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O mito do sedentarismo

El mito del sedentarismo

 

Graduado em Educação Física

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Especializando em Ciência da Saúde e do Esporte

Centro Universitário Maranhense (UNICEMA)

Danilo Lopes Gonçalves Souza

danilo.lopes.88@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Pesquisas têm apontado para a ideia de que maus hábitos de vida são fatores de risco para saúde, sendo o sedentarismo considerado um desses. Entretanto, alguns estudos apresentam valores para as medidas de sedentarismo um pouco complexas e contraditórias. Portanto, o ensaio tem como objetivo revisar a literatura sobre os valores adotados para as medidas de sedentarismo e inatividade física e demonstrar que a prática da atividade física depende de fatores psicossociais e demográficos. O sedentarismo assume simbolicamente um tom pejorativo e discriminatório, que traz um sentimento de culpa para o indivíduo.

          Unitermos: Sedentarismo. Atividade física. Saúde pública.

 

Resumen
         
La investigación plantea la idea de que los hábitos no saludables son factores de riesgo para la salud, y el sedentarismo en uno de ellos. Sin embargo, algunos estudios han reportado valores para los valores para las medidas de sedentarismo un poco complejas y contradictorias. Por lo tanto, este ensayo tiene como objetivo revisar la literatura sobre los valores adoptados para las medidas de la inactividad física y estilo de vida sedentario y para mostrar que la práctica actividad física depende de factores psicosociales y demográficos. El sedentarismo simbólicamente asume un tono peyorativo y discriminatorio, que trae un sentido de culpa para el individuo.

          Palabras clave: Sedentarismo. Salud pública. Actividad física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Muitos estudos têm demonstrado que hábitos de vida inadequados (má alimentação, stress, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e vários outros) são fatores agravantes para inúmeros tipos de doenças. O sedentarismo passa a representar dentro da sociedade uma condição indesejável, representando risco para a saúde. Do mesmo modo, Haskell (2007) ratifica que existe uma associação entre o sedentarismo (inatividade física) e a prevalência de diferentes doenças, tais como: doença arterial coronariana, hipertensão, acidente vascular encefálico, diabetes, osteoporose, obesidade, câncer, depressão entre outras.

    Dessa forma, pode-se dizer que sedentarismo associado a ideia de não realização de atividades físicas contribui para a ocorrência de doenças crônicas e ainda que o estilo de vida “sedentário” constitui um dos maiores problemas de saúde pública. Entretanto, os critérios utilizados para conceituar e mensurar sedentarismo são complexos e incoerentes, como Palma e Vilaça (2010) ratificam, o conceito de sedentarismo é vulgar, isto é, não é científico, uma vez que não pode ser apreendido e compreendido com precisão.

Conceitos, medidas e avaliações de sedentarismo

    O conceito de sedentarismo tem seu entendimento comum centrado na ideia da ausência de alguma atividade física regular. De forma categórica, Santos et al. (2006) define sedentarismo como a falta ou a grande diminuição da atividade física. Barros Neto (1997) explica que o conceito de sedentarismo não é associado necessariamente à falta de uma atividade esportiva, o sedentário é o indivíduo que não atinge gastos calóricos superiores a 1500 Kcal por semana relacionada a atividades ocupacionais (limpar a casa, caminhar para o trabalho, realizar funções profissionais que requerem esforço físico etc.). Mas para Araujo (2007) o sedentarismo assume um conceito mais abrangente na saúde pública, envolvendo a ausência ou irregularidade da atividade física, de maneira insuficiente para promover benefícios à saúde.

    Porém, esse conceito vai muito alem dessas meras definições, de forma que vários pesquisadores têm encontrado diferentes maneiras de identificar e quantificar essa variável. Palma (2009) assegura que o termo “sedentarismo” tem sido utilizado de inúmeras maneiras, que podem significar fenômenos bastante distintos. O autor menciona que o conceito de sedentarismo, de fato, parece problemático, por ser tratar de um conceito banal, comum e não científico.

