Perfil motivacional e a prática da atividade física: um estudo sobre uma academia de ginástica e musculação em Novo Hamburgo, RS Perfil motivacional y práctica de la actividad física: un estudio sobre un gimnasio de fitness y musculación en Novo Hamburgo, RS Motivational profile and the practice of physical activity: a study of a fitness academy in Novo Hamburgo, RS |
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*Profissional de Educação Física graduado pela Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS **Ph.D. em Educação Física pela Ohio State University, Columbus, Ohio, USA Docente e pesquisador do Curso de Educação Física e do Mestrado Profissional em Inclusão Social e Acessibilidade da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS |
Eduardo Endres Alves* João Carlos Jaccottet Piccoli** (Brasil) |
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Resumo A presente investigação de característica descritiva, de corte transversal, traçou o perfil motivacional de 108 frequentadores de 15 a 60 anos de uma academia de ginástica e musculação da cidade de Novo Hamburgo, RS, Brasil. O instrumento utilizado foi o inventário criado por Gill (1983), modificado por Celente (2003), composto por vinte questões, agrupadas em cinco categorias: estética e performance, saúde física, divertimento, socialização e auto-estima. Os dados foram analisados através da estatística descritiva e cálculo das frequências absolutas e relativas dos casos observados. Os resultados apontaram cinco motivos de adesão, três relacionados à saúde física: melhor o condicionamento físico (72,2%), preparação do corpo para o envelhecimento sadio (51,8%) e a prática da atividade física como forma de combater o estresse (39,8%); um relacionado à questão estética: melhora da aparência estética (61,1%) e um ao divertimento: gosto de fazer exercícios (41,6%). Conclui-se que na academia onde foi realizada a pesquisa, os motivos que levam as pessoas a aderirem à prática de atividades físicas são a melhora do condicionamento físico, seguido pela melhora da aparência estética, do preparo para um envelhecimento sadio, o gosto pela prática de exercícios, e a busca por uma forma de combater o estresse, o que demonstra ser a saúde física, relacionada a qualidade de vida como o principal fator motivacional entre os participantes do estudo. Unitermos: Motivação. Atividade física. Academia.
Abstract This cross sectional study had the purpose to identify the motivational profile of 108 participants from 15 to 60 years of age of a fitness academy located in Novo Hamburgo, RS, Brazil. The data were collected through an inventory created by Gill (1983) modified by Celente (2003) composed of 20 questions divided into five categories: aesthetics and performance, physical health, leisure, socialization, and self esteem. The data were analyzed through the descriptive statistics and the absolute and relative frequencies. The results pointed out five motivational drives for exercise adherence in the fitness academy studied, three of which were related to physical health: improve body fitness (72.2%), preparedness for a healthy aging (51.8%), and physical activity participation to control daily stress situations (39,8%); other related to aesthetics and performance: improve body aesthetics (61,1%), and another related to leisure: interest in practicing exercises (41,6%). It was concluded that the motivational drives that conducted the sample to participate in physical activities in the fitness academy were: for fitness and conditioning, to improve body aesthetics, for a healthy aging, for the interest in practicing physical activities, and to control daily stress situations. The study showed that physical health related to quality of life was the participants’ goal for exercising in the fitness academy studied. Keywords: Motivational drive. Physical activity. Fitness academy.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Atualmente, evidências comprovam que o homem contemporâneo utiliza cada vez menos de suas potencialidades corporais e que o baixo nível de atividade física é um fator decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas. Na grande maioria dos países em desenvolvimento, grupo do qual faz parte o Brasil, mais de 60% dos adultos que vivem em áreas urbanas não praticam atividade física de maneira adequada para a promoção da saúde, o que resulta entre outros fatores no aumento de peso (MENDES, 2006).
