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Indicadores antropométricos e da 

composição corporal de praticantes de karatê

Indicadores antropométricos y de composición corporal de practicantes de karate

 

*Departamento de Educação Física, Centro de Desportos

**Núcleo de Pesquisa em Cineantropometria e Desempenho Humano

***Centro de Ciências da Saúde e do Esporte

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC

(Brasil)

Alexsander Vieira Guimarães* **

Fernanda Todeschini Viero***

Pedro Augusto Mohr*

Lisiane Piazza***

a.guimaraes51@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O treinamento do karatê pode resultar em aumento relativo da massa muscular e diminuição do tecido adiposo, já que altos valores de massa magra e menor quantidade de gordura corporal são indicadores que podem favorecer o desempenho dos praticantes desta modalidade esportiva. O objetivo desse estudo foi verificar os indicadores antropométricos e da composição corporal de praticantes de karatê. Participaram do estudo sete indivíduos do sexo masculino, praticantes de karatê Shotokan tradicional. Foram avaliadas as variáveis antropométricas: estatura (cm), massa corporal (kg), índice de massa corporal (IMC) e percentual de gordura corporal (%G). Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva (média e desvio padrão) e inferencial (correlação de Pearson), sendo considerados significativos valores com p ≤ 0,05. A média de idade dos indivíduos variou de 29 a 56 anos, com média de 42 (±10) anos. Em relação às variáveis antropométricas, os sujeitos apresentaram média de massa corporal de 80,9 kg e 171,3 cm de estatura. A média do IMC foi de 27,5 kg/m2 e o %G foi de 22,7%. Foi verificada uma correlação positiva entre o IMC e o %G dos praticantes, sendo que quanto maior o valor do IMC, maior tende a ser o %G, concluindo-se que apesar dos indivíduos serem fisicamente ativos estão acima dos padrões de normalidade para adiposidade.

          Unitermos: Karatê. Composição corporal. Indice de massa corporal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A prática do karatê tem como principal característica a exigência de potência elevada, principalmente de membros inferiores, desta forma, altos valores de massa magra e menor quantidade de gordura corporal são indicadores que podem favorecer o desempenho dos praticantes (Pereira et al., 2000). O treinamento do karatê pode resultar em aumento relativo de massa muscular e diminuição do tecido adiposo (Katić et al., 2005).

    Quantidade elevada de massa corporal, especialmente, de maior proporção de gordura corporal pode aumentar a sobrecarga corporal, limitando os movimentos e aumentando o estresse nas articulações e músculos (Visser et al. 2000), fato que pode contribuir para o risco de lesões. Além disto, o excesso de peso é um dos principais fatores de risco de uma série de doenças crônicas não-transmissíveis, entre elas, diabetes, hipercolesterolêmica e doenças cardiovasculares (Mastroeni et al., 2007).

    Existem diferentes métodos para identificar e acompanhar alterações na composição corporal. O método antropométrico tem sido amplamente utilizado em estudos epidemiológicos transversais e longitudinais, ainda que, possa apresentar menor precisão na avaliação das alterações na composição corporal, quando comparadas a outras técnicas mais sofisticadas, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, absortometria radiológica de dupla energia (Hughes et al., 2004; Rech et al., 2010).

    É importante considerar que para acompanhamento mais criterioso, tanto à prescrição de exercícios físicos quanto ao aconselhamento nutricional, necessita-se realizar o fracionamento da massa corporal em seus diferentes componentes na tentativa de analisar, em detalhes, as adaptações ocorridas nas constituições de cada um desses componentes (Guedes & Guedes, 1998).

    A prática de atividade física regular pode ter efeito positivo em várias funções fisiológicas, na manutenção e perda de peso, pode reduzir o risco de desenvolvimento de doenças crônicas e doenças neurodegenerativas, e ainda melhorar as funções músculo-esqueléticas e cardiovasculares (Kendrick et al., 1994; ACSM 2009).