    Essa dificuldade pode ser observada no recente estudo conduzido Varo et al. (2003) apud Palma (2009) realizado sobre a prevalência de sedentarismo na Europa. Os autores adotaram dois critérios distintos para caracterizá-lo: a quantidade de MET (Equivalente Metabólico) gasto diariamente e a não prática de atividade física no tempo de lazer. Como já era de esperar, os mesmos encontraram valores bastante diferentes de acordo com os critérios utilizados. Pelo primeiro critério os autores identificaram que 43,3% dos suecos; 61,4% dos dinamarqueses; 71,0% dos espanhóis e 87,8% dos portugueses foram classificados como sedentários. Porém, quando utilizado o segundo critério, foram rotulados como sedentários 6,4% dos suecos; 16,5% dos dinamarqueses; 18,0% dos espanhóis e 24,1% dos portugueses.

    Oehlschlaeger et al. (2004) em seu estudo tinha como objetivo determinar a prevalência e fatores associados ao sedentarismo em adolescentes residentes em Pelotas, Rio Grande do Sul. Foi considerado como sedentário o adolescente (com idades entre 15 e 18 anos) que participava de atividades físicas por um tempo menor do que 20 minutos diários e uma freqüência menor do que três vezes por semana, também levando em conta variáveis sociodemográficas e comportamentais. Os resultados evidenciaram que 39% dos adolescentes foram considerados sedentários, as meninas foram mais sedentárias do que os meninos (54,5% e 22,2% respectivamente). Os autores concluíram que os adolescentes das classes sociais mais baixas, escolaridade inferior a quatro anos, e da mãe com pouca escolaridade apresentaram maior risco para o sedentarismo.

    Em outra pesquisa Pitanga e Lessa (2005) adotam de critérios diferentes para classificar o sedentarismo, os autores verificaram a prevalência e determinantes do sedentarismo no lazer em adultos (maior que 20 anos de idade) na cidade de Salvador, Bahia. A pesquisa considerou que sedentários no lazer são aqueles que não participaram de atividades físicas nos momentos de lazer, em uma semana habitual. O resultado demonstrou que a prevalência do sedentarismo no lazer foi de 72,5%, sendo mais freqüente em mulheres entre 40 a 59 anos e homens maiores que 60 anos de idade, em pessoas com baixo nível de escolaridade e entre os casados, separados ou viúvos. Pitanga e Lessa (2005) demonstram uma preocupação quando sugerem novos estudos que façam a análise tanto do sedentarismo no lazer quanto do sedentarismo de forma global, incluindo também as outras variáveis que compõem esse grave problema de saúde pública.

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) realizou uma pesquisa com adolescentes estudantes do 9º ano do ensino fundamental (idade entre 13 e 15 anos) nas capitais brasileiras e no Distrito Federal. O IBGE (2009) avaliou a prática de atividade física dos adolescentes destacando três temas: tempo de atividade física acumulada, frequência de dias de aulas de educação física na escola e hábito sedentário (tempo assistindo TV). Investigou-se também o tempo de atividade física acumulada dos escolares nos últimos sete dias, combinando os tempos e frequências com que foram realizados atividades como: o deslocamento para a escola a pé ou de bicicleta, aulas de educação física na escola e outras atividades físicas extra-escolares. Foram considerados ativos aqueles que acumularam 300 ou mais minutos de atividade física no período considerado.

    Os resultados revelaram que 43,1% dos escolares foram considerados ativos em termos de prática de atividade física. Mais da metade dos escolares do sexo masculino foram incluídos na categoria ativos (56,2%), enquanto entre os escolares do sexo feminino a frequência foi de 31,3%. As percentagens observadas entre escolares das redes privada e pública foram, respectivamente, 45,1% e 42,6%. A frequência de escolares que tiveram dois dias ou mais de aulas de educação física na escola nos últimos sete dias foi de 49,2%. E a pesquisa mostrou que 79,5% dos escolares assistiam TV por duas ou mais horas diárias.

    Por fim, o Ministério da Saúde (2009) realizou uma investigação foi sobre atividade física no tempo de lazer e prevalência de sedentarismo em adultos, realizada nas 26 capitais e no Distrito Federal. No conjunto das capitais, a prática de atividade física suficiente no lazer (30 minutos diários de intensidade leve ou moderada, em cinco ou mais dias da semana, ou 20 minutos de intensidade vigorosa em pelo menos três dias da semana) foi de 16,4%, os homens praticam mais atividade física no lazer (20,6%) e as mulheres apenas 12,8%.