Os avanços tecnológicos que facilitam a vida do homem, também o tornam sedentário e atingem em sua maioria mulheres, idosos e os indivíduos incapacitados. Observa-se que as pessoas reduzem gradativamente, o nível de atividade física, a partir da adolescência. Enquanto isso, em todo o mundo observa-se um aumento da obesidade, diabetes, cardiopatias e outras doenças que se relacionam, pelo menos em parte, à falta da prática de atividades físicas (OMS, 1994).
Conforme o Ministério da Saúde, há tantas pessoas obesas em nível mundial que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou esta doença como a epidemia global do século XXI. No Brasil, 56% da população brasileira sofre com excesso de peso, segundo o estudo da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), produzido pelo Ministério da Saúde e pela Universidade de São Paulo (USP), foi detectado que 43,3% da população estão com o peso acima dos níveis recomendados (sobrepeso) e 13% estão obesos (BRASIL, 2010).
Hoje, a Educação Física estuda o ser homem em um contexto da cultura corporal de múltiplas possibilidades, na prática de exercícios físicos sistematizados e direcionados para: a educação, o desporto, a estética e a saúde, entre outras (BACH ; BERESFORD, 2003). Uma tendência dominante no campo da Educação Física estabelece uma relação entre a prática da atividade física e a conduta saudável, constantemente ressaltada pela mídia, que divulga a prática de exercícios físicos como forma de melhorar a saúde, de auxiliar na busca por qualidade de vida, como lazer e até como forma de inclusão social.
Segundo Novaes (1999), nos grandes centros urbanos, pode-se destacar as academias de ginástica e musculação como escolha para alguns indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades praticarem seus exercícios físicos. Estas por sua vez disponibilizam aos seus freqüentadores diferentes modalidades de exercícios (aulas de ginástica, musculação, artes marciais, entre outras atividades...) o que torna possível essa grande diversidade de público com pessoas de faixa etária, estilos de vida, e com vários tipos de limitações físicas diferentes.
As academias estão ocupando mais espaço na sociedade sendo procuradas por indivíduos, por grupos de amigos, por famílias, que buscam pelos benefícios proporcionados pela atividade física, que podem ser fisiológicos ou psicológicos (SABA, 2001), e, até por empresas que apostam na melhora da aptidão física de seus funcionários como uma forma de aumentar o rendimento deles no trabalho. Tais academias são consideradas centros de atividades físicas onde se prestam serviços de avaliação, prescrição e orientação de exercícios físicos, sob a supervisão direta de profissionais de Educação Física (TOSCANO, 2001).
O universo das academias está em permanente evolução e o fitness que foi o responsável pela disseminação das academias de ginástica, vem perdendo espaço para um novo conceito chamado de wellness (SABA 2001). O número de pessoas que procuram por academias para alcançar qualidade de vida está aumentando, como também aumenta a média de faixa etária entre os seus freqüentadores, com pessoas cada vez mais velhas praticando seus exercícios nesses centros (NOVAES, 1999).
Os freqüentadores dessas academias precisam que além das várias modalidades de atividades físicas oferecidas, e da qualidade dos equipamentos cada vez mais modernos e eficazes (NOVAES, 1999) que os profissionais atuantes nesses centros de atividade física consigam mantê-los motivados a dedicarem tempo para essa prática, de modo que o exercício seja vivido de maneira prazerosa por eles (SABA, 2008). O jovem, o atleta, o idoso, o aluno com limitação física, cada um deles vai precisar ser motivado de alguma forma para continuar se exercitando, para sentir os benefícios do exercício físico, e para alcançar o resultado desejado.
Segundo Saba (2008), metade das pessoas que iniciam programas de atividade física abandona a sua prática após um período de seis meses a um ano. Isso demonstra que começar não é o mais difícil, esses alunos precisam ser estimulados a continuar, independente do motivo que os levou a se matricular em uma academia de ginástica e musculação. A alta rotatividade de alunos é um problema por elas enfrentado porque muitos de seus freqüentadores abandonam a prática antes mesmo de alcançar os resultados almejados.
