Futsal. Lesões. Joelho.
Abstract
This study aimed to examine the incidence of knee injuries in amateur
soccer, aiming to establish the prevalence of injuries in these players. This
research was directed towards the participants of the 29th Futsal SESC of
Goiás/Brazil, due to the fact they are characterized as amateur players of this
sport. After taking part in the study and signing the informed consent (IC), the
players were interviewed before the start of league games. The vast majority of
participants are young, aged between 20 and 25 years, practicing futsal for over
10 years, with BMI within the normal range and see the futsal as a recreational
activity of character. Athletes participated in this research, 85.71% practice
warming up and stretching before matches and 87.14% have never suffered a knee
injury. Such characteristics of this group favored the low prevalence of knee
injuries (12.86%) even though the individuals characterized as amateurs and,
therefore, without the specific technical and physical preparation of elite
athletes.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Futebol de Salão (Futsal) é uma modalidade esportiva que vem crescendo e se desenvolvendo muito. No Brasil é um dos esportes mais difundidos e praticados, jogado por mais de 12 milhões de pessoas. A seleção brasileira de futsal é a maior detentora de títulos do planeta, o que torna mais fácil o interesse da população para esta modalidade esportiva (MOREIRA et. al., 2004). O futsal tem características que acabam contribuindo para um número maior de lesões, já que é uma modalidade esportiva onde a movimentação em quadra requer súbita aceleração e desaceleração com brusca mudança de direção, expondo as estruturas osteomioarticulares de seus praticantes a grandes impactos. Esses fatores têm um peso ainda maior para atletas amadores que não contam com um preparo físico e técnico adequado.
Além das características próprias desse esporte, o Futsal é uma das modalidades esportivas mais praticadas em todo o mundo, o que faz com que sejam necessárias investigações sistemáticas sobre a incidência de lesões (RIBEIRO e COSTA, 2006). No futsal há a predominância de habilidades e qualidades físicas relacionadas à resistência aeróbia, anaeróbia alática e lática, resistência muscular localizada, potência, tempo de reação, flexibilidade e velocidade, bem como coordenação, agilidade e velocidade de reação (ALEXANDRE et al., 2008). Neste esporte, a principal solicitação motora é a de membros inferiores, sendo o joelho a principal articulação requisitada durante o jogo.
Segundo Camanho (1996) a partir de traumas e desequilíbrios musculares sofridos em decorrência de práticas esportivas são desenvolvidas a maioria das patologias de joelho. Para Arena e Carazzato (2007), as lesões mais comuns ocorridas nestas práticas são as entorses e luxações, fraturas e contusões. No entanto, a ocorrência de cada um deles depende da atividade realizada no momento da lesão, da energia do trauma e do excesso de uso (ROSA e ZABOT, 2008).
Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi investigar a prevalência de lesões no joelho em atletas amadores de futsal que participaram da 29ª Copa SESC de Futsal do estado de Goiás/Brasil.
Material e métodos
Participantes
Para coleta dos dados foi realizada entrevista com 70 participantes, todos do sexo masculino e jogadores amadores de futsal participantes da 29ª Copa SESC de Futsal do estado de Goiás. Os participantes tinham idades que variavam de 16 a 43 anos, sendo que a maior prevalência era de 20 a 25 anos.
Procedimentos
Todos os 150 jogadores inscritos na 29ª Copa SESC de Futsal do estado de Goiás foram convidados a participar da pesquisa. Os procedimentos e objetivos desse estudo, bem como os cuidados éticos necessários, foram apresentados oralmente aos jogadores e também através da leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No entanto, apenas 70 jogadores aceitaram participar da pesquisa. Estes, após a assinatura do TCLE foram entrevistados. A entrevista foi realizada com um rol de 14 perguntas visando obter informações a respeito das características dos jogadores, como peso e altura para cálculo do índice de massa corporal (IMC), tempo de prática, freqüência, duração e preparo para atividade; assim como o histórico de lesões que poderiam apresentar. A entrevista e a coleta de dados foram realizadas na unidade do SESC Campinas de Goiânia (GO)/Brasil, durante os jogos do referido campeonato.
Questões éticas que envolvem a pesquisa
A elaboração da pesquisa foi baseada nas diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo seres humanos (Resolução 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde) que assegura os direitos do sujeito em participar da pesquisa sem causar danos ou prejuízos, proporcionando ao participante autonomia diante do estudo, confidencialidade nos dados pessoais, bem como respeito à sua dignidade.