    Na pesquisa sobre o sedentarismo, 26,3% dos entrevistados foram considerados sedentários, sendo que a condição de sedentário foi atribuída àqueles que não praticaram qualquer atividade física nos últimos três meses, não realizavam esforço físico intenso no trabalho, não se deslocavam para o trabalho a pé ou de bicicleta e não eram responsáveis pela limpeza pesada da casa. Houve variação entre os dois sexos para o sedentarismo: os homens são mais sedentários (29,5%) que as mulheres (23,5%), na faixa a partir dos 65 anos de idade, ele ultrapassa os 50%. Com esses números podemos notar um resultado bastante intrigante, pois grande parte da população não pratica atividade física, mas em contrapartida apenas uma pequena parcela é considerada sedentária.

    “Percebe-se, assim, que a definição e medida do sedentarismo é obscura e pode, mesmo, estar sendo simplificada.” (PALMA, 2009)

Causalidade: atividade física, saúde e sedentarismo

    O ser humano, na sua preocupação com o corpo, sempre levou em conta o fato de que a saúde esta sempre acompanhada da “qualidade de vida”, considerando a atividade física uma aliada imprescindível. Contrariando essa afirmação, Assumpção et al. (2002) mencionam que a qualidade de vida de uma pessoa não pode ser considerada apenas pela via da saúde.

    Não são poucos os trabalhos científicos que destacam o sedentarismo e o estresse como responsáveis por doenças hipocinéticas e redução na “qualidade de vida”. Assim como, Pollock e Wilmore (1993) ratificam que a inatividade física e o baixo nível de condicionamento têm sido considerados fatores de risco para a mortalidade prematura tão importante quanto fumo, dislipidemia, diabetes e hipertensão arterial. Porém, a ideia de causa ou de associação entre atividade física, sedentarismo e saúde não esta bem definida.

    Há tempos, os cientistas lutam para descobrir as causas verdadeiras e específicas das doenças. Essa ideia de causa, segundo Palma (2009) pode-se entendê-la como o relacionamento de um fato, condição ou característica que produz uma função essencial na ocorrência de um novo fenômeno. Do outro lado da moeda, existe a expressão “associação” que inúmeras vezes é enleada com a ideia de causa, mas possuem significados diferentes. A associação, consoante Palma (2009) refere-se à relação estatística (ou correlação) entre dois ou mais eventos, na qual pode ou não existir relação causal entre esses eventos.

    Mira (2003) em estudo no campo epidemiológico, reconhece a existência de dois tipos de causalidades: uma fisiológica ou fisiopatológica e outra epidemiologia. Essa segunda refere-se a uma causalidade probabilística, do tipo indutivo. Segundo o autor, basicamente, esta causalidade epidemiológica refere-se à incidência de certos tipos de agravos frente à exposição de determinados fatores (ambientais, comportamentais, genéticos etc.) considerados de risco. Sua força é bem mais fraca, na medida em que não explica a causa, apenas correlaciona e estabelece as chances de aparecerem determinadas doenças em função da exposição a certos fatores ditos de risco. Por fim, Mira (2003) ilustra o fato de muitas relações entre exercício, saúde e sedentarismo estarem fundamentadas apenas num critério probabilístico de causalidade e não em teorias explicativas corroboradas, o que significa reduzir a causalidade a mera correlação.

    A causalidade na pesquisa epidemiológica, como já foi dito, apresenta algumas características que dificultam sua avaliação. Palma (2009) da um bom exemplo de causalidade entre sedentarismo e doença cardiovascular, uma vez que, nem todos os sedentários manifestarão tal patologia e, ao mesmo tempo, é esperado que parte deles desenvolva a doença, o que há de fato é uma associação probabilística.

    Contudo, Mira (2003) ressalta também outro fator importantíssimo que muitas das vezes esquecido por pesquisadores da área, o exercício físico regular não é somente um estimulo biológico, mas um fenômeno complexo de dimensões múltiplas (biológicas, psicológicas, culturais e sociais). Segundo Organização Mundial da Saúde (2010) as condições socioeconômicas resultaram em vários fatores socioambientais que desanimam os indivíduos a participarem de atividades físicas.