Existem muitos fatores responsáveis pela aderência a atividade física oferecida nas academias: a figura do professor, a estrutura oferecida para a prática, o ambiente, a higiene, as pessoas que a freqüentam, a localização, entre outros, mas todos esses dependem de a pessoa incorporar em seu estilo de vida o exercício físico, ligando-se a ele de forma permanente, ou pelo menos duradoura, criando condições para que a prática da atividade proposta seja continuada de forma prazerosa e produtiva (SABA, 2008).
Se os benefícios da prática regular de exercícios são inquestionáveis, o grande desafio que se impõe aos profissionais envolvidos é fazê-lo parte constante do cotidiano dessas pessoas, durante toda a vida. Para que isso aconteça, se faz necessário conhecer o tipo de motivação inicial que leva essas pessoas para academia, para que o professor da academia possa entendê-lo, e mantê-lo sempre motivado, aproximando o freqüentador de seu objetivo com a prática do exercício.
Ao pensar na motivação inicial que leva as pessoas a praticarem atividades físicas nas academias de ginástica e musculação se estruturou esta investigação que teve como objetivo identificar os motivos que levam as pessoas a praticarem atividade física em uma academia na cidade de Novo Hamburgo, RS.
Materiais e métodos
O presente estudo de característica descritiva, de corte transversal, investigou 108 freqüentadores, regularmente matriculados, de ambos os sexos entre 15 e 60 anos de idade, praticantes de musculação, ginástica e artes marciais, em uma academia de ginástica e musculação situada no centro da cidade de Novo Hamburgo, credenciada junto ao Conselho Regional de Educação Física.
A amostra, não-probabilística, acidental, foi constituída por freqüentadores que se encontravam na academia de ginástica e musculação nos dias previstos para a coleta de dados e aceitaram voluntariamente participar do estudo. A amostra foi finalmente constituída após os participantes terem sido esclarecidos e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para se verificar os motivos que levaram as pessoas a aderirem à prática de atividade física nas academias centrais do município de Novo Hamburgo- RS realizou-se pesquisa de campo através de um questionário adaptado do inventário criado por Gill (1983), modificado por Celente (2003), composto por vinte questões, agrupadas em cinco categorias: estética e performance, saúde física, divertimento, socialização e auto-estima. Cada uma das questões apresenta quatro níveis diferentes de importância. O referido instrumento teve sua validade testada por três profissionais com reconhecido saber na temática do estudo.
Os participantes do estudo receberam o questionário com instruções e recomendações para o seu preenchimento. As dúvidas manifestadas foram prontamente esclarecidas pelo pesquisador. Não foi estabelecido tempo mínimo ou máximo para o preenchimento. Os participantes foram orientados a preencher individualmente o instrumento no local, na presença do pesquisador.
Os dados coletados foram repassados para uma planilha de Excel para posterior análise estatística e para, então, proceder à análise e discussão dos resultados.
Para a classificação dos motivos apontados no Inventário, utilizou-se a estatística descritiva, através do cálculo das médias e do desvio padrão. Para se discriminar os itens do instrumento segundo as categorias de motivos de adesão informados pelos participantes do estudo, fez-se uso do cálculo das frequências absolutas e relativas dos casos observados.
Resultados
A descrição e análise das informações obtidas nessa investigação foram realizadas tomando-se como referência as respostas obtidas através do questionário utilizado no estudo. Os resultados foram dispostos em forma de tabelas, com a classificação geral do estudo, divididos por item e por categoria.
Para se calcular as médias deu-se peso 4 para razão principal; 3 para razão secundária; 2 para sem importância e 1 para não sei responder. Portanto a média variou entre um e quatro pontos.
A amostra foi constituída por 32 adolescentes (até 20 anos), sendo 27 homens e 5 mulheres; 54 adultos jovens (até 40 anos), sendo 36 homens e 18 mulheres; e, 22 pessoas no final da fase adulta (até 60 anos), sendo que são 11 mulheres e 11 homens. A idade média dos participantes do estudo é de 31 anos entre as mulheres e 28 anos entre os homens.