Resultados e discussão
A idade dos participantes variou de 16 a 43 anos, sendo que 17,14% tinham menos de 20 anos, a maioria , ou seja, 51,43% tinham entre 20 e 25 anos e 31,43% tinham mais que 25 anos. Esta ampla faixa etária encontrada nos jogadores da 29ª Copa SESC do estado de Goiás pode ser justificada pelo fato de que a prática deste esporte não requer um biótipo específico, podendo ser praticado por pessoas altas ou baixas, gordas ou magras; o fato de poder ser praticado em locais pequenos, como escolas, diferente do futebol de campo; e não sofrer influência dos fenômenos da natureza, tais como chuva e frio (WALTRICK, 2004).
Para se avaliar o índice de massa corporal (IMC) os entrevistados tiveram seu peso e sua altura avaliados. O IMC tem sido uma boa medida para se determinar o padrão nutricional dos indivíduos (MCARDLE et. al., 2003). Para se calcular esse parâmetro é usado a seguinte formula: IMC = Massa corporal (kg) / estatura (m²). De acordo com esse mesmo autor, os indivíduos que possuem um IMC menor que 18,5 são classificados como abaixo do peso ideal, os que estão entre 18,5 e 24,9 são classificados como no peso ideal, os que estão entre 25 e 29,9 estão com sobrepeso, entre 30 e 34,9 estão com obesidade grau I, entre 35 e 39,9 estão com obesidade grau II e os que estão com o IMC maior ou igual a 40 estão com obesidade grau III.
A figura 1 mostra o IMC dos participantes da pesquisa e pode-se observar que a grande maioria (55,71%) dos atletas amadores de futsal que participaram desse estudo apresentava peso corporal dentro da faixa de normalidade, ou seja, IMC entre 18,5 a 24,9.
Figura 1. Índice de massa corporal em participantes da pesquisa
Quanto ao tempo de prática no futsal foi constatado que a maior parte dos jogadores (58,57%) pratica a atividade há mais de 10 anos. Seguido de uma quantidade significativa que pratica há mais de 5 anos (18,57%). Quando questionados em relação à freqüência com que praticavam a atividade, a maioria respondeu que a realizava até 2 vezes por semana (31,43%) seguido pelos que praticam apenas uma vez por semana (28,57%). Os que praticam até 3 vezes por semana totalizaram 27,14% e os demais relataram que praticam mais de 5 vezes por semana (12,86%).
Quanto à duração da atividade 41 pessoas (59%) relataram que o tempo de duração era de até 1 hora, 28 pessoas (40%) responderam praticar a atividade por até 2 horas e apenas 1 pessoa respondeu realizar em até 30 minutos. Não houve praticante por mais de 2 horas.
A figura 2 mostra a prática do aquecimento e/ou alongamento dos participantes antes do início do jogo. Dos 70 participantes, 60 (86,71%) disseram fazer aquecimento e/ou alongamento antes do jogo e apenas 10 (14,29%) afirmaram não fazer nenhum tipo de alongamento nem aquecimento antes do jogo.
Figura 2. Prática de aquecimento e/ou alongamento antes do jogo
O aquecimento é definido como um grupo de exercícios realizados imediatamente antes de uma atividade, que dá ao corpo um período de ajuste do repouso para o exercício. Assim, a realização de aquecimento antes de práticas esportivas é de suma importância, pois aumenta a temperatura do tecido muscular, fazendo com que este seja mais efetivo. Já o alongamento é designado para melhorar o desempenho e reduzir a chance de lesão, mobilizando o atleta tanto mental quanto fisicamente (WALTRICK, 2004).
Uma das questões avaliadas nesse estudo foi a prática de outra modalidade esportiva ou exercício físico realizado pelos participantes. Dos participantes 32 pessoas (45%) afirmaram não praticar nenhuma outra modalidade esportiva ou exercício físico, 38 pessoas (54%) afirmaram praticar outra atividade. As mais citadas foram musculação (13 pessoas), futebol society (11 pessoas) e futebol de campo (8 pessoas) além de modalidades como voleibol, taekowndô, corrida, bicicleta, natação, judô e muay tai.
Com o intuito de se investigar as possíveis lesões decorrentes da prática de futsal foi questionado se os praticantes já sentiram algum tipo de dor no joelho em decorrência do jogo de futsal, durante ou após a atividade. Assim, 47,14% das pessoas afirmaram ter sentido dor e 52, 86% responderam que nunca sentiram dor no joelho
De modo que quando questionados sobre algum tipo de lesão no joelho, 61 pessoas (87,14%) afirmaram não ter sofrido lesão em decorrência do jogo de futsal e 9 pessoas (12,86%) afirmaram que sim. As lesões sofridas por essas nove pessoas foram torção, lesão ligamentar (ligamento cruzado anterior e posterior), lesão patelar, tendinite, derrame articular e trauma direto. De modo que em decorrência das lesões sofridas 3 pessoas ficaram afastadas da atividade por 1 mês, 1 por 2 meses, 2 por 6 meses, 1 por 8 meses, 1 por 1 ano e 6 meses, e 1 por dois anos.