    Diante do exposto e do crescimento do interesse de pesquisadores e profissionais em investigar mudanças na composição corporal acarretadas pela prática de exercícios físicos, esportes e a participação em programas de treinamento físico, tanto na perspectiva da saúde quanto da melhoria do desempenho atlético em diferentes grupos populacionais, o objetivo desse estudo foi verificar os indicadores antropométricos e da composição corporal de praticantes de karatê.

Métodos

Participantes

    Foram analisados sete indivíduos do sexo masculino, com idade entre 29 e 53 anos, praticantes de karatê Shotokan tradicional, com tempo de prática que variou de 12 a 34 anos, em uma academia na cidade na cidade de Florianópolis - SC - Brasil. A data para a realização dos testes foi marcada com antecedência, e as instruções e precauções passadas aos indivíduos.

Instrumentos e procedimentos

    As variáveis antropométricas analisadas, realizadas por um único avaliador, foram: estatura (cm), massa corporal (Kg), índice de massa corporal (IMC) e percentual de gordura corporal (%G). A estatura foi verificada usando trena antropométrica Sanny e a massa corporal mensurada utilizando uma balança digital Plenna, onde os indivíduos foram avaliados e medidos descalços, utilizando o mínimo de roupa possível.

    A partir das variáveis de massa corporal e estatura foi calculado o IMC, utilizando-se a classificação proposta da WHO (1995). O %G foi verificado através do medidor de massa de gordura corporal HBF – 306 (OMRON), realizado posicionando o indivíduo em pé, que deve ficar estático durante a medição, com os pés afastados, os braços mantidos em ângulo de 90º em relação ao corpo, segurando dois eletrodos, que enviam uma corrente elétrica fraca. No visor, aparecerá o valor estimado da porcentagem de gordura corporal pelo método de impedância bioelétrica. Para a classificação do %G corporal foi considerado os indicadores de Mcardle et al., (1998), que indicam %G considerado adequado de até 15% para homens.

    Todos os indivíduos foram informados sobre o objetivo do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo foi baseado de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde – Resolução 196/96.

Análise estatística

    Os dados apresentados neste estudo foram analisados de forma descritiva por meio de médias e desvios-padrão. O teste de correlação de Pearson foi utilizado para verificar a relação entre o IMC e o %G dos praticantes de karatê. Os dados foram analisados pelos softwares Excel e SPSS versão 15.0. O nível de significância adotado foi igual ou inferior a 5% (p ≤ 0,05).

Resultados

    A amostra teve uma variação de idade de 29 a 56 anos, com média de 42 ± 10 (desvio-padrão) anos. Os indivíduos do presente estudo relataram tempo de prática de karatê que variou de 12 a 34 anos. Os valores médios para idade, peso, estatura, percentual de gordura e IMC são apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Características dos participantes, segundo cor de faixa (graduação), idade, peso corporal (Kg), 

estatura (cm), índice de massa corporal (IMC) e percentual de gordura (%G). (Florianópolis-SC, 2010)

    Foi verificada relação significante (r = 0,863; p = 0,01) entre o IMC e o %G dos praticantes de karatê, mostrando uma correlação positiva (figura 1) entre as variáveis, sendo que quanto maior o valor do IMC, maior tende a ser o %G dos indivíduos.

Figura 1. Gráfico de dispersão da relação entre o índice de massa corporal (IMC) e o percentual de gordura (% gordura). (Florianópolis-SC, 2010)