Tabela 1. Distribuição das médias e do desvio padrão de cada item apresentado
Obs.: SF- Saúde Física; EP- Estética e Performance; D- Divertimento; S- Socialização; AE - Auto Estima
A tabela 1 apresenta a classificação de cada item apresentado pelo instrumento da pesquisa, da maior para a menor média, apresentando ‘’melhorar meu condicionamento físico’’ com média 3,7; ‘’melhorar minha aparência estética’’ 3,5; ‘’procuro preparar meu corpo para o envelhecimento sadio’’ 3,4; ‘’gosto de fazer exercícios’’ 3,2; ‘’busco a atividade física para combater o stress’’ 3,1; ‘’gosto de estar entre amigos’’ 2,9; ‘’procuro alto rendimento para a prática desportiva’’ 2,6; ‘’aconselhamento médico’’ 2,5; ‘’gosto de ação, superar desafios’’ 2,4; ‘’gosto das músicas e do ambiente’’ 2,4; ‘’busco conhecer novas pessoas, fazer novas amizades’’ 2,4; ‘’procuro algo para fazer, ocupar o tempo’’ 2,3; ‘’minha profissão exige que esteja apto fisicamente’’ 2,3; ‘’busco melhorar meu humor com modalidades divertidas’’ 2,2; ‘’busco um ambiente animado e feliz’’ 2,2; ‘’melhorar minha auto estima’’ 2,1; ‘’gosto de receber elogios’’ 2,1; ‘’gosto de ser bem tratado, me sentir especial’’ 1,9; ‘’atividade física e academia estão na moda’’ 1,9; ‘’pratico atividade para impressionar outras pessoas’’ 1,7.
Tabela 2. Distribuição da classificação geral das médias e do desvio padrão conforme as categorias relacionadas no estudo (n= 108)
A classificação das médias no resultado geral por categorias apresenta a média mais alta para a categoria “saúde física” (3,17); a segunda melhor média para a categoria “estética e performance” (2,86); a terceira melhor média para a categoria “divertimento” (2,48); para a categoria “socialização” (2,37) e para a categoria “auto estima” (1,95). Foram calculadas as médias de cada item das categorias para daí chegar a média geral de cada categoria.
Tabela 3. Distribuição das freqüências absolutas(f), médias(m) e desvios padrão(dp) das respostas da amostra,
segundo as categorias de motivos de adesão por modalidades de atividades físicas praticadas na academia (n= 108)
Entre os participantes de musculação a classificação entre as cinco categorias do estudo aconteceu com a maior média para “saúde física” (3,1), “estética e performance” (2,8), “divertimento” (2,4), “socialização” (2,3) e “auto estima (1,8).
Já entre os praticantes de artes marciais a maior média também é da “saúde física” (3,1), seguida por “estética e performance” (2,7), “socialização” (2,4), “auto estima” (2,1) e por último o “divertimento” (1,9).
Entre os participantes de ginástica a classificação entre as cinco categorias do estudo aconteceu com a maior média para “saúde física” (3,4), “divertimento” (2,9), “estética e performance” (2,7), “ “socialização” (2,3) e “auto estima (2,3).
Entre os praticantes de musculação e artes marciais a maior média é da “estética e performance” (2,9), seguido por “saúde física” (2,8), “divertimento” (2,6). “socialização” (2,5), e “auto estima” (2). Entre os participante de musculação e ginástica observa-se “saúde física” (3,4), “divertimento” (2,9), “estética e performance” (2,8), “socialização” (2,4) e “auto estima” (2,3).