    Com objetivo de rever a literatura sobre atividade física, saúde e doenças, em suas relações com as condições socioeconômicas, Palma (2001) iniciou uma nova maneira de olhar essa relação, na qual muitos consideravam o processo saúde-doença apenas, uma determinação biológica. O estudo relacionou condições socioeconômicas (estudo, moradia, trabalho, cultura etc.) de varias classe sociais, com efeitos sobre a saúde e a adesão a atividade física. O autor ressaltou que esta revisão permitiu ilustrar como os eventos socioeconômicos podem ter algum impacto sobre as condições de saúde da sociedade e que é preciso repensar os “modos de olhar” a saúde e a atividade física.

    De forma parecida, Bagrichevsky et al. (2006) conduziram uma pesquisa sobre indicadores socioeconômicos de vida e prática de exercícios físicos. O objetivo do estudo foi verificar a relação entre a adesão aos exercícios físicos e aspectos socioeconômicos de uma amostra de sujeitos, com idades entre 20 a 85 anos, da cidade do Rio de Janeiro. Foram analisadas características como: estado civil, apoio familiar, quantidade de filhos, escolaridade, renda pessoal, Índice de Desenvolvimento Humano, mortalidade, criminalidade, educação física escolar, tabagismo e histórico de doenças familiar.

    Foi possível identificar que, independentemente de outras variáveis, os indicadores socioeconômicos estão fortemente associados à menor prática de exercícios físicos no tempo de lazer das pessoas, e por isso esta relacionado ao estado “sedentário” do individuo. Portanto, considerando os resultados da presente investigação, Bagrichevsky et al. (2006) destaca o debate acerca da questão a qual não deveria imputar ao próprio indivíduo a responsabilidade pela não pratica de exercícios físicos, pois há toda uma complexidade de fatores (sociais, culturais, políticos, econômicos etc.) a ser analisado que rodeia o próprio.

     Nessa perspectiva, o que tem se visto hoje, é uma atenção apenas aos interesses políticos e econômicos associados à saúde, à atividade física e ao “estilo de vida ativo”. Como Assumpção et al. (2002) explica, esta visão assumiu uma postura eminentemente individualista e biologicista no qual elaborou-se o conceito de vida fisicamente ativa independentemente de uma análise cultural, econômica e política, desconsiderando as contradições estruturais que limitam as oportunidades de diferentes grupos sociais.

    Outra problemática é a preocupação exagerada em promover e manter a saúde através da atividade física, sugerindo na rotina da população “doses” diárias de exercícios físicos para combater os malefícios da “vida sedentária”, como se fosse um tratamento farmacológico rigoroso. Esquecendo assim, que atividade física deve ser desenvolvida de uma forma prazerosa e lúdica, como Fraga (2006) comenta que cada veza mais aumenta a concordância geral acerca da importância de uma vida ativa fisicamente para a manutenção da saúde, mas ao mesmo tempo parece que atividade física promovida vem perdendo a “graça” e deixando de ser um elemento de agregação social.

Considerações finais

    Longe de chegar a uma conclusão, levando em conta que ainda há muito que se explorar dentro desse campo, e com intuito de promover futuras contestações. A discussão do trabalho limitou-se em debater questões que envolvem os estudos epidemiológicos sobre o sedentarismo. De acordo com o que foi visto, pode-se afirmar que muitos estudos apresentam uma total falta de critério para definir sedentarismo e inatividade física, a associação entre sedentarismo e doença não esta muito bem fundamentada e os indicadores socioeconômicos têm influência direta na prática da atividade física.

    Todavia, não foi objetivo do estudo questionar o comprovado papel que o exercício físico exerce sobre o tratamento e sobre a recuperação de varias tipos de doenças, nem jamais advogar a favor do estilo de vida sedentário. Mas, analisar como essas práticas de atividade física são impostas pela sociedade capitalista sem observar o contexto nos quais os indivíduos estão inseridos e evidenciar que o termo sedentarismo está atrelado a uma premissa moral, a qual designa o sujeito como preguiçoso e irresponsável, assumindo um papel pejorativo e discriminatório que traz um sentimento de culpa para o próprio indivíduo.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 151 | Buenos Aires, Diciembre de 2010
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