Discussão

    A avaliação da composição corporal pode ser considerada essencial, principalmente, para orientação de programas que visam o controle da massa corporal. O uso do IMC, utilizado para avaliar a composição corporal, é freqüentemente empregado em estudos epidemiológicos, em saúde pública e na área clínica, principalmente, devido a sua fácil aplicação (Hughes et al., 2004). Entretanto, não é sensível em diferenciar os valores percentuais de massa magra e gordura corporal, podendo causar interpretações equivocadas em algumas populações. Por exemplo, se uma pessoa possui IMC elevado, este valor, isoladamente, não permite uma afirmação precisa se o indivíduo possui grande massa muscular ou é realmente obeso. Apesar destas observações, o IMC ainda é muito utilizado. Outra ferramenta para análise da composição corporal é o percentual de gordura (%G), que pode ser obtido por diversas formas. No presente estudo, utilizou-se a impedância bioelétrica. Segundo a classificação de Lohman (1992), um indivíduo pode ser considerado saudável quando apresenta valor de %G entre 14 e 19,99%.

    No presente estudo, o resultado do valor médio do IMC caracteriza que os praticantes de karatê estão classificados com sobrepeso. Soares et al. (2005) encontraram valor médio de 22 para o IMC de karatecas, semelhante ao encontrado por Del Vecchio et al. (2005), onde o valor médio do IMC foi de 21,91. Percebe-se neste estudo que mesmo os indivíduos inseridos na faixa “normal” de IMC, estão próximos do limite máximo que precede a faixa de “sobrepeso”. Costa et al. (2007) alertam que o IMC pode causar erros de interpretação nos valores limítrofes de classificação.

    Em relação ao %G, o valor médio encontrado no presente estudo também caracteriza os sujeitos do presente estudo com sobrepeso. Os mesmos indivíduos que são classificados com sobrepeso pelo IMC, também são classificados pelos valores do %G. No estudo realizado por Rossi et al. (2007) encontraram valores inferiores ao presente estudo, em karatecas adultos, sendo o valor médio do %G foi de 10,5% (± 3,0). Del Vecchio et al (2005), também encontram valor do %G inferior ao presente estudo (16,9%). É importante considerar, que nestes estudos, o %G foi estimado por diferentes maneiras, fato que restringe e dificulta a comparação dos resultados.

    No presente estudo, também foi evidenciado a correlação positiva entre o IMC e o %G dos praticantes de karatê. No estudo realizado por Costa et al. (2007), também encontraram elevada correlação entre IMC e %G. Entretanto, houve diferenças nos diagnósticos de sobrepeso e obesidade. Os autores apontam que o IMC deve ser utilizado com precaução para a identificação daquelas variáveis. Outro fator importante reside na utilização dos pontos de corte, que podem variar entre os estudos.

    Em resumo, os indivíduos do presente estudo encontram-se tanto com o IMC quanto %G acima do considerado adequado na literatura para praticantes de karatê. Fatores como freqüência semanal, intensidade de treinamento e até mesmo a metodologia empregada na obtenção do %G podem ser fatores concorrentes na explicação desses achados. Deve-se levar em consideração que a idade dos sujeitos deste estudo é maior que a dos estudos encontrados na literatura, uma vez que o acúmulo de gordura tende a aumentar com o passar dos anos.

    Este estudo apresenta algumas limitações. Primeiramente relacionada com estudos de delineamento transversal, que mostram somente um retrato do momento da vida dos indivíduos, não levando em consideração a relação de causa e efeito. Também em relação ao pequeno tamanho da amostra, que pode reduzir o poder de inferência e extrapolação dos dados. E nenhuma informação específica sobre o programa de treinamento dos indivíduos, como freqüência e intensidade foram relatados.

Conclusão

    Verificou-se que apesar da amostra do estudo ser composta por indivíduos fisicamente ativos, que o IMC e o %G encontram-se, em média, acima dos padrões de normalidade para adiposidade, associando a riscos de doenças cardiovasculares e diversas condições patológicas associadas ao acúmulo de gordura corporal.

    De acordo com os resultados encontrados no presente estudo, recomenda-se a realização de outros estudos que verifiquem a associação dos indicadores antropométricos e da composição corporal (distribuição da gordura corporal) com as condições de saúde e o estilo de vida de praticantes de karatê, além da realização de estudos longitudinais.

Referências

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