Categoria Saúde Física
Tabela 4. Distribuição das freqüências e das taxas percentuais dos sujeitos referentes às razões indicadas nos itens da categoria “saúde física” (n=108)
*1 melhorar meu condicionamento físico; **2 procuro preparar meu corpo para o envelhecimento sadio;
***3 busco atividade física para combater o estresse; ****4 aconselhamento médico.
A tabela 4 demonstra que 72,2% dos participantes do estudo afirmaram que o motivo principal da categoria saúde para aderirem a pratica da atividade física era a melhoria do condicionamento físico; 27,8% a considerou como razão secundária. É, também, observado que 56% dos participantes do estudo revelaram que a preparação para um envelhecimento com saúde era a razão principal para a sua adesão à prática da atividade física na academia mas 34,2 % classificaram-na como razão secundária.
Buscar uma atividade física para combater o estresse foi a razão principal para 39,8% da amostra do estudo e 28,7, razão secundária. Dentre os participantes, 54,6% declararam que o motivo “aconselhamento médico”, não estava relacionado à adesão à prática de atividades físicas na academia de ginástica.
Categoria Estética e Performance
Tabela 5. Distribuição das freqüências e das taxas percentuais dos sujeitos referentes as razões indicadas nos itens da categoria “estética e performance” (n=108)
*1 melhorar minha aparência estética; ** 2 procuro alto rendimento para a prática desportiva;
*** 3 minha profissão exige que esteja apto fisicamente.
Na tabela 5, o motivo “melhorar a aparência estética” foi a razão principal para 61,1% dos participantes da amostra freqüentarem uma academia de ginástica, seguido por 34,2% que assinalaram como razão secundária.
Categoria Divertimento
Tabela 6. Distribuição das freqüências e das taxas percentuais dos sujeitos referentes às razões indicadas nos itens relacionados à categoria “divertimento” (n=108)
*1 gosto de fazer exercícios; ** 2 gosto de ação, superar desafios; ***3 gosto das músicas e do ambiente;
****4 busco melhorar meu humor com modalidades divertidas; *****5 busco um ambiente animado e feliz.
Na categoria divertimento, a Tabela 6 informa que o motivo “gostar de fazer exercícios” foi a razão principal por 41,6% da amostra do estudo e razão secundária por 37,9%.
Categoria Socialização
Tabela 7. Distribuição das frequências e das taxas percentuais dos sujeitos referentes às razões indicadas nos itens da categoria “socialização”, (n=108)
*1 Gosto de estar entre amigos; **2 Busco conhecer novas pessoas, fazer novas amizades;
*** 3 Procuro algo para fazer, ocupar o tempo; ****4 Atividade física e academia estão na moda.
A Tabela 7 informa que na categoria socialização, o motivo “gostar de estar entre amigos” apresentou-se como razão secundária para 64% da amostra.
Categoria Auto Estima
Tabela 8. Distribuição das freqüências e das taxas percentuais dos sujeitos referentes às razões indicadas nos itens da categoria “auto estima” (n=108)
*1 melhorar minha auto estima; ** 2 gosto de receber elogios; ***3 gosto de ser bem tratado, me
sentir especial; ****4 pratico atividade física para melhorar meu humor.
A Tabela 8 indica que os motivos apresentados na categoria auto estima não são relevantes à amostra do estudo.
Discussão dos resultados
O estudo apresenta a definição de motivo como uma necessidade, ativador de um comportamento, uma condição interna relativamente duradoura que leva o indivíduo a um comportamento orientado para um objetivo (CRATTY, 1984; ROCHA; CHRISTENSEN, 1987; BRAGHIROLLI et al., 1990; KOTLER; ARMSTRONG, 1993; VALDÉS, 2000; PAIM, 2002; DAVIDOFF, 2004; SABA, 2006; SABA, 2008).
Na classificação por categorias, o estudo realizado para medir o comportamento das pessoas frequentadoras de uma academia na cidade de Novo Hamburgo, mostra a melhora do condicionamento físico, seguido pela melhora da aparência estética, como os motivos principais à adesão à prática de atividades físicas na academia em questão, considerando, as categorias divertimento, socialização e auto estima apenas como razões secundária ou sem importância para a adesão em tais atividades.