A figura 3 mostra a participação dos jogadores que afirmaram ter sofrido lesão ou algum tipo de dor no joelho, em tratamento fisioterápico. Destes, 44,44% afirmaram não ter passado por nenhum tratamento fisioterápico para recuperação, e 55,56% relataram ter passado por tratamento fisioterápico e/ou musculação.
Figura 3. Tratamento fisioterápico para reabilitação após a lesão de joelho
A Figura 4 mostra a intervenção cirúrgica nos jogadores que foram diagnosticados com lesão do joelho. Dos 9 entrevistados que relataram tais lesões 7 (77,77%) disseram não ter sido submetido a nenhuma intervenção cirúrgica. E, 2 passaram por cirurgia, de modo que um jogador realizou a reconstrução total do ligamento cruzado anterior e ligamento cruzado posterior e o outro realizou reconstrução parcial do ligamento cruzado anterior.
Figura 4. Intervenção cirúrgica no joelho em decorrência de lesão
O futsal é um esporte de contato, impacto e no geral com grande índice de lesões no joelho (ARENA E CARAZZATO, 2007). No entanto, este estudo verificou que apesar de amadores a prevalência de lesão no joelho bem como a intervenção cirúrgica nos indivíduos participantes da 29ª Copa SESC do estado de Goiás foi muito baixa. Este resultado pode ter sido alcançado devido ao nível de competição dos jogos observados, que é menor do que em jogos profissionais, e também pelo perfil dos atletas que esperam do futsal nada além de uma atividade de caráter recreativo. Tornando presente um grande respeito e preocupação pela integridade física do adversário. Além disso, vários outros fatores podem explicar a baixa prevalência de lesões no joelho destes jogadores como o fato de que grande parte deles é jovem e com IMC dentro da faixa de normalidade. Além disso, a maioria pratica futsal há mais de 10 anos e por até 2 vezes por semana, estabelecendo uma prática regular desta modalidade. Outro aspecto relevante na prevenção de lesões é o fato de que 85,71% dos entrevistados que participaram da pesquisa realizam aquecimento e/ou alongamento antes do início da partida. O que de acordo com WALTRICK (2004) favorece a prevenção de lesões além de melhorar o desempenho do atleta tanto mental quanto fisicamente.
Conclusão
Em conjunto, as características específicas do grupo avaliado podem ter contribuído para a prevenção de lesões no joelho da grande maioria dos jogadores que participaram deste estudo, mesmo sendo estes indivíduos caracterizados como amadores e, portanto, sem o preparo físico e técnico específicos de atletas profissionais.
Referências
ALEXANDRE,Pablo Fraga et al. Análise comparativa do desempenho muscular isocinético entre jogadores de futebol e futsal. Universidade Católica de Brasília. Brasília, 2008.
ARENA, Simone sagres; CARAZZATO, João Gilberto. A relação entre o acompanhamento médico e a incidência de lesões esportivas em atletas jovens de São Paulo. In: Rev Bras Med Esporte vol.13 no.4 Niterói, July/Aug, 2007.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Conselho Nacional de Saúde. Normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Res. CNS 196/96.; 4 Suppl:15-25, Bioética, 1996.
CAMANHO, G. L. Patologias do joelho. Ed 1. São Paulo: Sarvier, 1996.
McARDLE, W. D., KATCH,. F. I., KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara Koogan, 5ª ed., 2003.
MOREIRA, Demóstenes; GODOY, José Roberto Pimenta de; BRAZ, Rafael Gonçalves; MACHADO, Gustavo Frederico Barbosa; SANTOS, Henry Franklin da Silva dos. Abordagem cinesiológica do chute no futsal e suas implicações clínicas. R. bras. Ci. e Mov. Brasília v. 12 n. 2 p. 81-85 junho, 2004.
RIBEIRO, Rodrigo Nogueira; COSTA, Leonardo Oliveira Pena. Análise epidemiológica de lesões no futebol de salão durante o XV Campeonato Brasileiro de Seleções Sub 20. Revista Brasileira de Medicina do Esporte vol.12 no. 1 Niterói Jan./Feb. 2006.
WALTRICK, Ramon Diego. Incidência de lesão em equipes de futsal que disputam a divisão especial em Santa Catarina. Trabalho de monografia da Universidade do sul de Santa Catarina. Tubarão, 2004.
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