Pode-se perceber que os motivos considerados como razões principais para o engajamento na prática de atividades físicas na academia local do estudo foram: “a melhoria do condicionamento físico e da aparência estética”; a “prevenção para o envelhecimento sadio”; “o gosto pela atividade física” e a “busca pela atividade física como alternativa para combater o estresse”. A diversidade encontrada nos resultados deste estudo confirma o que afirma a teoria Humanista de Maslow para a motivação que segundo Davidoff (2004) o homem age em função de suas necessidades. Cratty (1984), Skinner (1996) e Valdés (2000), por outro lado, salientam a não uniformidade do comportamento motivacional humano.
A média elevada na categoria “saúde física”, observada na Tabela 4, denota o conhecimento dos participantes sobre a relevância da prática da atividade física sobre a saúde do indivíduo condizendo com as idéias de Braghirolli et al. (1990), Oliveira e Furtado (1999), Karsaklian (2000) e Cedrão et al. (2008).
Os benefícios da atividade física para o prolongamento da vida, e da vida com qualidade mostram nesses resultados a conscientização dos participantes do estudo sobre a prevenção de doenças degenerativas através da prática da atividade física (NAHAS, 2003). Preparar-se para a velhice faz parte do termo wellness, definido por Saba (2006), o que mostra a preocupação dessas pessoas com a qualidade de vida.
Essa preocupação com a questão do preparo para o envelhecimento sadio mostra o entendimento dos benefícios da prática de atividades físicas entre os participantes do estudo, tais benefícios ressaltados por Oliveira e Furtado (1999) e Toscano (2001), que ajudam no processo de envelhecimento sadio, exercem efeitos benéficos nas funções dos órgãos em geral, tendo como conseqüência o prolongamento da vida e de vida com qualidade, e que, segundo Weinberg e Gould (2001), ajudam no combate ao estresse, incluindo a redução da tensão e depressão.
Os resultados apresentados na pesquisa, também, comprovam a preocupação da sociedade em combater o estresse, uma doença enfrentada por grande parte da população, concordando com Yepes (2001), que afirma o benefício da prática de atividades durante o tempo livre, que proporciona descanso e participação social voluntária, passando a ser para esses indivíduos um momento de descanso das preocupações e rotinas de trabalho, e para Celente (2003), que afirma que as academias passam a ser, assim, também, embora, na maioria das vezes não instituídas com essa finalidade, um espaço de convivência e vivência do lazer, para além dos conteúdos físico-esportivos.
A preocupação com a saúde física, e seus benefícios como motivo principal da adesão à prática da atividade física em academias, segundo Matsudo e Matsudo (2000), Saba (2001), Siqueira (2002), possibilita benefícios, como: diminuição do risco de doença cardiovascular; melhora no controle do peso; aumento do funcionamento dos sistemas metabólico, endócrino e imunológico; melhora na qualidade de vida; controle da pressão alta e do diabetes, entre outros. Esse motivo, também, foi observado por Celente (2003) e Cedrão et al. (2008), em estudos anteriormente realizados.
O motivo saúde física observado no presente estudo, entretanto, não é confirmado por Zanette (2003) e Araújo et al. (2007) que concluíram ser a preocupação com a aparência estética a razão principal para aderência em tais atividades. Goldy (2000), Saba (2001), e Klein e Silva (2003), afirmam sobre a importância que se dá a questão do padrão de corpo belo estereotipado pela sociedade, a preocupação com a questão estética que aparece como motivo de adesão a prática de atividade física na academia por grande parte dos entrevistados como razão principal ou secundária, portanto, podendo ser também classificada como motivo.
No presente estudo, os resultados relativos ao motivo “melhoria da aparência estética” indicado por 61,1% dos participantes como razão principal e 34,2%, como secundária, revelam que a estética influencia e preocupa a sociedade e seus integrantes. Tal fato confirma o estudo de Zanette (2003) e Araújo et al. (2007) que observaram ser a estética o motivo principal de aderência à prática de atividade em academias.
Fica, então, demonstrada a ênfase dada ao padrão de corpo criado pela sociedade, motivo de status para muitos. A busca por este padrão , fez com que a adesão de pessoas à prática da atividade física em academias de ginástica viesse a se multiplicar (SABA, 2001). Como conseqüência, surge com a necessidade de se ter academias que apresentassem qualidade de atendimento, instrução, espaço físico e equipamento para que seus frequentadores tivessem suas necessidades satisfeitas e seus objetivos alcançados.
Na categoria divertimento, o motivo “gosto de fazer exercícios” foi a opção de 41% da amostra do estudo. Segundo Pereira (1996) e Saba (2006) tal aderência deve-se ao prazer proporcionado pela prática da atividade física, por pessoas intrinsecamente motivadas (FEIJÓ, 1992; CELENTE, 2003). Segundo Yepes (2001) e Weinberg e Gould (2001), em conseqüência, tais pessoas estão menos propensas a desistir da prática.
Percebe-se entre as pessoas que participaram do estudo que elas não consideram os itens das categorias socialização e auto estima motivos relevantes para a adesão a prática de atividade física em academia, entretanto, não se pode desprezar a importância desses fatores em um contexto geral da aderência, porque as pessoas não ingressam nas atividades por esses motivos, mas podem abandonar a prática por qualquer um deles.
Na classificação dos motivos de adesão, específico por modalidade de atividade física praticada, percebe-se pouca diferença da classificação geral do estudo, porém alguns fatores podem ser relevantes: entre os praticantes de musculação os motivos médios de melhora no condicionamento físico e na aparência estética estão empatados como razões principais de adesão à prática da atividade física em academia; a saúde física é o motivo com maior média (3,4), entre os praticantes de ginástica, e os praticantes de ginástica/musculação. Com a segunda melhor média (3,1) estão os praticantes de musculação, e os praticantes de artes marciais, enquanto os praticantes de artes marciais/musculação ficaram com média de (2,8). A média nessa modalidade ficou baixa por que todos os participantes nessa categoria declararam sem importância o motivo aconselhamento médico.
Entre os praticantes de artes marciais participantes do estudo, todos apresentaram a melhora do condicionamento físico como razão principal (média 4), enquanto que a melhora da aparência estética caiu para razão secundária com média (2,9), mostrando que entre esse grupo a estética não é razão principal. Outro dado relevante entre os praticantes de artes marciais é o fato de que nesse grupo todos os participantes do estudo declararam o motivo aconselhamento médico não ter importância (média 2) na adesão à prática da atividade física.
Entre os praticantes de ginástica o motivo “gosto de fazer exercícios”, da categoria divertimento, diretamente relacionada ao lazer, aparece como um fator relevante, junto com a “procura pela melhoria do condicionamento físico” também foi classificado como motivo de adesão a atividade física na academia.
A “procura por alto rendimento para a prática desportiva” aparece como razão principal para 18,5% dos entrevistados, 37% respondeu como razão secundária, 35% declararam sem importância e 9% não souberam responder. Esse item merece um olhar especial dentro da especificidade da modalidade de artes marciais que realizam seus treinos voltados para as competições a níveis regional, estadual e nacional, e classificaram o alto rendimento para a prática desportiva aparece razão principal.
Conclusão
Após a realização do presente estudo conclui-se que na academia onde foi realizada a pesquisa, os motivos que levam as pessoas a aderirem à prática de atividades físicas são a melhora do condicionamento físico, seguido pela melhora da aparência estética, do preparo para um envelhecimento sadio, o gosto pela prática de exercícios, e a busca por uma forma de combater o estresse, o que demonstra ser a saúde física, relacionada à qualidade de vida como o principal fator motivacional entre os participantes do estudo.
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Digital · Año 15 · N° 151 | Buenos Aires,
Diciembre de 2010 |